As Uvas de Doutor Clodolfo

No tempo da infância, de qualquer criança, pelo menos uma fruta, ou mesmo o pé de um vegetal, vai marcar infinitamente a sua vida. Chegamos a tal conclusão, ao ler tantos e tantos poetas, escritores que relatam de suas vivências com frutos e vegetais. Da importância e da influência que tanto causariam em suas vidas: “Meu Pé de Laranja Lima”, “João e o Pé de Feijão”. Se elas, as frutas, ou eles, os pés que produzem os frutos, estiverem ao alcance das crianças, ótimo! Teremos pois crianças realizadas, felizes, e a cima de tudo, mais saudáveis e nutridas.
Diante de tais circunstâncias queremos relatar, de como fomos felizes, ao vivenciarmos tais situações em busca das frutas e dos frutos que embalaram os sonhos de nossa infância. Nascido e criado “como Deus criou batata” - como dizia tão querida e saudosa Dona Marinita Peixoto Nóya – vivíamos, eu e meus colegas a cata de uma estripulia pra fazer. O que incluía a busca por uma fruteira e uma fruta pra consumir, já que são tão essenciais ao fornecimento de energia, e nem sabíamos disso. Detalhe: Pouco importava-nos se fossem tais frutas ou fruteiras, propriedade ou exclusiva de alguém.
As melhores goiabas, aquelas que povoavam nossos sonhos. Obviamente não eram aquelas que nossas mães traziam da feira. Diga-se de passagem, feias e sem gosto. As que mais desejávamos tinham que nascer justamente nas goiabeiras do quintal de Seu Dota. Como desejávamos aquelas goiabas! Como já relatei noutra crônica somente no caso do incêndio da casa foi que podemos fazer a farra e desfrutar de tais manjares.
Um trapiazeiro se agigantava no quintal de Dona Aída Malta, e Seu Bêbe, pais de Homero Malta. Muitos anos depois viraria a casa de Dona Glorinha e Seu Zé Francisco Carvalho (véio Zé) nossos vizinhos na Praça da Bandeira. Trapiá é fruta de menino que não tem o que fazer. Fruta fácil. No popular, fruta de rapariga, que você procura e procura o gosto, mas que de tão fácil de conseguir não tinha graça! Assim como as amêndoas ou castanholas que tem até hoje na frente do prédio da Prefeitura Municipal de Santana do Ipanema.
Nos fundos do grupo Escolar Padre Francisco Correia nascia uns pés de mamão, os maloqueiros da Praça da Bandeira, da década de 70, iam lá, se apropriar do que já era deles. Portanto não era uma apropriação indébita. Comiam mamão de outra fonte de origem, e iam lá fazer uma “obra”. E dos excrementos ali deixados, acabavam fertilizando o solo, o que dava origem a novos pés de mamão. Certa vez a diretora Dona Carmem flagrou, um dos irmãos de Marcos Davi, justamente no ato em que arriava o “barro” fértil. Depois de ter comido vários mamões.
Tamarindos ou tamarinas, como nós chamávamos é fruta cítrica, de encher a boca só de falar o nome. Essas, só tinha graça se fosse conseguidas no quintal da casa das Marques. Uma aventura furtar tais frutos. Pois as quatros tias do prefeito Seu Adeildo: Dona Carmelita, Dona Landelina, Dona Marieta e Dona Marina, queria distância dos meninos naquele frondoso pé de tamarindo.
Naquela mesma época, Doutor Clodolfo Rodrigues de Melo achou de plantar no seu jardim um pé de uvas. Uva naquele tempo a gente só via nos filmes bíblicos: Bem-hur, Nero e o Incêndio de Roma, e por aí vai. Aquilo era uma afronta, aos mais secretos desejos dos maloqueiros da Praça da Bandeira. Na hora de fazer “a pauta” de traquinagens, não faltava o item: “Roubar as uvas de Doutor Clodolfo”. Ele ressabiado pelos permanentes ataques ao seu parreiral, mantinha permanentemente preparado, dois adestrados pastores alemão. Prontos para atacar, o maloqueiro que conseguisse a grande façanha de passar pelos seguintes obstáculos: Muros de três metros de altura com cacos de vidro pontiagudos, uma teia de arame farpado e fios eletrificados. E ainda tinha moleque que conseguia. Ô uva saborosa!


Fabio Campos

2 comentários:

  1. Fernando Soares Campos16 de julho de 2011 às 14:16

    Fábio, lendo suas preciosas crônicas a gente reconhece que você tem muito boa memória e, mais que isso, um coração pra lá de generoso. Que Deus o conserve assim. Porém, apesar da prodigiosa memória, aqui você comete um lapso, no mínimo, estranho. É quando fala que "Um trapiazeiro se agigantava no quintal de Dona Aída Malta, e Seu Bêbe". Não, Fábio, o trapiazeiro existia em nosso próprio quintal, bem junto ao muro desses nossos saudosos vizinhos.

    A propósito de sua mensagem no Alagoas na Net, diga a mamãe que eu também sinto muita saudade dela. Abraços a todos.

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  2. Caro mano Fernando!Imensamente feliz li seu comentário que nosso irmão Sérgio já havia me falado, peço desculpas por demorar a comentar seu comentário é que não tenho internet em casa. Só quando vou a Lan House atualizo. Sérgio brevemente vai ao Rio! Espero que seja um reencontro onde você sinta a presença dos demais irmãos! Forte Abraço...

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