"Fofão" e os Cágados de Doutor Aderval

Nos tempos idos da nossa infância e juventude, as famílias santanenses tinham o costume de ter algum tipo de criação, no fundo do quintal. Isso por motivos óbvios. Ter à mesa um alimento diversificado, saudável, a baixo custo. E que se tinha segurança quanto a origem do que se estava consumindo. Além de ter aqueles apreciadores de pratos exóticos. 

Havia os que criavam por puro prazer, ou para obter uma fonte de renda extra. Sebastião Amaral é um exemplo desse tipo de pessoa. Mantinha em seus quintais verdadeiro jardim zoológico. Aves canoras e exóticas, possuidor de grande variedade. Criava galos de briga. Aos finais de semana os apreciadores desse esporte iam pra sua casa, participar de altamente frequentados torneios de briga de galos. Cães possuía vários, de caça, de guarda, etc. Mantinha ainda criatório de cágados, burguesas, coelhos, etc.

Saudoso Miguel da Barriguda, tinha no quintal, um pequeno criadouro de cágados que seu filho Paulo Roberto, o popular Paulo Ventão, vez em quando, dava um cata. Pra tomar umas com os amigos. Os animais eram levados pra casa de Dona Tereza ( a mãe de Ciro Cícero) lá na rua Professor Enéas, que os abatia, e Mario Pacífico no Bar Comercial, fazia o arremate. 

Ali no Monumento, lembro de Doutor Aderval Tenório, que tinha verdadeira paixão por pratos e iguarias exóticas. Criava no quintal, jias de peito (ou jia de padre, não sei discernir no momento) e também cágados.

No hotel Santanense de Dona Beatriz, lá pelo fim da década de 70, apareceu um maloqueiro das bandas de Carneiros. O peste era tão feio, mas tão feio que se tivesse um irmão gêmeo, o mais feio ainda era ele! O infeliz ganhou da maloqueragem o apelido de “Fofão” por parecer-se com aquele personagem do comediante Orival Pessini, por aí dá pra se ter uma idéia da feiúra.

“Fofão” era encarregado de ajuntar lavagem pros porcos que Seu Zezinho de Dona Zilda, filho de Dona Beatriz, criava lá no Sítio “Escondidinho” na Maniçoba. Por isso, à cata de lavagem, acabava tendo acesso às cozinhas de quase todas as casas, dali do Monumento. Acabaria dando fé dos cágados de Doutor Aderval, ao recolher os despojos de comida daquela residência. Na primeira oportunidade que teve, pulou o muro, e se apropriou indevidamente de alguns cágados. Como não foi dado pela falta, achou bom, e continuou sendo amigo do alheio, no caso a furtar os lentos animais de casco. Irineu começou a notar o desfalque no plantel de quelônios de seu pai. Não faltando oportunidade de se encontrar reunida a maloqueragem do Monumento na praça. Irineu abordou o meliante nestes termos:



-“Fofão” cabra safado! Você está roubando os cágados de papai! Já são mais de vinte que você leva...Agora diga que não foi?!



- Êita mentira! Largue de ser mentiroso Irineu! Não foi nem dez...


Fabio Campos

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