Era Mais Família...

Santana do Ipanema, de quatro décadas atrás, não era muito diferente da atual. Era uma Santana mais família. Aos domingos nossos pais, levava-nos a alegres e divertidas visitas à casa dos tios. Bom era ir à casa de tia Emília. Ainda mais porque ficava no outro lado do rio Ipanema, próxima a ponte da Barragem. Tão boas visitas domingueiras, aos primos da Barragem.

Prazeroso estar sob a tranquilidade e paz de uma casa afastada do centro. Ainda mais que, do alpendre da casa, dava pra ver, ouvir, sentir o rio Ipanema. Com os primos Antonio, Jacinta e Lúcia íamos olhar o panema. Da ponte um esplendor de encher as vistas. De um lado o rio calmo e manso. Uma areia fofa na barranca, refletida pelo sol parecia ouro em pó. Ouro que se grudava a pele dos meninos que tomavam banho e brincavam na ribanceira. E como se tornavam ricos, ricos de tanta alegria. Feitos reluzentes golfinhos, davam saltos acrobáticos. Frívolos pés de mamonas balançavam ao sabor da brisa, oferecendo seus cachos pra puro deleite e regozijo dos moleques. As águas, resignadas desciam o rio. Pro lado da nascente, um imenso lago calmo. Bravias e revoltas depois das corredeiras. De dentro de nós surgiam navios piratas que iam, em perseguição às caravelas imperiais, e acabavam chocando-se nas pedras e sumiam entre as águas tempestuosas. Desvaneciam no meio do pedregulho semi submerso, onde nascia espuma flutuante, d’águas dançantes. Tudo testemunhado por um céu feito desenho caprichado, pintado a lápis lazúli anis dum sonho de criança.


Na casa da tia, tudo lembrava uma casa do campo. Um paiol, um carro de boi. O cheiro fermentado de silagem. Palma picada no balaio de junco seco. Facão embainhado, gibão, chicote e chapéu de couro dormiam no armador. Arado, pá, enxada, ancinho descansavam arriados no chão, tendo ainda barro, aderido entre as partes. Uma velha cartucheira de couro de bode, de um revólver trinta e oito. Tinha o revestimento interno chamuscado, porque tio Otacílio muitas vezes guardara a arma ainda quente. Otacílio Bezerra havia participado da emboscada ao bando de Lampião em Angicos, Sergipe, no ano de 38. Sentávamos no chão pra ouvi-lo contar aos adultos, como foi naquele dia. Assumia um ar solene, um tanto severo, pausando as palavras. Parecia não gostar de falar sobre, mas era como um desígnio que teria que carregar pro resto da vida. Olhos e ouvidos aguçados de seus interlocutores, buscavam com avidez cada som que saía de sua boca. Silêncio pesado, nada podia atrapalhar aquele momento. Contava-nos que no dia fatal, estava chovendo muito. Obrigando os soldados do tenente João Bezerra e do sargento Aniceto, volante a qual ele pertencia, tomarem muita cachaça pra enganar o frio. Mastigavam folha de Juá, pro hálito impregnado do destilado não se espalhar, e denunciá-los os animais noturnos. Pois os cangaceiros tinham suas atenções voltadas, e escutavam primeiro os animais da mata, principalmente os pássaros. Pois a depender de seu comportamento podiam detectar a presença humana. A narrativa, em determinados momentos tornada num trovejar de palavras, pra noutro instante sair quase em manso sussurro. Tudo a depender da emoção revivida. Interrompia a narração e ia até o quarto. Expectativa geral. Voltava trazendo um pequeno embornal de couro, decorado a modo matuto, de dentro tirou um punhal. Com olhar pousado nele, semblante cerrado, num burburinho de sentimentos aflorados. Empunhava a arma branca, revelando tê-la usado para degolar alguns cangaceiros, já tombados sem vida na gruta de Angicos. Ainda contava a história do tempo de Lampião, e eis que um grito de pavor vindo do paiol foi escutado. Primo Tonho atônito! Descobrira uma imensa cobra jibóia se espreitando por entre os caibros roliços que cobriam o velho armazém, causando alvoroço. Primo Geraldo já havia dado de mão de um fueiro com forquilha. Subindo no carro de boi conseguiu prender a cabeça da serpente, com a outra mão empunhou o facão e espetou a cabeça do imenso réptil até sagrar. Deduziram que a jibóia viera atraída pela presença de uma galinha que chocava seus ovos no paiol.

Cícero e José eram os mais velhos, dentre os cinco primos. A eles cabia a tarefa de cuidar do gado. Todos, inclusive as meninas, montavam a cavalo. Tio Otacílio além da lida com o gado, era açougueiro. Toda sexta-feira, mais de dez bois abatidos por eles no Matadouro que ficava ali próximo. A família De tia Emília e tio Otacílio, todos juntos, lembravam-me tempos depois, a família Bonanza, de um seriado de Tevê da época. Pelo aspecto de vaqueiro, de homens fortes e destemidos. O jeito xucro, os modos de que lida com gado e cavalo brabo. Dava gosto vê-los andando pela casa, absorto em suas tarefas. Tia Emília à cozinha, e que prazer ver a mesa posta. A louça branquinha de porcelanas pintada. As xícaras tinham uns desenhos bem antigos. As taças, talvez de cristal. Os talheres imitavam a prata. Dava pra gente se ver refletido, de tão polidos. Travessa com carne de boi guisada. No fogão uma caçarola com ovos de gema avermelhada. O cuscuzeiro enorme impunha respeito, angariando pra si os olfatos e olhares, no arrebatador aroma de massa de milho que enchia todos os cômodos da casa. Balde de alumínio, cheio até as bordas de leite fumegante, numa das bocas do fogão ladeado da chaleira de café quente. Uma terrina de rodelas de inhame. Uma jarra de coalhada. O café da manhã era um momento ímpar. Todos reunidos na cozinha, o patriarca ordenava que todos se colocassem à mesa, pra ele aquele era momento sagrado. Tia Emília não sentava, ocupada na tarefa de servir. Ao terminarem o desjejum, em silêncio iam saindo um a um. Não sem antes se benzerem, e pedirem a benção as pais e padrinhos, era tradição.

Após as refeições iam todos pra sala. Havia um tapete enorme sob o centro. Na parede um quadro do coração de Jesus, de gesso, em alto relevo. Na estante uma bíblia de capa preta, no lóbulo o título do livro sagrado em letras douradas. Sobre o feixe de folhas uma tinta vermelha. Vários retratos da família emoldurados pendurados na parede. Num modesto quadro de moldura oval, um retrato de nossos avós: Senhor Antonio Francisco de Campos, de terno e gravata borboleta, com ar solene está de pé, e Dona Maria Francisca de Campos sentada numa cadeira, com um vestido muito engraçado, que lhes desce até os tornozelos. O retrato em preto e branco, tirado ao ar livre talvez pra aproveitar a claridade.

O primo Cícero, que um dia passara pelas bancas do Grupo Escolar Ormindo Barros quis continuar os estudos, já não era mais menino, pensava no futuro. E um dia estaria matriculado no Ginásio Santana. No convívio escolar conheceu uma moça. Uma linda normalista por quem se apaixonou perdidamente. Cícero comprou uma motocicleta, não dava pra ir pro Ginásio à cavalo, isso era costume de tempos imemoriais. Achou melhor que a montada nos baios e alazões. Achou bom o novo galope. Não precisava domar a relho, não era marchador, nem troteador. Não precisava tirar os arreios, nem a cela. Não carecia de esporas nas botas. Só força nos punhos, e isso Cícero de Otacílio tinha de sobra. Como era bom cavalgar o vento, ainda mais levando a amada na garupa. Enlaçando sua cintura, como eram felizes.

Um dia, Cícero Bezerra recebeu uma carta de sua noiva. Tão querida, sua futura esposa, escrevia-lhes acabando tudo. Nada mais existiria entre eles. Nem namoro, nem noivado, muito menos haveria casamento, mais nada. Estaria apaixonada por outro. Foi um golpe forte demais pro coração do peão. Partiria de casa cavalgando seu cavalo de aço, movido a gasolina. Passou a mil sobre a ponte da Barragem. Cavalgando o vento, tomou o asfalto. Alta velocidade, vertigem. O mundo rodopiou também a moto. A altura do cruzamento do Maracanã, o choque contra o asfalto. O fim.


Fabio Campos

Nossa Senhora da Assunção (Apocalipse 12)

O padre Manoel Capitulino, aspergia com água benta, o interior e as paredes externas da pequena capela de Senhora Assunção, enquanto, frei Augusto Boaventura de Medeiros, bispo da arquidiocese de Penedo, incensava o altar e pronunciava a benção sacramental. Era o dia da inauguração. Em seguida seria rezada missa. O celebrante punha-se de frente pro altar, e dava as costas à assembléia e recitava o breviário litúrgico em latim. Fazia-se presente àquela manhã solene, os alunos da professora Sinhá Rodrigues, a banda Santa Cecília com todos os seus integrantes, devidamente paramentados em seus paletós azuis marinhos e calça branca. O Intendente Municipal Capitão Capistrano Barros. Ladeado do pelotão de soldados do quartel da polícia em fardas cáqui. Caracterizados como integrantes da laboriosa policia Militar de Alagoas. Além de um número considerável de citadinos. A igrejinha então edificada pra marcar a virada do século dezenove pro século passado. Tal evento daria de iniciar uma nova página na história de Santana do Ipanema.

Na charola, orquídeas, tulipas e rosas, emprestavam ainda mais beleza à imagem de Nossa Senhora Assunção. Aroma de flores, incenso e parafina das velas, misturado ao cheiro de pólvora queimada dos fogos de artifícios, que explodiam vez outra, no céu do Largo do Monumento. Cores esmaecidas de propósito, na arte sacra em estilo gótico da santa Madona. Um pouco do azul celeste, vislumbrado no manto da Virgem Santa, que tinha o olhar voltado pro alto. Aos fiéis, que naquele momento a contemplava, vinha-lhes tal visão, como resquícios de renovadas esperanças no porvir. Querubins de mimosas asinhas, cabelos encaracolados, bochechas rosadas e lábios de doces meninas, emergidos de brancas nuvens. Como que sorriam pra eternidade, daquele e de outros momentos.

Para que tudo isso estivesse acontecendo com toda aquela beleza e exuberância, uma longa jornada haveria de ter acontecido, tanto com aquela imagem de Nossa Senhora da Assunção quanto ao momento político que vivia a cidade de Santana do Ipanema. Houve uma reunião para escolha do local da construção da capela. Eis que isso ocorreu no ano de 1898, no dia 15 de agosto. Encontrava-se reunidos na Intendência Municipal o padre Capitulino, o senhor intendente capitão Barros e os conselheiros que eram em número de sete. O capitão fez uso da palavra abrindo a sessão, ao tempo que passou a palavra ao vigário da freguesia de Senhora Santana. Sendo tudo o que fora dito, registrado em ata, conforme constaria dos livros de registros. O padre tomando a palavra disse:

-Hoje grandes decisões serão tomadas nesta reunião. Vamos pois, decidir sobre a escolha do local onde será construída, a capela de Senhora Assunção, em nosso município. Permitam-me, que eu leia o que, inspirou-me o divino Espírito Santo neste momento.

E abrindo a Bíblia, aleatoriamente declamou para os que ali se encontravam:

“Apocalipse 12, versículos 01 a 06. Execução dos Decretos do Pequeno Livro Aberto. A Mulher e o Dragão. E viu-se um grande sinal no céu: uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça. E estava grávida, e com dores de parto, e gritava com ânsias de dar à luz. E viu-se outro sinal no céu; e eis que era um grande dragão vermelho, que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre as suas cabeças sete diademas. E a sua cauda levou após si a terça parte das estrelas do céu, e lançou-as sobre a terra; e o dragão parou diante da mulher que havia de dar à luz, para que, dando ela à luz, lhe tragasse o filho.E deu à luz um filho homem que há de reger todas as nações com vara de ferro; e o seu filho foi arrebatado para Deus e para o seu trono.E a mulher fugiu para o deserto, onde já tinha lugar preparado por Deus, para que ali fosse alimentada durante mil duzentos e sessenta dias.”

Caríssimos! Eis que estas palavras bíblicas já se fizeram à luz dos evangelhos. Sabe-se que a mulher citada no livro da revelação de São João, trata-se de Nossa Senhora, mãe do Salvador Jesus Cristo. O que ainda não teríamos conhecimento do significado seria pra que deserto aquela mulher havia fugido, por mil duzentos e sessenta dias? Hoje podemos dizer que já sabemos! Isso acaba de nos ser revelado! A mãe santíssima veio para o nosso sertão! E a cada virada de século, caros irmãos! Pelo menos um santuário, deverá ser erguido pela igreja, para homenageá-la.

Dez anos antes, o Marechal alagoano Floriano Peixoto, não havia proclamado a República ainda. O príncipe regente do Brasil Dom Pedro II, encomendara a um artista da cidade do Minho, em Portugal, chamado Arthur Belvedere e Carvalhal, um lote de imagens sacras para doar aos conventos de Olinda em Pernambuco e Penedo em Alagoas. Estas imagens chegaram ao Brasil justo no período em que o Marechal proclamaria a instalação do Estado Republicano no Brasil. Não dando tempo ao príncipe vir, ele mesmo, fazer as doações, e as imagens foram levadas pro Museu Nacional na cidade do Rio de Janeiro. Permaneceram lá até o bispo primaz do Brasil Dom Antonio Souza de Sá, decidir entregá-las as mais prósperas freguesias criadas no nordeste. Duas imagens vieram pra Alagoas, uma pra Águas Belas das Alagoas que depois elevada à categoria de cidade passaria a chamar-se Porto de Pedras. Pra lá iria uma imagem de Nossa Senhora da Piedade. Esta não tinha sido feita pelo artista minhoto, este havia guardado a relíquia construída por seus ancestrais, era uma imagem de 1603. A outra, de Nossa Senhora da Assunção veio pra freguesia de Santana do Ipanema. Estas imagens vieram de navio do Rio de Janeiro até o cais do porto de Recife. Chegaria a cidade de Maceió nos caminhões do exército brasileiro, envoltas em sacos de panos de algodão, acondicionadas em caixotes revestidos de areia. De Maceió a imagem de Nossa Senhora Assunção viajou de trem até a cidade de Viçosa. Pra finalmente, no dia 15 de novembro de 1899, em lombo de burro, chegar a Santana do Ipanema onde permanece até hoje.


Fabio Campos

Com um Nome Desse e Alagoano só Pode ser Ladrão de Cavalo!

Ainda causa-nos fortes impressões, ouvir histórias do cangaço. Confesso que na juventude fui mais interessado, lia e queria saber tudo sobre. Hoje, sinto-me meio enfastiado. Acho que pelo desgaste do tema, pelo misticismo e sensacionalismo que acabou girando em torno. Também ao constatar que de tudo ficamos sabendo, diga-se de passagem, de fontes não muito confiáveis, muito pouco, havia acontecido de verdade.

Hoje em dia há historiadores que pautaram e pautam seus trabalhos em fontes fidedignas, altamente idôneas. Mas retomando um velho adágio que diz “uma mentira dita muitas vezes acaba virando verdade” o cangaço deixou sua marca indelével, irremovível de dor e sangue, na alma dos que ainda vivem e viveram tal período.

Conta minha mãe, um episódio ocorrido com seu pai, no caso meu avô, Thomaz Doroteu. De sérios apuros que teria passado ao ver-se diante de Virgulino Ferreira e sua corja. Relembrar o fato tanto tempo depois, é pitoresco, é até hilário. Muito embora só quem passou é que sabe. Ver-se diante um grupo dito como de mal feitores, sanguinários e que matavam sem piedade. O qual passaremos a contar. Dessa forma, um mero causo contado de geração em geração, passa a registro iconográfico entrando assim para os anais da história.

Corria o ano de 37. Lampíão e seu bando andava aqui pras bandas do nosso sertão alagoano, nas proximidades do sítio Gavião, Pedrão e Capim. Meu avô que era agricultor, estava ali, nos afazeres do campo, na sua propriedade que ficava a poucos quilômetros da cidade de Olho D’Água das Flores, dispensava cuidados a um animal, uma mula. O por do sol assinalava o fim de mais um dia. E eis que ele escuta um tropel de cavalos saindo da mata fechada. O chefe do bando resolve abordá-lo:

-Quem é o senhor?
-Eu me chamo Thomaz Doroteu Bezerra Santos de Sá.
-De quem é esse animal?
-É nosso sim senhor...
-Quer acompanhar nosso bando?
-Quero não senhor...
-Cabra frouxo...Com um nome desse, ainda mais alagoano só podia ser ladrão de cavalo!

*Nem por isso Lampião o deixaria em paz, Fê-lo refém e obrigou-o a acompanhar o bando até a Fazenda de Seu Esaú um fazendeiro rico que existiu por ali, à época. Numa oportunidade que lhes deram, enquanto tiravam mel dumas colméias, meu avô escapuliu.


Fabio Campos

Padre Francisco Correia

Daremos de iniciar o que temos pra contar, sobre este homem santo de Deus, na cidade ribeirinha de Porto da Folha, hoje Traipu. Mais precisamente na Matriz de Nossa Senhora do Ó. Erguida em meados do século XVIII, sede da primeira paróquia do então recém ordenado, padre Francisco José Correia de Albuquerque.

Escaldante manhã de um domingo de verão. 10 de março de 1782, o bispo Dom Tomaz da Encarnação Costa Lima, mandou chamar o padre Francisco em seu gabinete. Havia acabado de assinar e colocar a marca d’água com seu anel, no expediente, que nomeava o jovem padre de vinte e poucos anos, ao cargo de visitador das sesmarias fincadas ao sul da Capitania de Pernambuco, no sertão das Alagoas. Isso incluía as devolutas terras concedidas pela corte portuguesa, sediada no Rio de Janeiro, aos irmãos Martinhos. Ato contínuo, fez cair um gomo de cera quente entre o encontro das dobras do papel e lacrou, sobrepondo a ferro em alto relevo, o brasão da Ordem dos frades franciscanos da Arquidiocese de Penedo, sob a égide da Santa Madre Igreja Católica, Apostólica, Romana. Enquanto fazia a genuflexão, o bispo Concedeu-lhe a benção clerical sobre a fronte do missionário. Encaminhou-o em nome de Deus e da igreja, desejando-lhe boa viagem. O padre beijou-lhe a mão que continha o anel episcopal, e saiu quase sem dar as costas.

No dia seguinte à bordo da “Gaiola” de nome Estrela D’Alva, subiria o rio São Francisco até Pão de Açúcar. A expedição até a Vila da Ribeira do Panema, se daria à cavalo, e duraria dois dias e meio de viajem. Teve a companhia de dois frades franciscanos, chamados Cosme e Damião, irmãos de sangue. De um cavalo e três mulas se compunha o comboio. Ao longo de todo o percurso puderam ver colonos lavrando a terra com uso do trabalho escravos, e animais, que puxavam rústicos arados. À encosta do rio Ipanema, também se lavrava a terra. Dali a uma semana seria dia de São José, rezava a tradição que devia plantar-se milho à época para colher em meados de junho. Antes de atravessar o Ipanema, ficariam bom tempo, observando da margem direita, o maciço onde se assentava a vila. Um filete de fumaça negra, saindo do meio da exuberante vegetação indicava a presença humana pras banda dum lugar que chamariam mais tarde de Bebedouro. A paisagem que se descortinava a frente, causaria grande impressão nos religiosos desbravadores. O fascinante bailado das águas nas pedras fazia desprender espuma transformada em gotículas d’água tornando o ar ainda mais úmido, etéreo. Fazia-se um céu fofo, de nuvens brancas contrastadas com o fundo azul. Magnífica sinfonia ecoava da selva branca, belo canto dos inúmeros pássaros, dava a se ouvir vindo de todas as direções. Muito da obra do Criador ali tão evidente, nas conchinhas, nos seixos, nos insetos, na riqueza de cores das plantas. Tudo em derredor deitava admiração nos religiosos. De humano mesmo, só suas presenças, senão a vista de alguns casebres cor de barro, muito distante e a cantiga renitente das negras d’África, na lavagem de roupas longe no baixio. A densa vegetação era o cenário predominante. O rio por aquela ocasião encontrava-se manso e com pouca água no leito, dava até pra atravessar sem a necessidade de embarcação. O missionário chefe da expedição, abaixando-se fez concha com as mãos e provou da água salobra. Erguendo a cabeça, vislumbrou no maciço batente do rio, imponente igreja com torre de 60 côvados, tendo em volta muitas edificações. O padre era visionário.

Ao chegar a vila, o cortejo dirigiu-se a fazenda Ribeira do Panema. À medida que avançavam chamavam atenção dos trabalhadores no campo, dava pra perceber que lá dentro dos casebres olhavam. As crianças estacionados do ato de brincar, olhavam. Os missionários faziam questão de cumprimentar a todos que encontravam. Estivesse na lida com os serviços do campo ou sentado no umbral de suas casas. No alpendre da sede da fazenda Dom Martinho já os aguardava. Trajado de branco, dos pés a cabeça. Trazia uma bengala herança do patriarcado,que segurava como um rei sustenta seu cetro. Na cabeça o chapéu. Desfrutava dos prazeres proporcionados pela paisagem. Tão familiar que fazia em conta, que tudo aquilo, tivesse sido feito por Deus, com exclusividade pra ele. Degustava um café feito por uma preta velha, torrado a caco, socado num pilão, com tacos de rapadura de mel de engenho. A infusão recém saída do bule que permanecera no braseiro espalhava doce aroma no terreiro. Não demoraria e acenderia seu cigarro de fumo picado especialmente preparado pra tal ocasião.

Dom Martinho tendo ao lado a esposa e filhos, dariam as boas vindas à comitiva de religiosos. Fazendo as honras da casa, ofereceu-lhes estadia. De pé prometeria perante os que ali se encontravam, que de muito bom grado se colocaria a serviço dos representantes do Clero, tanto a sua pessoa, quanto a digníssima esposa, também sua parentela. A criadagem segundo suas palavras, eram todos cristãos católicos e tementes a Deus. Por extensão colocaria a disposição as terras de sua posse, a sesmaria Martinho e Vieira. Ainda sem se sentarem, o padre teria declarado qual seria sua missão naquela expedição. Sob a ordem da santa madre igreja católica, apostólica, romana, e tendo sido encaminhado pelo Bispo Dom Tomaz da Encarnação Costa e Lima, também em nome do Imperador do Brasil Dom Pedro II, estaria ali em missão de paz, de pregar e doutrinar almas cristãs, de educar na fé os irmãos em Cristo Jesus. Tinha os missionários tal missão.

O padre percebeu a existência de uma capela no lado leste da casa grande. Era uma igrejinha de quatro metros por cinco, com duas caídas d’água laterais, uma cruz no frontispício e uma campânula suspensa numa trave logo no início do lance de alguns degraus. Após ocuparem os aposentos a eles designados quis conhecê-la. Comentaria da construção, de que aquele, não teria sido o melhor local para assentarem a edificação. Virada pro sul, como se encontrava, recebia as águas da chuva pela porta da frente, como de fato o donatário já havia constatado, muito embora não confirmasse, só pra não reconhecer o erro. Ao donatário perguntaria o porquê, da devoção a São José naquela sesmaria. Dom Martinho esclareceria que se tratava de herança de família, vinha dos bisavôs paternos. A fazenda estava em festa, se aproximava a novena do santo. Ali mesmo nas bancas da capela, os missionários dariam de iniciar as primeiras aulas, aos filhos dos colonos e habitantes da vila. Dava-se a ensinar-lhes gramática, retórica, canto e catequizavam em nome de Deus.
  
Padre Francisco comentaria com ele da escolha do santo para estar sob a égide da Vila da Ribeira, que seria Senhora Sant’Anna. A escolha teria se dado desde o momento que ele fora nomeado pelo bispo, explicou que teria recebido a designação da própria virgem Santíssima. A mesma em pessoa, teria lhe aparecido em sonho dizendo: “Francisco! Tantas freguesias já existiam sob a denominação de meu nome, te peço, que seja uma, criada com o nome de Sant’Anna, minha mãe querida”. E o padre com a ajuda de Dom Martinho daria de iniciar, no centro da vila, a construção da igreja que seria futuramente a Matriz de Senhora Santana. O padre faria a planta da edificação e ele próprio escolheria o local. O padre tinha noções de arquitetura. Teve um dia, em que os pedreiros entrariam noite a dentro trabalhando, precisaram ir ao rio pegar água pra colocar na argamassa. E eis que avistaram, mesmo não sendo noite de lua, o padre Francisco andando sobre as águas do Ipanema. Muito anos se passaram. O padre, vez outra partia, mas sempre voltava a Vila da Ribeira do Panema. Num desses retornos, trouxe numa das mulas, gesso, vindo da província de São Vicente, queria ensinar as crianças de Sant’Anna a arte de modelagem. O padre que nunca fora bom nas aulas de artes no Convento de Nossa Senhora dos Anjos em Penedo, cidade natal, onde seus pais pobres o entregariam aos quatro anos de idade, para ser educado pelos frades. Agora se propunha a ensinar e aprender arte sacra, a esculpir no gesso. E de suas mãos com que por milagre belos crucifixos se fizeram. Um deles permaneceu na Matriz de Senhora Santana por muitos anos.


Fabio Campos

Seu Cariolano

Já faz mais de oitenta anos, que este mesmo sol, que esquenta as frias manhãs agostinas. Alumiou as matinais de sábado de Santana do Ipanema de então. As largas pedras do calçamento da Praça do Comércio, as empanadas das bancas dos mercadores no passeio, estufadas de luz. A escadaria da matriz e a calçada da farmácia de Seu Cariolano salpicada de orvalho. Nem bem a botica abria, e uma ruma de matuto se aglomerava à porta, pra uma consulta médica. Seu Cariolano chegava trajado no seu impecável terno de linho. Chapéu coco na cabeça, e bengala à mão. Afagava a cabeça duma criança, à tiracolo da mãe. As mãos gordas. No médio da destra, ostentava um rico anel de jaspe emparelhado com uma grossa aliança de ouro. Sorria, balançando a imensa pança. Acabava tossindo por conta das vias respiratórias impregnadas de tabaco. E os grandes olhos acabavam vermelhos e lacrimejantes devido ao acesso de tosse. No final da tarde chegava mestre Idalino funileiro, Amarildo contínuo da Intendência Municipal e Zezinho da Bomba de querosene. Um deles iniciaria uma partida de gamão com Seu Cariolano. O Bar Lira D’Ouro enchia o passeio de música de Chiquinha Gonzaga.

Mulheres ricamente trajadas deslizavam suave no leito da rua sob alegres sombrinhas. Ocupavam os trilhos dos carros e cabriolés. Pouco incomodadas se deixavam irritados os condutores, que encostavam às suas retaguardas, e acionavam insistentemente a buzina rouca e engraçada. Ululante conversar do populacho. Meninos brincavam como se a via fosse seus quintais, sem dar atenção aos ciclistas em suas roupas graciosas e bonés bufantes. Os homens sentados em cadeiras de palhinhas lançavam ao ar fumaça plúmbea e azulada, de seus charutos, junto seguiam seus olhares preguiçosos de reprovação aos mendigos e ciganos, que buscavam o que restou da feira. Davam-se em comércio da vida alheia. Os que estavam sentados as calçadas, ocupavam-se com tudo que se movimentava ou passava. Punham-se a sedutora tarefa de observar as pessoas. De como estavam vestidas ou como se apresentavam no passeio. Com quem andavam e como andavam. Seu Cariolano esperava Pedro cambista, queria saber o resultado do jogo do bicho. Vez outra acertava. Se sonhava com a companheira, brava e briguenta, investia na cobra. Caso tranquila, arriscava na águia, avestruz ou borboleta. Se no sonho aparecesse Zé Doidinho, punha aposta no veado. O fato de uma pessoa que nunca mais tinha visto atravessar seu caminho, poderia ser motivo pra uma aposta. Uma bêbada chamada Maria Goiabeira, se aparecia na farmácia importunando, lá ia apostar no cachorro. O açougueiro João Fofo, a muito desaparecido, se ia comprar analgésicos, apostava no urso. O estivador, Porco Véio, sumido, se lhes vinha, a aposta era no porco. Não acertava sempre, mas valia a pena tentar.

Seu Cariolano tinha por esposa Dona Alina, e por filha Jorgina. Com o falecimento de Dona Alina, foi morar no Largo São Francisco, amasiando-se com Dona Nina. Gostava e colecionava lamparinas. Desde jovem sempre fora chegado a jogatina. O filho Jairo após o almoço pedia, muito embora tentasse evitar lhe dar, cajuína. Antes da cesta lia o Jornal do Commércio. Ficou sabendo da grande depressão econômica. A crise financeira que afetara a Bolsa de Valores de Nova Iorque. E que o presidente Getúlio Vargas teria mandado queimar no interior de São Paulo, centenas de sacas de café, para que o produto mais exportado do Brasil pros Estados Unidos, Europa e Ásia não perdesse valor de mercado. Ficou sabendo de Maria Francisca Edwiges Neves Gonzaga, a popularíssima cantora e vedete Chiquinha Gonzaga chegara da América muito doente. Seu Cariolano após a merecida cesta, acordava com a insistente buzina do carrinho de doces de Seu Zelito, que vendia umas bengalas de açúcar cristal tão branquinhas! E tinha umas, raiadas com essências de groselha. Jairo ganhava uma nota de um Cruzeiro novinha estalando! Era uma nota esverdeada que trazia a efígie do navegador lusitano Pedro Alvares Cabral. Ele punha-se a cheirar a nota, pois achava bom o odor da cédula. Seu Carol ralhava, dizia pra não fazer aquilo, pois além de conter micróbios, era tóxica a tinta do dinheiro. O menino contestava dizendo que a mãe cheirava sempre que sentia tonturas. Um dia, o Intendente Municipal Senhor Francisco Soares de Campos, nomeou o Senhor Cariolano Amaral e Souza, delegado do Distrito de Santana do Ipanema. Foi num sábado, duas mulheres se engalfinhou numa briga na Rua do Velame. O motivo da contenda, a posse de uma criança. Ambas se diziam mãe do recém-nascido. Foram presas, levadas pra Cadeia Pública na Rua do Sebo, ficaram na sala de custódia. Uma cela suja, de paredes encardidas e que cheirava a mofo. Senhor Cariolano levou o lactante pra sua casa. Deixou sob os cuidados de Dona Nina. O motivo porque as duas brigavam pela posse da cria, o delegado sabia. Um abastado comerciante, maritalmente comprometido, reconhecia a paternidade, não se negava a conceder uma pensão alimentícia pro filho bastardo. Só que tivera casos amorosos com as duas mulheres arruaceiras. Senhor delegado Cariolano chegaria a delegacia muito apreensivo. Pensava num meio de resolver o caso do bebê com duas mães. Colocou-se a cadeira atrás do birô, e pôs-se a ler o Jornal do Commércio. De repente, ao ler no periódico a passagem bíblica daquele dia, teve um estalo. Descobrira um meio de resolver o impasse. Mandou que fosse trazida a criança, e diante das duas damas que se diziam mães do bebê, declarou que a criança não ficaria com nenhuma delas. Seria encaminhada para o Convento de Frades Franciscanos em Penedo. Uma das mulheres muito triste e resignada, abrindo mão da posse do filho, concedeu o direito à outra de ficar com ele. O delegado Carol sabiamente reconheceu como sendo àquela a verdadeira mãe, e a entregou a criança. Santana do Ipanema por um momento pode ter o seu rei Salomão.


Fabio Campos

A Jega de Zé Urbano

Entre 20 e 25 de agosto deste ano, viveremos a Semana do Folclore Brasileiro. O evento converge para 22, o Dia Nacional do Folclore. Isso sempre possibilita renascer em cada um de nós, amor pelas manifestações folclóricas, nossos folguedos e tradições. O interior do Brasil é um manancial desse riquíssimo tesouro. O estado de Alagoas é o estado do Brasil com o maior número de folguedos do país, mais de cem.

Equinos, asininos e muares esses contribuem enormemente na aquarela brasileira que povoa nosso folclore. O Velho O menino e o Burro; A mula-Sem-Cabeça; O Negrinho do pastoreio são desses diamantes:

Negrinho do Pastoreio lenda afro-cristã de um menino escravo que é espancado pelo dono e largado nu, sangrando, em um formigueiro, por ter perdido um cavalo baio. No dia seguinte, quando foi ver o estado de sua vítima, o estancieiro tomou um susto. O menino estava lá, mas de pé, com a pele lisa, sem nenhuma marca das chicotadas, nem fora comido pelas formigas. Ao lado dele, Nossa Senhora e mais adiante o baio e os outros cavalos. O estancieiro se jogou no chão pedindo perdão, mas o negrinho nada respondeu. Apenas beijou a mão da Santa, montou no baio e partiu com a tropilha. Daí por diante, quando qualquer cristão perdia uma coisa, o que fosse, pedia-la ao Negrinho, que a campeava e achava, mas só entregava a quem acendesse uma vela, que ele levava para o altar de sua madrinha, a Virgem que o livrara do cativeiro.

A Mula-Sem-Cabeça lenda hispânico-portuguesa, cuja versão mais corrente é a de uma mulher, virgem ou não, que dormiu com um padre, pelo que sofre a maldição de se transformar nesse monstro em cada passagem de quinta para sexta-feira, numa encruzilhada. Outra versão fala que se nascesse uma criança desse amor proibido, e fosse menina, viraria uma mula sem cabeça; se menino, seria um lobisomem. A Mula percorre sete povoados naquela noite de transformação, e se encontrar alguém chupa seus olhos, unhas e dedos. Apesar do nome, a Mula sem cabeça, acordo com quem já a "viu", aparece como um animal completo, que lança fogo pelas narinas e boca, onde tem freios de ferro.

Diante dessas circunstâncias, acabamos por lembrar de um fato interessante que de certa forma, não deixa de ser folclórico, ocorrido com uma jumenta pertencente a Zé Urbano. Lá pelos idos dos anos setenta, uma turma de maloqueiro da praça do Monumento foi tomar banho no “panema” lá pras bandas do “escondidinho” próximo a maniçoba. Entre eles João Branco (ou João Pênis), Miltinho, Aderval de Dona Helena, saudoso Ademar de Seu Sulino entre outros. Na volta encontraram a jumentinha de Zé Urbano pastando por ali, e resolveram aliviar suas necessidades sexuais na jumenta. Dias depois Aderval, vulgo “Papa-figo”, o filho do dono da jeguinha. Foi de casa em casa, batendo na porta dos aproveitadores da inocente mulher do jegue, cobrar uma cuia de milho, era o pagamento pelo ato sexual coletivo. Pois segundo ele:

-“Xêxo*” não se devia dá nem em jumenta!


*Segundo o dicionário “on line” Xêxo é corruptela da palavra seixo, acepção.


Fabio Campos

O Moleque Tinha Duas Profissões Professor!

Já faz dez anos que gasto sola de sapatos, a caminho da Escola Estadual Mileno Ferreira pra ali trabalhar na espinhosa, porém auspiciosa função de professor. Ao sair de casa entrego o meu dia e minha jornada na mão de nosso Jesus Cristo. E sigo pra lida diária. Por esse tempo todo, nunca, nada me ocorreu relacionado a algum evento envolvendo meliante, larápio ou coisa desse tipo.

Excetuando à regra, certa feita, ao ter que passar por um grupo de malandros, nas imediações do antigo cabaré de Dona Brejão. Seríamos abordado por um deles. Um rapazote, aparentando estar sob o feito de drogas, pediria ao “coroa”, no caso eu, pra liberar um “troco” que alegou ser pra compra de bebida. Meio constrangido atendemos a solicitação, e seguimos em paz nosso caminho.

Meu filho Joaddan que hoje reside em Maceió, e que na capital alagoana já foi assaltado pelo menos umas duas vezes. A alguns anos passados, à caminho da Escola Mileno Ferreira onde estudava, bem próximo ao local aonde ocorreu àquele fato comigo, teve seu boné subtraído por um moleque de rua. De volta à casa, foi aconselhado a não tomar nenhuma providência relacionada àquele furto, que deixasse pra lá. Como também não reagisse com qualquer tipo de atitude violenta, caso voltasse a ocorrer a ele fato semelhante. Serviu a lição, e meu filho está vivo até hoje, com as graças de Deus.

Professor Luiz Silva, é professor novato na Escola Mileno Ferreira, esta semana contava-nos que mora em Santana do Ipanema há dois anos, e já foi assalto, nada mais nada menos que seis vezes! Apesar da seriedade que o assunto exige, pelo menos um dos casos envolvendo o professor, levou-nos, eu e a seus colegas de trabalho, ao riso pelo modo como ocorreu. Com o devido respeito que tenho ao colega, escusado as desculpas, passo a contar.

Professor foi prestigiar noutro ano, a festividade pela passagem do Dia do Estudante, à Praça da Bandeira. Ali um moleque de rua, cutucando-lhe o braço, pediu um “trocado”, dizendo que era para fazer um lanche. O providencial dinheiro miúdo foi da carteira do professor, para as mãos do pirralho. Alta madrugada volta o professor sozinho pra casa, quando chega às imediações da ponte do Padre, o mesmo moleque, desta feita com uma faca pexeira apontada pro seu pescoço, anunciou o assalto. O professor ao reconhecer o gatuno mirim tenta argumentar:


-Êi rapaz! Não foi você que me pediu dinheiro pra um lanche lá na praça!...


-Foi! Mas lá eu era pedinte, aqui eu sou assaltante!


Fabio Campos