O homem de terno sóbrio, e chapéu,
apertou a campainha, e ficou esperando. Posicionou-se de modo a ficar de frente
pro olho mágico. Para que pudesse ser visto, porém não reconhecido, pelos que
moravam na casa. Aproveitou para olhar em derredor. A morada era uma construção
alegre, arejada, a tonalidade dominante de paredes, janelas e cortinas era a
cor branca. Tinha sacada, varanda, jardim, tudo muito amplo e bem cuidado. Plantas
ornamentais esmeradamente cuidadas. O telhado americano, de conchinhas
avermelhadas, contrastava com o céu azul, pontilhado de flocos de nuvens
branquinhas. A vizinhança de casas identicamente serenas. Pareciam dormir.
O homem pousou a maleta no chão.
Tirou o chapéu, tentou abanar-se com ele. O cabelo bem cuidado dava indícios de
que logo teria o dobro de fios brancos nas têmporas que tinha agora. O rosto másculo,
porém suave, barba bem feita. Aparência de um pastor evangélico, branco, inglês,
da década de trinta. Tentou adivinhar que horas seriam. Pensou em 13 horas. Consultou
o relógio de pulso, errou por 35 minutos. Dispôs-se apertar, mais uma vez a
campainha, e de lá dentro, ouviria o insistente e sonoro ‘din-don’ como que
dizendo: ‘por favor. Alguém atenda à porta!’. E eis que se abriu. O indicador
ficou suspenso no ar. Inquisitivo apontava pro nada. Talvez pra aquela que
abrira a porta.
A moça surgida a sua frente, era
uma ruiva muito bonita. Nos lábios um batom vermelho vivo. Os olhos claros, os
cílios arqueados, as sobrancelhas sinuosas como que diziam: ‘Quem é você?’. O
corpo escultural, amplamente favorecido dentro duma blusa vaporosa e saia
elegantemente rodada, tão em voga nos anos 40. A segurar ainda a maçanenta os
cumprimentos. O inevitável, mais por educação, convite a entrar. O homem
apresentou-se com sendo Edgard Piazzentini, professor. Ela disse chamar-se
Julia Maldonado, esposa de Robert Maldonado. O homem queria saber pra início de
conversa, à quanto tempo aquela família habitava a casa. A moça ainda mais
curiosa esclareceu que desde que se casara, fazia dois anos. Edgard tinha uma
história interessante pra contar.
Menphis Thophelis a macerar com
as mãos uma bola invisível enquanto pronunciava palavras ininteligíveis. Em torno
de si, uma densa nuvem multicolor girando, alucinadamente girando a tomar forma,
mais e mais. E uma micro galáxia de pequenos planetas, de milhares de
minúsculas estrelas, asteroides e meteoros no sentido horário a girar
intensamente em torno do seu corpo. Finalmente a bola incandescente se
materializou. Permaneceu flutuante a sua frente. E Menphis somente com a força
do pensamento arremessou-a contra Tagor. O globo em fogo ardente voou
furiosamente. A esfera de larva incandescente foi chocar-se no escudo de Tagor,
voou brasa pra tudo quanto foi lado. De muito longe deu pra se ouvir o
estrondo. Foram muitos os que temeram tal combate. A reação foi imediata Tagor
atirou sua lança que varou o olho direito de Menphis. O demônio quase não se
abalou, com suas próprias mãos arrancou o dardo cravado em uma de suas vistas. Isso
serviu apenas para irritá-lo ainda mais. De dentro de um bornal que trazia a
tiracolo, retirou umas estrelas prateadas de lâminas afiadíssimas. Arremessou à
primeira, que partiu o escudo de Tagor em dois pedaços. A segunda vinha no ar e
foi interceptada por um tiro da espingarda de Tagor. Três lâminas mais haviam
pra atirar. Menphis o fez de uma só vez. A primeira e a segunda, encontrou o
infinito como alvo. A terceira no entanto decepou o braço direito que Tagor empunhava uma espada.
O braço apartado do corpo tinha fios e circuitos que começaram a soltar
faíscas. E Menphis entendeu que estava lutando com um cyborg. A máquina em
forma de nosso herói se virou num transformer. O rosto perdeu a pele e adquiriu
a textura metálica. Perdeu o cabelo e no lugar surgiu crânio de aço. Olhos,
nariz e boca de ferro. O tronco era todo um tanque de guerra e de seu braço intacto
lançou um torpedo contra o diabo, explodindo em milhões de pedaços.
João um dos meninos da bicicleta,
estava no meio do mato. Havia parado pra descansar, Era seis da manhã esperaria
Lucas. Eis que não demoraria se encontrar, e iam conversando. O sol esquentando altas
copas das árvores. O orvalho das folhas de mato rasteiro molhando as canelas
finas. As mutucas exercitando a arte de sugar sangue logo cedo. Os meninos, no dia anterior,
a quatro mãos, haviam construído uma caverna na base da montanha.
Tinham armado umas arapucas pra captura de preás. E agora iam ver se havia
logrado êxito, quem sabe pego algum herbívoro roedor. O tio Feliciano satisfeito
ficaria, pois os roedores estavam estragando a plantação de palma. De repente
do meio do mato surgiu Marcos. Todos estranharam o encontro inesperado pois não haviam combinado, de encontrar-se com ele ali. Ainda mais aquela hora.
Sequer sabia ele da jornada matinal que os outros dois tinham inventado.
O estranhamento foi geral. Marcos, por sua vez não conseguia disfarçar que não
previa encontrar ali os amigos. Afinal o que estaria mesmo acontecendo?
Senhor Edgard, sentado no sofá da
sala, com a canhota segurava com delicadeza o pires, com a destra a asa da
xícara de café. Agora de óculos de grau, o que dava um ar de quem inspirava um
pouco mais de confiança. Iniciara-se a contar sua história, dizia que naquela
casa morara seus antepassados por parte de pai. Seus avós paternos, senhor
Jairo e dona Letícia. Na época a casa não tinha vizinhança ficava isolada,
praticamente um pomar. Viviam do que colhiam na roça, de frutas, hortaliças,
granjeiros e da aposentadoria por velhice de ambos. E a forma com os dois foram
mortos é que intrigava. Foram encontrados ambos degolados, deitados na cama. Não
apresentavam nenhum distúrbio psíquico, na família. Pra polícia o caso foi
arquivado como um duplo suicídio. Edgard, porém, jamais aceitou tal versão e
pôs a investigar. Cinco décadas já haviam se passado de tão trágico
acontecimento. Lembrou que não muito longe dali havia um lago. Onde seu avô
costumava leva-lo quando vinha passar as férias com eles. E no lado oposto ao
lago uma gruta no sopé da montanha. Mostrou uma foto dele e seu avô na beira do
lago. Olhando com uma lupa Edgard fez uma descoberta incrível. Lá na entrada da
gruta. Sob a luz do sol: Um brilho metálico, e tinha forma humana. Alguém
trajado em uma roupa reluzente, como de extraterrestre.
Marcos resolveu contar a verdade.
Disse a Lucas e João que naquela noite recebera a visita de alienígenas. Por
volta da meia noite bateram na janela de seu quarto. Precisavam de ajuda para
localizar um ponto exato no meio do mato, onde a nave espacial de um deles
caíra. Um deles estaria perdido no meio do mato. Em vão tentaram localizá-lo,
porém os equipamentos deles sofria interferência dos satélites que transmitiam canais
de tevê aqui da terra. Talvez se a rede elétrica fosse desligada por alguns
momentos quem sabe conseguiriam localizar. E lembraram que exatamente as duas
da madrugada faltara energia elétrica em toda região. Esse fato foi confirmado
pelo locutor do rádio pela manhã. adentraram a mata. O alien perdido abrigou-se
numa gruta muito próximo duma casa sobre as árvores que os meninos tinham
construído. Marcos amanhecera na mata e agora inesperadamente encontrava com os
amigos. Os aliens não haviam partido agora estudavam o local e precisavam consertar
os estragos na nave. Bem como os tripulantes que sofreram ferimentos leves
estavam se recuperando. Agora eram três os que se dirigiam pra caverna onde eles
se encontravam.
Edgard perguntou a Júlia se ela
acreditava, na seguinte teoria: que, pra cada ação de um membro da nossa
família, por mais distante que se encontrasse, uma ação equivalente acontecia
com outro parente. Não sabia explicar direito mas ia tentar. Se alguém da
família cometesse um delito, tipo matar, roubar e mesmo suicidar-se que não deixava de ser um crime, outro membro da mesma família se angustiaria, sofreria, se abalaria e
entraria em desespero no exato momento do delito. Tentaria explicar o que nem
mesmo entendia por completo. E propôs que estaria na hora de provar essa sua
teoria. Pra isso Júlia teria que aceitar participar das regras do jogo.
Fabio Campos, 11 de novembro de
2016.
A Gravura que ilustra este Episódio é foto tirada por mim mesmo (autor e blogueiro) de Aika minha neta de 4 anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário