O Jogo (14° Episódio de T.F.)

O homem de terno sóbrio, e chapéu, apertou a campainha, e ficou esperando. Posicionou-se de modo a ficar de frente pro olho mágico. Para que pudesse ser visto, porém não reconhecido, pelos que moravam na casa. Aproveitou para olhar em derredor. A morada era uma construção alegre, arejada, a tonalidade dominante de paredes, janelas e cortinas era a cor branca. Tinha sacada, varanda, jardim, tudo muito amplo e bem cuidado. Plantas ornamentais esmeradamente cuidadas. O telhado americano, de conchinhas avermelhadas, contrastava com o céu azul, pontilhado de flocos de nuvens branquinhas. A vizinhança de casas identicamente serenas. Pareciam dormir.

O homem pousou a maleta no chão. Tirou o chapéu, tentou abanar-se com ele. O cabelo bem cuidado dava indícios de que logo teria o dobro de fios brancos nas têmporas que tinha agora. O rosto másculo, porém suave, barba bem feita. Aparência de um pastor evangélico, branco, inglês, da década de trinta. Tentou adivinhar que horas seriam. Pensou em 13 horas. Consultou o relógio de pulso, errou por 35 minutos. Dispôs-se apertar, mais uma vez a campainha, e de lá dentro, ouviria o insistente e sonoro ‘din-don’ como que dizendo: ‘por favor. Alguém atenda à porta!’. E eis que se abriu. O indicador ficou suspenso no ar. Inquisitivo apontava pro nada. Talvez pra aquela que abrira a porta.

A moça surgida a sua frente, era uma ruiva muito bonita. Nos lábios um batom vermelho vivo. Os olhos claros, os cílios arqueados, as sobrancelhas sinuosas como que diziam: ‘Quem é você?’. O corpo escultural, amplamente favorecido dentro duma blusa vaporosa e saia elegantemente rodada, tão em voga nos anos 40. A segurar ainda a maçanenta os cumprimentos. O inevitável, mais por educação, convite a entrar. O homem apresentou-se com sendo Edgard Piazzentini, professor. Ela disse chamar-se Julia Maldonado, esposa de Robert Maldonado. O homem queria saber pra início de conversa, à quanto tempo aquela família habitava a casa. A moça ainda mais curiosa esclareceu que desde que se casara, fazia dois anos. Edgard tinha uma história interessante pra contar.

Menphis Thophelis a macerar com as mãos uma bola invisível enquanto pronunciava palavras ininteligíveis. Em torno de si, uma densa nuvem multicolor girando, alucinadamente girando a tomar forma, mais e mais. E uma micro galáxia de pequenos planetas, de milhares de minúsculas estrelas, asteroides e meteoros no sentido horário a girar intensamente em torno do seu corpo. Finalmente a bola incandescente se materializou. Permaneceu flutuante a sua frente. E Menphis somente com a força do pensamento arremessou-a contra Tagor. O globo em fogo ardente voou furiosamente. A esfera de larva incandescente foi chocar-se no escudo de Tagor, voou brasa pra tudo quanto foi lado. De muito longe deu pra se ouvir o estrondo. Foram muitos os que temeram tal combate. A reação foi imediata Tagor atirou sua lança que varou o olho direito de Menphis. O demônio quase não se abalou, com suas próprias mãos arrancou o dardo cravado em uma de suas vistas. Isso serviu apenas para irritá-lo ainda mais. De dentro de um bornal que trazia a tiracolo, retirou umas estrelas prateadas de lâminas afiadíssimas. Arremessou à primeira, que partiu o escudo de Tagor em dois pedaços. A segunda vinha no ar e foi interceptada por um tiro da espingarda de Tagor. Três lâminas mais haviam pra atirar. Menphis o fez de uma só vez. A primeira e a segunda, encontrou o infinito como alvo. A terceira no entanto decepou o  braço direito que Tagor empunhava uma espada. O braço apartado do corpo tinha fios e circuitos que começaram a soltar faíscas. E Menphis entendeu que estava lutando com um cyborg. A máquina em forma de nosso herói se virou num transformer. O rosto perdeu a pele e adquiriu a textura metálica. Perdeu o cabelo e no lugar surgiu crânio de aço. Olhos, nariz e boca de ferro. O tronco era todo um tanque de guerra e de seu braço intacto lançou um torpedo contra o diabo, explodindo em milhões de pedaços.

João um dos meninos da bicicleta, estava no meio do mato. Havia parado pra descansar, Era seis da manhã esperaria Lucas. Eis que não demoraria  se encontrar, e iam conversando. O sol esquentando altas copas das árvores. O orvalho das folhas de mato rasteiro molhando as canelas finas. As mutucas exercitando a arte de sugar sangue logo cedo. Os meninos, no dia anterior, a quatro mãos, haviam construído uma caverna na base da montanha. Tinham   armado umas arapucas pra captura de preás. E agora iam ver se havia logrado êxito, quem sabe pego algum herbívoro roedor. O tio Feliciano satisfeito ficaria, pois os roedores estavam estragando a plantação de palma. De repente do meio do mato surgiu Marcos. Todos estranharam o encontro inesperado pois não haviam combinado, de encontrar-se com ele ali. Ainda mais aquela hora. Sequer sabia ele da jornada matinal que os outros dois tinham inventado. O estranhamento foi geral. Marcos, por sua vez não conseguia disfarçar que não previa encontrar ali os amigos. Afinal o que estaria mesmo acontecendo?

Senhor Edgard, sentado no sofá da sala, com a canhota segurava com delicadeza o pires, com a destra a asa da xícara de café. Agora de óculos de grau, o que dava um ar de quem inspirava um pouco mais de confiança. Iniciara-se a contar sua história, dizia que naquela casa morara seus antepassados por parte de pai. Seus avós paternos, senhor Jairo e dona Letícia. Na época a casa não tinha vizinhança ficava isolada, praticamente um pomar. Viviam do que colhiam na roça, de frutas, hortaliças, granjeiros e da aposentadoria por velhice de ambos. E a forma com os dois foram mortos é que intrigava. Foram encontrados ambos degolados, deitados na cama. Não apresentavam nenhum distúrbio psíquico, na família. Pra polícia o caso foi arquivado como um duplo suicídio. Edgard, porém, jamais aceitou tal versão e pôs a investigar. Cinco décadas já haviam se passado de tão trágico acontecimento. Lembrou que não muito longe dali havia um lago. Onde seu avô costumava leva-lo quando vinha passar as férias com eles. E no lado oposto ao lago uma gruta no sopé da montanha. Mostrou uma foto dele e seu avô na beira do lago. Olhando com uma lupa Edgard fez uma descoberta incrível. Lá na entrada da gruta. Sob a luz do sol: Um brilho metálico, e tinha forma humana. Alguém trajado em uma roupa reluzente, como de extraterrestre.

Marcos resolveu contar a verdade. Disse a Lucas e João que naquela noite recebera a visita de alienígenas. Por volta da meia noite bateram na janela de seu quarto. Precisavam de ajuda para localizar um ponto exato no meio do mato, onde a nave espacial de um deles caíra. Um deles estaria perdido no meio do mato. Em vão tentaram localizá-lo, porém os equipamentos deles sofria interferência dos satélites que transmitiam canais de tevê aqui da terra. Talvez se a rede elétrica fosse desligada por alguns momentos quem sabe conseguiriam localizar. E lembraram que exatamente as duas da madrugada faltara energia elétrica em toda região. Esse fato foi confirmado pelo locutor do rádio pela manhã. adentraram a mata. O alien perdido abrigou-se numa gruta muito próximo duma casa sobre as árvores que os meninos tinham construído. Marcos amanhecera na mata e agora inesperadamente encontrava com os amigos. Os aliens não haviam partido agora estudavam o local e precisavam consertar os estragos na nave. Bem como os tripulantes que sofreram ferimentos leves estavam se recuperando. Agora eram três os que se dirigiam pra caverna onde eles se encontravam.

Edgard perguntou a Júlia se ela acreditava, na seguinte teoria: que, pra cada ação de um membro da nossa família, por mais distante que se encontrasse, uma ação equivalente acontecia com outro parente. Não sabia explicar direito mas ia tentar. Se alguém da família cometesse um delito, tipo matar, roubar e mesmo suicidar-se que não deixava de ser um crime, outro membro da mesma família se angustiaria, sofreria, se abalaria e entraria em desespero no exato momento do delito. Tentaria explicar o que nem mesmo entendia por completo. E propôs que estaria na hora de provar essa sua teoria. Pra isso Júlia teria que aceitar participar das regras do jogo.
  
Fabio Campos, 11 de novembro de 2016.

A Gravura que ilustra este Episódio é foto tirada por mim mesmo (autor e blogueiro) de Aika minha neta de 4 anos.

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