SEBASTIÃO SÃO JOÃO

Seu Sebastião morava na Rua Delmiro Gouveia, no lado das casas altas. Era barbeiro, de profissão. O pequeno salão ficava no porão, que ele dividia com outro barbeiro chamado, Salomão. Além das iniciais dos nomes, outras coincidências, cada um tivera três filhos. Seu Sebastião, Lúcia, Leda e Leonia. Salomão, Diógenes, Davi e Dionel. E eis que seus filhos se deram em casamento. A um dos netos, Seu Sebastião pediu que a filha batizasse pelo nome de Mário. Pequeno Mário seria criado, educado e evangelizado pelo avô.

Católico fervoroso, Seu Sebastião, todo domingo ia à missa matutina, e levava o pequeno Mário, que na época, só oito anos tinha. Isso lá pelos idos de 1968. Esta história são as impressões de Mário, da época em que Santana do Ipanema contava com pouco mais de duzentos fogos. Assim era designado o número de casas de um município nos anais do Instituto de Estatística, de pelo menos trinta anos antes. É de bom alvitre esclarecer donde vem o termo fogos, para designar casas ou moradias. Isso porque a contagem se procedia com o cair da noite, e a cada ponto de luz que se via no breu noturno, tinha-se a certeza de se ter uma habitação.

Depois da missa dominical. Ainda com os primeiros raios de sol lançando-se sobre Santana, o pequeno Mário e vovô Sebastião, tomavam o caminho do rio, e iam pro arruado Santa Luzia, que ficava na barranca do Ipanema, na margem direita, depois do Poço dos homens. Era tradição do sábado de Aleluia, alguns dedicados senhores da igreja de Cristo, receber em missão, o dom de catequizar. Teve um ano que Seu Sebastião, e mais onze homens de Deus, recebeu do cônego Luiz Cirilo o título de “Amigos da Bíblia”. O cônego outorgava o sacramento da catequese, aos homens de fé. Às margens do rio indígena naquela comunidade de remanescentes dos nativos, adultos ouviam o evangelho e as crianças aprendiam a fazer o sinal da cruz. No começo fazia-se a pregação dentro do casebre de dona Maria da Feira. Tempos mais tarde não comportando mais os crentes num espaço tão acanhado, passaram a fazer as santas missões, do lado de fora. Debaixo dum pé de craibeira, no terreiro ao lado da casa. Uma mesinha forrada com um pano branquinho, uma vela acesa, ao lado dum crucifixo. A bíblia, e uma pequena imagem de Santa Luzia. Rezava-se o terço e a ladainha a Nossa Senhora. 
Oh! Mater em cristo
Meu santo varão
Livrai-nos da peste 
meu São Sebastião
A maioria de nós aprendeu a associar a tradição de acender fogueira, a São João. Poucos sabem que verdadeiramente devia se creditar o hábito do acendimento da fogueira a São Sebastião. Em Santana do Ipanema, pelo menos, a ele, está ligada a origem da fogueira. As missões que Seu Sebastião barbeiro iniciara nas manhãs de domingo, com o decorrer do tempo passaram a ser à noite. Desde então, uma fogueira seria acendida, para alumiar o terreiro, também para as pessoas se aquecerem, pois as novenas aconteciam no mês de março, quando eram comum as pancadas de chuvas, dando a preludiar o inverno.
Salve o cristo puro
Estrela luzente
Prodígio das graças
do onipotente
Elisabethe, apelidada carinhosamente de Isabel, esposa do sacerdote Zacarias vivia na Judéia. Já em idade avançada havia concebido. Avisada em sonho, pelo anjo Gabriel, Maria, da descendência de Davi, futura esposa de José, o carpinteiro, foi ter com ela. Para avisar Maria sobre o nascimento de São João Batista e assim ter seu auxílio após o parto, Elisabethe teria acendido uma fogueira sobre um monte. A fogueira de São João passaria a ser o traço comum que unia todas as festas pagãs, na verdade a celebração do solstício de verão.

Oh! Mater em cristo
Meu santo varão
Livrai-nos da peste
meu São Sebastião

O pai de Seu Sebastião antes de se casar, teria sido um homem muito doente. Ainda rapaz teve sérias complicações pulmonar que quase o levou a morte. Diante disso, teria feito uma promessa. Se tivesse um filho varão, dar-lhe-ia o nome de Sebastião e defronte a matriz de nossa Senhora Santana ergueria uma capela a seu santo de devoção.


Fabio Campos

Nenhum comentário:

Postar um comentário