POESIAS, PENSAMENTOS, REFLEXÕES...2020.

VISTA DA CIDADE DE SANTANA DO IPANEMA SERTÃO DE ALAGOAS - BRASIL



O HERÓI, E SUAS 24 HORAS DE HORA "H".           POESIA

À NOITE ELE NÃO DORME

PRATICA YOGA...

DE MANHÃ O TELEFONE NÃO TOCA

GRITA: "ACORDA!"

ANTES DO CAFÉ DA MANHÃ

UM GATO LHE PEDE SOCORRO 

DO ALTO DE UMA ÁRVORE

ANTES DE CHEGAR AO TRABALHO

TENTA AJUDAR UMA VELHINHA

A ATRAVESSAR A RUA...

O SINAL NÃO ABRE!

NO FIM DO DIA ELE DIZ PRA SI MESMO: 

"MINHA VIDA DARIA UM LIVRO!"

E ACRESCENTA: "AH! SE EU FOSSE UM SUPER-HERÓI!"

Fabio Campos 03 de Fevereiro de 1979.

PENSAMENTOS

O MAIOR INIMIGO DO HOMEM, É SEU INSTINTO MAU.

O EXEMPLO É UMA AULA TEÓRICA, PARA QUEM NÃO SABE. E UMA AULA PRÁTICA PARA OS QUE SABEM E/OU ERRAM.

HERÓI NÃO É QUEM VAI PRA GUERRA E AGE. MAS QUEM EVITA QUE HAJA A GUERRA.

Fabio Campos 05 de Fevereiro de 1979.



VISTA DA CIDADE DE PORTO DE PEDRAS LITORAL NORTE DE ALAGOAS -BRASIL


REFLEXÃO

QUEM SERÁ QUE INVENTOU A PÍLULA?

O ELEFANTE PENSANDO QUE TIVESSE O MESMO EFEITO DE UM AMENDOIM!

QUEM SERÁ QUE INVENTOU O DINHEIRO?

O PINHEIRO, UM VEGETAL QUE QUERIA VIR PRA CIDADE, DE QUALQUER JEITO!

QUEM SERÁ QUE INVENTOU A LÂMPADA ELÉTRICA?

UM VAGA-LUME, INSETO QUE QUERIA SER FAMOSO!

QUEM SERÁ QUE INVENTOU A BOMBA ATÔMICA?

UM COGUMELO, UM VEGETAL COM MANIA DE GRANDEZA!

Fabio Campos 07 de Fevereiro de 1979.


VISTA DA CIDADE DE SENADOR RUI PALMEIRA - ALAGOAS - BRASIL

POESIA:  BAGAÇO

UM RIACHO DE IDEIAS

DESLIZA DA MINHA CABEÇA

E SÃO EXPELIDAS

PELAS MINHAS MÃOS

ACABAM SUJANDO TOTALMENTE

UMAS FOLHAS

ALTAMENTE INFLAMÁVEIS

É O BAGAÇO...

ORIUNDO DA MÁQUINA

QUE TRABALHA

EM PROL DA LIBERTAÇÃO...

DOS QUE NÃO FAZEM NADA!

ALÉM DO TRABALHO...

QUE FAZEM...

UMA MÁQUINA INCANSÁVEL!

QUE TENTA MOSTRAR

O QUANTO  É CANSATIVO

VIVER SEM IDEIAS BAGAÇAIS!

FABIO CAMPOS 09 DE FEVEREIRO DE 1979.


DESENHO DE AIKA, MINHA NETA DE 8 ANOS. A SEREIA, QUE EU RENOMEEI DE BOTO COR DE ROSA

POESIA: FIM DA PICADA

Uma caixa-surpresa

explode em versos

um autor frustrado

um palhaço sem alegria

- MOMICE E MORMAÇO -

Com intuito nada mais

negro que a tentação de

EXPOR!

TODO esse produto deteriorado

de uma Mente...

DOENTIA?

NÃO! Não sei...

MENTE MUNDANA?

Já disse, não sei...

não sei de nada.

UMA MENTE QUE NÃO MENTE!

MENTE PÚBERE!

Eis o que é.

Fabio Campos 11 de Fevereiro de 1979.


BRASÃO DA BANDEIRA DE SANTANA DO IPANEMA. A FRASE EM LATIM: "LABORE PROSPERIEREMUS" SIGNIFICA: "NO TRABALHAMOS PROSPERAREMOS"

"TAÍ"      POESIA

TÁ TUDO AÍ...

PRA VOCÊ ROER

EU VOU ABRIR O GIBI:

A MASSA DE HOJE

QUE PEGA O PRATO FEITO

O QUE TINHA PRA FAZER 

JÁ FOI FEITO

E O QUE NÃO FOI...

TÁ POR FAZER

E O PIOR!

ESQUECEM QUE...

QUANDO O SOL NASCE

É UM NOVO DIA QUE

DESPONTA

E SE NÃO FAZEM

O QUE ESTAVA PRO FAZER

PELO MENOS FAZEM 

O QUE NÃO É DA CONTA.

FABIO CAMPOS 13 de FEVEREIRO de 1979.


 FLAGRANTE DA PRAÇA DR. ADELSON ISAAC DE MIRANDA FEITO PELO PRÓPRIO AUTOR


POESIA: O POSTE

HOJE 
EU VI UM POSTE...
HOJE...
NÃO SEI SE ELE ME VIU...
ONTEM
EU VI 
UM
PAPAI NOEL
NUNCA VI
ESCONDIDO
ATRÁS DO POSTE
SEMPRE
LIXO
JAMAIS
PEIXE
TALVEZ
COM A BOCA ABERTA.

FABIO CAMPOS, 28 DE DEZEMBRO DE 2020.








CRISE e PANDEMIA POESIA





CRISE

CRISE CHEGOU

A CRISE ECONÔMICA

TEM EFEITOS

COMO A DISCOTECA

A BOMBA ATÔMICA

CRISE CHEGOU

A CRISE NERVOSA

VEIO COMO

COMO O TEIMOSO

A MOÇA DENGOSA

CRISE CHEGOU

A CRISE DO RISO

HA HA HA HA HA HA!

POESIA AUTOR: FABIO CAMPOS    DESENHO DO FOXY  [By Five Night at Freddy's] FEITO POR MEU NETO THÔMAS KAEL (que fez questão de saber porque seu desenho foi "pego" para ilustrar, uma poesia NADA A VER com o personagem!) 

 A POESIA "CRISE" Está aqui exposta em 3 formatos: FORMATO MÍDIA DIGITAL 1) digitado em 19 de dezembro de 2020; FORMATO FOTO 2) Foto do Original, a poesia escrita com caneta esferográfica em um caderno espiral, datada de 02 de Fevereiro de 1979; FORMATO VÍDEO 3) A poesia, CRISE, Declamada pelo próprio autor, eu mesmo! com utilização da câmara filmadora do telefone celular.


PANDEMIA
PAN PAN PAN PAN!

ELA VEIO!
JAMAIS DEVIA TER VINDO...

ABRAÇOU O DESABRAÇO
APROXIMOU  A DESAPROXIMAÇÃO
DESISOLOU O ISOLAMENTO
SOCIAL
QUE ANDAVA...
UM POUCO ISOLADO

AJUNTOU UM POUCO MAIS
AS FAMÍLIAS...
QUE ANDAVAM
TÃO DESFAMILIARIZADAS!

PAN PAN PAN PAN! 
VOCÊS VIRAM?
JAMAIS OUVIRAM!

O VÍRUS DO IPIRANGA!
AS MARGENS PLÁCIDAS

PAN PAN PAN PAN!
PAN PAN PAN PAN

Fabio Campos, 20 de Dezembro de 2020.



ESTA FOTO ILUSTRA O PRIMEIRO CAPÍTULO DO CONTO: BABY-LLON POSTADO AQUI, NO BLOGGER, EM 24 DE MAIO DE 2020.



















 


FOTO DA CAPA DO CADERNO ONDE ESTÁ COPIADA A POESIA "CRISE".




"Go to hell man!" Cap. 30


O homem, disse: “Go to hell Man!”, e fez o que tinha de fazer.  O que disse, ficou impresso na mente, para sempre. Vestia uma calça jeans. O velho jeans desbotado, era o que mais chamava a atenção em cima dele. Nos pés um par de botas velhas, a camisa surrada, marrom da cor do cenário. O chapéu de caubói, dava-lhe um ar de americano. A sua mochila tinha, na aba, que servia de tranca, vários botons com cores e estrelas, azuis e vermelhas. A frase escapou-lhe da boca, como um tapa de estalo, na cara da tarde. Sorria um riso cínico, de uma carreira de dentes minúsculos, artificiais. As palavras lhes saíam assoviadas, secas, de uma língua sem saliva. As pupilas dilatadas Se não fossem atentos os ouvidos que ouviam, jamais entenderiam. Cairiam no oco da tarde. A vontade de viver, se perdendo nos prados amarelos, no meio do sol quente, do vento, e da poeira. Indo acabar se enganchando nas latas de lixo, cheias de moscas a beira da estrada. O homem tinha várias tatuagens. Uma, que tomava todo o antebraço era uma mulher nua, enroscada por uma enorme serpente. Ficou conhecido como o homem do crime, no Bar do Bola Sete.

O homem, que disse que amava todas as meninas. Alguma coisa muito cavernosa tinha, que ninguém, além dele, sabia. Tem certas horas, que aparentamos sermos pessoas tão puras, tão poesia. Pra em seguida, nos revelarmos verdadeiro chacal, habitante das trevas, e do lamaçal. O coração, coitado, cheio de lodo fétido! Isso dependia do estado de humor que o espírito tivesse. Era motorista de um jeep verde, de capota preta. Os óculos de aros e lentes tão redondas, deixavam-no com certo ar de intelectual. Estupidamente inteligente. Jamais vestira uma calça jeans na vida. Impecável no manequim de tecido, engomado. Detestava os hippies. Achava que eram todos um bandos de maconheiros, filhinhos de papai que nunca sofrera na vida. E que viviam de sombra e água fresca. Um bando de maricas que odiava o trabalho, o capitalismo, a exploração do homem pelo homem. Cujo lema: paz e amor, era só um lema. Se traduzia pela paz que o cigarro de maconha lhes proporcionava, e o amor, em sexo grupal, total, liberal.

O homem que morreria, senhor Djalma, entrou no bar. Sentou num daqueles bancos altos que ficam próximo ao balcão. Apoiou os pés numa espécie de estribo. Pediu uma cerveja. Nem bem o barman ligou a vitrola, tomou-a! Engoliu-a em menos de três minutos, tanta era a sede. Sentiu-se cheio, de espuma. O arroto subiu queimando as narinas, trago forte de cevada. Daria um tempo, antes de pedir mais outra. Os olhos vermelhos, escondia-os atrás de um óculos ray-ban. Lembrou da motocicleta que, um dia deixara quebrada, lá trás, na estrada. Não seria melhor ter pedido café?

O homem, e sua xícara de café. Uma xícara de café tinha tanto a dizer. Dizia de uma tarde fria, chuvosa. Lá pela tardinha, o dia se foi, e antes que a noite viesse, com seu vento negro, de matar as cores, de cobrir o mundo. O mundo, chorou. A chuva, tinha esse poder de fazer as coisas ficarem tristes, pensativas e de fazê-las chorar. Dona Alzira, toda manhã ficava na calçada, com uma vasilha na mão. Esperando o homem do leite, que viria no mesmo instante em que os meninos entrariam pelo portão da escola. Logo ali a frente. Perfeita sincronia, leite chegando, meninos entrando na escola. Dona Alzira que rimava com vasilha, menino que rimava com traquino, jogar bola que rimava com escola. Os meninos se foram, cresceram, viraram homens feito. Seu José do leite morreu, morreu o cavalo que montava. Morreu a rua de paralelepípedo, que virou avenida. Morreu o pé de castanhola do pátio da escola, morreram também as professoras, a diretora e a zeladora. O velho portão com as iniciais do nome: G.E.P.F.C. tudo se acabara. Dona Elvira, no entanto continuava lá, de pé, na calçada. Esperando o homem do leite.     

O homem moreno, com cara de setenta anos. As rugas eram de verdade, e cabelos grisalhos também. Andava como quem dançava coco, e tinha tantas histórias no andar. Conversava com a estrada. Pedia a Deus que a dor no braço não viesse muito cedo, precisava de força pra aparar as canas caiana, que o engenho manual faria virar garapa. As abelhas dóceis, atraídas pelo doce mel, da cana. O pneu do carrinho baixou, estava furado. Ao passar na rua da feira, ia cantando as modinhas do coco de roda que à noite iria ensaiar com as meninas.

“Menina do laço branco/Sobrancelha da cor de veludo/Me dá o teu vestido/ vou te olhar atrás do muro”

Não, não havia mais nada a fazer. O fim estava próximo, literalmente. Tentou lembrar onde tudo começou, inútil tentativa. Melhor ficar quieto. Aceitar, doía menos. Agora, pouco importava, se quando morria, se tomava café, se tomava cerveja, se vestia jeans, ou calça de tecido. Isso pouco importava agora. Se o que o matara era um mendigo, ou um hippie. Se fora morto por conta de uma traição, de um triangulo amoroso, ou de uma dívida não paga. Se era uma manhã cheia de sol, ou era tarde, chuvosa. Importava o que havia vivido. O amor que havia sentido. Não tinha certeza, se fora olhar, a menina, que talvez se chama-se Cícera, Letícia, Alícia... a tomar banho nua, no quintal da vizinha. Não havia mais certeza, alguma. Se tivera tantos irmãos, se seu pai deixara sua mãe. Se a estrada logo ali a frente, tão cheia de luz, lhe levaria pra casa, ou pro céu. Isso, pouco importava agora. Não tinha tanta certeza, se o que vivia era sonho, ou fantasia. Tudo isso, pouco importava... Agora.

14 de dezembro de 2020.

Ilustra este último capítulo do Conto: Baby-llon, foto da Contra-capa do disco Long play, de Djavan "Alumbramento" 1979. Ganhei de presente, do meu filho Joaddan.



 

Corre, Corre, Corredor... Cap.29



Tinha uma coisa com ele. Não gostava de passar, naquele corredor. Apesar de curto, tinha pouco mais de três metros, levava ao hall da escola. Tantas foram as vezes, que sonhara com aquele par de paredes. Sonhos, às vezes bons, outras não tão bom. E até pesadelos! Desde o último que teve, já passara meio século. Muita poeira, teias de aranhas, fezes de morcegos escalavam potentes vigas de madeira, que se cruzavam, se apoiavam umas nas outras. Naquela época ficava a muitos metros à cima de sua cabeça. Pareciam tão maiores do que eram realmente. Paredes amareladas, encardidas. Carimbadas de grude das mãos dos meninos. O sol emprestava um pouco de claridade pra quem precisava passar ali, e tinha medo de escuro. Pelo menos até umas cinco horas da tarde podia contar, com a aquela ajuda, do rei da luz.

A casa onde morava, também tinha corredores. Aliás era mais corredor, que casa. Um dia, melhor dizendo, numa noite, de dentro de um deles, surgiram criaturas fantasmagóricas. Seres de um mundo nunca imaginado. Homens com cabeça de porcos. Cavalos com cabeça de cassácos. Negros musculosos, seminus, coberto com pedaços de pele de animais. A cabeça raspada. A pele luzidia, como se fossem trabalhadores de minas. E que suavam e suavam, nas profundezas das cavernas onde trabalhavam. Dia e noite escavando um minério, de pouco valor. Aquilo, não era sonho, era real. Uma projeção do passado. Nunca ficariam ricos. Perderiam suas vidas e seus espíritos ficariam aprisionados ali. Para sempre.

Era uma vez um homem que amava. Amava tudo que via. Amava todas as coisas com muita intensidade. Vivia dizendo ao seu coração, que amava todas, todas as meninas do mundo! Tinha firme a ideia que as amava, com um amor gratuito, sem querer nada em troca. Não queria, nem esperava ser correspondido no amor que amava. Prometera, a si mesmo, que jamais as desejaria sexualmente, apenas as amaria, gratuitamente. Tinha medo de manchar a pureza que saía dos seus corações. Pedia perdão, a Deus! Uma coisa não negava, vontade tinha de abraçá-las, uma a uma. Beijar seus cabelos. Faria uma afago com as mãos. Mas sabia, poderia ser mal entendido por isso. Um dia, tremenda decpção, ainda causaria, todo esse amor.

O homem via os cavalos, gostava de ficar olhando eles, correndo no cercado. Amava ver suas crinas, seus rabos balançando ao vento resplandecendo no clarão do sol. Se compadecia de cavalos velhos, que os donos não queriam mais, assim como tinha dó, dos cachorros largados na rua, dos gatos que não tinham dono. Chorava em seu coração se via uma casa velha de taipa, abandonada. Conversava com todos. Era um diálogo diferente, na verdade, um monólogo. A conversa, com os cavalos velhos se dava assim, pensava: Ê cavalo, quem te abandonou assim? Quem dera pudesse eu levá-lo comigo, pra minha casa. Porém não posso. Você não conseguiria escalar os dezessete degraus até o meu apartamento. Você, não caberia dentro do meu banheiro. Pra mim já é apertado, imagine? Pedia ao vento que cuidasse dele. Pedia ao sol que não o castigasse tanto. Aos mosquitos nada pedia, eram tão insensíveis. Prometia que um dia voltaria. Ainda que fosse pro seu sepultamento. Amava as cores das nuvens, e ficava morrendo de saudade, quando elas precisavam partir. Levadas pelo vento. Vento, vento, vendaval. Se havia uma coisa, neste mundo, da qual teria saudade quando morresse, seria o azul do céu.

Era aquele, um dia de bebê. Dizia assim, e ficava rindo do trocadilho: “Um dia de beber!”. Era um menino, tinha só um ano e alguns meses de idade. Amava-o. Amava-se, pois o bebê era ele próprio. O cabelo encaracolado, a pele morena, o nariz afilado. Tudo nele, remetia a ele. Pensou o que seria dele? O que o destino lhe reservava? Sabia que o que chamava de destino, Deus chamava de confiar em Deus. E, na sua infinita misericórdia já havia pensado primeiro que ele, a respeito do bebê. Mesmo muito antes dele nascer. Não adiantava se preocupar. O ocupar-se antes da hora, era tão inútil. As coisas que estavam pra acontecer, aconteceriam mesmo que o escritor terrestre jamais imaginasse. O escritor celestial providenciara. Rezas eram apenas rezas. Poder de mudar acontecimentos, que precisavam acontecer, não tinham. Para o bem daquele, e de todos os bebês do mundo. Os nascidos e os que estavam pra nascer. Pensou em sua mãe. Pensou como ela rezava. Todos os dias rezava. As orações de sua mãe, foram subindo, subindo, uma atrás da outra. Subiram com tanta insistência que chegara a Deus. Pelo menos com cinquenta anos de atraso. A perseverança, acabava por vencer, pelo cansaço. Assim, como a mãe de Santo Agostinho.

Haviam histórias que não precisavam ter pé, nem cabeça. Nem corpo. Precisavam dizer, sobre sentimentos. Dizer, de uma parede que se abria para deixar surgir um novo mundo. Algo tão incrível que jamais contara pra alguém. Tinha medo de ser mal entendido. De ser chamado de louco. E mesmo excluído do grupo de colegas, por aquilo. Naquela noite, levantou da cama pra ir no banheiro aliviar a bexiga. Teria que passar no corredor. O corredor da aparição. Ficou com mais medo. Isso só aumentava a pressão da urina na bexiga. Passou horas, entre dormindo e acordado, criando coragem. Abriu um pouquinho a porta. Lá estava a parede, negramente calada. Sem nada lhe dizer. Nada acontecia. Nada, nem desse, nem do outro mundo. Uma parede, como todas as outras. As coisas não eram como, nem quando, a gente queria. Se tivesse de acontecer, simplesmente aconteceria. Sem forçamento de barra. Pelo que lembrava só aconteceu uma vez. Todas as outras, foram frutos de sua imaginação.

Contemos então como foi o ocorrido, na única vez que a parede do corredor abriu o portal pro outro mundo. A bem da verdade, não é que a parede se abriu. A parede começou a projetar,  sobre si mesma, um imenso painel vivo, tridimensional. Se transformando numa imensa tela, exibindo imagens de outra dimensão, como num cinema vivo. Em que o expectador tinha a possibilidade de interagir com as personagens que iam surgindo, na visão super realista. Belíssimas paisagens, um pôr-do-sol africano se materializou. Elefantes e girafas se despediam de mais um dia de sobrevivência, no império majestoso da selva, onde vigorava a lei do mais forte. Hipopótamos adentravam um lago, soprando água pro alto, de suas enormes narinas. De repente, mudava a cena pro polo norte. E o que se via era só brancura de gelo. E o vento frio vinha bater na porta do quarto do menino.  Havia, no sopé da montanha uma casa feita de troncos de madeira. O inverno rigoroso empurrara todos os seres vivos pros seus abrigos. Dava pra senti-los, escondidos dentro das cavernas, ursos hibernavam. As aves migraram pra outras regiões. As cobras entocadas, passariam meses sem se alimentar. De repente um homem negro surgiu naquele cenário. Era alto, em estatura. Vestia peles de animais, que cobriam parte dos músculos vigorosos que tinha. O homem parou bem próximo a parede, cruzou os braços e falou.

Seria tão menos dolorido se todas as pessoas do mundo, ao pressentirem a morte, entendesse-a, respeitasse-a. E principalmente aceitasse-a. Entendeu a mensagem, o fim estava próximo. Infelizmente não era como queria. Não era do seu jeito assim que as coisa aconteciam. Senhor Djalma ficou olhando. Contemplava ele próprio dentro do caixão. Parecia tão sereno,  não o que contemplava, mas o defunto. Parecia, apesar de não ter ocorrido de forma natural, que aceitara passivamente a morte.

Lembrou de quando seu pai morreu. Na noite do velório, recusou-se olhar o corpo do féretro. Uma lua minguante silenciosamente compartilhava do seu silêncio, da sua angústia. Quando o sol despontou, bateu um sono. Preferia ir dormir, a seguir o cortejo. Negava tudo daquilo. Queria que fosse um daqueles pesadelos que quando viesse a manhã, se dissiparia. Simplesmente não queria aceitar aquela realidade. Tinha esperança de viver ainda, tantos momentos ao lado dele. Anotara numa caderneta, um monte de coisas que tinha pra dizer pra ele, quando voltasse do hospital. Uma espécie de diário. E ele voltou. Só que morto.

A morte, tão cheia de surpresas. Ninguém, em sã consciência, queria morrer. Embora existam os que se preparam para ir ao seu encontro. E se o fazem, é por entender que ela, é algo inevitável. Entendia que tempo, não tivera pra esse preparo. Talvez por isso, vagava em espírito, até o presente momento, por não aceitar a morte. Não, da forma como viera, ao seu encontro.

Fabio Campos, 06 de dezembro de 2020. 

Ilustra o penúltimo capítulo deste Conto, foto da capa do disco de vinil de Benedito de Paula, de setembro de 1982. "Ah! Eu chorei!" É uma, das músicas desse LP.