Dentro do Branco Capítulo 12 da Saga de Kira
































Ser cachorro é como ser gente. Tem vantagens, assim como tem desvantagens. Ouvidos sensíveis para as explosões, de pólvoras, estampidos de tiros e qualquer estouro mais forte, certamente é uma tremenda desvantagem. A vidraça da taberna, foi a primeira a ser destruída. O conde de Valverde e Dom Pero começaram o embate, dentro do estabelecimento. Havia uma legião de guerreiros, surgidos de um mundo subterrâneo. O subsolo de Ashikawa tinha se transformado numa cidade subterrânea, habitada pelos alienígenas. Dom Pero e seus asseclas, eram aliens dentro de corpos de pessoas da chácara, e de personagens conhecidos da vila. O jardineiro, o catador de frutas do pomar, o tratador dos cavalos. Também o barman, o garçon, todas as bailarinas, alienígenas revestidos com os corpos de pessoas, que provavelmente teriam matado. 

Muitos deles achavam melhor lutar sem o incômodo revestimento humano. E por isso se desvencilhavam dos corpos que caiam ao chão. Suas cabeças assemelhavam crânios, a diferença era o aspecto metálico de capacete, os olhos dois pontos de luz. Onde devia ter a boca, uma sequência de pequenas janelinhas que deixavam com aparência esquelética, de um riso maléfico, donde saíam, ora feixes de luzes mortíferas, ora projéteis infinitamente minúsculos programados para atingir o alvo. O conde de Valverde não ficava muito atrás com sua tropa. Cavalos voadores revestidos de carapaças de metal, onde apenas os olhos e as ventas ficavam descobertas. Olhos que também emitam luzes, e as ventas soltavam gases venenosos. Centenas deles, montados por guerreiros que se pareciam com dragões, búfalos, serpentes e demônios, que vomitavam fogo de várias cores, com poder de destruição fantástico. Portavam armas potentíssimas que soltavam raios cortantes que desintegrava quase tudo que atingiam. 

A taberna virou uma sucursal do inferno. Dava pra se ouvir os urros, os relinchos e uivos dos cães, lobos cavalos mitológicos, e seres interplanetário se atracando. Os aliens quando mutilados soltavam um sangue verde luminescente. O machado que o conde portava, não apenas cortava. A lâmina afiada, no ataque ao tocar em um corpo, dependendo do material reagia de uma forma. O metal derretia, fios e circuitos explodiam ou entravam em combustão. O vidro derretia.  Se cortasse um andróide o corpo virava pó em segundos. O conde ainda segurava a cabeça de um ciborg quando foi atingido, e caiu do cavalo. O gato Brown e Kira até então apenas assistia, resolveram agir. Da sacada superior do saloon onde se encontravam começaram a acionar uma metralhadora automática, dessas que disparam mais de quinhentos tiros por minuto. As balas ricocheteavam ao bater nas carapaças dos guerreiros aliens. Os ciborgs estavam em desvantagem. Lutavam contra seres alados, o que é uma grande desvantagem. Alçar vôo quando se está lutando ajuda muito. Os feixes de luzes saídos dos olhos dos aliens, e dos seres mitológicos dava ao ambiente impressão de festa. Se alguém ligasse a vitrola  numa batida ritmada do funk, daria pra confundir o combate com uma balada. Não deixava de ser um dantesco baile. Baile macabro.

A menina, se encontrava no nada. Como podia alguém estar no nada? A menina estava. Era um sonho, de Morgana. De repente acordou, dentro de seu próprio sonho. Onde nada existia, apenas ela mesma. Andou, andou pelo nada. Era como estar numa folha de papel branco. Andou até se cansar, e resolveu parar. Sentou-se, e deitou-se. Kira apareceu lá longe. Veio vindo, veio vindo até ficar a alguns focinhos de distância dela. Começaram a conversar. Kira entendia o que a menina dizia mesmo sem nada dizer. Também a menina entendia o que Kira dizia. Ambos sequer abriam a boca. Falavam por pensamento. Morgana olhou pro cachorro, e dentro dos seus olhos via seu irmão. Eram os olhos dele. E falou da saudade que sentia. Dos longos dias de tristeza. De ter que ir morar com a segunda mãe. Amava tanto a primeira. Foi duro, como é toda separação.

Vieram lembranças. Era um apartamento de paredes feias, sujas. Um forro velho encardido. Tinha um quarto, com uma cama, uma lâmpada que vivia permanentemente acesa. Dia e noite acesa. Roupas, calçados e lençóis desarrumados. Bolsas, canetas, livros e moedas, no chão, misturavam-se com brinquedos. Havia uma sala ampla que dava numa cozinha, e num canto ficava o banheiro cuja porta ficava sempre aberta, e a lâmpada o tempo inteiro acesa, pois a menina tinha medo de portas fechadas, e de banheiro, se a luz estivesse apagada. Queria quadros bonitos, mas as paredes só tinham manchas de bolores, infiltrações de chuva. Então com um lápis grafite começou a desenhar nas paredes, ninfas duendes, castelos, rainhas e fadas que um dia viria salvá-la. Quem sabe um dia.

31 de agosto, de 2019.   




POESIA: CHUVARADA

Numa manhã ameaçadora de chuvas, o céu foi se formando, e... 

NUVEM, NUVENZINHA, NUVAÇO, NUVARADA

Tudo ficou nublado, frio, ventania. Daí as nuvens cederam e...

CHUVA, CHUVINHA, CHUVAÇO, CHUVARADA

Lá fora, tudo ficou molhado. Parado e triste, a chuva caía, corria e...

ÁGUA, AGUINHA, AGUAÇO, AGUARADA

Nos esgotos, nas bicas e valetas se iam as águas e...

CÔRREGO, CORREGUINHO, CORREGAÇO, CORREGADA

Enquanto isso, eu em casa, contemplava o aguaceiro, lá fora. De repente, uma fresta na telha deixava cair na bacia a maçante tarefa de uma goteira e...

PINGO, PINGUINHO, PINGAÇO, PINGARADA

Choveu...

Composição feita em 30 de junho de 1978.



 EU VOS DIGO! [ACRÓSTICO]

Faça a paz reinar onde chegares
Ajude sempre os necessitados
Boas ações é que lhe salvará
Igualdade para todos queira sempre
Obrigue-se a perdoar

Saiba ser mandado para poder mandar
Ore qualquer hora
Ame a Deus sobre todas as coisas
Respeite para também ser respeitado
Esperança nunca morrerá
Seja leal e honesto com todos e consigo mesmo

Cultive o bem e o bem colherá
Armas de um homem é moral e caráter
Morrer simplesmente já é um meio de salvação
Procure, e encontrará momentos felizes
Olhe alguém que sofre e estará olhando a Deus
Sua liberdade limita-se quando começa a do outro

Acróstico feito a 40 anos atrás. Exatamente em 29 de junho de 1978. Interessante que ao digitá-lo, consegui ver e sentir, que continuo concordando, e principalmente vivenciando este tipo de filosofia na minha vida. Santana do Ipanema, 31 de Agosto de 2019.

PREGUIÇA Capítulo 11 Saga de KIRA




























Morgana adotou Kira. Ainda em estado de cachorro.  Kira que perdia, pouco a pouco, a capacidade de discernir se era racional ou não. Ganhou um espaço só seu. Ficava no alpendre de um velho casebre do lado leste da Casa grande. Pelo cheiro, que vinha de lá dentro. Ali, só podia ser um depósito de ração, quem sabe fertilizantes e equipamentos agrícolas. A coleira de couro pertencera a uma cadela, que morrera de tão velha. Nada fácil substituir animal de estimação, falecido. Primeiro que cada bicho tem sua própria personalidade. Ficar olhando aquele céu, o dia todo,  desde o nascer ao por do sol. Quanto as moscas  quando incomodavam muito ia pro outro lado da coberta. Até onde a corrente de argolas de ferro permitia. Amava correr em círculos tentando pegar a própria calda. Morder a coxa traseira, se uma pulga resolvia desafiar sua paciência. Outras vezes a preguiça era tanta que sequer balançava a cabeça, e uma mosca mais ousada ia até o canto do olho. O que o irritava muito porém a dormência dos membros feito letargia, embotava a coragem. Cerceando os movimentos.

O céu de começo de dia tinha borrões de fumo róseo, fraco no centro, e mais forte nos flancos. Acabam desbotando as nuvens feito capucho de algodão doce. Tanto sol levara que desbotara. A língua se insinuava pra fora da boca. Ânimo pra colocá-la pra dentro não tinha. O cimentado começava a esquentar com a quentura do sol batendo em cima. Podia vir sem problema, e ele vinha. Esfregava uns raios bem quentes no seu focinho intumescido. A friagem da manhã ia se dispersando, lentamente.  O sol, logo mais estaria a pino. Ofegante respiração sudorese de língua. Não levantara, nem levantaria de onde estava. Desde que amanhecera, na mesma posição. Nem as fuças do chão, pegando fogo àquela hora tirava. Acometido de séria doença. Cão, que um dia fora gente, tinha mais tendência a sentir aquilo. Mórbida preguiça.

A moça sentada de frente ao toucador. Via o próprio rosto refletido no espelho. Parou de pentear-se. Se perguntava, afinal, quem era aquela pessoa que ela própria via, mas tinha medo de encarar. De se  abrir, relutava imaginar-se conversando com ela mesma. Tantas coisas, tinha pra perguntar a si mesma. Perguntas para as quais não obteria respostas. Decididamente não confiava em seu pai. Sabia, algo de estranho havia nele. Além do que já tentara abusar dela. Numa vez que fez aniversário, levou-lhe um presente no quarto. Ela havia acabado de sair do banho. Na ocasião estava exatamente como estava agora. Vestia somente o roupão de após o banho.

Abraçando-a por trás tocou-lhe os seios, ao tempo que uma das mãos buscou seu sexo. Ele sempre fora, perante ela, um homem muito grande e forte. Tomou um choque ver tal atitude de alguém a quem sempre tivera muito respeito. Outras vezes flagrou-o lançando olhares de sevícia sobre seu corpo, seus seios e nádegas. Sentiu-se mal, coisa que o tempo ajudou a relevar. Parecia que não conseguiria desvencilhar daqueles braços potentes e vigorosos. Ainda mais força possuía quando tratava-se de imobilizar uma de suas presas para prática dos seus instintos bestiais. 

Como uma corsa esgueirou-se para baixo num movimento rápido e preciso. Mas o predador não desistiria assim fácil de sua presa. Partiu para algo mais agressivo, num único movimento brusco desnudou-a do roupão. E lá estava ela, nua em pelos. Das mais belas cenas que um pervertido, por toda sua vida, desejara ter. A sua vítima acossada, indefesa. Vê-la assim só aumentava-lhe os desejos de possuí-la. Aproveitou o instante de surpresa e perplexidade para livrar-se das próprias roupas. O sexo latejante apontava pro motivo do desejo. Os olhos refletiam um ar sádico, uma loucura desembestada.  Agora sabia, não havia a menor dúvida, aquele homem jamais fora seu pai.

Nem era o pai de Morgana, muito menos Seu Teoton.  Conde de Caravaglio, Dom Carriglio, para os mais íntimos e familiares também não. Era na verdade um andróide. Viera de outra galáxia. No porão da casa ele escondia um segredo. Todas as noites. Na calada da madrugada descia ao porão, e livrava-se por alguns instantes daquele corpo humano que lhe revestia. E surgia um Não-humanóide feito de placas metálicas, pinos de titânio e outros metais e fiações cibernéticas. O esqueleto composto de chips, motores e articulações elétricas não possuía coração, no lugar do órgão bombeador de sangue havia uma placa cheia de luzes coloridas, que piscavam o tempo todo. Mas se era um Ciborg com que intenção faria sexo com Morgana? Kira queria entender, aquelas lembranças que a moça compartilhava com ele, achando que o cão nada compreendia. O lado bom de ser bicho de estimação é que eles ficam sabendo de coisas tão íntimas de seus donos, que seriam sua segunda alma. Sua segunda pele. Seu segundo corpo. Quem sabe o primeiro, e único.

O vilarejo de Ishikawa, estava pra presenciar verdadeiro apocalipse. O gato Brown, estava no alto do telhado do sobrado. Assistia a tudo. Sabia de tudo que estava pra acontecer. O Conde de Valverde, das profundezas do Vale da Morte voltara pra vingar o filho Adonis que perdera um olho. Adonis por sua vez, tinha um acerto de contas com Dom Pero Carriglio, Adonis tinha verdadeiro fascínio por Morgana, e ficara sabendo através de Piathon o monstro mitológico, o cão de guarda do castelo de seu pai o que a moça vinha sofrendo sob a tutela do Conde do Mal. Ele chegou montado em Phiaton.  “O tronco brutalmente incomum ia afunilando à medida que se aproximava das patas traseiras. Uma coleira em torno do pescoço, ornada de pontiagudos ferrões. Serviam para delimitar o corpo da cabeça. Os dentes ameaçadores espetavam as fuças gelatinosamente prateada do monstro. Os olhos como os de um ciborg, pareciam duas balas de matar vampiro. Projetavam-se pra fora. A aparência era de um ser destituído de qualquer sentimento. Um fio de baba prateada balançava desde os dentes, até abaixo do queixo proeminente.”

A preguiça era uma enorme serpente, escamosa, asquerosa, verde azulada, ou seria azul esverdeada. Javah, ou seja lá o que fosse aquele ser nefasto. A verdade era que subia pelo corpo de Kira, por sobre cada parte do corpo. Como de sangue inundando bem devagar cada uma de suas veias ressequidas. E à medida que ia passando, e tocava, o membro desfalecia. Num instante estava totalmente inerte. Apenas consciente, porém prostrado, imóvel. Sem capacidade para exercer o menor dos movimentos. Como o lendário Pesador. O fantasma de sua infância que se apossava dos preguiçosos. Levando para o lodoso lamaçal do vale dos quase-mortos. Nada mais devolveria a condição de animal. De algo animado, inanimado. Talvez se uma carruagem de seis cavalos passasse por cima, não moveria um fio de cabelo. Melhor dizendo, de pelos. Já tivera a oportunidade de ver outros cães morrerem assim. Assistiria toda a batalha sem mover um dedo? Quer dizer, sem mover uma garra?


26 de Agosto de 2019.  



POESIA:            A LUA

LUA PÁLIDA
MAGNETIZA-ME 
COM TEU OLHAR
AURA DA LUA
VEM ME ENVOLVER
NESTA NOITE TRISTE
FAZ-ME COMPANHIA
COM TUA LUZ FRUGAL
ÉS TU QUE AS VEZES
VENS OLHAR!
OS POETAS APAIXONADOS
OS SERESTEIRO
E QUANDO VENS!
PROCURO-TE!
E FICO ADMIRANDO-TE
NOITES DE NUVENS ESCURAS
MÁCULA QUE VEM INTERFERIR
NA TUA SIMPLICIDADE
MAS TÃO DISTANTE...
ESTAIS,
SÓ...
PERDIDA EM TEU CAMINHO
LUA QUE TANTOS A IMAGINAM:
LUA DE APAIXONADOS
LUA DE ALGUÉM
LUA MINHA
LUA DE VAMPIROS
LUA DO ALÉM.

Fabio Campos Poesia de 40 anos atras, 28 de Junho de 1978. 

Capítulo 10 VAIDADE Saga de KIRA














A pior coisa que poderia acontecer. Creio que, o pior castigo, para um ser humano, perder a alma. Se isso acontecesse. Surgiria uma questão, tentaria descobrir: Pra onde teria ido a alma?  Se acaso tivesse ido habitar o corpo de um animal, daria pra considerar que era o fim. Não haveria coisa pior que estar com a alma e o espírito aprisionado ao corpo de um animal, irracional. E Kira estava. Só faltava uma coisa, perder a consciência. Quer saber? Preferia que acontecesse isso. Pelo menos inconsciente não sofreria tanto. Lembrou que na vida já encontrara tantos animais que achava tão familiar. Pior, achava parecido fisicamente, e mesmo espiritualmente com um amigo que não via a muito tempo. Quem sabe aquele amigo nem existisse mais nesse plano. Isso acontecia, toda vez que estava na pia, a lavrar os pratos. Fausto e Verônica,  apareciam. Primeiro vinha um, depois o outro, surgiam parados e ficavam olhando pra Kira, através da vidraça da janela. Sérios, calados. Parecia um daqueles quadros antigos que se mandava fazer do casal, marido e mulher, na parede da sala das casas. E ficavam calados, apenas olhando. Lá vinha Samuel, com sua morenidade adquirida do mar. Aparecia no meio da rua, vinha e vinha. Trazia algo na mão que a claridão do sol, não dava pra definir bem o que era. Arriscaria dizer que era um fruto do mar. Se encostava na parede do oitão de casa, uma das pernas, a esquerda, dobrava, e encostava a planta do pé no muro, passava um tempão assim.  Não tão sério quanto Fausto, mas também fitava o rosto de Kira.

Amanhecera com saudade do rio de sua infância. Quão bom lembrar, das águas salubres, cor de vinagre no tempo da seca, o azinhavre nas pedras fazendo marca, dia a dia, uma linha na pedra. O rio ficando tão magro que dava dó. Parecia que ia desaparecer. Perdia um braço aqui, uma perna ali, mesmo assim sobreviveria. A pedra da caveira, o nome tatuado se perderia no tempo. Água mole em pedra dura tanto bate até que nunca mais. Apenas apagava na pedra, não na memória. Os amigos de Kira escalavam montanhas, fugiam de nativos selvagens que caçavam na floresta. Livravam-se de ataques de tigres de sabre, de serpentes gigantes, de abutres que se sentiam ameaçados pelas suas aproximações. Do ataque de crocodilos, e outros dragões aquáticos. Safaram-se de tantos e sérios apuros. E hoje como riam de suas aventuras. A maioria deles partira pra longe. Talvez habitassem o templo de Ishikawa. Para além do deserto do diabo. Fazia tanto tempo que talvez se voltassem a se ver, velhos amigos, não se reconheceriam mais. 

O tempo muda tudo. Os cabelos perderam o vigor, a vitalidade. O negrume que tinha. De prata, prateando-se até adquirir a alvura da neve. A pele perdendo elasticidade, adquirindo marcas que mudavam suas fisionomias antes tão jovem. A boca arqueando, adquirindo dois profundos sulcos, nascidos ao lado do nariz, como se colocasse a boca entre parenteses. E todas as coisas que Kira dissesse dali pra frente seriam frases dentro de parenteses. E seriam coisas de outros tempos, o que acabava deixando tudo envolta tão triste. Os olhos, somente eles permaneciam inalterados. Com algumas rugas era fato, algumas camadas de pele a mais, porém na opacidade bem escondida do mundo a vivacidade de outros tempos permanecia neles.

A ponte continuava lá. Solitária, nostálgica. Tristemente acenando. Ainda a mesma de meio século atrás. A música com seu poder imensurável de trazer tempos passados. Outro mistério, músicas que vinham pros ouvidos de muito tempo passado, sem que tivesse sendo executada. Estava lá, dentro da cabeça. Dava para ouvir perfeitamente. Talvez fossem as únicas coisas que dariam pra trazer do passado: A ponte, a música. As nuvens, aquelas jamais seriam as mesmas. Kira vagava em pensamentos, velhos. E mesmo pensou que poderia reconstituir alguns momentos, que a muito se foram. Vestiria uma roupa daquele tempo. Uma calça de fio escócia, como as dos cavaleiros medievais, que colavam no corpo enaltecendo o sexo. Tudo faria pra dar mais autenticidade a cena. As armas, os inimigos selvagens. Tudo pareceria como antes. Algumas coisas porém, jamais poderiam ser reconstituídas. Umas sim, outras não.

Jamais saberia explicar o que aquele lugar tinha de especial que tanto lhe atraia, exercendo poder mágico sobre ele. O mais interessante era, que não tinha consciência disso. Não quando  estava lá. Somente quando estava longe, noutro lugar, era que percebia. Jamais no momento que lá se encontrava. Tantas vez passara ali, e sentira. Mas não sabia o que era. Dali por diante, tentaria entender porque ao chegar ali, sentia o que sentia. 

As corredeiras de água inexistente. Dava, no entanto, pra ouvir o chuá-chuá batendo contra as pedras. Parecendo uma mulher cantando, seu canto lamento, quase choro, de lavadeira. Talvez quem sabe talvez estivesse tendo múltiplos orgasmos. As fissuras nas pedras lembrando sensual vagina, aqui uma, outra ali. Centenas delas, urinando com seu ruído característico. Lembrou de um dia, em que se despiu e entrou no lago. Um corpo em êxtase. Se entregando a natureza. Aceitando ser por ela amado. Tantos orgasmos. Amor transcendental numa tão bela tarde dominical. A brisa tocando-lhe, lambendo seu corpo em partes que se tivesse vestido jamais sentiria. Um deus grego, se entregando aos prazeres do cosmo, do universo. E pedindo perdão ao universo por tão grandiosa pretensão, de fazer amor com ele. Sublime encontro de semi divindade com o cosmo, com a natureza. As ninfas iam, aos poucos, chegando, sobrevoando, feito vaga-lumes pairavam no ar, observavam o fausto, e riam de sua ingenuidade.

A menina disse: odeio. Não sabia, mas era pura vaidade. Odiava, vaidava, considerou a todos um bando de hipócritas. Se soubesse também odiar-se-ia. Melhor não saber. Discutiu com o universo. Não tinha papo pra gente, por mais normal que parecesse. A irmã de Kira que sequer sabia que era. Achou-se agressivo, terrivelmente violento. Chato, ser o que se era. Dali por diante rompidos estariam todos laços afetivos. Todas as relações desmanchadas. Um cão que não consegue demonstrar seus sentimentos, age com a única coisa que lhes resta, a agressividade: e mordeu forte. Alianças rompidas, pactos desfeitos. Nada parecia ter mais sentido, dali pra frente. Somente o lago, parecia de verdade. Talvez as montanhas, também. Em duas tonalidades, as mais perto verdes, as mais longínquas azuis. Aquele seu azul enganoso céu. Faria questão de não acreditar, nunca mais, nele. Traiçoeiro, sempre. Foi a praça, mas sabia quanta decepção ali habitava. Escuridão de gente, escuridão de crianças, escuridão, vindo de dentro de si mesmo.  


A vaidade era uma linda moça. Em estado natural. Nua, verdadeira, real. Rainha vaidade. Não sabia se teria condições de descrevê-la. A cútis finíssima, o cheiro de talco, de criança de colo. O morno de seu sexo ainda em penugem pueril. Os seios vistosos e voluptuosos como se feitos de pura liberdade, falsa liberdade que inventara pra si mesma. Como a inocência de um menino, que portava uma pistola municiada, e apontava a esmo. Pra onde apontava as pessoas se esquivavam, deitavam instintivamente no chão, colocando a todos em pânico. Noção nenhuma, tinha o menino, do mal que poderia causar a si mesmo, a um ente querido. Aquele corpo tão belo. Tão desejado. Talvez passasse a acreditar que existia, se conseguisse tocar. Sentir a maciez daquela pele, o perfume. Quanto mais ia atrás, mais embriagava-se. Quanto mais parecia que ia alcançar mais fugia. Melhor não encará-la. Isso poderia custar uma vida. 

17 de Agosto de 2019.  


POESIA:          PRAÇA

                                    I
É NA PRAÇA ONDE VELHOS FICAM
SENTADOS A RECORDAR O PASSADO
ONDE PÁSSAROS PODEM CANTAR
APAIXONADOS ESTÃO A NAMORAR
     

                                 II
NA PRAÇA AS FESTAS 
SÃO MAIS ANIMADAS
FICA TODA ORNAMENTADA
EM HOMENAGENS
REÚNE A RAPAZIADA


                          III
É ONDE ESTÁ O CAMELÔ
O SAPATEIRO, O ENGRAXATE, 
UM DISCURSO POLÍTICO
O GAZETEIRO, UM CICERONE
O PIPOQUEIRO

                         IV
UMA PAISAGEM PRA 
TIRAR UMAS FOTOS
ONDE ESTÁ A ESTÁTUA 
DUM VULTO HISTÓRICO
MELHOR LOCAL PRA MEDITAR


                         V
PRAÇA, PONTO VERDE
ÉS UM OÁSIS NESSE DESERTO
DE CONCRETO E CIMENTO ARMADO


Fabio Campos, POESIA DE QUARENTA ANOS DE FEITA: 22 de junho de 1978.







Capítulo 9 SOBERBA da Saga de KIRA















Kira estava ali, além da cancela, da chácara do senhor Pero Di Carriglio. Na verdade seu pai, Seu Teoton, desertor das tropas federais. Fugira pra muito longe, mudara de nome nas novas terras, de além deserto da ilha de Ishikawa. Kira lá fora, além da cerca, preso ao corpo de um cão faminto, que inutilmente insistia seguir um homem. O pai não reconheceu o filho. Não era de se admirar, foram tantos anos distante um do outro. Além do que Kira não estava em seu próprio corpo, e sim no cão que ficara lá fora. Os olhos, eles são que nos identificam. A idade vai chegando, no entanto os olhos não mudam, em essência. Kira mesmo dizia, se quisermos reconhecer alguém olhe-a nos olhos. Jamais mudamos os olhos. Seu Teoton mudara muito em aparência e atitudes. Os bens, as posses adquiridas nas minas de ouro, deixaram-no soberbo. Olhava pras pessoas com certo desprezo. Sequer olhava nos olhos. Só via o exterior, a aparência, as posses era o que para ele contava. E aquele homem a sua frente não passava de um mendigo, digno de pena. Nem lembrava mais que um dia fora pobre, que tivera com de dona Morgana, sua antiga esposa treze filhos. Kira ficara encantado com a moça que viu no pomar da chácara. Seria sua irmã?

Senhor Carriglio ofereceu aposentos ao estrangeiro, que devolvera seu alforje, cheio de dinheiro. Levou o moço pra conhecer a chácara. Era uma bela propriedade rural. No entorno da casa em estilo colonial havia muitos pés de frutas. À medida que iam se afastando os verdes prados, às campinas que se estendiam até o pé da serra. Um cercado com um rebanho de ovelhas de lã branquinha. Um imenso paiol, aberto. Um potente trator e outras máquinas agrícolas. Ao fundo um estoque considerável de sacas de adubos e fertilizantes. Ao fundo da casa grande, muitos pés de fruteiras, algumas máquinas colhedeiras. Sacas cheias de laranjas. Aguardavam prontas para seguir pro mercado. Num pequeno declive ficava o estábulo, onde descansavam magníficos cavalos, puro-sangue. Senhor Carriglio deu ordem ao tratador para colocar arreios em dois animais.  O dono da chácara queria que o estrangeiro conhecesse sua chácara, era questão de honra. Fazia isso com todos que o visitavam. Tinha orgulho do que possuía. Sabia valorizar tudo que conquistara, com tanta dedicação e trabalho. Mas também ao custo de muito sangue e suor de trabalhadores explorados, maus remunerados alguns até mesmo escravizados. Em qualquer parte do mundo, será sempre assim. Onde grandes fortunas, grandes impérios foram erguidos, houve a exploração, o sacrifício de muitos para o deleite, para proveito de alguns poucos.  E foram, a cavalo, passar pelos vales e campinas da magnífica propriedade. A cada local que passavam havia trabalhadores exercendo suas funções agropastoris. Trabalhadores braçais, suando a camisa na lida com a tosquia das ovelhas. Um grupo de homens e mulheres na colheita de frutas, em vestes que lhes cobria todo o corpo, braços e pernas, com imensos chapéus de palha. Deixava a mostra apenas o rosto.

Kira, da cancela, com seus latidos que mais parecia um lamento, um choro, conseguira chamar atenção da moça, que teve dó do cão. Imaginou-o esquecido pelo dono que podia ser o estrangeiro visitante da chácara. Resolveu dar-lhe atenção. Trouxe-o para dentro, dedicou-lhe cuidados. Deu banho, alimentou-o. A moça muito delicada dedicou seu carinho e atenção ao pobre cão. Conversou até com ele, como se fosse uma pessoa. E era.  Perguntava onde andara aquele tempo todo. E como teve pena, do estado em que se encontrava. Cuidou de pequenos ferimentos, cortou-lhes as unhas, observou se estava parasitado de pulgas. Verificou orelhas, olhos, dentes, sexo e patas. Dava pra ver, das duas uma, ou a moça já possuíra um cão. Ou tinha formação, pois cuidava do bicho com conhecimento de causa. Aguardou o retorno do pai e do visitante pra dizer o que fizera.

Soberba
A soberba era um grade urso polar, de corpo transparente, todo de cristal, como em estado de plasma. O monstro do gelo, e de gelo, mostrou os dentes. Os pequenos olhos de pura empáfia. Onde pisava o solo congelava. Encheu o ar do cheiro de óleo de essências aromáticas de cemitério. Sem abrir a boca falou pra Kira. Dando-lhe um verdadeiro abraço de urso. Seus rins sentiram a pressão, e reclamaram. A soberba não tem pena de ninguém. Só que mostra a força que possui de si mesma. Não gostava, odiava os seres que considerava inferior, só respeita quem era mais poderosa que ela. A falsidade habitava seu coração. Kira, pensou, desta vez vou morrer. O abraço pressionava suas narinas contra os pelos de gelo do urso. Os rins a ponto de explodir. A bile queimando os intestinos. A pressão não o permitia respirar. Ia vomitar. Ora não tinha sequer o que expelir. Entrando no seu pensamento a Soberba conversou com ele. Na verdade não era bem uma conversa, e sim um monólogo. Kira não tinha forças, nem disposição pra perguntar nada, pra questionar o que quer que fosse. Não tinha mesmo o que dizer. Kira desfalecia. Tenho pena de você. Você não merece minha piedade. O que sinto por você é puro desprezo. Seres inferiores, feito você, por certo existem para que possamos exercer nosso soberano prazer de soberbo. O que seria de nós se não fosse seres insignificantes feitos vocês? É preciso que pessoas como você existam para dar sentido ao nosso existir enquanto soberbo. Nosso propósito mais nobre de dizer o quanto suas insignificâncias nos realizam. Uma vez que você existe, eu rei da soberbia, bem como meus súditos nos realizamos. Só por isso, não vou liquidar com você, Pois seria um ignóbil a menos para nossa realização. Deixá-lo viver e continuar seguindo seu desprezível destino, para deleite dos soberbos que deliciosamente cruzarem seu caminho.


10 de junho de 2019.   


POESIA:              NA FEIRA

NA FEIRA TEM GENTE 
COMO FORMIGA NO FORMIGUEIRO
UNS COM INTUÍTO DE GASTAR
OUTROS DE GANHAR DINHEIRO
MENINO QUE CHORA
É MÃE QUE ACALANTA
O CEGO A ESMOLAR
E A HORA DA JANTA
DINHEIRO NO BOLSO
GORJETA PRA SANTA
CHAPÉU DE PALHA
VELHA CACHIMBEIRA
CORDA E ARAME
NO MEIO DA FEIRA
REMÉDIO BARATO
CURANDEIRO SABIDO
REMÉDIO EFICAZ
PRA MATUTO ILUDIDO
CANTADOR DE VIOLA
BÊBADO E CONVERSA MOLE
MATEU E REIZADO
TAMBÉM É FOLCLORE
FOTÓGRAFO LAMBE-LAMBE
AS FOTOS SAEM BOAS
NÃO HÁ QUEM RECLAME
TEM COISA NA FEIRA
QUE DIVERTE A VIDA
COMIDA BARATA
QUE ENCHE A BARRIGA
BATATA E INHAME
JACA E MAMÃO
BOLO E CANJICA
DINHEIRO NA MÃO
COMPRANDO NA FEIRA
FARINHA E FEIJÃO
CHEGANDO EM QUALQUER LUGAR
SEM NENHUM VINTÉM
VÁ LOGO PRA FEIRA
QUE VOCÊ SE DÁ BEM
COMO ADIVINHO
OU POETA VAQUEIRO
CHARLATÃO E AMBULANTE
TUDO DÁ DINHEIRO
SÓ NÃO VÁ DAR UMA DE LADRÃO
POIS SE FOR PEGO
VAI PARAR NA PRISÃO!

Poesia de 40 anos de feita, exatamente em: 21 de Junho de 1978.

Capítulo 8 Orgulho Da Saga de Kira

     





Kira acordou. Percebeu-se deitado no chão duro, frio. Abriu os olhos. Do seu campo de visão, tudo parecia tão gigante. De tantas experiências como aquela, a muito, acabara criando um conceito: Pra quem está no chão, literalmente, o mundo parecia bem maior do que era. Sentiu-se mais peludo que o normal. Algo estranho estava lhe acontecendo. Tentou levantar-se. Percebeu que ao invés de braços e mãos tinha patas. Patas? Sim. E de cachorro! Isso mesmo. Olhou pra si mesmo. E só então entendeu. Como podia? Havia se transformado num cão. Odioso cão sarnento. Quase desmaiou, novamente. Ao perceber seu corpo, ele próprio. Logo ali à frente, de pé. Pior, foi descobrir que o humano que antes fora, sequer fazia conta do ocorrido! Sua alma, seu espírito, seu estado de consciência, subconsciência e ciência. Passara ao corpo dum cachorro? Pra completar Kira, percebeu que havia incorporado o cão pulguento que a vida inteira o seguiu. Perguntou-se: o contrário também não teria acontecido? O espírito do cão teria passado pro seu corpo? Teve impulsos de avançar em direção a ele mesmo. No entanto o homem cujo corpo um dia lhe pertencera, agora possuído pelo cão, o rejeitou! Sim, simplesmente foi enxotado! Ameaça de chutes, enxurrada de imprecações, foi desprezado! Do mesmo jeito que ele próprio fazia com o cão. Pensou: Mas, quanta audácia do homem-cachorro! Ou seria cachorro-homem? Quem sabe não seria revanche. Provou o gosto amargo da vingança. Sentiu na pele. Quer dizer, nos pelos, o que sempre fizera com o maldito cão. O mesmo, que o seguira pela vida inteira.

Orgulho ferido. Como doía agora. Concluiu que nada podia fazer. Era, dali pra frente aprender a lidar com a situação. Precisaria aprender algumas coisas que um cão de rua precisava saber. Não seria de todo difícil, afinal um vagabundo carrega consigo experiências úteis não importando em que corpo o espírito estivesse. Teria que lidar com habilidades que todo cães possuíam, porém não tinha ideia da dimensão. Por exemplo, o faro muito mais apurado. O cheiro de comida, vindo importunar, com muita ênfase, os apetites de um cão faminto. O mau-cheiro das latas de lixo, dos esgotos tão próximos das narinas causava-lhes náuseas. E se tivesse sede? E estava. Disse pra si mesmo que jamais beberia água da sarjeta. Ficaria sem beber. Só mataria a sede se encontrasse, ao menos, uma poça d’água da chuva, ou quiçá uma torneira de jardim aberta. Outra coisa que, enquanto fosse cachorro, não faria, ao encontrar outro cão jamais cheiraria o traseiro ou seu sexo. Nem aceitaria que cheirassem o seu. Não exatamente dele, na verdade, do cão que ora seu espírito habitava. Precisava treinar, se apropriar dos mecanismos de defesa. Os dentes, as garras, a capacidade do salto, da carreira, da fuga, o rosnado, os tipos de latido pra cada situação.  Onde e como fazer as necessidades. Nada fácil ser cão. A capacidade de perceber o feromônio de uma cadela no cio a quilômetros de distância. Os sons inaudíveis pelos humanos. A visão monocromática. O cheiro de urina de outros cães que marcavam territórios.  A cada rua uma ameaça contra a vida. A habilidade de escapar de morrer atropelado. Pisoteado pelas charretes, pelos cavalos, pelas carroças, perigo constante. Além das investidas dos açougueiros, dos donos de restaurante, de outros cães mais ferozes.

O orgulho se lhes apareceu. Era um cão enorme, todo de prata. Brilhava tanto que ofuscava. Pura prata o corpo todo, em estado líquido, que não derretia. Prata em movimento, sem diluir-se. Sem derreter-se. Indo e vindo, pra dentro de si mesmo. Um feroz cão da raça Pitibull. O cão de pura prata tinha uma cabeça enorme. As patas dianteiras, duas colunas rijas de músculos. O tronco brutalmente incomum ia afunilando à medida que se aproximava das patas traseiras. Uma coleira em torno do pescoço, ornada de pontiagudos ferrões. Serviam para delimitar o corpo da cabeça. Os dentes ameaçadores espetavam as fuças gelatinosamente prateada do monstro. Os olhos como os de um ciborg, pareciam duas balas de matar vampiro. Projetavam-se pra fora. A aparência era de um ser destituído de qualquer sentimento. Um fio de baba prateada balançava desde os dentes, até abaixo do queixo proeminente.   A sua frente, como se não houvesse nada, digno de qualquer valor. Ali mais importante, o que havia, só ele próprio. O Orgulho personificado, vivo, de pura empáfia. O Orgulho fitava Kira, agora virado num cachorro de rua. Fitava-o como se enxergasse além dele. Como se visse sua alma, que parecia estar para além de seu corpo. E realmente estava. Desnudava-o, a ponto de causar-lhe calafrios. Olhava-o com desprezo. Merecedor desse desprezo, o era. Por vários motivos. Não passava naquele instante de um cão, literalmente. Dignidade nenhuma. Chegou a sentir pena de si mesmo. Como conseguira se abaixar, a tanto.


03 de junho de 2019.




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                   CONCEPÇÃO

O MUNDO NÃO SE TRANSFORMA
MAS O HOMEM TRANSFORMA O MUNDO
O MUNDO NÃO É INANIMADO
MAS O HOMEM DESANIMA O MUNDO
O MUNDO NÃO É POLUÍDO
MAS O HOMEM POLUI O MUNDO
O MUNDO NÃO É MALVADO
MAS O HOMEM É MALVADO COM O MUNDO
O MUNDO NÃO FAZ GUERRAS
MAS O HOMEM FAZ GUERRAS NO MUNDO
O MUNDO NÃO VAI ACABAR
MAS O HOMEM (CADA VEZ MAIS) ACABA COM O MUNDO
É BOM: PROCURAR SEMPRE VER:
SE ESTAMOS ERRADO
(SE ESTIVER)
RETIFICAR OS ERROS
ALERTAR-SE PARA NÃO ERRAR MAIS

POESIA DE 40 ANOS ATRÁS, COMPOSTA EM: 19 DE JUNHO 1978.