Capítulo 14 IRA Da Saga de Kira





O ataque dos dinossauros foi violento. Com uma única patada um Rex destruiu parte da muralha de contenção da represa d’água da vila. A inundação foi inevitável. Parecendo um imenso dragão chinês, o braço d’água invadiu a rua principal arrastando tudo que via pela frente. O banco, a farmácia, o salloon, tudo foi inundado. O armazém de secos e molhados ficou ainda mais molhado. As metralhadoras colocadas em pontos estratégicos no alto do quartel, nas torres de observação entraram em ação. Vomitavam balas feito pingos de fogo que buscavam seus alvos violentamente destruidores. Os projéteis atingiam em cheio o alvo. Pareciam produzir pouco efeito, mas isso era só impressão. As balas abriam ferimentos mortais. Catapultas atiravam bombas de muito poder de destruição que explodiam aos pés dos monstros que ficavam ainda mais furiosos.

A cidade virou um caos. Um rio de fogo. Como se um vulcão tivesse entrado em erupção e derramado sua lava sobre as encostas do vilarejo. Os dinossauros avançaram menores como eram mais velozes entravam em combate pessoal com os aldeões. Era uma luta insana. Defender suas famílias era questão de honra. Tudo valia, armas brancas, flechas, lanças incendiárias, bacamartes. Canhões disparavam suas esferas de ferro em brasa viva que sibilavam no ar atingindo em cheio os dinossauros. Por serem animais de grande porte acertar o alvo era quase inevitável. O rio de fogo e sangue atraia as aves de rapina que sobrevoavam a carnificina como que prevendo a oferta de alimento assim que cessasse o combate.

Uma luta que parecia não ter vitoriosos, só perdedores. Muita perda de ambos os lados. Os dinossauros menores em sua maioria foram mortos, sobrando apenas os que fugiram. Os jurássicos maiores agonizavam vitimados por armas de fogo pesado. E na sua agonia de morte causavam ainda mais destruição. A água aos pouco ia baixando. A cena era de muita desolação. Barris e sacas de ração, e toda sorte de objetos, móveis, roupas, armas e mesmo dinheiro rolando pelo leito da rua. Ia boiando na água que ainda se acumulava em lugares mais baixos.

Jacob, no meio da confusão localizou o Senhor Pero de Carriglio, que julgava ser Seu Teoton, seu pai. Com sua espingarda calibre doze, mirou bem na cabeça, do homem que mais odiava. E que julgava ser seu pai Teonton, conhecido por todos como Senhor Carriglio. Identidade falsa, assumida para fugir das tropas federais da qual evadiu durante a guerra. Muitas lembranças vieram até Jacob, antes dele acionar o gatilho. Lembrou do sofrimento de sua mãe, dos medos, das incertezas, das angústias que tanto sofrera, do sentimento de abandono, que ele e seus irmãos viveram na infância. E mesmo quando o pai vivia dentro de casa, de sua arrogância, e quão violento era com os filhos, ainda mais quando bebia. Atirou, justo no momento que lembrou de um bofetão que levou ainda menino, só porque negligenciou uma tarefa que o pai o mandara fazer. E tinha só sete anos. O estampido ecoou pela rua. Ao atingir o rosto do homem a bala destruiu os tecidos de revestimento. Para sua surpresa expôs um rosto cibernético de estruturas metálicas, do ciborg que habitava o interior daquele corpo. Cheio de pavor, ao perceber em que havia atirado, Jacob se preparou pra fugir pois o alienígena furioso vinha em sua perseguição.

Kira, estava com medo. Medo de perder a consciência de que um dia fora humano. Estava de forma tal, tão acostumado a ser cão que temia perder de vez o seu lado humano. Conseguiu fugir da chácara Dom Pero de Carriglio e andou dias até chegar a vila de Montaglion, um lugar bem distante da região que sempre viveu enquanto humano. Já dois anos se passara desde da terrível transformação em que sofrera e transmutara sua alma que passoara habitar o corpo de um cão. Dormia pelas ruas, comia o que encontrava nas latas de lixo. Sofria perdidamente, mas não perdia a esperança de encontrar de volta o seu corpo de origem. Ainda assim não fazia a menor ideia o que faria pra tê-lo de volta, se um dia o encontrasse. 

Sonhava apenas. O mais era curtir a vida de cão de rua. Naquele instante se encontrava na porta do mercado da carne. Sabia que se entrasse lá, de alguma forma, seria hostilizado. Precisava arriscar, a fome falava mais alto. A demais, sempre sobrava um osso debaixo das bancas dos açougueiros. De repente uma cena chamou-lhe atenção. Com a parca visão que tinha, via tudo em preto e branco e um pouco anuviada, ainda assim viu perfeitamente quando um homem mal encarado furtivamente tentava roubar a carteira de um cidadão bem vestido que sem perceber tentava fazer negócio com um comerciante de vinhos. Kira, instintivamente partiu pra cima do larápio, aplicando-lhe forte mordida na mão fazendo-o largar a carteira. O homem imediatamente percebeu o que ocorria.

Fabio Campos, 18 de setembro de 2019.       








POESIA:         TRADIÇÃO

SACI? Ô SACI PERERÊ?
VAI CHAMAR CAIPORA
QUE HOJE TEM FUZUÊ
CAPOEIRA
CANDOMBLÉ
ACARAJÉ E AZEITE DE DENDÊ
REIZADO
QUILOMBO
COCO DE RODA
ALUMIADOS POR VAGA-LUMES DE ABARÉ-BEBÊ
FREVO
SAMBA CRIOULA
BATUQUE
MARACATU
AO SOM DO CANTO DA GRALHA AZUL
VEM PRA FESTA
MÃE DO OURO
AS AMAZONAS
O NEGRINHO DOS PASTOREIO
VAI TER EMBOLADA
CAVALHADA
DOMA E RODEIO
VITÓRIA-RÉGIA
MOÇA-BONITA
E BIRIMBAL
QUEBRA-POTE
MULATA E CARNAVAL
CANGACEIROS
SERTÃO SECO MANDACARU
POEIRA VERMELHA
CARCARÁ E ANUM
COMO NASCEM AS ESTRELAS
CÍRIO DE NAZARÉ
E O SONO DO RIO
PROCISSÃO DE NOSSA SENHORA DOS NAVEGANTES
IRMÃOS CORAGEM
LITERATURA DE CORDEL
PEDEM PASSAGEM
PODE TIRAR O CHAPÉU
É ROMARIA E OS BEATOS
VEM O BOI DA CARA PRETA
PRA PEGAR 
ÍNDIOS, NEGROS E MESTIÇOS
QUE NÃO TEM MEDO DE CARETA
CAIPIRA?
BOI DE BARRO
POETAS E VAQUEIROS
AS NUVENS DO JARAGUÁ
BUMBA-MEU-BOI
COBRA NORATO
E OS DIABINHOS FAMALIÁ
REPENTISTAS E TROVADORES
OS CANTADORES DO SERTÃO
CANTAM FALAM E RIMAM
NA VIOLA
COISAS DO MAGNÍFICO TORRÃO
É O BRASIL DESFILANDO
SEU FOLCLORE, SEUS COSTUMES SUA GLÓRIA
SUAS LENDAS SEU POVO SUA HISTÓRIA.

Composição feita, por Fabio Campos, a 40 anos passados, exatamente em: 02 de julho de 1978.







Capítulo 13 A Verdade Da Saga de KIRA





























Onde estava a verdade? Ninguém conhecia a verdade absoluta. A vila de Ashikawa parecia um lugar deserto, uma cidade fantasma. Como se jamais tivesse existido no mapa. Talvez, fosse fruto da imaginação de uma mente muito fértil. Ou quem sabe, doentia. Todas aquelas casas mais pareciam de brinquedo. Construídas todas em madeira de lei, pintadas com esmero. As cores articuladamente alternadas, dava a vila, aparência de um imenso tabuleiro de peças. Como uma cidade cenográfica. Aparentava um bem orquestrado, campo de batalha. Onde seus atores, os aldeões e campesinos, mesmo sem ter consciência disso eram usados como jogadores, manipulados por uma mente poderosa, dominadora, que deliberadamente se divertia com o jogo. Quem sabe, tudo, na vila e adjacências, fosse obra de um Jepeto que, tudo construíra, tudo acompanhava, tudo controlava. Tudo manipulava. As carruagens com seus cavalinhos brancos, de arreios com capricho, as fachadas com seus letreiros, as vitrines das lojas. Tudo agora parecia abandonado. Talvez o criador daquilo tudo, tivesse se decepcionado com a atuação de alguns de seus bonecos, marionetes, que teria ganho vida própria, e agia com livre arbítrio. E os abandonara a própria sorte. O prefeito, o juiz, o pastor na ânsia de se locupletarem disseminavam ódio em muitos, apatia em alguns, revolta na maioria.

O que a fachada de uma casa velha de chácara poderia esconder?  Nos grilhões dos porões muito sofrimento. Nas cadeiras velhas, muita resignação, nos encostos, nos divãs, recalques. Tantos traumas, debaixo dos forros e babados desbotados de lágrimas, de choros contidos, de suores das searas, de raivas, de ódio desdobrados nos empregados da fazenda, nos subalternos das casas de família recaiam os açoites dos recalques e psicopatias de seus patrões. Os jardins pareciam cemitérios, bem cuidados, floridos, e aparatados, guarnecidos de estátuas, de ninfas nuas e anjos, repletos de sensualidade. As fontes tristes choravam suas águas límpidas quase sem serem percebidas. Os canhões adormecidos, de ferrugem nos braços e ventre, que um dia mataram e estraçalharam corpos de negros revoltados, motinados. As velhas baionetas penduradas nas paredes da sala, as bainhas que encerravam espadas de prata, armas que deceparam mãos, decapitaram corpos, de sangue derramado naquele pátio que agora parecia tão cheio de paz. Dava pra vez as pretas velhas, encostadas nos imensos troncos de árvore, chorando seus filhos, e maridos, pendidos nos galhos mais altos do arvoredo. Um dia ainda ia descobrir, mesmo que séculos de relógios cansados, se precipitassem nos abismos de misérias humanas, de pensamentos maléficos.

As serras escarpadas, os serros, charcos e pântanos, não era uma realidade visualmente vibrante. Nada pra se admirar. O problema é que o que é sombrio tem seu valor, tem sua mórbida beleza. E só se mostra de acordo com o ponto de vista do que observa. Nunca, Kira havia observado daquele ângulo. A casa principal da chácara era cercada de pântanos. Se o dia amanhecia cheio de sol, os charcos se escondiam, se amanhecia um dia assombreado os pântanos, e lamaçais se destacavam ainda mais. A lama fétida ficava na parte da floresta que o sol não atingia. Os quadros que jamais foram pintados ficariam lá, a espera de um pintor que se dispusesse a reproduzir aquela cena lúgubre. Mesmo assim apareciam nas paredes. Uma carruagem caíra na ribanceira, ficou lá. As rodas brincando ao vento. O vento, o óleo queimado derramado, o calor possibilitou um princípio de incêndio, que causaria o que já era esperado, muita destruição. O irmão de Kira quebrou a perna. O primo Chaban, demitiu o braço. Os dias iam passando devagar, devagar. Tanto que os relógios desbotariam de tão tristes.

Dali por diante os dias iam pareceriam ainda mais lentos.  Mesmo assim, tinham coisas que precisavam ser esclarecida. Como podia dinossauros, seres da era do gelo surgirem em plena era Cenozóica? De fato dinossauros surgiram na encosta, arredores da vila de Ishikawa. Os aldeões e agricultores atônitos não paravam de se perguntar: Como podia seres a muito extintos, do nada surgirem? Kira pensou que talvez fosse fruto dum fenômeno químico-físico, e mesmo metafísico, ocorrido debaixo da terra. Mas o que teria provocado o ressurgimento dos jurássicos? Deles que eram dóceis, herbívoros, mas também tinham carnívoros, bastante selvagens.

A verdade, fora que os alienígenas, de dentro de estações subterrâneas, teriam mapeado o subsolo e descoberto um sítio arqueológico nas proximidades de Ishikawa. A par dessa descoberta usaram um potente escanner que tinha poder de trazer de volta a vida, qualquer ser cuja composição tivesse pelo menos uma parte orgânica, ou seja qualquer coisa que um dia tivesse tido um ciclo biológico. Isso era tecnologia que os humanos ainda não tinha. Os Aliens estavam muitos anos-luz a frente dos humanos. 

Os homens se organizaram para defenderem-se do ataque. Muitos morreriam. Kira bem sabia, porém, acreditava que todo homem nasce com um destino, e que cada um só morria no dia certo. Que os jurássicos viessem, estavam preparados. Uma carabina, e uma considerável quantidade de munição foi parar na mão de Jacob, irmão de Kira. Jacob tinha um plano, ia matar o pai. Aproveitaria o ataque dos dinossauros, ia matar o pai. 


11 de setembro, de 2019. 

Obs: obrigado aos americanos, identificamos um "pool" de acessos vindo das Américas nos últimos dias! Valeu gente!Abraço.