AÇOITA CAVALO (8º Episódio Saga do Crime de T. F.)






As corças, os peixes caçados pelos ursos. E parecia primavera. As trutas pulando, tentavam vencer a correnteza. O azul do gelo a tempestade se derramou sobre o lago congelado. A avalanche descobrira de debaixo da neve um lenhador e sua figura petrificada. A barba coberta de cristais de gelo. Os olhos abertos fixos no horizonte. Os meninos das bicicletas ficaram horas admirando aquela cena. Perguntaram como tudo acontecera, e o homem contou. Disse que sua casa ficava na encosta do rio Green. O nome era porque suas águas o ano inteiro ficava cheia de uma plantinha trazida da floresta de tundra. De muito longe dava pra ver o rio de relva. Feito suco verde derramado na plataforma do continente, mais frio e mais gelado do mundo.


Ulisses, era como se chamava o negro que exausto procurava, entre o Novo México e o Texas, um hotel pra se instalar. O único a escapar da tramoia da comida envenenada. Saíra de lá convicto que dera cabo de todos os comparsas ladrões de banco. Escondera todo o dinheiro, e agora viajava Américas a dentro. Para ter certeza que ninguém jamais encontraria sua fortuna, só via uma saída comprar todas as terras onde a grana estava escondida. No cartório descobriu que as terras pertenciam a Jonathan “Vergalhão”, o velho louco, da espingarda doze calibres, que atirava em tudo que se movia. A casa de alpendre, estado lastimável, debaixo do sol de meu Deus, valorizava ainda mais o conversível de Ulisses. Havia marcas de tiros por tudo quanto era canto. Saturno e Derick de longe observavam toda movimentação. Apostaram que o velho receberia Ulisses à bala. Derick achou que não, felizmente o bichano acertou. Ulisses lentamente desceu do carro, dirigiu-se ao alpendre, e ocupou uma das cadeiras vazias ao lado do velho. E ficaram lá, os dois, sentados, conversando a tarde inteira. Ulisses acendeu um cigarro feito à mão, de fumo aromático tirado dum tablete, e de belas baforadas compartilhou com o velho Jonathan, como se fossem velhos amigos. Assim como a fumaça que diluindo na brisa, os assuntos fluíram naturalmente. Ulisses quis saber por que a casa estava em situação tão deplorável. O velho Jonathan, das duas uma: ou estava confundindo Ulisses com o pastor, ou achava que era mais um dos fantasmas que via a todo instante. E sem tirar os olhos do horizonte disse que era bronca antiga, era caso de família. Seus avós haviam morrido tentando adquirir aquela casa, junto com toda a propriedade. Fora uma luta sangrenta pessoas da família tivera que morrer.


No resvalo da encosta, Derick e Saturno confabulavam. O que contava acontecera poucos anos depois que a ilha fora descoberta. Não existia a vila ainda. Apontando pro aglomerado de edificações disse: Nada disso existia naquele tempo. O tempo a que ele se referia era início do século dezessete Tá vendo aquela ladeira? Bem no final havia um córrego, tudo ao redor era mata até onde os olhos conseguiam ir. O riacho agora não passava dum esgoto fétido que atravessava a rua pavimentada escondido dentro de uma bueira, onde ratos enormes disputavam com cassácos alguma imundície pra comer. Os pensamentos falaram mais alto e mais rápido que as palavras. E numa fração de segundos voltaram pro tempo dos monstros gigantes de galhos e folhas verdes. Titãs de lignina, fibra e seiva bruta sob os olhos atônitos dos desbravadores temerosos de serem engolidos por eles. Não se davam conta, porém, já se haviam nas entranhas da mata. A luta descomunal da clorofila com o anil azulado do firmamento, era pra ver quem era maior. O vento ameaçava atirar no mar de azul metil os monstros de mais de cinquenta metros de altura cujos músculos de ervas suavam flúor por todos os poros. Um dia quando estava extremamente atormentado pelo calor, debaixo da bola de fogo que chamamos de sol. Achou de arrancar um galho de uma árvore pra se abanar e espantar os mosquitos. Um líquido leitoso se desprendeu das folhas daquele galho salpicando no seu rosto, e os olhos do gato ficaram muito inchados, logo se formaram pústulas. E Derick ficou cego por três dias.


Nicolas Crossover era um desbravador intergaláctico. Sua nave sofrera uma avaria, e teve que fazer um pouso forçado num planeta desconhecido que ele próprio batizaria de Rapkins Lands. Em homenagem a seu pai que naquela data 13 de setembro de 2056 fazia aniversário de 56 anos. Muitas eram as semelhanças com o planeta Terra. O ar existente na superfície era composto de grande parte de oxigênio e hidrogênio, mas acender um fósforo ali, nem pensar, na atmosfera muito gás metano e enxofre nas partes mais baixas. Caminhou por um desfiladeiro até encontrar uma espécie de plataforma muito longa, duma liga metálica muito semelhante ao material da qual sua nave era feita. Ao tocar com o pé sobre aquela estrada Nicolas foi sugado para o centro, das laterais brotou uma espécie de redoma que se elevou e vedou a estrada por toda a sua extensão. O piso tornou-se uma esteira rolante que levou o aventureiro até um palácio todo feito de liga de carbono, titânio e vidro. Içada numa altura estonteante, que feriam as nuvens com suas torres pontiagudas. No interior do castelo uma reunião de cúpula estava acontecendo. Um conselho onde representações e líderes dos quatro cantos do universo se faziam presentes. O representante da Via Láctea era um negro que muito lembrava Nelson Mandela, as feições de um nipônico de cor, e quando falava, nem um só músculo do rosto se movia somente os lábios. Como se a boca tivesse vida própria, a não depender daquele boneco de cera a que estava pregada. Estariam eles decidindo o futuro de alguns planetas que se haviam tornado insustentáveis. O planeta Terra estava entre os da lista.


Tagor Fashall consultou seu relógio de algibeira, ele dizia que era sexta-feira 16 de setembro de 1774. As colônias Britânicas na América definitivamente tinham tudo pra naquele dia entrarem para a história.  Juntamente com seu melhor amigo o gato Derick, descobriria os poderes de uma planta fenomenal. Como foi? Foi assim: Justo naquele dia resolveram dar mais uma batida pela mata pra ver se encontravam o tesouro encantado de Lopevi. E acidentalmente descobriram aquela árvore. Elas sempre estiveram lá, tantas vezes passaram ali e não a perceberam. Somente depois que Derick ficou três dias cego resolvera estudá-la. A fruta se assemelhava com a da conhecida mancenilheira, tinha a aparência duma maçã inglesa. Porem um pouco menor. Notaram que a maioria das árvores ficava ao longo da costa. À medida que se avançava pro interior do continente iam escasseando. Seus galhos robustos de cor avermelhado via-se que se prestavam perfeitamente para o fabrico de móveis. Era preciso dar um nome aquele vegetal magnífico. Pra isso precisavam observar aos fenômenos que ela produziria dali pra frente.


 O velho Jonathan quebrou a monotonia da tarde acionando o gatilho de sua espingarda doze. O tiro foi endereçado ao conversível de Ulisses. Atirou ao tempo que gritava que dentro dele havia um demônio. De fato de lá dentro saiu um ser horrível que somente o velho Jonathan, Derick e Saturno conseguiam ver. Ulisses ficou furioso achando que era mais um surto de loucura do velho “Vergalhão”. O alien viera da caverna da montanha, seu faro apurado dizia que por ali havia o metal precioso que o seu povo tanto precisava, e que só existia aqui na Terra. Ouro pra levar pro espaço, ouro tão necessário pra salvação do seu planeta Urano. Viera bisbilhotar a vida do velho Jonathan porque tinha certeza que ele sabia onde havia uma jazida do metal escondido.


A árvore seria comparada com a árvore da maldição. Aquela considerada antes do pecado a árvore da ciência plantada por Deus no jardim do Éden, da qual a serpente seduziu Eva. E que levaria ao homem e sua companheira a provar cometendo o pecado primordial, o da desobediência ao Criador. Os homens da vila quando cometiam qualquer delito eram levados a um júri popular que os condenavam a ser amarrado àquela árvore. E passar dum dia pro outro, atados a ela. Era sentença de morte porque quando o orvalho batia nas vestes dos infelizes a humidade em contato com a árvore produzia uma seiva que liberava um veneno mais poderoso que o de uma serpente da mais poderosa peçonha. Os cavalos que provavam dum galho daquela árvore ficavam alucinados. Pompadur o cavalo de T. Fashall passou por tal experiência. Desde então a planta ficaria conhecida pelo nome de Açoita Cavalo.



Fabio Campos, 15 de setembro de 2016.  

P.S. A Gravura que ilustra este Conto é a mesma que está no Conto "A Maldição do 13", do mesmo autor, publicado neste Blog em: 20 de Março de 2013.


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