As corças, os peixes caçados pelos
ursos. E parecia primavera. As trutas pulando, tentavam vencer a correnteza. O
azul do gelo a tempestade se derramou sobre o lago congelado. A avalanche
descobrira de debaixo da neve um lenhador e sua figura petrificada. A barba
coberta de cristais de gelo. Os olhos abertos fixos no horizonte. Os meninos
das bicicletas ficaram horas admirando aquela cena. Perguntaram como tudo
acontecera, e o homem contou. Disse que sua casa ficava na encosta do rio Green.
O nome era porque suas águas o ano inteiro ficava cheia de uma plantinha
trazida da floresta de tundra. De muito longe dava pra ver o rio de relva.
Feito suco verde derramado na plataforma do continente, mais frio e mais gelado
do mundo.
Ulisses, era como se chamava o
negro que exausto procurava, entre o Novo México e o Texas, um hotel pra se
instalar. O único a escapar da tramoia da comida envenenada. Saíra de lá
convicto que dera cabo de todos os comparsas ladrões de banco. Escondera todo o
dinheiro, e agora viajava Américas a dentro. Para ter certeza que ninguém
jamais encontraria sua fortuna, só via uma saída comprar todas as terras onde a
grana estava escondida. No cartório descobriu que as terras pertenciam a
Jonathan “Vergalhão”, o velho louco, da espingarda doze calibres, que atirava
em tudo que se movia. A casa de alpendre, estado lastimável, debaixo do sol de
meu Deus, valorizava ainda mais o conversível de Ulisses. Havia marcas de tiros
por tudo quanto era canto. Saturno e Derick de longe observavam toda movimentação.
Apostaram que o velho receberia Ulisses à bala. Derick achou que não, felizmente
o bichano acertou. Ulisses lentamente desceu do carro, dirigiu-se ao alpendre,
e ocupou uma das cadeiras vazias ao lado do velho. E ficaram lá, os dois, sentados,
conversando a tarde inteira. Ulisses acendeu um cigarro feito à mão, de fumo
aromático tirado dum tablete, e de belas baforadas compartilhou com o velho
Jonathan, como se fossem velhos amigos. Assim como a fumaça que diluindo na
brisa, os assuntos fluíram naturalmente. Ulisses quis saber por que a casa
estava em situação tão deplorável. O velho Jonathan, das duas uma: ou estava
confundindo Ulisses com o pastor, ou achava que era mais um dos fantasmas que
via a todo instante. E sem tirar os olhos do horizonte disse que era bronca
antiga, era caso de família. Seus avós haviam morrido tentando adquirir aquela
casa, junto com toda a propriedade. Fora uma luta sangrenta pessoas da família
tivera que morrer.
No resvalo da encosta, Derick e
Saturno confabulavam. O que contava acontecera poucos anos depois que a ilha
fora descoberta. Não existia a vila ainda. Apontando pro aglomerado de
edificações disse: Nada disso existia naquele tempo. O tempo a que ele se
referia era início do século dezessete Tá vendo aquela ladeira? Bem no final
havia um córrego, tudo ao redor era mata até onde os olhos conseguiam ir. O
riacho agora não passava dum esgoto fétido que atravessava a rua pavimentada
escondido dentro de uma bueira, onde ratos enormes disputavam com cassácos
alguma imundície pra comer. Os pensamentos falaram mais alto e mais rápido que
as palavras. E numa fração de segundos voltaram pro tempo dos monstros gigantes
de galhos e folhas verdes. Titãs de lignina, fibra e seiva bruta sob os olhos
atônitos dos desbravadores temerosos de serem engolidos por eles. Não se davam
conta, porém, já se haviam nas entranhas da mata. A luta descomunal da
clorofila com o anil azulado do firmamento, era pra ver quem era maior. O vento
ameaçava atirar no mar de azul metil os monstros de mais de cinquenta metros de
altura cujos músculos de ervas suavam flúor por todos os poros. Um dia quando
estava extremamente atormentado pelo calor, debaixo da bola de fogo que
chamamos de sol. Achou de arrancar um galho de uma árvore pra se abanar e
espantar os mosquitos. Um líquido leitoso se desprendeu das folhas daquele
galho salpicando no seu rosto, e os olhos do gato ficaram muito inchados, logo
se formaram pústulas. E Derick ficou cego por três dias.
Nicolas Crossover era um
desbravador intergaláctico. Sua nave sofrera uma avaria, e teve que fazer um
pouso forçado num planeta desconhecido que ele próprio batizaria de Rapkins
Lands. Em homenagem a seu pai que naquela data 13 de setembro de 2056 fazia
aniversário de 56 anos. Muitas eram as semelhanças com o planeta Terra. O ar
existente na superfície era composto de grande parte de oxigênio e hidrogênio,
mas acender um fósforo ali, nem pensar, na atmosfera muito gás metano e enxofre
nas partes mais baixas. Caminhou por um desfiladeiro até encontrar uma espécie
de plataforma muito longa, duma liga metálica muito semelhante ao material da
qual sua nave era feita. Ao tocar com o pé sobre aquela estrada Nicolas foi
sugado para o centro, das laterais brotou uma espécie de redoma que se elevou e
vedou a estrada por toda a sua extensão. O piso tornou-se uma esteira rolante
que levou o aventureiro até um palácio todo feito de liga de carbono, titânio e
vidro. Içada numa altura estonteante, que feriam as nuvens com suas torres
pontiagudas. No interior do castelo uma reunião de cúpula estava acontecendo.
Um conselho onde representações e líderes dos quatro cantos do universo se
faziam presentes. O representante da Via Láctea era um negro que muito lembrava
Nelson Mandela, as feições de um nipônico de cor, e quando falava, nem um só
músculo do rosto se movia somente os lábios. Como se a boca tivesse vida
própria, a não depender daquele boneco de cera a que estava pregada. Estariam
eles decidindo o futuro de alguns planetas que se haviam tornado insustentáveis.
O planeta Terra estava entre os da lista.
Tagor Fashall consultou seu
relógio de algibeira, ele dizia que era sexta-feira 16 de setembro de 1774. As
colônias Britânicas na América definitivamente tinham tudo pra naquele dia
entrarem para a história. Juntamente com
seu melhor amigo o gato Derick, descobriria os poderes de uma planta fenomenal.
Como foi? Foi assim: Justo naquele dia resolveram dar mais uma batida pela mata
pra ver se encontravam o tesouro encantado de Lopevi. E acidentalmente
descobriram aquela árvore. Elas sempre estiveram lá, tantas vezes passaram ali
e não a perceberam. Somente depois que Derick ficou três dias cego resolvera estudá-la.
A fruta se assemelhava com a da conhecida mancenilheira, tinha a aparência duma
maçã inglesa. Porem um pouco menor. Notaram que a maioria das árvores ficava ao
longo da costa. À medida que se avançava pro interior do continente iam escasseando.
Seus galhos robustos de cor avermelhado via-se que se prestavam perfeitamente
para o fabrico de móveis. Era preciso dar um nome aquele vegetal magnífico. Pra
isso precisavam observar aos fenômenos que ela produziria dali pra frente.
O velho Jonathan quebrou a monotonia da tarde
acionando o gatilho de sua espingarda doze. O tiro foi endereçado ao
conversível de Ulisses. Atirou ao tempo que gritava que dentro dele havia um
demônio. De fato de lá dentro saiu um ser horrível que somente o velho Jonathan,
Derick e Saturno conseguiam ver. Ulisses ficou furioso achando que era mais um
surto de loucura do velho “Vergalhão”. O alien viera da caverna da montanha,
seu faro apurado dizia que por ali havia o metal precioso que o seu povo tanto
precisava, e que só existia aqui na Terra. Ouro pra levar pro espaço, ouro tão
necessário pra salvação do seu planeta Urano. Viera bisbilhotar a vida do velho
Jonathan porque tinha certeza que ele sabia onde havia uma jazida do metal escondido.
A árvore seria comparada com a
árvore da maldição. Aquela considerada antes do pecado a árvore da ciência
plantada por Deus no jardim do Éden, da qual a serpente seduziu Eva. E que
levaria ao homem e sua companheira a provar cometendo o pecado primordial, o da
desobediência ao Criador. Os homens da vila quando cometiam qualquer delito
eram levados a um júri popular que os condenavam a ser amarrado àquela árvore.
E passar dum dia pro outro, atados a ela. Era sentença de morte porque quando o
orvalho batia nas vestes dos infelizes a humidade em contato com a árvore
produzia uma seiva que liberava um veneno mais poderoso que o de uma serpente
da mais poderosa peçonha. Os cavalos que provavam dum galho daquela árvore
ficavam alucinados. Pompadur o cavalo de T. Fashall passou por tal experiência.
Desde então a planta ficaria conhecida pelo nome de Açoita Cavalo.
Fabio Campos, 15 de setembro de
2016.
P.S. A Gravura que ilustra este Conto é a mesma que está no Conto "A Maldição do 13", do mesmo autor, publicado neste Blog em: 20 de Março de 2013.
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