A MURALHA IN [Z[ [A] NOS 04/02/2025



Seu Antonio encasquetou que os crimes do homem do meio da rua e da mulher do rio, não teria passado de um delírio. Talvez um delírio coletivo. Fruto da imaginação. De onde tirou essa conclusão, isso é que torna o caso ainda mais complicado. Pela ausência de ações das autoridades, da polícia, que nada investigava. E pasmem, da lua. Seu Antônio tinha, com o satélite natural da terra, um vínculo muito forte. Era coisa de infância. Sua mãe dizia que ao completar sete meses de gestação, teria ficado fissurada pela lua. Daquela data em diante, todas as noites, assim que o sol se punha, a mãe de Seu Antônio tinha por obrigação procurar a lua, e ficava horas a admirá-la. Um prazer imenso, sentia o menino, naquele gesto que a mãe, por força da vontade dele, ficava a admirar a bola de luz flutuando na imensidão do cosmo. Era uma noite de lua cheia, a apenas sete dias pro nascimento de Seu Antônio algo estranho aconteceu, a criança chorou no ventre da mãe. Para os mais velhos isso era um mau presságio.

A parede, possuía uma textura de cor alaranjada. Como  havia se erguido ali, ninguém sabia. No meio da mata. E não parava por aí o mistério, ao olhar para cima não se conseguia ver o fim do imenso muro cor laranja, incrivelmente se perdia céu à dentro. Simplesmente incrível, um muro que não terminava, nem para cima, nem para os lados. Monalisa, Isachar e Tábata estiveram uma vez ali, isso lá na infância deles, estavam brincando no sítio da tia Emília, entraram na mata e se depararam com o muro, ao tocá-lo Monalisa sentiu-o gelado, Isachar  tocou-o tomou um choque elétrico, e Tábata sentiu sua mão afundar, como se a colocasse num lago. A reação foi imediata, saíram correndo. Se tivessem esperado mais um pouco, teria presenciado algo fantástico, um imenso portal se abrindo dando passagem para o outro lado. Derick que não fugira, olhou para lá dentro, e arriscou entrar pra ver o que havia, além da muralha laranja.

Seu Antônio estava de frente pro espelho do banheiro, fazendo a barba. Muito queria entender por que todas às vezes que se barbeava, lembrava da primeira vez. Era sempre a sim. A primeira vez, que fez a barba, nem barba tinha, o aparelho era do pai. E tudo que conseguiu foram alguns pequenos cortes que a mãe percebeu e ralharia com ele, por aquela proeza.

Uma espécie de cidade envolta numa redoma de vidro equilibrava-se sobre vigas, na encosta de uma montanha. De repente, da linha do horizonte começaram a surgir naves espaciais, um exército inteiro de naves de vários tamanhos e formatos. Derick correu a se proteger debaixo de uma árvore. As naves foram se aproximando e pousando lentamente fazendo um barulho ensurdecedor.

O gato não tirava o olho das criaturas que lentamente desciam das aeronaves, alienígenas, seres os mais estranhos, mais pareciam monstros marinhos, lulas, polvos, siris, e outros crustáceos, cheios de tentáculos, olhos ofídicos e boca de peixe. Derick entendeu que iam discutir algo sobre a cidade da redoma de vidro. Isso porque eles se colocaram em círculo. Um que tinha a cara de tubarão-martelo parecia ser o chefe, pois começou a falar, se é que aquilo poderia ser chamado de fala. Um grunhido como de alguém tentando falar embaixo d’água. O tempo todo apontava pra cidade.

Seu Antônio lembrou de um dia, na casa de sua infância, estava sentado à mesa com a cabeça apoiada nos braços. Não estava nem triste, nem alegre. Porém, sua mãe acudiu perguntando-lhe o que tinha. Respondeu com um grunhido. Sua mãe foi fazer um chá. Era sempre assim, O menino não tinha nada mais do que cansaço, por ter uma manhã cheia de afazeres da sua natureza, caçar passarinho, tomar banho de rio, armar arataca para pegar preá. Escalar mamoeiros, mangueiras e cajueiros, atirar pedras em umbuzeiros pra conseguir-lhes frutos, que no mais das vezes inexistia, porque não era tempo.

O ataque foi imediatamente decidido entre eles. Já voltavam pra suas aeronaves quando o contra-ataque iniciou-se. Os habitantes da cidade da redoma de vidro, surgiu no meio da campina. Era um número colossal de guerreiros, havia uma tropa de soldados portando lanças e escudos que corriam na frente. Em seguida, homens montados em dinossauros, emas e lagarto gigantes, também pterodáctilos, voavam rasantes montados por guerreiros com armas de fogo. Os alienígenas foram pegos de surpresa, a maioria não iria conseguir embarcar em suas aeronaves, e o combate iniciou-se ali na campina. O mato verde experimentou naquele instante o tinir de aço se chocando, os gritos de raiva, o som de ossos se partindo, de músculos dilacerados, os urros de dor, de ódio, e um rio de sangue correndo sobre a montanha.   

 

 

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