Seu Antonio
encasquetou que os crimes do homem do meio da rua e da mulher do rio, não teria
passado de um delírio. Talvez um delírio coletivo. Fruto da imaginação. De onde
tirou essa conclusão, isso é que torna o caso ainda mais complicado. Pela
ausência de ações das autoridades, da polícia, que nada investigava. E pasmem,
da lua. Seu Antônio tinha, com o satélite natural da terra, um vínculo muito
forte. Era coisa de infância. Sua mãe dizia que ao completar sete meses de
gestação, teria ficado fissurada pela lua. Daquela data em diante, todas as
noites, assim que o sol se punha, a mãe de Seu Antônio tinha por obrigação
procurar a lua, e ficava horas a admirá-la. Um prazer imenso, sentia o menino, naquele
gesto que a mãe, por força da vontade dele, ficava a admirar a bola de luz
flutuando na imensidão do cosmo. Era uma noite de lua cheia, a apenas sete dias
pro nascimento de Seu Antônio algo estranho aconteceu, a criança chorou no
ventre da mãe. Para os mais velhos isso era um mau presságio.
A parede, possuía
uma textura de cor alaranjada. Como havia se erguido ali, ninguém sabia. No meio
da mata. E não parava por aí o mistério, ao olhar para cima não se conseguia
ver o fim do imenso muro cor laranja, incrivelmente se perdia céu à dentro.
Simplesmente incrível, um muro que não terminava, nem para cima, nem para os
lados. Monalisa, Isachar e Tábata estiveram uma vez ali, isso lá na infância
deles, estavam brincando no sítio da tia Emília, entraram na mata e se
depararam com o muro, ao tocá-lo Monalisa sentiu-o gelado, Isachar tocou-o tomou um choque elétrico, e Tábata
sentiu sua mão afundar, como se a colocasse num lago. A reação foi imediata,
saíram correndo. Se tivessem esperado mais um pouco, teria presenciado algo
fantástico, um imenso portal se abrindo dando passagem para o outro lado.
Derick que não fugira, olhou para lá dentro, e arriscou entrar pra ver o que
havia, além da muralha laranja.
Seu Antônio estava
de frente pro espelho do banheiro, fazendo a barba. Muito queria entender por
que todas às vezes que se barbeava, lembrava da primeira vez. Era
sempre a sim. A primeira vez, que fez a barba, nem barba tinha, o aparelho era
do pai. E tudo que conseguiu foram alguns pequenos cortes que a mãe percebeu e
ralharia com ele, por aquela proeza.
Uma espécie de
cidade envolta numa redoma de vidro equilibrava-se sobre vigas, na encosta de
uma montanha. De repente, da linha do horizonte começaram a surgir naves
espaciais, um exército inteiro de naves de vários tamanhos e formatos. Derick
correu a se proteger debaixo de uma árvore. As naves foram se aproximando e
pousando lentamente fazendo um barulho ensurdecedor.
O gato não tirava
o olho das criaturas que lentamente desciam das aeronaves, alienígenas, seres
os mais estranhos, mais pareciam monstros marinhos, lulas, polvos, siris, e
outros crustáceos, cheios de tentáculos, olhos ofídicos e boca de peixe. Derick
entendeu que iam discutir algo sobre a cidade da redoma de vidro. Isso porque
eles se colocaram em círculo. Um que tinha a cara de tubarão-martelo parecia
ser o chefe, pois começou a falar, se é que aquilo poderia ser chamado de fala.
Um grunhido como de alguém tentando falar embaixo d’água. O tempo todo apontava
pra cidade.
Seu Antônio
lembrou de um dia, na casa de sua infância, estava sentado à mesa com a cabeça
apoiada nos braços. Não estava nem triste, nem alegre. Porém, sua mãe acudiu
perguntando-lhe o que tinha. Respondeu com um grunhido. Sua mãe foi fazer um
chá. Era sempre assim, O menino não tinha nada mais do que cansaço, por ter uma manhã cheia de afazeres da sua natureza, caçar passarinho, tomar banho
de rio, armar arataca para pegar preá. Escalar mamoeiros, mangueiras e
cajueiros, atirar pedras em umbuzeiros pra conseguir-lhes frutos, que no mais
das vezes inexistia, porque não era tempo.
O ataque foi
imediatamente decidido entre eles. Já voltavam pra suas aeronaves quando o
contra-ataque iniciou-se. Os habitantes da cidade da redoma de vidro, surgiu
no meio da campina. Era um número colossal de guerreiros, havia uma tropa de
soldados portando lanças e escudos que corriam na frente. Em seguida, homens
montados em dinossauros, emas e lagarto gigantes, também pterodáctilos, voavam
rasantes montados por guerreiros com armas de fogo. Os alienígenas foram pegos
de surpresa, a maioria não iria conseguir embarcar em suas aeronaves, e o
combate iniciou-se ali na campina. O mato verde experimentou naquele instante
o tinir de aço se chocando, os gritos de raiva, o som de ossos se partindo, de
músculos dilacerados, os urros de dor, de ódio, e um rio de sangue correndo
sobre a montanha.
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