Lenda Suburbana


O Serrote do Pintado é uma vistosa montanha que se estende a noroeste da cidade de Santana do Ipanema. Desde o sopé até o cume, coberto de exuberante mata nativa, a caatinga. Alheio a voraz sagacidade do progresso e da urbanidade, conserva-se intacto até hoje. Como que a desafiar o tempo e a civilização. Onças-pintadas, raposas, gambás, preás, saguins, jibóias e outras tantas variedades de serpentes e salamandras ali convivem, num verdadeiro santuário ecológico. Contam-se casos da existência de répteis tão grandes naquela floresta que teriam até virado lendas. Passadas de geração a geração pela boca dos contadores de histórias. Cobras gigantes, que já atacara alguns caçadores, matando-os e comendo-os vivos. Permissão nenhuma era dada para entrar, muito menos caçar, naquele bosque. Ato ilícito cometia os que ali adentravam e assim, nunca ninguém sabia direito quem fora, ou de que família era os que levavam sumiço. Indigentes, nunca reclamados, nem ao proprietário da mata, ao prefeito, ou a polícia. Só os escutadores de causos, estes sim querem saber.

Quem se punha a andar ao sopé do serrote sempre pensava que nenhuma construção veria num raio de muitos metros. Só que, de repente, lá estava ela. Aparecia como que por encanto, a casa da fazenda do prefeito Agamenon. Por entre árvores frutíferas, propositadamente cultivadas, com a finalidade de arejar, dar sombra em derredor do casarão. No entanto muito ajudava a esconder a construção. A entrada era simples. Uma cancela, feita de madeira nobre em duplo xis. Sob um portal elevado em alvenaria. Ladeado por duas pilastras de pedras, dava uma aparência rústica. Não trazia no alto a denominação pelo qual era conhecida: “Castelo das Tucaias”.  Concebida no declive, numa área mais recuada. Construção elegante e graciosa. Um casarão em estilo colonial. Feito com esmero. Arquitetada de modo a aproveitar as falhas do terreno, escarpado. As vigas, apoiadas em batentes de mureta propiciava espaço ao esconderijo alpendrado. Por entre a vegetação arbustiva, catingueiras e craibeiras.

Seu Jasão e o filho Josuel, estavam juntos a cocheira. Havia uma puxada, anexa ao curral. Cuidavam da lida diária da fazenda, iniciada com a ordenha matutina. De onde estavam, avistavam a patroa Dona Sofia. Uma bela senhora. Mulher de uma beleza sábia.  Beleza que se descobre, a cada vez que se deitava o olhar sobre suas feições de singela imagem. Nem a maternidade, muito menos a vida matrimonial haviam tirado dela, a graça, o viço juvenil, que aflorava na fugaz essência de seu ser. O cabelo preso. A um intruso observador, cabia o ilícito dever de imaginá-la desprendendo aquela linda cascata de fios sedosos e lisos a se derramar por sua espádua. Liberando no ar, a sua volta, o perfume suave e inebriante do seu colo. Nos lábios, suave tom purpúreo. Contrastando com a pele alva, e realçando ainda mais seu rosto e os olhos claros. Mimoso chapéu à mão, graciosamente punha à cabeça. Uma bela dama.  A primeira dama do município.

Josuel nascera naquela fazenda. Seu Jasão ali vira nascer, a ele, e aos seus onze irmãos. Também o prefeito Doutor Agamenon. Seu Jasão era capataz, desde quando a fazenda ainda era do velho patriarca, o falecido Ulisses.  De geração em geração, as vidas seguiam seus dramáticos destinos: Daqueles que só viviam para serem servidos, e daqueles que acham que só serviam para servir. Josuel rapaz de feições morenas. Dedicado no trato com as coisas rurícolas, aprendera a arte e o ofício com seu pai. É alto e forte, como o pai. A labuta no campo acrescentara ao rapaz, musculatura potente, rija, viril. Um mancebo de feições atraentes. Um rosto interessante, boca de lábios finos, olhos astuto, de águia, cabelo serrado, rente a cabeça. Braços e mãos de Titã. Pernas firmes.
Sofia, o observava com certa naturalidade. Muito embora no âmago, no mais intrínseco de sua alma, ela ia encontrar-se traída pelos instintos de mulher à admirar o belo rapaz. Voltava o rosto para o Cavalo. Acreditando que o meneio de cabeça iria acabar por afastar o pensamento impróprio. Cavalo realmente uma bela espécie. Aqueles belos animais estavam ali disponíveis, servis, submissos às ordens de seus amos. O cavalo ela poderia montá-lo. E galopar pelos arredores da fazenda. Sob aquela montaria, verdadeira deusa grega, tendo um reinado inteiro a seus pés. Um dos vassalos, ali, pronto pra obedecer às ordens de sua bela rainha. E ela incólume ordenaria:

-Josuel! Traga-me o cavalo até o alpendre da casa.

Ato contínuo fora vistoriar os afazeres na cozinha.  O cavalo que Josuel fora pegar pra sua patroa ir ao passeio, era um animal puro de origem. Cavalos possuem elaborada linguagem corporal para comunicar-se com seus pares. Dotados de ilhargas suaves que lembravam a sensualidade das ancas femininas. Firmes e bem apoiadas em suas patas traseiras bem delineadas. O rabo um acessório importante, se excluído, propositadamente ou não, tira parte da beleza do animal. Sua cabeça conelínea, estreita próxima a boca levemente alargada nos flancos e orelhas. Quando pressentem sinal de perigo arestam as orelhas. Aguçam a visão, o olfato tornam-se dilatado pupilas e narinas. O pescoço é firme e largo, adornado pela crina, que quanto mais cuidada imprime mais beleza e sutil sensualidade ao animal. Cavalos selvagens são ainda mais fascinantes. Cavalos permeiam a história da humanidade.
 -Meu reino por um cavalo! Assim diria Calígula. O grande orador Cícero nomearia seu belo equíno, senador da republica romana. Josuel não ficando muito atrás, denominou o seu de Príncipe.

Sofia pediu que providenciasse outra montaria e que a acompanhasse, não gostava de cavalgar sozinha. Nem suas filhas, nem Agamenon estavam na fazenda. O filho do capataz, estava radiante, gostava de acompanhar a patroa, nos passeios. Achava-a engraçada, pela sua falta de habilidade pra conduzir o animal. O equídeo, acabava levando-a pra onde bem queria. Josuel a socorria, servindo-lhes sempre de bate-esteira, função do segundo cavaleiro na vaquejada. Andaram pelos pastos, verdejantes. Um gado preguiçoso pastava, com paciência. Nem levantavam a cabeça, mesmo com a aproximação do cavaleiro e da amazona. Tanto andaram que se aproximaram do início da mata. O misterioso emaranhado verde, contemplava-os em silêncio. De repente, um descuido, e o rapaz ouviu Sofia gritando:

-Socorro Josuel!

Ao ver a cena. Ele ficou totalmente sem ação. Era um problema, surpreendente, inesperado. Nunca pensou que sua patroa, uma pessoa tão segura das suas atitudes, tão séria. Fosse cometer um ato tão infantil.  Digno de criança travessa. Ao passar por baixo de um pé de cajueiro, ela agarrara-se a um galho e lá se encontrava suspensa pelos braços.  Mas não era hora pra pensar, no ato traquino da senhora do seu patrão. O fato era real, e ela estava lá, dependurada a lhe pedir socorro. Por milésimos de segundos ainda contemplou aquele corpo tão lindo. Que ele tanto admirava, mas era a mulher do seu dono, totalmente proibido olhar se quer, com outra intenção que não fosse pra dar-lhe a atenção necessária quando ela falava. Quantas vezes, desviara os olhos, cheios de pudor, pra não ver seus lindos seios, às vezes sem, outras vezes com sutiã, quando curvava-se pra ver-lhe fazendo a ordenha. E agora ali, totalmente dependente dele. O lindo corpo a balouçar. Os braços esticados pra cima, delineava muito mais sua cintura, a blusa folgara atrás e exibia uma nesga de suas costas alva. Pele sedosa, que liberava no ar, um cheiro estonteante, pra aquele menino-homem, cheio de virilidade.

Não precisou ela fazer um segundo pedido de ajuda. A mente do habilidoso vaqueiro trabalhou rapidamente e agiu. Colocou seu cavalo abaixo do local onde Sofia estava pendurada. Seus pés, balançavam, um pouco acima da linha do lombo do animal, sua cintura ficou praticamente a altura da cintura de Josuel que colocara-se de pé ao animal. Ele a enlaçou com seus braços fortes. Segurou-a firme pela cintura. E a colocou suavemente, a sua frente na montaria. Ao tempo que se pôs à garupa. Tudo isso durou apenas milésimos de segundo. Uma eternidade que ele não queria nunca que acabasse. Ter sua patroa, ali nas mãos era a realização de um sonho nunca antes sonhado. Sentia-se seu herói naquele instante, evitara que ela levasse talvez um grande tombo. Os cabelos de Sofia esvoaçavam no rosto do vaqueiro, que ao sentir o perfume liberado daquele corpo, seus desejos mais instintivos se acenderam. Se mais segundos perdurasse aquele instante, não mais responderia pelos seus atos. E o servil filho do capataz poderia cometer a mais louca das loucuras. O que poderia custar a sua vida. Mas a vida era nada, comparada ao prazer de ter nas mãos o objeto de um desejo proibido. De verdade era uma grande insensatez. Prazerosa insensatez que acabaria por dominar o rapaz. Estaria ele, liberando o instinto mais humano e mais selvagem que existe em cada ser, em cada animal, em cada indivíduo macho ou fêmea. Um dito da boca do povo num caso como esse diria: o homem é o momento.

Sofia estava agradecida, talvez por isso deixou-se ficar, mais aquelas resumidas frações de segundos, envolvida nos braços daquele que a tirou do perigo. Pra ele tanto significado tinha. Um ato bobo cometera foi o que pensou ela.  Precisava recompor-se urgentemente.  Aquelas mãos, aqueles braços potentes a enlaçá-la, tiravam-lhes do sério. Por frações de segundos esqueceu-se de quem era.  A mulher poderosa, não por ser esposa de quem era.  Poderosa pela capacidade de neutralizar as forças de um gigante. De anular a fúria de um titã. Força de Eva, de mulher que seduz, que arrebata e doma, seja ele o mais bravo, o mais forte dos homens. E o coloca submisso à seus pés. Tudo vinha como vulcão do mais íntimo de seu ser. Tudo isso sempre estivera lá dentro dela. Só que adormecido. Tantos anos de dedicação somente a família. E agora se sentindo ainda mais mulher, mais senhora, muito mais poderosa. Não apenas por ser patroa. Aquela Sofia que estava ali de volta, antes quieta, escondida num cantinho num recolhido recôndito de sua alma. E vira aquele menino e a resgatara. Era seu herói, não por tirá-la daquela situação boba. Pois o máximo que podia acontecer de grave, caso ele não tivesse feito coisa alguma, era ter conseguido uma torção no pé, isso curaria em alguns dias. O ato heróico, pra ela, estava em ele ter acordado, a Sofia mulher há muito adormecida nela. Que ela própria tinha posto pra dormir no seio de sua tão aconchegante e morna alma.

De repente um estampido ecoou pela montanha. Josuel foi atingido na perna à altura da coxa. Era o prefeito Agamenon que chegara naquele instante, e presenciando a cena de sua esposa entrelaçada com o mancebo no lombo da montaria, atirou no rapaz. Ferido, Josuel desceu Sofia do animal e cavalgou em direção a floresta. Dois tiros mais ecoaram pela montanha. Dois tiros mais disparados, sem atingirem o alvo. A primeira dama montou seu cavalo. Sem nada falarem os dois retomaram o caminho da volta a casa da fazenda. Tomaram as veredas rumo ao casarão colonial. Nuvens cinzas se faziam pros lados de Santana prenunciando chuva. Enquanto se iam, a mata fechada mais e mais engolia o filho do capataz. Mais outro que tornar-se-ia uma outra lenda do serrote do pintado.

Fabio Campos  

A Louca da Estação Rodoviária

O que vamos contar, bem que poderia ter ocorrido em qualquer parte do planeta: China, Egito ou Islovênia, mas aconteceu exatamente em Santana do Ipanema. Quanto às personagens, poderia ser qualquer um de nós, de algum canto do mundo, mas focaremos em três pessoas, outorgando-lhes o direito de nos representar. São estes: Senhor Epaminondas Vieira, o poeta Bené Rosas e Dona Antônia Filomena.

Em que época os fatos ocorrem? Pois bem, o tempo, o inexorável, o implacável senhor tempo. Elemento interessante na definição de qualquer narrativa. Incrível é que aqui, cada antagonista da trama, viveu em determinado espaço de tempo. E a depender das circunstâncias, o tempo de um, pode sobrepor-se ao do outro, e assim sucessivamente. E isso nos parece ser, o que menos importa. Mas também entendemos que tudo é uma questão de ponto de vista. Vamos ao que interessa.

O porquê do senhor Epaminondas Gumercindo Vieira e Souza, vir parar em nossa história, isso temos que esclarecer. Tudo por conta das suas excentricidades. Findou seus dias em meados da década de setenta. Em mil novecentos e setenta e quatro pra ser mais exato. Contava ele, com oitenta e nove anos de idade. Aos sessenta tornou-se ex-funcionário público da Intendência Municipal. Por essa época aposentou-se também da vida matrimonial. Viúvo, vivia sozinho. Viveu uma vida inteira dedicada à coisa pública. Chegou àquela idade e àquela época extemporânea a sua, trajando seu impecável terno e calça de linho, gravata e chapéu coco na cabeça. Era assim, um Carlitos em preto e branco, num cenário de filme colorido. Àquela altura da vida senil, criou pra si uma espécie de rotina, visitava diariamente, uma a uma, todas as casas comerciais do comércio de Santana do Ipanema. A cada comerciante visitado, um assunto de tempos de outrora, trazido à tona. Na loja de tecidos e sapatos de Evilásio, o assunto era o tempo de menino, os jogos de bola, as brincadeiras; no Bar de Seu Lira, o tempo de rapaz, a boemia, as cantigas apaixonadas e as namoradas. No antigo sobrado, Hotel de Maria Sabão, o assunto era as artimanhas da política, os bastidores do jogo do poder dos coronéis. E uma frase, sempre a mesma, prenunciava seu colóquio:
“-No meu tempo...”

Como se ele, não mais existisse. Como se fosse fantasma de si mesmo. Como se do nada, surgisse ali momentaneamente, apenas pra contar aquele fato e logo fosse desaparecer, pra ir habitar uma outra dimensão, um outro mundo. Era exatamente assim como se sentia um ser extemporâneo à época que vivia. Um ser que sentia saudade de tudo que um dia havia vivido. E ainda que remotamente tinha esperança de reviver tudo que um dia vivera.
O poeta Bené Rosas era ainda criança quando Seu Epaminondas exercia a Intendência Municipal e despachava na antiga ladeira da rua da Telefônica. Bené, já havia deixado pra atras a frivolidade dos "áureos anos", porém, nos modos de vestir-se, encarava sem problema a modernidade do jeans e da camiseta do tempo de rapaz. Mas era práxis comentar com tons carregados de nostalgia o tempo de infância e juventude. Bené e Epaminondas eram idênticos, nos jeito extremado de aflorar com supremacia a saudade de tempos idos. Dava gosto ouvi-lo recitando versos, de sua própria autoria, enaltecendo seu torrão natal:

“Ó Rio Ipanema que chora!
Queira Deus que o tempo volte
Para que eu pudesse te contemplar
Ainda menino tantos banhos em ti!
Nasci nas tuas águas
E o tempo que é teu algoz
Que a ti devoras tão feroz
Contigo choro tuas águas, tuas mágoas!”

No dia doze de novembro de oitenta e dois Dona Antônia Filomena amanheceu muito feliz. Seria um dia mais que especial. Seu marido, o pedreiro Benedito Bau, três dias antes, lhe havia ligado, dizendo que naquele instante, estava embarcando em um ônibus, saindo da Estação Rodoviária do Braz, em São Paulo. Seis anos haviam se passado, desde que ele partira, pra o sudeste do país. Partiu deixando Dona Filomena com cinco filhos. Cinco crianças que em seis anos, alguns se tornariam rapazes. Já não existiam mais, todos haviam falecido. Uns, ainda na infância, por doenças, outros por envolvimento com drogas ou furtos.


Devido a vida difícil, Dona Filomena teve tuberculose, hipotireoidismo, o que afetou fortemente seu lado psíquico, emocional. Por vezes sonhou com a volta do velho Biu. E muitas vezes, foi vista nas madrugadas, andando pelas ruas chorando e chamando por ele. Morava na rua São Vicente, casinha simples, telhado baixo, duas caídas d'água. Tudo muito pobre, porém limpo que dava gosto. 

Naquele dia, ela arrumou a casa com mais afinco. Aquela velha rede do Cariri que Biu tanto gostava de se deitar e se balançar lavou pra tirar o cheiro de mofo. Vestiu-se de modo especial, botou o vestido com o qual haviam se casado. Um longo vestido branco cheio de anáguas e babados de rendinha de filó. Pôs batom vermelho intenso, nos lábios. O rouge deixou-lhe com cara de calunga de meio de feira. Porém ajudou a esconder velhas rugas, sulcadas feitas rabiscos de arado, no rosto frio. Um rosto desenhado de lágrimas na hora de rezar o terço na fadiga do dia. A tristeza e a solidão acabam por criar cicatrizes na alma. Os cabelos, untou com uma brilhantina que tinha cheiro de água de colônia, daquelas que dão náuseas de tão forte. Se olhando num pedaço de espelho riscado e fosco, esfregou casca de juá, nos dentes tortos e encardidos de fumo. 

Faltava a bicicleta de Biu. A velha Monark, por todos aqueles anos, ficara guardada. Tirou do velho canto de parede. Entrevada rangeu nos cubos e na corrente mordida pela ferrugem. Tirando da penumbra, limpou com carinho. Assemelhando-se a uma amazona dos filmes de sinhazinha montou-a com elegância. Rumou para o desembarque e embarque de passageiros que se vão ou vem pra Santana. Ali chegando uma notícia trágica a aguardava. Ficou sabendo que o ônibus em que o seu Benedito se encontrava, sofrera um grave acidente, já em terras alagoanas, não houvera sobreviventes. Desde então, Dona Filomena, belamente trajada, vai pra Estação Rodoviária de Santana do Ipanema. Todos os dias, chega, em sua bicicleta, consulta o relógio que fica na parede dizendo as horas pra quem lhe olha. Busca o guichê de passagens, se inteira do horário de chegada dos ônibus, revista todos os que chegam. Com os olhos procura os rostos dos passageiros, dos transeuntes. Anda a esmo. Pergunta a um e a outro: Alguém viu o Biu? Resmunga, choraminga. Como se o velho amado fosse aparecer a qualquer momento, chama por ele. Inicialmente baixinho, a meio tom, finalmente aos gritos. Sonha com a volta do Biu.

Fabio Campos

Mortus tu Mortis

Não acreditava no que estava acontecendo, aliás não queria acreditar. A verdade era que ele estava morrendo. Precisava aceitar aquela realidade, por mais absurdo que pudesse parecer. Tudo começou com uma pontada no peito, bem do lado do coração. E foi aumentando. Estava tendo um ataque cardíaco. A causa de sua morte por certo, um enfarto fulminante do miocárdio. Ali em plena madrugada, enquanto assistia a tevê, acabara adormecendo, e agora acordava morrendo. Já habituara-se a assistir filmes, todas as noites e em todos eles pessoas morriam, tão comum já tornara-se ver mortes. Fosse ela natural, por acidente ou mesmo assassinato. Retratada em filmes, romances, contos. Tantas que lhes parecera, às vezes, até poética. Naquele momento em que estava ele morrendo, (a morte) nada tinha de poético.

Era real, e agora mesmo estava morrendo. Morrer é um fato muito relativo, dizia um filósofo que um dia teria lido. Pra ele (o filósofo), há pessoas que parecem mortos-vivos, falta apenas que alguém as avise de tal condição.  Biologicamente talvez seja menos complicado explicar a morte, pois sob a ótica da ciência a morte está em nós desde que nascemos, e nos acompanha pelo resto da vida. O coração uma bomba de músculos, expande e comprime sangue, em contagem regressiva. Células nossas morrem a todo instante. E daí já é morte, parcial, mas morte. Sob a visão religiosa morrer e uma condição metafísica. Não passaria a morte de uma passagem, de um estágio para outro. Naquele momento para ele, a morte nada tinha de metafísico, nem biológico, muito menos de religioso.

Bom, a verdade é que estava dormindo no meio do sono acordou-se, pois estava morrendo. Era até engraçado, já ouvira dizer "acorda pra cuspir!" "acorda pra morrer!" não... ninguém acreditaria se ele contasse, é claro que só poderia contar se não estivesse morrendo. Talvez um dia pudesse dizer a alguém:

 - Você acredita que esta noite estava eu dormindo e me acordei porque estava morrendo!
 
Ora, assim sendo, cai por terra aqui, aquela teoria de que alguém possa morrer dormindo. Não, não ninguém morre dormindo, quando a morte está chegando acordamos. Sem necessariamente precisar abrir os olhos, apenas vem a consciência de que não mais dormimos.  Quando digo ‘quando a morte está chegando’, não me refiro a nenhuma entidade personificada. Não senhor, não estamos a dizer que a morte é aquele esqueleto encapuzado trazendo à mão uma enorme foice como na carta de tarô. Nada disso.

Mas que morte mais sem graça estava sendo aquela.  Aliás, morrer não tem graça nenhuma. Lembrou-se das diversas orações que guardava pedindo uma boa morte. Nas orações pedia pra morrer de morte natural.  E por acaso tem coisa mais natural do que morrer na cama, no meio do sono? Estaria arrependido de ter pedido esse tipo de morte?  Analisou e pensou se merecia aquele tipo de morte mesmo. Heróis morrem combatendo. Deve ser lindo morrer em combate. Morrer lutando! Coisas de heróis! Ora, mortes trágicas são tão traumáticas! Não é nada bacana derramar sangue. Morrer acidentado, ou de facada ou de tiro. Poxa! Deve doer pra caramba!  Revolucionou-se o conceito de morte depois que o ianque Samuel Colt inventou o revólver. Põe-nos a pensar como é possível azeitonas de chumbo arremessadas com determinada propulsão de pólvora explodida. Apenas pelo impacto, força e intensidade atinge um alvo vivo, ser capaz de causar danos a órgãos vitais. Causar minúsculos orifícios num corpo e por conta disto ocasionar a morte.

O próprio Jesus Cristo teve morte trágica, dolorida. Dizem os cientistas que a sua “Causa mortis” teria sido asfixia. Devido a posição que se encontrava de braços estendidos, suspenso apenas por pregos. Eu diria também, porque não resistiu aos ferimentos. O mesmo Jesus que ressuscitou a tantos. Àquela menina ele disse aos pais, ‘-ela apenas dorme’ e lhes trouxe de volta à vida. Os familiares de Lázaro se maravilharam, pois aquele já havia dias que falecera. O corpo já em avançado estado de decomposição. Porque é bíblico o ditado:  “ Vieste do pó e ao pó tornarás”.
 
Que dia era aquele? Não queria morrer perto do aniversário da filha, pra que ela não se entristecesse naquela data. Muito menos queria morrer em dia de carnaval. Já pensou estragar pra seus familiares uma festa tão vibrante, ele próprio gostava de carnaval, quão chato seria pra os que ficaram,  entristecer-se quando lembrassem que foi num dia como aquele que morrera. Sabia agora que era assim, desceria ao túmulo colado naquele corpo que lhe acompanhara a vida toda. Não sentia mais cheiros. No velório aquele cheiro nauseabundo de laranja-lima e alfazema. Nem calor, não sentia o incômodo aperto claustrofóbico do caixão, a escuridão do túmulo, nem as insistentes moscas e formigas que por ventura passeariam pelo seu corpo.  
   
Preocupava-o pelo menos três coisas com relação à morte. E nem era se ia pro céu ou pro inferno. A data do evento era uma delas, não queria morrer em datas festivas. Um dia bom de morrer é dia de finados ou ainda na semana santa. Na quaresma as pessoas ficam tão tristes. Quiçá morresse num dia triste do mês de agosto. No inverno tudo fica tão soturno, úmido, porém teatral e romanesco descer a tumba no inverno. Uma chuvinha fina teimosamente caindo, propicia um estado de clima providencial a cena funérea.  Pensava na rigidez cadavérica, pois se estava morrendo dormindo, lembrou-se de suas ereções penianas involuntárias. Quão ridículo seria pra os familiares, sem conseguir acomodar o defunto na câmara mortuária, por se encontrar pronto para o ato sexual. Outra preocupação:

- E se lhes viessem vermes pelo nariz? 

Já ouvira falar de vários casos de crianças, e até mesmo adulto, estendido no esquife à sala de velório, e as pessoas escandalizadas com a cena mórbida, melhor recomendar em vida, que se lhes coloquem chumaços de algodão nas narinas. Sabia também de casos em que o morto soltara arrotos e até flatulências, alguns quando procediam as vestimentas das mortalhas.

Tinha um conceito próprio de morte já formado. Pensava que morrer era um deixar de respirar, um deixar de bater o coração, um deixar de enxergar as coisas no estado material como se nos apresentam diante dos nossos olhos. A vista iria escurecendo, escurecendo, até cessar de vez sua capacidade de perceber as coisas de enxergar pelos olhos. Bem como perder a percepção dos sons, um estado letárgico e finalmente o nada. E daí viria o vislumbrar de uma visão, não através de um par de “janelas” chamadas de olhos, mas de todo o seu ser (no caso aqui a alma).

Concebia que a alma enxergava por todos os ângulos. E que a alma apesar de destituída de um corpo físico, possuía as características do corpo que tinha. E veria uma luz intensa no final de um túnel infinito pro alto. Luz essa que iria se aproximando, aproximando e lhe envolvendo, pois já não havia mais corpo ali, e a alma seria arrebatada por essa luz para um lugar onde havia outros seres de luz, muito embora ninguém falasse nada, pois todos já sabiam e entendiam o que havia ocorrido.

Bom era essa sua idea de morte. O mais interessante, é que essa sua ideia não correspondia à realidade do que era a morte. Estava acontecendo com ele naquele exato momento. E era outra coisa totalmente diferente do que ele pensava. Nada parecido também com aquelas histórias de que a alma saía do corpo, e que nós conseguimos ver, a nós mesmos, e as pessoas em volta do nosso corpo inerte, enquanto a alma da pessoa morta ia subindo, cada vez mais alto em direção a uma luz vinda de cima.

Nascer não teria sido tão fácil, embora pouco, ou nada, lembramos de tal momento. Com a morte do mesmo jeito, nada nos lembraremos pra contar. Qualquer coisa que alguém tenha dito ou escrito sobre o ato de morrer, teria sido mera especulação, tudo pelo medo que temos do desconhecido. Pra quem ainda permanece nesta vida as recordações são parte desse estágio. Pra quem se foi, não. Enquanto em vida fora feliz? Fazer balanço a essa altura do campeonato talvez fosse a coisa mais inútil pro momento, mas se servia de alento, só naqueles momentos de entrega total, teria a vida valido a pena.  E diga-se de passagem (que aqui é só força de expressão), foram muito poucos, os momentos que valeram a pena, e  que se vivera realmente. Se tornasse a vida porventura faria diferente? 

O destino da minha alma caro leitor, disso nada posso dizer pois acabei de morrer. Descerei a mansão dos mortos, isso eu sei. Assim como Jesus Cristo, o filho de Deus, por dias ali permaneceremos até vencermos a morte, como ele venceu. Até a próxima oportunidade se me for permitida novamente estar com vocês pra contar.    


Fabio Campos  

O Profeta (Uma história Incrível!)


O Profeta O que mais chamava a atenção nele, seus cabelos brancos. Alvíssimos! Nos olhos de lince, o quanto era sagaz, espirituoso. Isso dava a desconsiderar os mais de setenta anos, que provavelmente tinha. A pele alva ajudava a disfarçar os sulcos que vincavam o rosto, bem escanhoado. Vestia uma camisa de manga comprida azul clara, e calça de linho. Estava sempre vestido assim. Chinelos e meias brancas nos pés acentuavam-lhe a excentricidade. Nunca o vi apartado de um livro. “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley, trazia à mão, no dia que me contou a história. Em Santana do Ipanema, hospedava-se sempre no hotel Santanense, de Dona Beatriz. Foi bem ali, que passei a ouvir a fabulosa história do senhor Giovanni Montserrat. 

Duas ou três vezes por semana, eu ia ao hotel. Entregar doce de leite, que minha mãe fazia, por encomenda. Na época, eu não passava de um rapaz, apenas quinze anos tinha. Numa dessas minhas idas ali. Vi-o sentado na sala de espera. Sozinho lia o livro e fumava. Naquela manhã fria, usava um cachecol em tons verde. Já o tinha visto antes, sentado a praça, andando no passeio público, conversando com Doutor Bittencourt, juiz de Direito, também hospede do hotel. Incrível, como não conseguia passar despercebido! Algo nele atraia nosso olhar. Num determinado dia, me chamou. Pediu-me pra sentar. Perguntou o meu nome. Queria contar-me uma história. Fiquei curioso de saber, por que a mim. Disse, simplesmente porque me achava inteligente, e que gostava de conversar com pessoas inteligentes. Constatei ainda mais o quanto era astuto, e como sabia mentir. Pediu a uma camareira que lhes providenciasse um café. Daí nossa conversa passou a ser um jogo de perguntas e respostas, que muito ajudaria a elucidar o emaranhado quebra-cabeça que compunha sua tão incrível odisseia.

A Baleia 
Senhor Montserrat era italiano. Vinha a Santana do Ipanema, rever o amigo farmacêutico, Nepomuceno Agra, com quem esteve na batalha de Monte Castelo, na segunda guerra mundial. Resolvera escrever um livro sobre aquela aventura, fazia pesquisas. Perguntou-me se conhecia a história da existência de uma baleia, no subsolo da igreja Matriz de Senhora Santana. Disse-lhe que quando estudava, no Grupo Escolar Padre Francisco Correia, teria ouvido algo sobre a tal baleia. O que eu sabia, era que o cetáceo marinho ainda estava lá, vivinho da silva! Dentro de um imenso poço cheio com água do mar, sob o altar da nave. Isso, eu tinha guardado na memória da minha infância. Senhor Giovanni esclareceu que não era bem assim. O que existia de verdade, era uma arca enterrada lá. Dentro dela relíquias da igreja. Entre estas, pedaços de ossos da baleia que engoliu o profeta Jonas que, segundo as escrituras sagradas, passaria três dias no seu ventre. Na arca estaria também, documentos guardados. Um destes determinava, através de um código a ser decifrado, o local onde se encontrava o tesouro da família Montserrat.

Inventário 
Como este inventário familiar codificado, foi parar embaixo do altar da igreja de Senhora Santana, é uma longa história. O senhor Montserrat, contou-me esta parte do enredo, em rápidas pinceladas. Se esforçando pra que esse pedaço da narrativa parecesse sem importância. Dava-me a impressão que temia tornar o relato atraente, e assim acabar criando expectativas animadoras no interlocutor, principalmente se fosse este que vos fala, um daqueles caçadores de aventuras. Aventureiro dentre nós, não sendo eu, sobrava ele mesmo. Dizia ele que o papa Leão Magno I, ao ver-se sob as constantes ameaças dos bárbaros, e de Átila rei dos Hunos, que pretendiam saquear Roma, resolveu enviar, parte dos tesouros que a igreja acumulara, pra várias partes da Europa. Pra cada província católica, um santo da igreja, e um determinado lote de bens designado.

Relíquias
Durante muito tempo, uma parte dessas relíquias, estivera sob o poder do rei Dom Manoel de Bragança e Bourbon, em Portugal. O poderio megalomaníaco dos faraós, as conquistas esplendorosas de Alexandre, "O Grande", e a determinação dos imperadores romanos em expandir seus domínios, fizeram o imperador Bonaparte da França, divagar e planejar a conquista inicialmente da Europa, depois, o mundo. Napoleão passou a ser uma ameaça, pra todos os países vizinhos da França. Com medo das invasões napoleônicas, Dom João VI e família, trouxeram os tesouros da igreja para o Brasil, sob a égide de São Vicente. Uma vez aqui, quando uma ordem, ou freguesia era criada, os Missionários jesuítas da Companhia de Jesus, reuniam-se e escolhiam um santo da igreja, para nomear a nova província, que recebia junto com a imagem, um fracionamento dos despojos papal. 

Senhora Santana seria a santa escolhida para conduzir, e ter sob sua proteção, as almas que porventura viessem ocupar a sesmaria dos irmãos Martins Vieira. Concedida pelo então governador geral Duarte Coelho, localizada na porção meridional da capitania de Pernambuco. Portanto, Junto com a imagem, da santa mãe, de Maria santíssima, a avó de nosso senhor Jesus Cristo, viria às relíquias, contendo ossos da baleia que ingeriu o profeta Jonas. E entre outros, o documento do espólio do Brasão dos Montserrat. Até então escondido em solo italiano, sem que ninguém, dentre os que vivem nos dias atuais, soubesse onde se encontrava. O principado de Montserrat era uma bela mansão que ficava nas imediações de Monte Castelo. Território neutro em determinado período da guerra. Seria esse, o fator determinante, para que o comandante do exército italiano, coronel Giovanni, acabasse conhecendo o santanense, o soldado Agra. 

A Maçonaria
Geovanni me perguntaria também, se sabíamos da existência de uma pirâmide, num ponto equidistante seis léguas a nordeste do altar da igreja. Nunca na minha vida havia ouvido falar de tal pirâmide, em solo santanense. Disse de tal existência, e ainda falaria, como e porque ela fora construída. Segundo ele, capitanias hereditárias e sesmaria no Brasil, foram todas planejadas pela maçonaria. Tornada prática legal, muitos anos depois, pelo então ministro de estado, o Conde José Bonifácio de Andrada e Silva. Por isso quando uma sesmaria era criada dois símbolos deveriam representá-la: Um símbolo clerical, a imagem de um santo, e um símbolo da maçonaria, no caso aqui, a pirâmide. Discorreu sobre um trecho do mapa narrado pelo seu finado avô Leon Montserrat: "Um compasso imaginário tendo seu ápice apontado pro altar da igreja matriz de Senhora Santana, a haste do grafite, estendida até o ponto onde se encontrava erguida a pirâmide, e a haste de apoio, arestado num ponto, a noroeste da cidade, conhecido por alto do cruzeiro". Concluíra o ítalo-montês que: "Ligando tais pontos geográficos; desde a pirâmide, até a grande igreja matriz, e ao local da torre do castelo no alto do cruzeiro, formava-se um triangulo equilátero. Um olho imaginário, que a tudo via, se posicionaria no centro desse triângulo".

A Pirâmide, teria sido construída pelos missionários da companhia de Jesus, com o auxílio de índios nativos e Incas. Isso mesmo, índios Incas, fizeram uma grande expedição até o sertão alagoano. Uma missão preconizada pelos seus deuses, dizia: “Para o império Inca não cair em declínio, um grupo de bravos guerreiros, deverá transpor toda a América, de lado a lado.” Saíram pois do Peru, em linha reta, viriam parar em Alagoas. As várias técnicas de navegação, o conhecimento científico de astros e estrelas que dominavam perfeitamente, fez com que conseguissem chegar até aqui. Deixaram alguns ensinamentos, trouxeram a diamba, e a cana de Caiena. Uma premonição do feiticeiro Inca, na língua aborígene seria hieroglifada nas paredes da pirâmide. Traduzida muitos anos depois, descobriu-se o que significava. Diziam àqueles signos que a igreja ia cair. A grande igreja que seria erguida pelos missionários cristãos um dia iria cair. Giovanni estudou estes hieróglifos e chegou a uma conclusão fantástica, a profecia dos índios, não apontava a queda da igreja de Roma, provocada pela reforma protestante, esta já havia ocorrido. Referia-se à igreja de Senhora Santana, que à época nem em sonho se imaginava ser construída, muito menos que cairia. Mas foi construída, e numa tenebrosa madrugada, toda a nave veio a baixo. O porquê, do desmoronamento da igreja matriz de Senhora Santana seria outro mistério, nunca elucidado até hoje.

A Igreja, O Padre 
O jornal Gazeta de Alagoas, deu ênfase a notícia: "Cai teto da Igreja Matriz de Senhora Sant’ana, em Santana do Ipanema!" O texto, com apelos sensacionalistas, relatava o sinistro, dizendo tratar-se de uma fatalidade, e que, a nenhum fenômeno climático ou meteorológico, deveria ser atribuído o incidente, que não teria feito vítima, nenhuma criatura, porque ocorrera durante a madrugada. E que uma perícia técnica estaria sendo encaminhada para determinar as causas. O texto descrevia ainda, breve histórico da paróquia, que se encontrava, a mais de quarenta anos, sob a tutela, do cônego Luiz Cirilo Silva. Senhor Geovanni disse que sua história estava chegando ao fim. Terminaria colocando ainda duas questões para que eu mesmo tirasse minhas conclusões: Por que o padre, que até então gozava de saúde perfeita, viria a falecer, exatamente três meses após a queda da nave de sua igreja? Ninguém, até hoje conseguiu explicar porque, ao retirar os escombros, para se iniciar a reconstrução, um grande buraco, contendo pá, picareta, e lanternas, foi encontrado no piso do altar. 

Fabio Campos