Tudo o que Deus pôs no mundo estava
bem ali na frente. O entardecer vinha, com a sua mania de arremedar o dia
primordial. Um céu meio trevas, meio luz. O lado obscuro, borrado de farinha de
estrela. O lado coral de tangerina, sangrado de dor mortalmente ferido morria, não
sem incendiar a parte finita do infinito. O almofadado azul cândido de ruge e
chamas não tinha mais nada pra dizer, além do que já havia dito. A estrada, as
fachadas das casas magnificamente se amando, e se odiando na mesma proporção e
intensidade. Tudo costurado de angústias, delírios, calafrios e neon.
O menino que ia caminhando pela calçada da praça da vila parecia visivelmente perturbado. Talvez não acreditasse que ao fim do dia pudesse recuperar a paz interior. A grande estrela inflamada, como uma imensa lágrima incandescente, calma e lentamente ia caindo. Pra detrás da montanha de esconder esperanças, frustações e o rabo dos dias. Tudo havia sido terrivelmente rápido, incrivelmente aterrador. E era tudo tão sobrenatural. Estava-se, pelo menos, a uns três trilhões de anos-luz distante do que se podia considerar real.
O menino que ia caminhando pela calçada da praça da vila parecia visivelmente perturbado. Talvez não acreditasse que ao fim do dia pudesse recuperar a paz interior. A grande estrela inflamada, como uma imensa lágrima incandescente, calma e lentamente ia caindo. Pra detrás da montanha de esconder esperanças, frustações e o rabo dos dias. Tudo havia sido terrivelmente rápido, incrivelmente aterrador. E era tudo tão sobrenatural. Estava-se, pelo menos, a uns três trilhões de anos-luz distante do que se podia considerar real.
Tagor Fashall, mil vezes por segundo,
rememorava o que acabara de suceder. A cada vez que lembrava um novo detalhe se
destacava. O por do sol, as crianças brincando no parque, nada daquilo cabia na
sua cabeça. No momento sua mente totalmente se ocupava com o que acabara de
suceder na casa de Dário. Aquele gato enorme, agigantado diante de si, ainda
mais ao pegá-lo em flagrante. Seus imensos olhos acusadores lhe encarando, teve
que agir, e agiu. Com a astúcia de uma cobra, cuidadosamente colocou o medalhão
no chão. E como um lince partiu no encalço do felino que acabara de se tornar
seu alvo e sua presa. O ódio, só ele é capaz de dotar um animal ameaçado, de
qualquer espécie, de poderes estupendos. E aquele menino teve agilidade,
astúcia e força nunca antes experimentada, pra alcançar num salto descomunal o
pobre e indefeso bichano. Assim que o teve entre as mãos torceu-lhe o pescoço.
O estalo de vértebras se rompendo daria ainda pra se ouvir um pequeno grunhido
e só, estava morto. Teve ainda sangue frio suficiente para pendurá-lo pela
coleira, num galho dum pé de manga próximo ao muro que havia no fundo do
quintal. Para dar ideia de que o infeliz tivesse acidentalmente se enforcado.
Os homens-répteis do espaço ainda não
haviam conseguido o seu intento, de angariar todo ouro do subsolo da ilha, e
que pretendiam levar pro seu planeta Urano. Resolveram então preencher o tempo
fazendo um estudo aprofundado de como era a vida na terra. De modo particular
na ilha. Começaram a catalogar os seres vivos ali existentes. Mais de mil
espécies de pássaros foram registrados. Os tentilhões eram maioria. Cada um com
suas características e particularidades: bico, plumagem, tipo de alimentação,
reprodução. Acabaram descobrindo alguns que não eram da ilha, mas que migravam
de muito longe até ali somente para se reproduzirem. Como a ilha possuía muitos
rochedos nas encostas, os extraterrestres se divertiam com suas armas
fantásticas produzindo esculturas gigantes de suas próprias cabeças. E os totens
colossais na pedra lapidados eram levitados e colocados enfileirados na encosta
da praia, como guardiões da ilha olhando pro alto mar. Os nativos reverenciavam
um deus chamado de Tangata Manu que na língua local quer dizer “homem-pássaro”.
Rezava uma lenda que num ano muito distante, houve uma grande erupção vulcânica
do temido vulcão Ranu Kau. Uma profetiza por nome de Moto Nui, no mês de
setembro daquele ano, foi até a praia, fazer orações para pedir aos deuses que
se apiedasse do seu povo, e parasse de vomitar fogo sobre suas plantações, que
providenciasse peixes para as armadilhas dos pescadores.
E eis que naquele instante no céu apareceu um homem dotado de asas seguido de uma nuvem de pássaros. A um sinal do homem-pássaro as aves puseram centenas de ovos numa ilhota próxima, e foram embora. Isso foi a redenção dos nativos, tiveram muitos dias de alimento nutritivo com fartura. Desde então todos os anos os pássaros vinham a ilhota que passou a se chamar de Moto Nui. O chefe Zulu criou a festa do Tangata Manu que passaria a acontecer todo ano, no mês de setembro que culminava com uma competição. Sempre no início da primavera quando as andorinhas do mar vinham depositar seus ovos na ilhota de Moto Nui e voavam de volta para o continente. A competição era marcada por uma grande festa que tinha início na Vila Orongo, que ficava na beira da cratera do vulcão RanoKau. Cada clã selecionava um representante, um bravo guerreiro, que devia nadar até a ilhota de Moto Nui distando da ilha cerca de mil pés náuticos. Deviam encontrar e capturar um ovo de Andorinha do mar, nadar de volta, pelo lado sul da ilha, escalar o penhasco, e retornar a aldeia. O primeiro que chegasse trazendo um ovo de Andorinha do mar e o entregasse intacto ao rei Zulu, seria então nomeado “Tangata Manu”. Com direito a escolher uma virgem pra se casar. E passaria a chefiar os guerreiros da tribo por um ano, até que houvesse a próxima competição. O vencedor recebia as graças e bênçãos de Iva-Atua a profetisa.
E eis que naquele instante no céu apareceu um homem dotado de asas seguido de uma nuvem de pássaros. A um sinal do homem-pássaro as aves puseram centenas de ovos numa ilhota próxima, e foram embora. Isso foi a redenção dos nativos, tiveram muitos dias de alimento nutritivo com fartura. Desde então todos os anos os pássaros vinham a ilhota que passou a se chamar de Moto Nui. O chefe Zulu criou a festa do Tangata Manu que passaria a acontecer todo ano, no mês de setembro que culminava com uma competição. Sempre no início da primavera quando as andorinhas do mar vinham depositar seus ovos na ilhota de Moto Nui e voavam de volta para o continente. A competição era marcada por uma grande festa que tinha início na Vila Orongo, que ficava na beira da cratera do vulcão RanoKau. Cada clã selecionava um representante, um bravo guerreiro, que devia nadar até a ilhota de Moto Nui distando da ilha cerca de mil pés náuticos. Deviam encontrar e capturar um ovo de Andorinha do mar, nadar de volta, pelo lado sul da ilha, escalar o penhasco, e retornar a aldeia. O primeiro que chegasse trazendo um ovo de Andorinha do mar e o entregasse intacto ao rei Zulu, seria então nomeado “Tangata Manu”. Com direito a escolher uma virgem pra se casar. E passaria a chefiar os guerreiros da tribo por um ano, até que houvesse a próxima competição. O vencedor recebia as graças e bênçãos de Iva-Atua a profetisa.
A briga do Tiranossauro rex e o Coendou prehensilis abalou as estruturas da caverna. Estrondos horrorosos davam
pra se ouvir a quilômetros de distância. Pra piorar a situação, o míssil com a
inscrição FASHALL, estava na iminência de explodir, caso as paredes do portal
que ruíam caísse sobre ele. Tudo era possível naquele momento. Os amotinados se
mobilizaram para colocar o artefato bélico longe do perigo. Tarefa nada fácil, pois
mal conseguiam se firmarem em pé. Afinal dois seres ferozes travando uma luta
mortal fazia toda a ilha tremer. E os tremores sacolejavam tudo, de um lado para
o outro. Tagor Fashall e Antonieta chegaram ao portal. Marcos e Derick do alto
de uma elevação observavam os acontecimentos.
Antonieta abriu o “Livro do Reinado de Azeroth”. Na
página 364 havia as instruções de como montar um míssil, e logo nas páginas
seguintes como desmontar. Incrível como um livro milenar contivesse instruções
de como fazer e um foguete de guerra tão recentemente criado. Os escritos
estavam em aramaico. Além do que se utilizava de vasta simbologia dando margem
a interpretações dúbias. Faltava ainda esclarecer informações como o que era ou
quem era o menino-gato? E quem seria o homem-pássaro? Seguindo as instruções do
livro Tagor Fashall conseguiu decifrar parte do texto o que o levaria a esta
conclusão: “Este é um míssil do tipo exocet, que significa peixe-voador versão MM40 block I; Alcance 70km
de distância, a uma velocidade de 1.100 km/h; possui ogiva a base de nêutrons
de 365 megatons de potência, pesando 165 kg só a ogiva; seu peso total é de 855kg;
Comprimento 5,8m; Diâmetro: 0,35m; O sistema de guiamento e radar ativo.”
Pondo uma das mãos sobre o artefato Tagor Fashall fechou
os olhos, e teve uma visão de como aquele míssil fora parar na ilha. Exatamente
no dia 17 de maio de 1987, durante a guerra entre o Irã e o Iraque. O exército
iraquiano no início do conflito em 1984, lançava mísseis de helicópteros modelo
Super Frelon. Tempos depois, do exército francês, arrendou cinco Super Étendard
muito mais velozes e eficazes, com maior capacidade de ataque. Aquele fora um
dos 1.350 mísseis lançados naquela guerra. Exatamente um dos que fora disparado
contra a fragata USS Stark da Marinha dos Estados Unidos. Por um problema no
sistema de acionamento não detonou. Não até aquele exato momento.
Fabio Campos 23 de junho de 2015 (Continua...)