TIRA-GOSTO DE LÍNGUA

A Língua que nós falamos 
Ela está dentro da boca 
O linguajar português 
Endoida tudo de vez 
É coisa assim meio louca 

Verdade dita ou dizida 
Não existe palavra errada 
Tem desvios de Linguagem 
Ou palavras novas criadas 
Oh! Gente! vira Ôxente! 
O Coronel, coroné 
D’agora‘diante Doravante 
Até mais ver! vira Inté 

O verbo voa é Avoa 
No pretérito é Avuô 
Negrinho vira Nêguim 
Um pouco vira Tiquim 
Ora Senhor! é Ára Sô!

Carnê vira Carneirinho 
Rodilha vira Rudia 
Dinheiro vira cobrinho 
Da Mulé qué a viria 
Matuto faz trocadilho 
Coisa é ver outra é ouvir 
Umas letras vai inverter 
Palavra inteira “comer” 
E algumas letras “engolir”

Troca o V pelo B 
E o R troca por L
Invês de varrer barrê 
Vassoura vira bassôra 
Varrendo ele vai Barrendo 
Na Inscola da prêfessora 

Colhér chama de culé 
Um porco grande é pôicão 
Mulher chama de Muié 
Carvoeiro faiz caivão 
Um saco com duas partes 
É chamado de Bizáco 
Qualquer depósito de vidro 
Matuto chama de frasco

Caxéte é de comprimido 
Farmaça tem partilêra 
Comprimido é uma píula 
Andarço é Caganeira 
Mal–Estar é farnicim 
Na baila vira na Báia 
Se o Ambiente é ruim 
Ele diz que é Chinfrim 
E chama até de Gandaia 

Alcoólatra é viciado 
Cachaceiro é o que fabrica 
A dose ele chama pinga 
Isqueiro chama de Binga 
Moeda chama de Nica 
Se uma coisa é erguida 
Ele diz foi arribada 
Tem cuzido na cozinha 
Moringa d’agua é quartinha 
Gravidez é barrigada 

No quarto tem camarinha 
Dormida é impeleitada 
E Se o bicho ta farcêro 
Tá querendo é um banheiro 
Ele diz: Vou na privada! 
A coisa aí desalinha 
Vai na môita ou na casinha 
Termina tudo em cagada

Pra chamar filha: -Ô Fia! 
Vórmicê: -Vossa Mercês 
Pra dizer, olhe é: -Ispia! 
Pro Mode vem do Francês 
Tosse braba é Maleita 
Envelope Zélope é 
Galinha choca se deita
Carroça é Cabriolé 

Arremedar um matuto 
Tarefa não tem iguá 
O Trinco vira tramela 
A vi, ele diz Vi ela 
Frente fria é um terrá 
Entonsse seria então 
Simbora eu vou-me já! 
Ser Veja como ela são 
Nutícia dá in Jorná 

Menina entre pra dentro 
Menino saia pra fora 
Sobe logo isso pra cima 
Desce logo essa rima 
E acabe com isso agora! 

Certo dia três Matutos 
Apostaram uma parada 
Pra durante uma viagem 
Não falar palavra errada 
O Primeiro disse: Cheguemo! 
O Segundo: Num Falemo nada! 
O terceiro Nóis num Erremo! 
E ninguém perdeu camarada.

Fabio Campos 14 de Maio de 2016

O DIABO E O POLÍTICO

Houve um grande ditador
De seu povo um terrorista
Quando veio a falecer
No inferno foi se ter
Com o diabo quis entrevista

Queria saber do cão
Com seu pensamento crítico
Me dê pronta e bem perfeita
A fórmula ou a receita
Pra fazer um bom político

O Cão disse vá anotando
Em folhas de aflição
Com agulha da amargura
Bordando você costura
Com fibras do coração

Num tacho de azeite quente
coloque um copo de GULA
Uma xícara de feiúra
O ajôfre ruim da aguardente

Bote Cem Gramas de ÓCIO
Num prato cheio de enrolada
Depois bote uma carrada
Dos trambiques nos negócios
Separe numa tigela
Em descanso pra pegar gosto
Cem pitadas de desgosto
Em Dez Litros de INVEJA

Bote para refogar
Um saco de covardia
Bote as pernas de um Zambeta
Raspe o chifre de um Capeta
Cem Maços de Porcaria

Ajeite numa travessa
Várias postas de Esperteza
Recheadas de AVAREZA
Depois separe os temperos:
Veneno de escorpião
O ÓDIO de um matador
Da facada bote a dor
Dos cortes de um esporão
Bote á gosto o Cinismo
O sorriso de uma hiena
Um Fio de Gota Serena
O cúmulo do inconformismo

Coloque na batedeira
Ovos gôro de urubu
Da sapa retire o leite
Da LUXÚRIA o deleite
Cabelos de um Cão suru
Um Molho de embromação
A safadeza de um nêgo
Os Caninos de um morcego
Toda Dissimulação
Bote a baba de um SOBERBO
Ganância de uma Sanguessuga
Impaciência de pulga
O nojo que dá de um Bêbo

Acenda o fogo de um tacho
Ponha a Nata da VAIDADE
Junte toda falsidade
E um Monte de Golpes baixos
Toda a Sordidez de um homem
Mentira pra encher linguiça
Com recheio de Preguiça
Saliva de um Lobisomem

Pra Receita ficar pronta
Falta inda Intemperança
O Prazer pela Vingança
Arrogância e muita afronta
A Lábia de um Vagabundo
Frieza de Espírito Imundo
Todo esquema ele desmonta
Bote o Mal que há na ponta
E Traição pelas costas
Ele pôs fedor em Bosta
Mas exagerou na Conta

Fuxicadas ele adora
A Justiça ignora
No Orgulho se remonta
É amante das INTRIGAS
Do Amor de raparigas
Vai não vai o Bicho apronta!

Depois junte tudo isso
Lhe dê um rosto bonito
Uma gravata e um terno
O Bicho já tá no Ponto
Em Uma Hora tá pronto
Se assá-lo no Fogo do Inferno!

O Diabo olhou pra o homem
Com seu olhar analítico
Disse para Concluir:
Tu só veio parar aqui
Porque fostes um bom político!

E agora pra terminar
Disse àquele Ex-Vivente
Quando tu ainda era gente
Se dizia do homem AMIGO
Ouça agora o que eu te digo
Volta lá pra o meio do Povo
Vai Cumprir tua promessa
Sei que serás Bom à Beça
Vá em forma de CACHORRO!

Fabio Campos 26 de Abril de 2016 *