LÔU KÖ MOON DÔ PÓ É TIKUS 30/06/2025
Egg and Good Grapes Corpus Christi 19/20 de JUNE de DOIS MIL E 25
JACA BRASIL!
A MANGA ROSA
THE END ... quase END
IN [S] [a] NOZ ANTONI UM 17/06/2025
Tem história que aparenta não ter pé nem cabeça. História que vai parecer não ter um sentido, não ter uma cronologia, uma lógica. Como um filme visto de trás para frente. História de uma família, que morava numa casa de esquina. E que havia um mau presságio que dizia: "morar em casa, de esquina, não era muito bom." Ninguém dizia o que significava esse, "não muito bom". Poderia ser coisa desse, ou do outro mundo. Uma coisa era certa, não foi só uma, nem duas vezes, que Seu Antônio, de manhãzinha antes do nascer do sol, ao levantar-se, pra ir buscar o leite no curral, encontrou bem debaixo do poste da esquina um despacho. Um trabalho feito, algo do tipo feitiçaria, vudu, mandinga. Aquilo era coisa pra derrubar alguém. Para levar alguém a ruína. Esse alguém bem que podia ser um dos moradores da redondeza, ou simplesmente nada teria com ninguém dali. Isso não se sabia.
Era noite chuvosa. A chuva açoitava o telhado, lavava insistentemente os vidros da janela. Dava para ouvir a água descendo pela calha, um choro lento e paciente. Do jeito que o tempo estava, bom mesmo era estar debaixo das cobertas, numa cama bem aquecida. Uma xícara de café pousada na mesinha de canto. Seu Antônio, fumava um cigarro, a fina fumaça subindo e incensando os pensamentos que iam além, da vidraça, além da noite molhada, muito além daquela fria e escura noite. Dona Dulce, na cozinha, grunhindo uma cantiga de igreja acompanhada pelo tilintar de panelas e pratos. A chuva àquela hora da noite entristecia os cantos da casa, amofinava. O gato procurava lugares mais aquecido para dormir. Gioconda, Tábata e Isachar se estivessem naquela casa com certeza já estariam recolhidos em seus quartos, acalentando sonhos aguardando o sono para dormir. Nunca jamais, onde estivessem esqueceriam daquela noite. Da rua ouviram um barulho, de carro, freada brusca, estampido de tiros. Seguido de pessoas gritando, gritos de homem e de mulher. Barulho de gente correndo. Seu Antônio jamais esqueceria, ao ouvir aquilo, foi até a janela, abriu o pórtico e teve a visão da rua. Lembrava-se exatamente tudo que viu. Aquela cena ficara para sempre pregada, bem guardada num lugar sombrio da sua mente. Bastava o dia ficar triste, como estava agora, e as mesmas lembranças voltavam. Se um dia tivesse que relatar numa delegacia, ou num banco de testemunhas de um tribunal, saberia dizer com riqueza de detalhes o que viu naquela noite. Um carro preto se afastando, deixando pra trás o corpo de um homem, inerte, no meio da rua.
Isachar parecia não acreditar no que seus olhos via. Teve vontade de se beliscar pra ter certeza que não era só mais um sonho. Via seu pai Antônio sendo levado pela polícia. Era humilhante, era degradante.
O vento, a chuva batendo com seus pingos frios no seu rosto. Lá fora, estendido no calçamento, o corpo inerte de homem morto. Curiosos aproximaram, debaixo da chuva, protegido por guarda-chuvas, portando lanternas clareavam o corpo. O óculos quebrado, o chapéu encharcado caído pra um lado. Alguém providenciou um pano para cobrir o cadáver. Ao longe dava-se a ouvir a sirene da viatura da polícia.
Ísis e Osíris estavam na sala de reuniões do castelo. Uma sentada na cadeira do trono, enquanto a outra recostava-se no apoio. Discutiam de que forma armariam a defesa do próximo ataque dos rebeldes que se organizavam para mais um ataque. De repente, pela janela da sacada entrou voando uma enorme águia. Ela possuía olhos de fogo e sua língua enorme saía do bico encurvado na ponta lançando faíscas como setas de fogo, suas garras potentes destruíam tudo que tocava e avançou para as duas moças filhas do rei Naim. As mulheres guerreiras já estavam preparadas para o ataque e haviam desembainhado suas espadas. De um salto, Osíris alcançou o dorso da ave gigante. Montando-a desfechou-lhes golpes de sua espada no pescoço e enterrou toda a lâmina entre as asas da ave de rapina gigante. Ísis não tivera a mesma sorte, a ave concentrou todo seu ataque nela, e tinha-na presa em suas garras. A guerreira desferira vários golpes nas garras da águia, arrancando-lhes unhas e dedos. Enquanto isso, o palácio era atacado pelas tropas rebeldes. Muitos já haviam conseguido escalar as muralhas. Havia fogo e destruição para todos os lados. O reinado de Naim parecia estar sucumbindo. Da bravura e coragem de suas filhas, isso talvez fosse o que definiria como acabaria aquela guerra.
Isachar não acreditava no que seus olhos viam. Teve vontade de se beliscar para ver se não era apenas um sonho. Um daqueles pesadelos que nos atormentam durante a noite. Tivera muitos daqueles. Via com seus próprios olhos seu pai Antônio sendo levado preso. Dois policiais o conduziam até a viatura que estava estacionada no largo em frente ao mercado da carne. Era um dia de quarta-feira, dia de feira livre, mascates, vendilhões, mercadores, carroceiros, quituteiras, mangaieiros, ambulantes, camponeses enchiam a via pública. A torre da igreja parecia uma moça rodeada de crianças no paço escolar. O sino de bronze, calado, só tocaria dali dez minutos, às dez horas da manhã, daria dez badaladas. As pessoas, os transeuntes, curiosos, todos olhavam boquiabertos a cena. Seu Antônio algemado, sendo conduzido a viatura da polícia. Muitos pensamentos ruins passavam pela cabeça de Isachar. Que crime afinal cometera? Teria seu pai matado alguém?
CONFU [Z] O CAPÍTULO 05 17/05/2025
A noite as coisas mudavam de figura. Nem tudo que parecia ser, era realmente o que se via. Uma árvore nunca, jamais seria simplesmente uma árvore. Podia ser somente um obstáculo ao nosso sentido da visão. Uma árvore por trás do muro aparentava ser realmente uma árvore. O estranho nela era como movia seus galhos, semelhando um polichinelo dançante. Um desengonçado Orfeu sem Colombina. Abanando seus braços desfolhados, como imensos tentáculos. Fantasma de gente que não mais possuia músculos, nem carne, nem sangue correndo nas veias. Alguém que de tão velho ressecou balançando ao vento, alguém que morrera de pé. Uma múmia sem graça, se desintegrando sobre seu próprio cadáver. Os cabelos desidratados, sem pele, sem olhos, sem retina. Sem alma, sem medo. A lua, desde que acontecera a tragédia, a única a fitá-la. Tudo que quisesse talvez fosse, enxergar seus mais recônditos pensamentos, seus sonhos mais adormecidos, no espírito.
Aquele natural satélite, pregado lá no alto ainda que tão longe se encontrasse, conseguia penetrar-lhe as entranhas. E dela extrair os mais hediondos pensamentos. Pior, seus malévolos atos, pensados e repensados. Algo que jamais poderia revelar. Nem a ela próprio. Seu Antônio tinha uma certa caída pela aquela moiçola que ajudava dona Dulce nos afazeres domésticos. A menina era realmente prendada. O corpo moreno, o cabelo negro, os olhos amendoados de mestiça. As pernas bem torneadas, tinha tudo pra deixar o homem de cinquenta caído aos seus pés. Ela resistiu o quanto pode as investidas do marido da patroa. Mas, se por um lado a carne é fraca, tentador também é a oferta de um dinheiro extra, pra quem vive na penúria. De tanta insistência ela foi aceitando, de início apenas mostrar os peitos pra Seu Antônio. Uma vez aceita, ficaria ainda mais difícil negar a outros pedidos. Apenas tocar neles. E quando caíram em si, já estavam mantendo relações sexuais intensas no próprio leito conjugal do patrão e da patroa, Isabel deu vasão aos instintos sexuais de Seu Antônio. Aquilo caminhava pra um desenrolar trágico, pois a menina, não contente com as gratificações de Seu Antônio, achou de chantagear o homem. Ele marcaria um encontro na beira do rio. Naquela noite enluarada os amantes se encontrariam. A lua por testemunha, viu um brilho sinistro nos olhos daquele homem. A beira do manancial d'água se entregariam a mais uma noite de prazer. Isabel parecia uma bela sereia, despida com os pés molhados tocados pelas águas do rio. O homem despiu-se e a possuiu. Em seguida sacou de suas roupas uma faca e a golpeou, várias vezes. O sangue da moça lavava-lhe o corpo e ia juntar-se as águas do rio.
Os cabelos molhados pareciam mais revoltos. A pele molhada pela chuva fina, acentuava a morenez e eriçava os poros naquela manhã fria de agosto. O dia apenas era entendido pela tênue claridade da aurora. Tudo em volta era muito belo. Montanhas ao longe verdejavam. O capim orvalhado molhava a barra da calça lustrava os sapatos. Aqui acolá uma casa de taipa colocava cor de barro no cenário verde pronunciado. O balir de ovelhas muito ao longe parecia um sonho, distante. O tinido de um chocalho bem mais real. A estrada a frente pareceu o rumo a seguir. Não dava pra ouvir, porém a intensidade de sons de gente e movimento denotava um povoado próximo.
Batista era assim, gostava de roupas coloridas, anéis nos
dedos, cordão de prata no pescoço, um boné na cabeça, óculos rayban a tapar-lhe
os olhos amendoados dar cor de mel. Trazia os traços da origem indígena nas
feições. Batista era artista circense, se apresentava na feira livre, fazendo
malabarismo, truques de mágica. Aproveitava pra vender pomada. Um unguento para
todo tipo de problema de saúde, como ele mesmo propagava.
A sua chegada a urbe já era esperada, por um colega de
trabalho, seu assistente de apresentações o menino Janio, que tinha outro irmão
chamado de Siloé. Os nomes propositadamente providenciado pelo pai que era
admirador dos políticos mais renomados da época.
A feira livre merece uma descrição a parte, uma profusão
de cores, cheiros e sabores. A multidão dividida em duas categorias, os que
queriam vender, e os que queriam comprar. Fosse o que fosse, alguém tinha algo
que alguém precisava, só esperavam que o destino os ajudassem nessa tarefa.
O vendedor de panelas de barro, o vendedor de cangalhas e
colchões de capim, o vendedor de fubá enchendo a rua com seu aroma se
misturando ao cheiro de pastel e caldo de cana. As tapioqueiras, as toldas de
comida, logo cedo, o vapor das panelas ia de olfato em olfato abrindo o apetite
para um bom prato de cuscuz com carne de galinha e uma xícara de café
fumegante.A feira é um espetáculo de vida. Os meninos carroceiros, ganhando um
trocado pra levar as feiras das donas de casa que iam de banca em banca
comprando os víveres nessários para aquela semana que terminava, afinal era um
sábado na feira de Santana.
Batista encontrou Janio na porta da igreja matriz, estava
vendendo revistas e jornais velhos. Arrecadado dos escritórios do promotor de
justiça dr. Tenório. Também do juiz civil dr Yoyô. Os bacharéis doavam os
periódicos para os meninos venderem na feira e conseguirem algum trocado. As
sobras de comida virava lavagem que servia de alimento aos porcos. O óleo de
cozinha usado servia para o fabrico de sabão na casa de dona Carminha. Tereza matava
um porco toda sexta-feira pra vender a carne na porta de casa. A carne rosada
do suíno ficava exposta em cima duma banca. Não dava meio dia e já não tinha
mais.
O bar da sinuca de Seu Soares ficava na esquina da
entrada da rua da cadeia. Os homens usavam chapéus de napa e um paletó que
davam-lhes um ar de gangster dos filmes americanos.
Os pássaros como que coadjuvantes da belíssima cena
compactuavam do risonho amanhecer. Desfiavam com seus cantos terna poesia
lírica.
Tem história que parece não ter pé nem cabeça. História
que parece começar do final pro começo. Um final triste, um começo melancólico.
Uma família, uma casa de esquina. Diziam que morar numa casa, como aquela, de
esquina não era legal. Simplesmente por localizar-se numa encruzilhada.