AFLIÇÃO E AFLITOS



Ia um homem. Andando, no meio da rua. Rua que por sinal não lhe dava tanta intimidade pra isso. Afinal tivessem se visto antes, somente algumas vezes, não o bastante. O sol, não era ainda o de meio dia, mas as pessoas franziam a testa assim mesmo. Caminhava um caminhar simples, como de quem não tinha pressa de chegar pra onde ia. Aquele jeito de ir, tanto tinha de caseiro quanto de estrangeiro. De quem se achava, inconscientemente, tanto no direito de se apossar quanto de ficar indiferente a paisagem, ainda que nada daquilo lhe pertencesse. 

Distante de sua terra, mesmo assim sentia-se em casa. Era assim, não importava onde estivesse.  As vistas, indo as casas, as velhas fachadas, as coisas, e tudo que era vivente e movente. Se familiar ou estranho não importava. Portas, portões, pintados com tintas mortas de antigamente. Os telhados avermelhados, sob a luz. As serras diáfanas, como se noutra dimensão. As cadeiras dentro do salão do barbeiro também falavam de coisas velhas. Francisco ainda vinha vindo. Encontrar alguém, talvez fosse uma realidade meramente casual. Era desse jeito assim, à muitos anos. Levantava cedo, saia em busca duma colóquio, fosse com quem fosse. Pouco importando o teor da prosa, guarnecida seria dum cafezinho, um cigarro, e uma quentura de sol matutino.


Os pensamentos sufocados pela nuvem azulada acinzentada de tabaco. Os carros transitando eram bem menos dos que havia então. Muitos daqueles jovens nem eram nascidos quando ele passou ali. As fardas dos estudantes ainda eram de tecido de algodão, e suas bolsas não tão pesadas. Mas isso não passava de pequenos detalhes. Talvez o que importasse era que ele estava lá novamente. E tudo se repetia exatamente como noutros tempos. A visitar novos ambientes como se dele fizesse parte desde antes. O mercado da carne, o bar da sinuca, a banca do jogo do bicho à porta, a tabacaria de Seu Arnóbio. Na casa lotérica pegaria só por pegar, uns volantes de aposta. O parque de diversões estava lá, colorido de doer, ainda dormia, e assim permaneceria até o raiar da noite, de véu negro a arrepiar-se de luz, pra todos os gostos e ocasiões. A locução, as músicas, o carrinho de pipoca aquecendo almas, o carrinho do algodão doce roseando bochechas infantis. Tudo muito imprevisivelmente esperado. E as casas de jogos que funcionavam sempre nos fundos dos bares abarrotadas de homens sombras. O banqueiro do jogo do bicho escrevia e escrevia números indeléveis porem decifráveis. Velhos pôsteres do Flamengo, do Vasco da Gama, e Fluminense, as flâmulas, os troféus enferrujados, empoeirados de desgosto desbotaram. Tudo desmaiado, ferido de morte pelo tempo. Indiferentes a tudo, os jogadores continuavam lá. Perfilados pouco se importando com tudo o que a suas voltas se sucedia.


Foi traumático demais. Quer saber, ninguém nunca estaria preparado para uma cena daquela. O menino, tinha se perdido da mãe. Chorava feito um desesperado. Na estação rodoviária perdeu-se da mãe. Os ônibus tudo igual, chegavam e saiam a todo instante. Não viu que a mãe subira no que estava na segunda plataforma. Devia ter seus quatro anos. Lembrava Tomas, magrinho, frágil. Desesperadamente pedia que a moça encontrasse sua mãe. A moça na maior paciência pedia que ele se acalmasse, mas era vão o pedido. E cada vez mais alto chorava. Quão apertado estaria seu coração naquele momento. E se fosse Tomas? De angústia encheu o coração. Temeu que ao sair da escola tivesse se perdido da mãe. Aflito. Foi ao encontro do menino fez-lhe um carinho na cabeça, o menino achou-o parecido com o avô. Instintivamente estendeu-lhes os braços, mesmo não sendo aquele seu avô. Apenas porque achou parecido, e quis estar em seus braços. As lágrimas lavavam o ombro da camisa. Confortava-o acariciando seu cabelo abraçado ao pequeno corpo. Tanto dó teve que chorou com ele, um choro sufocado cheio de aflição. Ficaram sabendo que a mãe já dera por falta da criança, e já estaria vindo ao seu encontro. Cada minuto uma eternidade. Nada o confortava, não queria nada, somente estar com a mãe. Mãe palavra tão doce meu Deus! O relógio preguiçoso no andar fez o menino dormir. De tanto desespero enfadou-se. Finalmente chegou a mãe aflitivamente pegou-o no colo. O cheiro dela fê-lo acordar, e foi como se tivesse tido um pesadelo. Seus olhos encontrando os dela, que de pura ternura era como que dizia: “Mãe eu sonhei que tinha lhe perdido,” E quão era bom acordar com o terno sorriso de mãe. E disse que o “vô” tinha ficado com ele enquanto ela chegava.


Francisco lembrou-se de quando era pequeno. As traquinagens de moleque, de ir pra casa dos avós que moravam noutra vila, pra lá do Gavião. Andava léguas a pé, se passava um caminhão dava com a mão, as vezes davam-lhe carona. Lembrou duma vez que teve muita sede, andando debaixo do sol quente e foi até um casebre pedir água. Deram-lhe de beber, um caneco grande de estanho, cheio de água barrenta da cor de café com leite. Amizade com os meninos da casa foi uma consequência, e ficou ali o resto do dia. Se embrenharam no mato pra caçar rolinha. Tomaram banho de açude, pescaram piaba. Quando a fome apertou comeram melão de São Francisco sem saber que era do santo. Debaixo dum umbuzeiro meteram o dente nos frutos verdosos sem polpa, até desbotar, e enjoar. O rosto e os braços queimado de sol. Quando ia se amoitando por trás do morro o rei dos astros, ia chegando a vila. Dona Amância ralhou com o menino pois sabia que estava ali sem o consentimento dos pais, aquela altura aflitos a sua procura. Com a mão comprida esfregou uma benção na cara. Deu-lhe uma encarcada na cabeça com os nós dos dedos, era uma reprimenda. Percebeu que o menino estava “pegando fogo”, se queimando de febre. Foi no oitão da casa, e voltou com uma touceira de mato. Uma panela avermelhada com amarelo nas bordas foi pro fogão a lenha, a fazer um chá. Buscou um dos rosários que trazia ao pescoço, o das contas pretas ligadas por ligas de ferro, e se pôs a rezar.


Vó Amância tinha reza pra tudo, reza pra peito aberto, espinhela caída, dor de dente, dor na coluna e nas juntas. Também pra febre de menino. E madrinha Moça sempre ralhava: “Se for problema de junta, ajunta tudo e joga fora.” Piada boba, mesmo assim todos riam, por que já estavam acostumados. Dentro do catecismo um pedaço amarelado de papel jazia, dobrado em quatro dobras. Umas letras cascudas, feito grãos de milho seco. Escrevinhadas a grafite dizia: 


“Oração de São Bartolomeu. Primeiro o galo cantou São Bartolomeu acordou, seu pé direito calçou. Seu bastão na mão pegou, com Jesus Cristo encontrou. Jesus Cristo perguntou: Para onde vai São Bartolomeu? Vou a sua guia Senhor. Volta pra trás São Bartolomeu pois na casa que estiver não morre mulher de parto, nem boi de arado, nem cavalo disertado. Nos quatro cantos dessa casa, quatro anjos em minha guarda: Mateus, Marcos, Lucas e João. Paz dai-me Senhor. A concórdia Aleluia, Aleluia.”


Depois do chá, da benção e da reza, o menino dormiu. Agarrou no sono numa cadeira preguiçosa lastrada dum tecido grosso, listrado de vermelho e azul. Vô Tomaz pôs nos braços, colocou-o na camarinha. Era um quarto pequeno, apertado cujas paredes de taipa pareciam dançarem a luz do candeeiro. Quando raiasse o dia o cheiro de cuscuz com leite viria lhe acordar. Dorival outro menino uns três anos mais velho que Francisco, já teria arreado o cavalo pra leva-lo de volta pra casa. E voltariam pelo mesmo caminho, e tornaria a encontrar os primos, novamente caçariam rolinha e tomariam banho de açude. E tornariam a gripar e ter febre. 


“Quando ele completou doze anos de idade, eles subiram à festa, conforme o costume. Terminada a festa, voltando seus pais para casa, o menino Jesus ficou em Jerusalém, sem que eles percebessem. Pensando que ele estava entre os companheiros de viagem, caminharam o dia todo. Então começaram a procura-lo. Depois de três dias o encontraram no templo, sentado entre os mestres, ouvindo-os e fazendo-lhes perguntas. Todos o que o ouviam ficavam maravilhados com o seu entendimento e com as suas respostas. Quando seus pais o viram, ficaram perplexos. Sua mãe lhe disse: “Filho por que você nos fez isto?  Seu pai e eu estávamos aflitos, à sua procura.” Ele perguntou: “Por que estavam me procurando? Não sabiam que eu devia estar na casa do meu Pai?” Mas ele não compreenderam o que lhes dizia. Lucas 2, 40-50”


“Lampião subiu a serra com sapatos de algodão a serra pegou fogo Lampião ficou na mão.” Madrinha Moça cantarolava ao pé do fogão enquanto preparava o almoço. Dona Amância corrigia: “Quer saber! Lampião nunca na vida dele botou um par de sapatos nos pés. Ele anda mesmo em riba desse mundo de meu Deus, é atolado numas alpercatas “xô boi”, e tem mais, o solado não tem calcanhar que é pra ninguém saber pra que lado está indo, ele e o bando todo.”


“Engraçado, a vida tem coisas, que só Deus entende. Assim dizia a anciã: -Jesus Cristo nasceu em Belém, foi morar em Nazaré, e de José aprendeu carpintaria. Aos 30 anos saiu a espalhar gratidão e cura, pelo mundo. Lampião em Vila Bela nasceu, virou artesão, em Nazaré do Pico passou. Aos 20 anos foi espalhar desavença e morte mundo a fora. Interessante como cada um de nós vem pra esse mundo com uma missão. E baixinho cantarolou, num sussurro: “Lampião subiu a serra com sapatos de algodão...”


Fabio Campos 25 de setembro de 2015

VERMELHO E SETEMBRO



Havia um rapaz, cabelo cor de agave, parado na porta de casa. A rua, era uma rua feia, acanhada. toda torta. Quando chovia a água da sarjeta, do lado mais alto, descia pelo calçamento, a procura de menino pra brincar, e corria até a boca de lobo. O rapaz continuava olhando a rua, as pessoas que passavam. O dia, que vinha. Com o olhar acompanhou o homem de chapéu de pano. A mulher com a criança devagar ia passando. Um litro de leite num pequeno balde, indo bem devagar. 

Nada daquilo tinha pressa de acontecer. Tudo daquilo jamais havia acontecido antes, não daquele jeito. Coisas ocorriam, e era em vermelho que aconteciam. Nos pensamentos, coisas não muito corriqueiras. O nascer do dia parecia simples assim, mas não era. O sol nascera amarelo, ao se deixar olhar se fazia vermelho. Tragicamente e inexplicavelmente da cor de sangue. O capim verde no pasto. Bem mais crescido próximo ao riacho, felizmente dizia o que realmente era, verde. De certo a dar esconderijo a jiboias enormes que não hesitaria atacar um bezerro daqueles. Quanto aos mosquitos, faziam seu carnaval.

O rapaz agora tinha um boné preto na cabeça. Saiu, seguindo o homem de chapéu de lona.  A camisa vermelha de malha, as mangas compridas puxadas até os cotovelos deixava ver uma tatuagem duma águia, que tomava todo o antebraço. O homem a frente ia tranquilo, trajava vestes simples, de um asseado funcionário do departamento de saúde municipal. O chapéu de cor bege de abas dobradas, ao sol parecia alaranjado. Uma bolsa também bege a tiracolo. Desciam a ladeira. Depois que passou a pontezinha de pedras, o rapaz anunciou o assalto. Uma faca enorme, de cabo vermelho, refletiu prata. Apontava pro pescoço do homem. Não tocou nele, mesmo assim sentia a ponta lhe furando, gosto de sangue na boca. E uma gota de suor descendo pelo pescoço, era um fio quente de carne em estado líquido. Ordenou-lhe que entregasse a carteira. Atônito o homem vacilou. O dinheiro tinha destino certo, a conta da costureira que remendou a bolsa de couro. A aposta no jogo do bicho investiria na sorte, que naquele momento fugia. Lembrou que só havia uns trocados lá. O dinheiro mesmo, ainda bem, não estava no objeto solicitado. Mesmo assim, por fracionais segundos, pensou nos documentos. A despesa grande para providenciar outros novos. Entregou, relutante, mas entregou. O rapaz correu. Dum salto alcançou o baixio do riacho. Vulto vermelho velozmente engolido pelo verde. Tragado pelo matagal onde se supunha seguro. Provavelmente estivesse enganado. 

Nunca mais esqueceria aquele momento. Milésimos de segundos, uma eternidade. Entre a vida e a morte. A morte era vermelha. A morte é quente, destruidora, e salvadora a um só tempo. Aquele rapaz que não conhecia acabara por mostrar-lhe uma energia que jamais soubesse que possuía. E passaria a dar valor ao vermelho. A cor dos sentimentos mais vivos, como o amor, o perdão, a paixão, a ira, o ódio, o sangue pulsando forte. O sol quente, vivo. Fazia-o um homem novo. O assalto teve o poder de tornar as coisas ainda mais vermelhas. O coração batendo com mais intensidade. As cavidades cardiovasculares se enchendo e impulsionando pro corpo, sangue quente como aquele sol. E os rins aguentando tamanho bombardeio. As fontanelas latejando como se fossem explodir a qualquer momento. Tamanha erupção a lavar a bexiga e a urina como uma sangria desatada. As falanges formigando, tornadas insensíveis, anestesiando. A uma velocidade alucinante. Encarnada letargia. Levou a mão ao pescoço não havia corte ali. Cuspiu vermelho, na agonia mordera a língua.

Não entendia porque ninguém testemunhara a ação delituosa. E olhe que havia grande movimentação naquela manhã. Um cachorro deitado num monte de areia. Claro! Aquele cachorro viu tudo, mas não saiu do canto. Ficou lá, parado. Vendo tudo, sem mover a pestana sequer. Odiou-o por isso. Tantas vezes latira ferozmente pra ele, quando não havia a menor necessidade. Nunca oferecera perigo pra aqueles, passava todos os dias ali. Sabia que fazia aquilo só pra se mostrar pro dono. Pra pensar que se preocupava com a segurança da casa. Maldito cachorro conivente de um crime. Não passava de um imprestável, cúmplice de um delito. 

O sinal de trânsito dizendo pare, era vermelho. Não podia parar. A rua era como um tapete vermelho onde podia desfilar, feito celebridade. A celebrar a vida nova que acabara de ganhar e que tinha tanta sede de vivê-la, intensamente. O telefone vermelho debaixo da concha, a esperar que um chefe de estado viesse ligar, autorizando o início da guerra nuclear, ou  quem sabe um facínora comunicando a explosão de um caixa eletrônico. E o carro vermelho do bombeiro chegaria dobrando ainda mais a cor do fogo. Talvez o sol estivesse mesmo rubro de vergonha.

A água do riacho não era mais que um fio de lama da cor de creolina. O cheiro muito pior que a cor, a esbofetear narinas de pura fedentina. O vento açoitava pra o fim do mundo, o mau aroma, e o fedor se perdia dentro do vermelho. Alucinante vermelho. O homem se sentiu como se estivesse sujo. Como se tivesse tomado banho com aquela água. Teve nojo da raça humana. Por que fazemos mal uns pros outros? Não tinha certeza se esperaria vingança de Deus. Talvez pensasse que tudo que nos acontecia, realmente nós merecemos que acontecesse. Talvez tudo fosse meticulosamente predestinado. Reflexo das nossas próprias ações.

E lhe veio Eclesiástico 28: “1 Aquele que quer vingar sofrerá a vingança do Senhor, que guardará cuidadosamente os seus pecados. 2 Perdoa ao teu próximo o mal que te fez, e teus pecados serão perdoados quando o pedires. 3 Um homem guarda rancor contra outro homem, e pede a Deus a sua cura! 4 Não tem misericórdia para com seu semelhante, e roga o perdão dos seus pecados! 5 Ele, que é apenas carne, guarda rancor, e pede a Deus que lhe seja propício! Quem, então, lhe conseguirá o perdão de seus pecados?”

A camiseta do rapaz era de goleiro, tinha o número um nas costas.  Rosas vermelhas no jardim. Adonis e Afrodite surgiram com seu amor avassalador. Adonis acabaria morto durante uma caçada a javalis. Vermelho lembrava amor passional mas também a maldade de Seth que encarnava demônios. Cuspir sangue causava-lhe grande perturbação mental. A visão do sangue tinha o poder de trazer medo, confusão de sentimentos. Causasse, quem sabe, danos cerebrais, embaraçasse as vistas. Tudo era como se visto através das lentes de óculos de assistir filme de imagens tridimensional. 

Será que vai terminar a história e o homem vai permanecer no anonimato? Bem. Vivia ele uma trajetória de vida tão sem graça que nem valesse a pena ser contada. Um ir e vir enfadonho pro trabalho. Vivia de servir a saúde pública municipal. Ora atrás dum birô a carimbar requisições médica. Ora como vigilante sanitário. Vamos dizer que lhe cairia bem o nome de Paulo. Pois bem, Paulo toda vida foi um respeitável pai de família. Um cristão, piedoso. Morando em sua casinha modesta, distante umas duas braças do povoado. Por dois motivos vinha pra rua, trabalhar, e aos domingos pra missa na igreja do Padre Cícero, por cima do lajedo grande. Seu Paulo contava missas. Isso mesmo, pra cada missa que ia uma pedrinha ele ajuntava. Bem assim por tras da igrejinha tinha um local que ele jogava uma pedra. Toda vez que ia pra igreja uma pedra era colocada lá.
 
Teve um domingo que Seu Paulo a caminho da igreja foi chamado por uma mulher aflita. O filho dela estaria morrendo. O rapaz com os amigos tinha ido caçar passarinho no capinzal do riacho e levara uma mordida de cobra. Seu Paulo tinha soro antiofídico, e teve que voltar em casa pra apanhá-lo para aplicar no menino. Não deixou de lamentar a perda da missa por conta do imprevisto socorro. Qual não foi sua surpresa ao ver o menino era aquele que um dia lhe havia assaltado a carteira. 

Não sabia ele que ao chegar à corte celeste, O Criador lhe mostraria aquele monte de pedras que somava o número de missas assistidas. E diria: “Sabe qual foi a missa mais importante dentre todas aquelas Paulo? Justamente a pedra que você não colocou lá, porque foi salvar a vida do filho daquela mulher.”

Fabio Campos 18 de setembro de 2015.

KANU E KAIJIM (Luta pela Vida)


A lua, dali a pouco, a navegar o tapete de ouro de Ofir. Por enquanto no meio da mata ia andando.  Nos calcanhares do céu navegante. Os pirilampos cataporando a derme lenhosa das árvores. Os saguis nos ocos dos pés de paus aguardariam o raiar do dia. Quando viesse a aurora com seus assovios, de fazer cócegas nos ouvidos, diriam de que necessitavam de brotos, vermes, frutos, talvez um favo de mel. Cheiro forte de resina incensando os pensamentos. E o mato verde amornando lembranças, daquilo que nunca tinha vivido, mas ficara a ideia, pelo menos, como havia sido.  De um tempo lá trás, a época dos desbravadores desconhecidos, que jamais seriam conhecidos. Nunca imaginavam que um dia, seria história.  

As brasas da fogueira, cobertas de cinza, quase apagada. A brisa matutina soprando sobre Kanu e os tições. Kanu contemplava tudo. Tudo o que era e que havia na sua existência. Kanitu estava lá, embora ninguém visse, e se aquentava do frio do orvalho da madrugada no que restava de calor.  Kanu na época ainda era uma menina. Os peitos desnudos eram só esboço do que um dia seria duas fortes mamas. As auréolas morenas diriam que seriam profícuas pros que um dia seria suas crias. Como ainda eram as de sua mãe naqueles dias de então. Já havia passado pelo traumático porem obrigatório, ritual da iniciação a idade adulta. Teve os pelos todos do seu corpo raspados.  Os pais cumpriram suas obrigações, tendo um que trazer o peixe Fugo Baianju, a mãe um punhado de larvas de Agave Maguey que se cria nos ocos de pau mortos para entregar ao líder da tribo. Duas iguarias adorada por Tupanapam. Teria o corpo todo coberto por óleo de mamona e pétalas de lírio selvagem. Orações para purificação do corpo. Uma semana sem poder ver a luz do sol, não ter contato nem ser vista por homem nenhum. Dali por diante os jovens da tribo candidatar-se-ia a seu noivo. Formulariam os pedidos diretamente a seus pais. Mesmo assim agradeceu aos céus não pertencer à tribo dos vizinhos Nuankes, da terra do sol poente, por detrás de Maugaxe “a cadeia de montanhas que uivava”.  Lá os costumes eram outros muito piores. Os corpos dos guerreiros inimigos mortos em combate era assado e comido, pois praticavam o canibalismo. Ao atingirem os nove anos de idade os meninos passavam pelo doloroso processo de circuncisão. Em fila eram levados ao curandeiro que ficava no centro da taba de cócoras ao chão com um pedaço de pau e um facão. Um a um sentavam a sua frente os meninos. Sobre o cepo o couro excedente do pênis era esticado, e dum só golpe de facão extirpava o prepúcio do menino. Já as meninas ao atingirem os treze anos da mesma forma perdiam seus clitóris também extirpado a faca. 

Do primeiro partido político formado no Kênia tiraram o nome Kanu. Em 1960 criado pelos remanescentes de sua tribo um movimento intitulado de Kenia independente. Jomo Kenyatta foi o líder, e levaria a independência a seu país um estreito pedaço de terra as margens do oceano Índico Espremido pelo Sudão, Etiópia e a Tanzânia. Terras de grande diversidade da savana, subsolo rico de pedras preciosas. Jomo “O bravo guerreiro que empunhou o escudo e a lança”. O mais forte da tribo de Java. Fatos heroicos por ele protagonizados tornaram-no herói.  As batalhas e conquistas de seu exército de mil homens se transformariam em epopeia. Narradas em versos e prosa. Jomo pela conquista se tornaria primeiro presidente, Aquela longínqua aldeia experimentaria muitas mudanças depois de adquirir liberdade. Para sempre eternizadas nas muitas lendas que seu povo criou. Virou deus Jomo. Cultuado, adorado em muitos santuários espalhados pelas aldeias sagradas do Kenia. Jomo, de sua própria fertilidade, teria tido 150 filhos, com 35 mulheres do seu harém. Jomo avô de Kanu transformaria seu povo numa poderosa e reconhecida nação. 
 
A tribo de Kanu experimentou grande período de paz, melhorias pras nações e raças nos anos governados por Jomo. Cada aldeia pacificamente vivia, cessaram os conflitos com os povos de outras tribos. Dera trégua às tribos violentas de Garavian que por muitos anos invadiam, saqueavam e matavam vizinhos. Rebanhos de ovelhas com seus cabritos pacificamente desde então pastavam. O cultivo de centeio, noz, amêndoa, oliva sem ameaça de incêndios ou saques. Os pinheirais, cedros e alabastros tudo floria nas sendas e searas. A floresta regozijava de paz e harmonia. O bisonte pastando na dourada savana. A búfala fértil e abençoada, animais tidos como sagrados. O búfalo vigoroso cobriria a fêmea, dentre os mais forte da manada, a chifradas eram as fêmeas disputadas. Tudo era sinal de progresso, de avanço. Todos os anos no mês de setembro celebrava-se a grande festa da colheita de centeio. Muitas oferendas eram levadas aos altares de Naomi e Oriban que representavam a deusa da fertilidade feminina, e o deus da virilidade masculina. Naomi era representada por uma estátua de uma negra nua de cinco metros de altura, toda ornada de pedras preciosas e semi preciosas,  colares e grandes brincos, na cabeça um cocar, os lábios espetado por três arestas de madeira fina,  os olhos puxados como um mongol as mãos mostravam as faces para frente, seu ventre era tatuado até o púbis e por sobre as nádegas.  Oriban um negro forte e vigoroso cujo pênis avantajado aparecia por baixo da tanga semi ereto.

Mas vieram os anos das grandes tribulações. Os sábios da grande aldeia já haviam previsto todas aquelas provações a muitas luas passadas. Tudo escrito no livro gigante, da grande verdade. Os precedentes da tribo de Kanu viram descer do Egito, nuvens do Nilo trouxeram as sete pragas que viera sobre o Faraó que escravizou os israelitas a se espalhar por toda a África e consequentemente chegou ao Kenia. Primeiro foram sete anos de seca e desolação, o que levaria muitos a irem-se em bora, em busca de melhores dias. Depois veio a invasão das moscas Tsé-Tsé que causavam a doença do sono. Outro grande abalo naquele povo. Por último vieram praga de gafanhotos que devorou toda lavoura, morcegos e corujas a noite importunavam os rebanhos. Além de uma praga de pardais que invadiam a cumieira das cabanas enchendo de pichilinga e fezes as acomodações. Uma parte da tribo resolveu Emigrar por terras desconhecidas até chegar ao oceano Índico. Nunca tinham visto tanta água salobra junta. O mar parecia um monstro que eles batizaram de Kaiju, pois tudo que era estranho, gigantesco, aterrador eles chamavam de Kaiju. A incredulidade abateu a sua fé e puseram a culpa nos deuses que adoravam. Produziram holocausto com seus primogênitos inicialmente com filhotes de bisontes e carneiros. Até chegarem a sacrifícios humanos.
  
Ao atingir os quinze anos, Kanu foi solicitada em casamento, por um jovem de sua tribo chamado Kaijim. Entre os ritos pré-nupciais tinha um que o noivo devia levar até a mãe da noiva uma réplica do seu pênis em estado erétil feito de argila. O pai do noivo era encarregado de fazer com antecedência um instrumento musical chamado kanun conhecido no oriente médio como soltério. Com vinte e seis cordas finíssimas feitas de pelo de camelo, esticadas sobre uma carapaça de tartaruga ou numa base de alabastro. Feito com exclusividade pra ser tocado no dia do matrimônio, o instrumento ficava apoiado sobre as pernas, tocado com palhetas de osso, marfim ou dente de tigre de sabre. Ao pai da noiva era encarregado de produzir a bebida que deveria ser servida um mosto de frutas fermentadas com tubérculos que embebedava facilmente. As mães dos noivos preparavam a comida do cerimonial, a base de carne de búfalo cujos testículos cozidos, tido como afrodisíaco, eram servidos ao noivo. Na madrugada que antecedia ao dia do casamento todas as mulheres da aldeia saiam em grupo junto com a noiva, todas procurariam seus parceiros para manterem relações sexuais. Caso o marido não tivesse disposição para tanto, por tradição era aceito, somente naquela ocasião, que qualquer daquelas mulheres, com exceção da noiva, deitasse com outro nativo da tribo. Inclusive com o noivo prestes a casar se assim concordasse. 

Um mês já havia desde que Kanu e Kaijim se casaram quando o guerreiro que vigiava o lado oeste das fronteiras do território Keniano chegou com a notícia que os Kapots, uma tribo de negros pigmeus avançavam em direção ao Kenia pintados de branco para a guerra. Em duas luas chegariam a aldeia onde Kanu Kaijim e todos os seus entes queridos moravam. Havia uma tradição entre eles em tempo de guerra que os velhos, as crianças e os recém casados não lutavam pois estariam em quarentena matrimonial além do que a mulher naturalmente já trazia ao ventre seu primeiro descendente . Eram aqueles levados pra uma gruta, enquanto houvesse combate ficavam num lugar seguro. Ocorreu no entanto que Kanu e Kaijim quebrando este preceito lutaram bravamente contra os Kapots. E foram considerados os grandes heróis de guerra naquela batalha vitoriosa. Tanto que se transformaram em líderes. Seus escudos e lanças eternamente consagrados na bandeira de sua pátria. Para que os filhos dos seus filhos soubessem quem realmente foram os verdadeiros heróis de seu povo.

Muitas luas se passariam até que Kanu e Kaijim descobrisse porque seu povo eram tão bons velocistas. E porque seu povo teve que subir até o deserto do Saara chegar ao Egito e atravessar o Mediterrâneo, mas isso era outra história. 

Fabio Campos 08 de setembro de 2015.

LUA DE GEVAUDAN (A Cura - Lulu Santos)


Cansado e velho ia o mundo. De tantas artimanhas, ainda mais cansado andava aquele ano. Ia lento, claudicante, debaixo do peso do tempo curvado. A infância carnavalesca, a fremência junina, a festeira juventude de julho, agora era passado. Augusta idade madura, descambando pra caduquice setembrina. Todo velho tem uma história de guardar coisas. De ajuntar quinquilharia porque um dia de alguma forma pode servir. A repetir sempre as mesmas coisas. E suas falas sempre se iniciam com: “No meu tempo”. De esquecer onde deixou as chaves. De não querer tomar banho. Comer também não, porque nada tinha mais gosto como antigamente. De muitas vezes se pegar no meio da sala, parado, a pensar o que ia mesmo fazer?

“Existirá 
Em todo porto tremulará 
A velha bandeira da vida 
Acenderá 
Todo farol iluminará 
Uma ponta de esperança”

Na frente da igreja se havia uma mulher. Assim que as portas se abriram, foi sentar-se na primeira bancada, diante do altar. Era assim por se dizer bonita, bem apanhada, visto a meia idade. Os cabelos escorridamente sedosos, em dois tons de loiro ornavam seu colo rijo. O rosto gracioso, amplamente marcado pelo ruge carmim, uma boca carnuda. Uma blusa dum vermelho intenso de tecido leve vaporoso que valorizava seus ombros. Decote generoso atraía pra lá qualquer olhar decaído sobre o seu ser. A calça jeans sobrepujava suas curvas dadivosas, a alvoroçarem nervos quaisquer, dos mais metálicos aos mais tenros então. Abriu a bolsa, pegou um livro, pôs-se a ler. Decorrido certo tempo tirou os calçados. O zelador da igreja aproximou-se curioso. Aproveitaria pra perguntar ao moço se podia deitar-se ali, estava muito cansada. O rapaz diria que não era permitido. Pediu então que ao menos olhasse sua bolsa enquanto ia a rua comprar água, e algo pra comer, tinha sede, e fome.

“E se virá 
Será quando menos se esperar 
Da onde ninguém imagina 
Demolirá 
Toda certeza vã 
Não sobrará 
Pedra sobre pedra” 

Quando doutor Adalberto Lisboa foi transferido da capital pro interior, escolheu a vila pra morar. Comprou o velho casarão ao lado da igreja, primeiramente pensou em derrubá-lo todinho e erguer uma casa bem moderna, sofisticada. Um arquiteto contratado sabiamente o destituiu da ideia. Segundo ele, a nova construção ia ficar deslocada, pareceria um corpo estranho, contrariando o conjunto da obra. Convenceu-o a restaurá-lo. Desde a fachada colonial que tinha traços de barroco, bem como por dentro também deu pra aproveitar muita coisa. As paredes de tijolos dobrados, o piso rústico tudo respirava história. Recuperou belos lustres de cristais do tempo do império. Nos cômodos manteve as janelas enormes de única folha inteiriça que ao se abrir enchia a casa de luz intensa. No primeiro dia que dormiu ali teve um sonho que jamais esqueceria. Uma menina de seus treze anos aparecia num balanço no quintal da casa. Estava de branco, vestido, sapatos e meias, e um chapéu também branco. Não dizia palavra, só se balançava e sorria pra ele. No segundo dia, novamente o mesmo sonho. Desta vez a menina acenava-lhe, chamava-o até o pomar, e apontava angustiadamente pra cisterna. De fato havia a tal cisterna no final do quintal, só que nos dias do doutor, estava abandonada. A menina do sonho apontava pra portinhola da cisterna, e chorava muito. Era um sonho mudo, desbotado, sem som, sem cor. Tudo parecia sujo entrecortado como filme antigo. O promotor de justiça doutor Adalberto Costa até então jamais soubera nada a respeito daquele velho casarão. Passaria a buscar a história dos antigos moradores. Quando estava sozinho no cômodo transformado em escritório passaria a ouvir choro de criança, mesmo que ainda fosse  dia.

“Enquanto isso 
Não nos custa insistir 
Na questão do desejo 
Não deixar se extinguir 
Desafiando de vez a noção 
Na qual se crê 
Que o inferno é aqui” 

A mulher consultou o relógio. Era por volta das sete da manhã quando havia chegado. Pensando alto disse: -Maldito! Não chega mais não! Atento e curioso o zelador ouviu o que dissera aproveitou pra dizer que já era meio dia e que precisava fechar a igreja. A mulher quis saber se na parte da tarde reabriria. Confirmou dizendo que só iria almoçar e por volta de uma hora tornaria a abrir. Aproveitou pra perguntar por quem tanto esperava. Disse que era pelo seu marido. O rapaz fez cara de incredulidade. Tanta confiança adquiriram um no outro que a mulher resolveu contar a verdade. –Moço, é um amante quem estou esperando. -Mas logo aqui na casa de Deus? -Já pedi perdão? Por acaso tem um padre com quem possa confessar? Não tinha. -Olha! Nem ele, nem eu somos daqui moço. Escolhemos esta vila para nos encontramos ao caso, sempre mudamos de lugar para não sermos descoberto. Ele é um homem rico, têm irmãos políticos, deputados. O que acha? Acredita na minha história? – Minha senhora! Eu não acho nada, só tenho que fechar a igreja já passa de meio dia, a senhora me dá licença?

“Existirá 
E toda raça então experimentará 
Para todo mal, a cura 
Existirá 
Em todo porto se hastiará 
A velha bandeira da vida 
Acenderá 
Todo farol iluminará 
Uma ponta de esperança” 

Doutor Adalberto resolveu derrubar a cisterna. Pensou com isso conseguir decifrar o enigma da menina do sonho, e acabar de vez com o sonho contínuo que já estava lhe dando nos nervos. Fez questão de acompanhar o serviço do pedreiro, o tempo inteiro pedindo que parasse com receio de que destruísse algo vestígio importante. Se um estava ansioso, o outro já estava ficando impaciente. A parede da cisterna era feita de areia, misturada com barro vermelho e cal. A cal no tempo em que fora construída a cisterna era antes curada, por vários dias dormia dentro d’água e no momento da construção era batida com cacete para adquirir consistência e compacidade. Deu trabalho pra tão modesta construção vir a baixo. Quando tudo parecia não levar a nada que denotasse algo sobre a menina do sonho. Uma coisa chamou atenção dos dois homens uma inscrição feita com tinta vermelha bem lá no fundo: “Gevaudan – 21-9-1765.

“E se virá 
Será quando menos se esperar 
Da onde ninguém imagina 
Demolirá 
Toda certeza vã 
Não sobrará 
Pedra sobre pedra” 

Um carro de luxo, de cor prata parou na porta da igreja. Os vidros fumês das janelas suavemente foram baixando, até deixar ver, um homem com um enorme chapéu de caubói ao volante. O zelador à porta da igreja percebeu tudo. Atenta ao barulho do carro a madame aproximou-se da porta. O rosto voltado pra escadaria do templo, não deu pra o homem perceber a aproximação de outra mulher que vinha da praça, no sentido contrário pra onde olhava. Era uma bela senhora de cabelos negros, sedosos, preso num coque por um lenço colorido no alto da cabeça, vestia calça de tecido leve e blazer. Sacou um revólver da bolsa e a queima roupa deu três tiros no homem. Sequer esperou pra vê-lo debruçar morto sobre o volante. Simplesmente entrou num carro que estava parado, onde alguém que guiava arrancou, deixando pra trás gente atônita, aproximação de curiosos. E um homem morto.

“Desafiando de vez a noção 
Na qual se crê 
Que o inferno é aqui” 

Na biblioteca pública, no cartório de registros, na prefeitura. Doutor Adalberto vasculhou tudo em busca de informações sobre a família que havia construído, e quem seriam os primeiros moradores daquela casa. Sobre Gevaudan e os números descobriu que era um velho costume dos pedreiros da época colocar o seu nome e a data da construção. Se tivesse ido mais a fundo nas suas pesquisas o magistrado teria descoberto muitas outras coisas. “Naquela casa morou uma jovem de quatorze anos, chamada de Jeane Bernadete, numa noite de lua cheia do mês de setembro de 1765, foi encontrada morta, decapitada. O corpo encontrado no quintal e a cabeça no fundo da cisterna. Bernadete teria sido a primeira de uma série de mortes de meninas e meninos, sempre na faixa etária entre 13 e 16 anos. Os corpos sempre mutilados, ou extirpados, além de mordidas e arranhões como de um animal feroz, apresentavam também sinais de sevícias sexuais. Foram feitas muitas investidas para caçar o animal, organizada pelos aldeães. O Marquês de Satuba, e o Conde de Fernão Velho participaram de algumas dessas caçadas. O cerco se fechou, as evidências foram se intensificando, e se chegou a um lunático chamado Givaldino, filho de um velho pedreiro. O rapaz acabou linchado em praça pública, ficaria conhecido como “A Besta de Gevaudan”.

“Existirá 
E toda raça então experimentará
Para todo mal, a cura"

 Fabio Campos 02 de Setembro de 2015