Uma estrada de barro. Um
caminhão. Uma chuva. Chuva. Água de porte. Transporte. Trovoada. Caminhão na estrada. Uma casa de alpendre. Uma
mulher. A música. Várias mulheres. Uma noiva. Vestido branco, de noiva. Não era
pra ser daquele jeito. Mas era. Homens. Bebiam muito. Quer dizer. Aquela música
não cabia ali. As outras coisas. Outras. Todas.
Estavam, em seus devidos lugares. Quer dizer. Quase tudo. Todas. Algumas.
Todas. Não.
A serra, que contava uma
história. Muitas histórias. De meninos perdidos, com medo de se perderem. A
mulher. Mulher que o marido batia-lhe. Com violência. Até que um dia. Não! Não
mais suportando, enfiou-lhe uma faca no bucho. E foi viver com outra mulher. Mulher.
Mulheres se amando.
A Mulher. De um rapaz que estava pra casar.
Vésperas de casamento. O rapaz perdeu sua amada. Trocou-a por um menino, e
era seu primo. Os dias. Todos os dias iam pra roça. Estavam cortando capim, a
várzea do riacho. Era uma turma grande. De homens. Todos forte. Arranchavam-se
debaixo duma baraúna gigante. Ali mesmo almoçavam.
Os olhares, muitas vezes, a
dizerem mais que palavras. Achava-o bonito. Mas, não era atitude de homem dizer.
Achava outro homem bonito. Os pais não aceitaria. Preferia morrer. Preferia amar em segredo. O banho do fim de tarde pra tirar o cansaço, a lama.
Ao tocar o próprio sexo. E vinha. A vontade de fazer sexo. O homem que amava. O menino. Quase inocência. Primos.
A carroceria do caminhão, servia
pra carregar gente. Os trabalhadores da roça. Um a um. E iam ficando ao longo do trajeto. Chegando aos seus destinos. Um a um descendo. A estrada, o barro. A chuva da tarde. Cair da tarde
chuvoso. A passagem molhada. Totalmente molhada. Lábios mordidos, molhados. Totalmente. De água da chuva.
E se o riacho, viesse com uma
cheia? Se viesse uma cheia. Viria uma cheia. Não... viria uma cheia? A chuva além de rápida, bruta. Abrupta. Valente, tempestuosa. Grossa. Feito sexo. O homem. A chuva. Chegou infringindo à tarde.
Grosseiramente. Feito moça rebelde. Aquele cabelo. Molhado colando nas costas. Magra, de pele alva. A tatuagem de um beija-flor. Molhada de chuva. O campinho. A chuva. Jogar bola na chuva. Tão libertador. Tão dor. A dor.
A dor de não poder. De poder. De querer, e não poder. Os trabalhadores da roça. Um a um. Iam todos descendo, descendo. Até ficar somente dois na
carroceria. Homem. A chuva. E o menino. Primos. A lona que quase não aparava nada. Os pingos grossos. O rapaz, Um beijo, menino. O
pênis rijo. As nádegas frias. O toque macio. O amor avassalador. O beijo proibido. O menino, o
noivo. O menino, o primo. Ex-menino. Ex-noivo.
Quando a chuva passar. Era música. Mas é claro que o sol. Mais música. Não
haveria mais sol. Não era mais música. Não haveria mais casamento. Não era. Música cortada. Interrompida. Era quase noite. Rompida. Já se fizera noite. Os
grilos, faziam a festa. Depois da enxurrada. As enxadas, estrovengas. O arado.
Pararam de hibernar. Chegara o tempo dos grilos. das estrovengas. Invasivas. Violentas. Dos dias amarelos, violetas, que se faziam. E como faziam, falta. Das craibeiras tapeteando de amarelo o sertão.
Se soubesse que era bom, assim. Teria feito, já a mais tempo. O primo, e menino. Danado. Apaixonado, pelo noivo.
Sua estrovenga . Gigante. De amante. Diamante. Apaixonaram-se, menino e homem. Talvez por seu sexo? Por seu corpo. Aquele corpo. Ai que corpo. Não tinha, jamais, como esquecer.
O riacho, a carroceria do
caminhão, a mata, a serra, o banho do riacho. Tantas eram as testemunhas. Estrada, mata fechada. Banho de riacho com chuva. Prazeres indizíveis. água morna, água fria. Corpos molhados. Amor de homem, prazer de menino. Puro amor, casto amor. Avassalador. Noiva
nenhuma. Seria capaz de acabar, tanto amor?
O dia de carnaval era pra
brincar. O mela-mela. A mesa colocada debaixo do pé de manga, detrás de casa. A
caixa de som. A música estrondando a tarde. A marchinha vinda de muitos anos
atrás. Tinha uma que lembrava a cunhada. No dia do seu aniversário. Foi
colocado um bolo que só seria partido no final da festas. Mas todos ficaram
bêbados e começaram a tomar banho com uma mangueira d’água, e acabaram molhando
o bolo.
Já viera a noite. Quase todos
estavam bêbados. Aquela música atravessaria anos. Vinha carnaval, Ia carnaval, e
lá vinha ela. Todo molhado. Bolo Fevereiro. Bolo aniversário, véspera de carnaval. Bolo
estragado. O corpo, melado de glacê. O sexo proeminente, molhado dentro do
calção. A moça acabou flagrando-o a despir-se do calção molhado, dentro da
garagem. O calção molhado no chão. Corpo nu. Cheirando a cerveja, excitação. O
copo de cerveja na mão. Aproximou-se. Segurou-lhe o membro. Disse apenas. Pra
ter cuidado com a ferramenta, de uso exclusivo de outra mulher. Sem ter o que dizer.
Tendo tanto o que fazer. Só restou-lhe. Pular carnaval, abraçado a ela. Vestida de azul. Ele somente ele, simplesmente nu, Tão Somente. Apenasmente nu. todo
molhado de cerveja.
“Já pintou verão, amor no
coração/ A festa vai começar, avenida sete da paz eu sou tiete/ Carnaval na
Bahia, oitava maravilha...”
Fabio Campos, 09 de fevereiro de
2019.
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