UMA PORRADA DE "ÔIO" DE MACHADO [POESIA





















UMA PORRADA DE "ÔIO" DE MACHADO [POESIA]

Vem o dia levantando na alvorada
no curral se ouve o berro dum burrego
Perseguido pelas asas do morcego
os pardais vão saindo em revoada
é bonita a festa da passarada
o terrá se esticando de mansinho
os mosquitos no "vazio" do burrinho
sem dá trégua, nem sossego, nem parada
Vai morrendo de mansinho a madrugada
Muje o boi preguiçoso no cercado
O jumento esturra dá seu brado
Um cachorro se mordendo com as pulgas
O sol vindo a passo de tartaruga
vai se impondo parecendo o delegado
Feito comprimido boiando na cerveja
Ou uma bola de fogo que boceja
vai no céu produzindo seu traçado          
Uma chaleira de café que assubia
pros ouvidos que tão bela melodia
Uma porrada de "ôio" de machado
num dói mais que uma música sertaneja

Sinhá Maria canta reza de igreja
os picuás num alforje ali dum lado
a cigarra faz seu canto mastigado
Os preás logo cedo a comer palma
o sertão vai lavando a sua alma
Lava o peito nos seus braços apoiado 
nas corredeiras do riacho de mansinho
Caga cebo, e Rola bosta no caminho
quem conhece sabe bem o pinicado
Um caburé na estaca atrepado
não tira o olho dos filhotes da Ticaca
O azul do céu entre as nuvens se destaca
O sertão vai fazendo seu bailado
"Fogo apagou" canta canta lá no ninho
Vento  batendo nas paletas do moinho 
na craibeira, no pau ferro e no arado
Os imbuás vão mandando seu recado
Ó caatinga para nós bendita sejas
Se não fosse a mata branca que viceja
o vaqueiro não teria o seu legado
Uma porrada de "ôio" de machado
não dói mais que uma música sertaneja


Corrida de mourão é uma peleja
É uma festa ir pra feira de mangaio
manga e bananas nos balaios
Emborná nos caçuás se baculeja
volta tudo cheios de atavios
Uma arataca, um candeeiro de pavio
uma amarra de folha de carqueja
uma faca peixeira bem amolada
um chocalho, rapaduras, umas cocada
Um caxéte pra curá uma dor de dente
um taco de fumo, mais um litro de Aguardente
Na cangalha tudo arrumado direitinho
o carro de boi bem conhece o caminho
Devagar e brando vai vencendo o sol quente
Inté sozinho chega ao destino de onde veio
No sertão de gente de paz sem aperreio
Que a Mãe de Deus sempre os proteja
No pescoço traz um rosário pendurado
uma porrada de "ôio" de machado
não dói mais que uma música sertaneja.


Fabio Campos, 04 de Maio de 2019. Santana do Ipanema -Alagoas.   









Nenhum comentário:

Postar um comentário