O ataque dos dinossauros foi violento.
Com uma única patada um Rex destruiu parte da muralha de contenção da represa d’água
da vila. A inundação foi inevitável. Parecendo um imenso dragão chinês, o braço
d’água invadiu a rua principal arrastando tudo que via pela frente. O banco, a
farmácia, o salloon, tudo foi inundado. O armazém de secos e molhados ficou
ainda mais molhado. As metralhadoras colocadas em pontos estratégicos no alto
do quartel, nas torres de observação entraram em ação. Vomitavam balas feito
pingos de fogo que buscavam seus alvos violentamente destruidores. Os projéteis
atingiam em cheio o alvo. Pareciam produzir pouco efeito, mas isso era só
impressão. As balas abriam ferimentos mortais. Catapultas atiravam bombas de
muito poder de destruição que explodiam aos pés dos monstros que ficavam ainda
mais furiosos.
A cidade virou um caos. Um rio de
fogo. Como se um vulcão tivesse entrado em erupção e derramado sua lava sobre
as encostas do vilarejo. Os dinossauros avançaram menores como eram mais
velozes entravam em combate pessoal com os aldeões. Era uma luta insana.
Defender suas famílias era questão de honra. Tudo valia, armas brancas,
flechas, lanças incendiárias, bacamartes. Canhões disparavam suas esferas de
ferro em brasa viva que sibilavam no ar atingindo em cheio os dinossauros. Por
serem animais de grande porte acertar o alvo era quase inevitável. O rio de
fogo e sangue atraia as aves de rapina que sobrevoavam a carnificina como que
prevendo a oferta de alimento assim que cessasse o combate.
Uma luta que parecia não ter
vitoriosos, só perdedores. Muita perda de ambos os lados. Os dinossauros
menores em sua maioria foram mortos, sobrando apenas os que fugiram. Os
jurássicos maiores agonizavam vitimados por armas de fogo pesado. E na sua
agonia de morte causavam ainda mais destruição. A água aos pouco ia baixando. A
cena era de muita desolação. Barris e sacas de ração, e toda sorte de objetos,
móveis, roupas, armas e mesmo dinheiro rolando pelo leito da rua. Ia boiando na
água que ainda se acumulava em lugares mais baixos.
Jacob, no meio da confusão localizou o Senhor Pero de
Carriglio, que julgava ser Seu Teoton, seu pai. Com sua espingarda calibre
doze, mirou bem na cabeça, do homem que mais odiava. E que julgava ser seu pai
Teonton, conhecido por todos como Senhor Carriglio. Identidade falsa, assumida para
fugir das tropas federais da qual evadiu durante a guerra. Muitas
lembranças vieram até Jacob, antes dele acionar o gatilho. Lembrou do
sofrimento de sua mãe, dos medos, das incertezas, das angústias que tanto sofrera,
do sentimento de abandono, que ele e seus irmãos viveram na infância. E mesmo
quando o pai vivia dentro de casa, de sua arrogância, e quão violento era com
os filhos, ainda mais quando bebia. Atirou, justo no momento que lembrou de um
bofetão que levou ainda menino, só porque negligenciou uma tarefa que o pai o mandara fazer. E tinha só sete anos. O estampido ecoou pela rua. Ao atingir o
rosto do homem a bala destruiu os tecidos de revestimento. Para sua surpresa
expôs um rosto cibernético de estruturas metálicas, do ciborg que habitava o interior daquele
corpo. Cheio de pavor, ao perceber em que havia atirado, Jacob se preparou pra
fugir pois o alienígena furioso vinha em sua perseguição.
Kira, estava com medo. Medo de
perder a consciência de que um dia fora humano. Estava de forma tal, tão
acostumado a ser cão que temia perder de vez o seu lado humano. Conseguiu fugir
da chácara Dom Pero de Carriglio e andou dias até chegar a vila de Montaglion,
um lugar bem distante da região que sempre viveu enquanto humano. Já dois anos
se passara desde da terrível transformação em que sofrera e transmutara sua alma que
passoara habitar o corpo de um cão. Dormia pelas ruas, comia o que encontrava nas
latas de lixo. Sofria perdidamente, mas não perdia a esperança de encontrar de
volta o seu corpo de origem. Ainda assim não fazia a menor ideia o que faria
pra tê-lo de volta, se um dia o encontrasse.
Sonhava apenas. O mais era curtir a
vida de cão de rua. Naquele instante se encontrava na porta do mercado da
carne. Sabia que se entrasse lá, de alguma forma, seria hostilizado. Precisava
arriscar, a fome falava mais alto. A demais, sempre sobrava um osso debaixo das
bancas dos açougueiros. De repente uma cena chamou-lhe atenção. Com a
parca visão que tinha, via tudo em preto e branco e um pouco anuviada, ainda assim viu perfeitamente
quando um homem mal encarado furtivamente tentava roubar a carteira de um cidadão
bem vestido que sem perceber tentava fazer negócio com um comerciante de
vinhos. Kira, instintivamente partiu pra cima do larápio, aplicando-lhe forte
mordida na mão fazendo-o largar a carteira. O homem imediatamente percebeu o que ocorria.
Fabio Campos, 18 de setembro de
2019.
POESIA: TRADIÇÃO
SACI? Ô SACI PERERÊ?
VAI CHAMAR CAIPORA
QUE HOJE TEM FUZUÊ
CAPOEIRA
CANDOMBLÉ
ACARAJÉ E AZEITE DE DENDÊ
REIZADO
QUILOMBO
COCO DE RODA
ALUMIADOS POR VAGA-LUMES DE ABARÉ-BEBÊ
FREVO
SAMBA CRIOULA
BATUQUE
MARACATU
AO SOM DO CANTO DA GRALHA AZUL
VEM PRA FESTA
MÃE DO OURO
AS AMAZONAS
O NEGRINHO DOS PASTOREIO
VAI TER EMBOLADA
CAVALHADA
DOMA E RODEIO
VITÓRIA-RÉGIA
MOÇA-BONITA
E BIRIMBAL
QUEBRA-POTE
MULATA E CARNAVAL
CANGACEIROS
SERTÃO SECO MANDACARU
POEIRA VERMELHA
CARCARÁ E ANUM
COMO NASCEM AS ESTRELAS
CÍRIO DE NAZARÉ
E O SONO DO RIO
PROCISSÃO DE NOSSA SENHORA DOS NAVEGANTES
IRMÃOS CORAGEM
LITERATURA DE CORDEL
PEDEM PASSAGEM
PODE TIRAR O CHAPÉU
É ROMARIA E OS BEATOS
VEM O BOI DA CARA PRETA
PRA PEGAR
ÍNDIOS, NEGROS E MESTIÇOS
QUE NÃO TEM MEDO DE CARETA
CAIPIRA?
BOI DE BARRO
POETAS E VAQUEIROS
AS NUVENS DO JARAGUÁ
BUMBA-MEU-BOI
COBRA NORATO
E OS DIABINHOS FAMALIÁ
REPENTISTAS E TROVADORES
OS CANTADORES DO SERTÃO
CANTAM FALAM E RIMAM
NA VIOLA
COISAS DO MAGNÍFICO TORRÃO
É O BRASIL DESFILANDO
SEU FOLCLORE, SEUS COSTUMES SUA GLÓRIA
SUAS LENDAS SEU POVO SUA HISTÓRIA.
Composição feita, por Fabio Campos, a 40 anos passados, exatamente em: 02 de julho de 1978.