DINEUSA BEZERRA, ADEUS (ATÉ BREVE) LINDA GUERREIRA



“Onde está ó morte, a tua vitória? Onde está ó morte, o teu aguilhão? Coríntios 1-15:55”

O ano, era o de 1926. O mês janeiro. No dia 22, uma sexta-feira, nascia em Olho D’água das Flores, Dineusa Bezerra Campos. A primeira filha do casal, Amância Bezerra de Sá, e Tomaz Dorotheu Silva. O sertão aos poucos, se recuperava duma seca braba que durara de 1919 a 1921. Os tempos de amargura, aos poucos iam ficando para trás. Presidia nosso Brasil o advogado e político brasileiro, Artur da Silva Bernardes(PRM). Governava nosso estado de Alagoas, Pedro da Costa Rego(PDN). Olho d’Água não era cidade ainda, pertencia a vizinha freguesia de Santana do Ipanema. No sábado 23, a casa dos Bezerras certamente ficou cheia de parentes, principalmente mulheres. Todos queriam conhecer a primeira herdeira da família. A primeira filha da agricultora Amância, e do barbeiro Tomaz. Orgulhosos por terem tido uma menina saudável, que cresceria rapidamente em estatura e conhecimento. Levaram-na a pia batismal da igreja matriz de Santo Antônio de Pádua e lhes dariam o nome de Dineusa Bezerra da Silva. O batismo de Dineusa foi presidido pelo padre Bulhões vigário geral da paróquia de Senhora Sant'Ana. Os primeiros contatos com as letras, a menina teria dentro de casa mesmo, de um primo chamado Manoel Bezerra, que lhe ensinou o alfabeto. Manoel formado como professor de ensino Normal. Escrevia cartas para as pessoas que não sabiam ler, e recebia pagamento pelos seus serviços. Dineusa frequentou escolas de fundo de quintal, de professoras que sequer recebiam salários, do tempo de dona Adélia e Seu Canuto, prósperos comerciantes daquele lugar. Mais tarde, já moça se enveredaria pelo caminho do primo, e também ensinaria tudo que aprendera às crianças pobres, que não tinham como frequentar escolas. Dineusa teve ainda, mais dois irmãos: Maura que nasceu em primeiro de fevereiro de 1931, e Dorival Bezerra que nasceria em 19 de julho de 1942. Dineusa em tom de galhofa dizia: “-Lá em casa tinha festa o ano inteiro: Eu sou de janeiro, Maura de fevereiro, meu pai é de março (25 de março), e minha mãe de abril (13 de Abril), só Dorival que não acompanhou a gente, e veio em julho!” Sobre seus irmãos, vejamos alguns episódios que marcaram a vida de Dineusa: nuns dias quaisquer do ano de 26, quando o cangaceiro Lampião e seu bando espalhava medo e terror pelos sertões alagoanos, a família Bezerra teve que sair de casa, às pressas várias vezes, pra não serem mortos pelo bandoleiro e seu bando, que invadira Olhos D’Água. Ficavam dentro do mato por horas e até dias até passar o perigo. Certa feita a criança Maura de apenas sete anos, brincando, ao passar embaixo de um fios de arame acabou se ferindo na barriga, daí quando perguntavam-lhe o que tinha sido aquilo, respondia: “-Foi Lampião.” Tomaz Dorotheu noutra ocasião, teria sido feito refém pelo bando do cangaceiro, mas conseguiu fugir, ainda em terras alagoanas. O nome de Dorival para o irmão, foi sugerido por minha mãe Dineusa, que guardava uma revista com uma reportagem do cantor baiano Dorival Caymmi, que já despontava como grande cantor e compositor no tempo que Dorival Bezerra nasceu. Na rua que a família Bezerra morava, ficava a delegacia de polícia, e tempos depois a câmara municipal, daí passaria a ser denominada Rua da Assembleia. Também logo adiante ficava a casa do padrinho de batismo de Dineusa, Seu Pizeca, que além de casa de morada era também pensão. Certo dia, vindo de Santana do Ipanema, hospedou-se na pensão de Seu Pizeca o padeiro João Soares. A moça Dineusa ficava a janela de sua casa e via-o passar todos os dias. Os dois passaram a trocar olhares. E um dia João Soares aproximou-se da janela e perguntou: “-Você aceita uma carta minha?”. Dineusa respondeu: “-Aceito.” Desde então passaram a corresponder-se por carta, que era como se namorava naquele tempo. João Soares pouco tempo depois em ato solene, visitaria a residência da família Bezerra, para pedir oficialmente a mão da primeira filha do casal Amância e Tomaz, em casamento. Pedido feito, pedido aceito, casamento marcado. Um dos ilustres convidados a festa de casamento do casal Dineusa Bezerra e João Soares foi o escritor e comerciante santanense Bartolomeu Barros, que confidenciou-nos: “-A festa durou três dias, foi muita bebida, muita comida. Moças e rapazes dançaram ao som de um sanfoneiro que tocaria por três dias.” Dineusa Bezerra quando casou contava com a idade de dezoito anos, corria o ano de 1944. Uma vez casada, Dineusa veio morar em Santana do Ipanema. A travessia do rio Ipanema foi difícil. Dineusa não sabia nadar, tinha medo de muita água junta, o rio Ipanema estava em toda largura, a travessia foi de canoa, e como balançava! Inicialmente o casal foi residir no Largo São Cristovão, ao lado da igreja de mesmo nome. Depois foram para a rua Benedito Melo, onde provavelmente nasceu, em 07 de novembro de 1945 o primeiro filho do casal: Francisco Soares Campos. Nesse tempo era comum os tangedores de jumento irem pelas ruas vendendo água do Panema. Eram eles que abasteciam as casas de Santana com água do Panema. Energia elétrica, estava chegando ainda. Vez outra traziam Francisco, menino pequeno, que escapulia pro rio Ipanema. Vinha atravessado na cangalha entre as ancoretas: “-Dona Dineusa, Olha o menino!” Tempos depois, se mudariam para a rua do comércio, próximo a igrejinha de São Sebastião, que ainda hoje existe e fica em frente a matriz de Senhora Sant’Ana. Um fato pitoresco ocorreu nesta residência, que ficava mais ou menos onde hoje localiza-se o estúdio fotográfico Sabugo Fotografias. Uma tarde de verão, mamãe sentada a porta, Francisco numa rede se balançando e de repente ela percebeu um boi, que veio vindo da beira do Panema, ia entrar de casa a dentro, pelas portas do fundo. Mas o susto e os gritos dela fez com que o boi fugisse. Nesse tempo nasceu o segundo filho do casal: Silvano, nome este inspirado num personagem dum romance que João Soares teria lido. Esse filho, porém, como dizem aqui no sertão, não vingou. Vindo a falecer com poucos meses de idade. Finalmente a família se mudaria para o Largo do Monumento. A casa de número 247, localizada à Praça da Bandeira (atualmente dr. Adelson Isaac de Miranda) se tornaria a residência definitiva da família Bezerra Campos. A época, alguém comentaria com papai: “-João Soares, agora vai morar em bairro de burguês!”. Ali nasceriam: Fernando Soares Campos (16.12.1949 ), Maria Selma Oliveira Campos (01.09.1958), Fabio Soares Campos (17.05.1960), Sérgio Soares de Campos (11.11.1961) e Maria Simone Bezerra Campos (28.12.1965). João Soares, se tornaria grande comerciante. Aos 68 anos de idade seria vítima de um AVC. Vindo a falecer em consequência disso, no dia 06 de setembro de 1976. Seu sepultamento, sob forte comoção dos familiares, ocorreu no dia 07 de setembro daquele ano. Dineusa mãe de família educou sua prole, em todos os sentidos, foi mãe dedicada, no lado religiosos mais ainda, católica fervorosa, devota de Nossa Senhora, Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, e de Senhora Sant'Ana. Participou ativamente, por mais de meio século, do Coral da igreja matriz de Senhora Sant'Ana, iniciando com o Cônego Luiz Cirilo Silva até pouco tempo atras, com o Monsenhor Delorizano Marques. Dineusa Bezerra uma lutadora incansável. O filho Sérgio Campos fez belíssima composição musical em sua homenagem, ainda ela com vida, que diz: [Refrão]: Guerreira linda guerreira/ A flor mais bela de nosso lindo jardim/ Guerreira Linda Guerreira/ Inspiração divina flor deste jardim. [ últimos versos]: Todas as pedras que pairaram em seu caminho/foram usadas para sua evolução/ Filha, irmã, esposa amiga devotada. És um exemplo em sua comunidade/Deus saberá compensar sua jornada/ Pois sois pra nós uma mãe abençoada.” No último 14 de outubro de 2019,aos 93 anos de idade Dineusa Bezerra, infelizmente, nos deixou... Quanta dor, entre os que ficaram. Saudade aperta-nos tanto o coração. Fica aqui o seu legado, entre filhos, irmãos, sobrinhos, netos, bisnetos, tataranetos (trinetos) genros, noras, afilhados, afilhadas, amigos, parentes, enfim todos e todas que um dia tiveram a oportunidade de conhecê-la. De conviver, compartilhar de sua presença. Cabe a nós que com ela vivenciamos, e com ela muito aprendemos, darmos continuidade ao que Dineusa Bezerra nos ensinou, com seu exemplo de humildade, e que nos transmitia serenidade, paz e amor. Adeus Linda Guerreira! Não digo até nunca mais. Digo, Até breve.

Fabio Campos, 19 de outubro de 2019.


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