IN[n] ZA[a]N[n] O [S] HEFESTO e SEKHMET NO PARAÍSO 17/09/2025



Monalisa, mantinha a cabeça apoiada na mesa. Os pensamentos todos embaralhados. Do seu corpo exalava cheiro nauseabundo de espumante, cerveja e vinho. Os dedos cheiravam a nicotina, e fumaça de diamba. Na boca um gosto de cabo de guarda-chuva. A saliva parecia uma pasta, preste a colar os lábios, ou matá-la-ia por asfixia se tentasse engolir. Junto ao hálito, queria sair de seu corpo, o espírito. Flutuaria vagabundo junto ao fóton emanado da diáfana luz que penetrava pela janela. Livros, aos montes espalhados, por todo o ambiente. Alguns abertos, tontos, enjoados daquele ar pesado. A água da torneira, feito caldeira de vulcão incendiaria qualquer alma, que tocasse. Cômodos do incômodo, chatos, desengonçados. Os óculos tristemente desprezados, relegado quase a Sapato. Os fatos nunca seriam explicitamente esclarecidos. O rapaz do mercadinho, precisava falar-lhe. Dizer algo, cobrar-lhe pistas, evidência de que crime, ou crimes ocorreram ali. Talvez ele pudesse explicar sobre aquele entrega. Tinha quase certeza, que nada pedira. Não naquela manhã. Precisava descobrir o que acontecera ali. Saber sobre aquele corpo dentro da banheira, dormia, ou estaria morto? Mas que droga de lugar era aquele? Um quarto de pensão? Gatos e cachorros, não tinha certeza se eram reais, ou saídos de sua imaginação, ficavam andando pela casa. Aquela banheira com aquele corpo também, talvez, nunca existiram. Ou quem sabe sua mente preferia negar que realmente estava lá. O cheiro de sangue causou-lhe ânsia de vômito. Os gatos conversavam entre si. Suas falas polidas, esmeradamente educadas. No entanto num piscar de olhos podia virar discussão, daí que acabavam brigando. Aquilo era coisa de louco.

Derick, um belo felino siamês, era o único que lhe dirigia a palavra, com toda polidez e consideração. E claro, por ter educação esmerada. Jamais faltaria com respeito a uma dama. Além do que, do lugar de onde viera, qualquer um que fosse mal-educado com uma mulher, sofria punições severas.

A moça concebeu que acordara tarde. Olhou para si desolada. Sempre se arrependia, no dia seguinte. Já se ia o início da tarde. Metade do dia se fora. Não diria perdido. Pois esta, era palavra inexistente no seu dicionário. Havia muito tempo que se considerava perdida, fosse para o que fosse. Não havia tempo para contabilizar prejuízos. Era seguir em frente. E encarar o que a vida tinha a lhe oferecer, a partir dali.

Ponderou onde estaria dona Dulce naquele início de tarde. O baixio tinha muito verde, e praticamente mais nenhuma outra cor. Algo que dissesse haver por lá vida humana. Tudo, porém era puro engano, o mato tem o poder de esconder coisas que as vistas, desacostumada, jamais imaginariam existir. A mata logo cedo engoliu Hefesto, o titânico caçador de almas. Desceu a ribanceira ainda escuro. Até o exato momento em que as trevas lambiam os seios das montanhas. Dali a pouco passariam a reinar naquele submundo os espíritos malignos. Feito fumaça entrariam pelas ventas e pulmões de seres funestos emanados das profundas e tenebrosas cavernas. Acordavam o espírito da mata, e nem sinal do arauto. As araras pingavam de vermelho os altos galhos, os saguis e jiripocas saltavam de galho em galho. O furdunço inquietante dos símios, dando nos nervos das jitiranas e jandaias, pondo cuidados nos filhotes. Os morcegos esvoaçavam sobre as copas das árvores, doidos pra cravejarem seus caninos no pescoço de uma corça.

Hefesto foi até o açude precisava se refrescar, da exaustiva jornada no paraíso que culminara com a caçada . Trazia as costas um enorme javali abatido, fruto da empreitada pelo jardim dos Éphesus.O jardim de delícias dos semi-deuses.

Se desvencilhou de suas armas, trepando-as numa forquilha de um pé de craibeira de colossal envergadura. Cinco homens de grande porte talvez não fosse suficiente para abarcá-lo. O valente guerreiro despiu-se, e entrou no lago. Semideus no jardim dos deuses e das delícias, jardim de onde Deus expulsara Adão. Os sons que se ouvia era da natureza, conversando com Deus. Guerreiro nu, nadando, flutuando sobre a água macia, refrescante, o calor do corpo indo de encontro a frieza da fluida água liberava vapores, que se se condensavam no ar, que beleza! O corpo deslizando no espelho d’água, a mata conversando com as serpentes, as ninfas, os quatis, as guaribas e querubins. De repente, o tronco esverdeado e coberto de limbo da gigante craibeira começou a mudar de cor, e foi ficando cada vez mais grosso. Na verdade, dobrando de espessura. A medida que engrossava, ia adquirindo tom amarronzado, e algumas pintas escuras.

Hefesto entendeu o que ocorria, com seu olhar aguçado, seus ouvidos treinados para captar as falas inquietantes das selvas, e de seus habitantes. O tirânico, cruel e predador semideus, entendeu imediatamente o que acontecia. Sekhmet a deusa da vingança, em forma de serpente, avançava sobre sua caça. Intentava roubar-lhe o javali abatido. Do jeito que estava feito anfíbio, Hefesto  sorrateiramente deslizou para a margem, quase sem fazer barulho. E rapidamente alcançou sua espada. A deusa Sekhmet transformada em serpente, por sua vez, pressentiu o perigo, e atacou. Se desvencilhando do galho se enroscou no homem. Agora era briga de deuses, homem semideus nu, versus mulher semideusa, transformada em cobra, numa luta pela vida, e pela morte.

Monalisa ponderava, que, depois que seu pai Antonio fora preso, sua vida e a de seus irmãos, de todos da família, mudara drasticamente. Ela e os irmãos, um a um, foram saindo de casa. Pensaram inicialmente em viver a vida com toda a liberdade que nunca tiveram, devido à austeridade e rigidez dos seus pais. Agora via que aquela falsa liberdade trouxera consequências. Ela mesma, começara com farras noturnas, e bebedeiras. Com o passar do tempo avançando para drogas mais pesadas. Fazer faculdade de Filosofia, estudar mitologia, grega, romana. Entender a sociedade desde os primórdios, que viajem.

 









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