Entre, desvendar um crime, e
descobrir um tesouro perdido, haveria que preferisse acrescentar ainda mais
mistério. Acontece que muitas outras coisas estavam pra acontecer, e isso era
só o começo. Naquele exato momento Marcos temia por sua vida. Apesar de que, se
o míssil “F.A.S.H.ALL” detonasse, o máximo que poderia acontecer era desintegrar-se.
E isso o obrigaria a retornar a Terra do Fogo. Dentro da caverna uma coisa
observou. Um livrinho de capa vermelha que o Alien chefe, com firmeza, segurava na mão fechada. Nada o fazia largar. Passou a acreditar que nele contivesse
muito do que buscava.
O homem olhava pro céu. Como se de lá, tivesse pra vir, resposta pra sua angústia. Era o que esperava. Não sabia do que sentia mais saudade, da ilha ou da taverna. Tudo, no entanto caminhara pra um irreversível estado de decadência. Só restando agora, sombra do que um dia fora. Taverna de homens sombras. Fantasmas de si mesmos. Esperavam pacientemente o que eles próprios duvidavam se chegaria um dia. Se distraiam jogando pôquer, fumando, bebendo uísque. No auge da corrida do ouro aquilo ali fervera mais que um festival de rock. Na época, Porto Vila virara a meca do narcótico, do álcool, da prostituição e da jogatina. As moças, apáticas, cansaram da própria beleza. Pra onde fora o entusiasmo dos tempos da corrida ao metal amarelo? A alegria de outrora do bordel não havia mais. Os rapazes, receio nenhum tinha, de gastar o dinheiro adquirido com tanto suor no garimpo. As áureas noites de festa se foram, era tudo passado agora. Sem ter o que fazer, o barman, encostando a calva ao balcão cochilava. Aquela cara amarrada, o bigode, o queixo duplo, a pele vermelha luzidia. Muito dele remetia ao Senhor Morion Lucindo, o velho ferreiro, contador de causos.
Lá estivera senhor Lucindo, aproveitaria a apatia reinante no saloon, e iniciaria mais uma de suas histórias. Falaria dos seus antepassados, que um dia vieram de Ushuaia, na Terra do Fogo. De lá, os seus, da parte de pai vieram. Contaria de seu avô, um dia lhe falara do desaparecimento dum bando inteiro de guerreiros da tribo dos Yaganos. Como num passe de mágica, sem deixar vestígios sumiram. Esse acontecimento ficaria conhecido como a noite da grande tribulação. Pra eles, teria sido uma terrível maldição duma noite de lua cheia, de agosto. Era madrugada de mudança de lua, a aldeia inteira despertaria aflita. Apavorados tiveram a aparição dum cão, de uns dois metros de altura. Surgido das montanhas, se posicionou junto a um rochedo que terminava na entrada da aldeia. O pelo amarronzado, viscoso, eriçado, volumoso, cobria-lhe todo o corpo. Molhado de neve, descomunalmente musculoso. Os olhos como brasas, a baba a desprender-se dos caninos, sibilava ao vento. O uivo horripilante de causar calafrios na alma, de qualquer vivente. Os nativos foram às armas. Arcos, flechas incendiárias, lanças, facões, tochas, e coragem. A própria vida dariam pra defender a aldeia, a prole, os víveres, os antepassados. Se não conseguissem matá-lo, tentariam ao menos enxotá-lo pra longe dali. Seiscentos homens partiu pro ataque. Assim que se aproximaram da fera sumiram. Como num passe de mágica os bravos guerreiros Yaganos. Como que tragados pela terra, perante as vistas de toda aldeia desapareceram. Enquanto isso, o feroz canídeo gigante, como se nada mais tivesse o que fazer ali, virou as costas e foi embora. Seguiu rumo a montanha. A façanha ficaria registrada para sempre nas mentes da tribo, o avô de Morion Lucindo era um deles. E num afresco que o rei Roy Matta mandou pintar na antessala da tenda real o embate nunca ocorrido. O sacerdote o resto da noite queimaria incenso, recitando trechos do Morashá, uma espécie de pergaminho contendo escritos sagrados.
Tagor Fashall passara os últimos dias na aldeia de Étole Chavalier. Pretendia com a maior brevidade casar-se com Joane Antonieta. Antes precisariam apresentar, um ao outro, aos familiares. Decidiram que ele conheceria primeiro a família dela. Depois de ter se tornado mulher, a filha de senhora Luiza Madalena, nunca mais vira sua mãe. Tinha saudade da vila pobre de sua infância, que ficava perto da igreja de Santo Eustáquio, num bairro afastado. Pai, não tinha mais. Buscaria a antiga morada da vila dos pinheirais. Ficou sabendo que sua mãe estaria muito doente, vivendo num asilos para idosos, na região montanhosa de São Martino. Tagor prometeu que visitariam a ela, e a seu pai. Mas o pai já não tinha morrido? Indagou-lhe. Ele apenas sorriu.
Émile Passion naquele momento dentro duma carruagem viajava pelas estradas que levavam a vila de Étole Chavalier. De volta de Paris, onde passara um mês na casa do primo. Enquanto avançavam os cavalos pelo bosque seu pensamento voava. Estaria apaixonada por Rafael Bertrand? Depois que o pai morrera e antes que revivera, fora a busca de seus tios, a parte nobre da família. Dom Ferdinando de Valverde comerciante de tecidos e também músico. Ensinava flauta doce aos missionários do mosteiro de São Bento. Boas lembranças guardaria dele, um bom homem. Envelhecera com sabedoria, cultivando o que de melhor a vida pudera, até então, lhe proporcionar. Maria Antônia de Cena a esposa, matrona zelosa nascera com dois dons, ser mãe e esposa. A mansão dos Valverdes a beira do lago do vale dos Cisnes. Construção medieval, rodeada de jardim suntuoso. Entre os Valverdes havia uma tradição de família, que todos os membros teriam seus retratos pintados em telas a óleo de corpo inteiro, sempre pelo mesmo pintor Luiz Cantagallo um italiano de Gênova. Émile talvez fosse a próxima a posar para o pintor. Uma particularidade tinha os quadros do genovês, se apresentasse qualquer mancha na gravura, não demoraria e morria. De modo que aonde surgisse a mancha, sairia a causa da morte. Émile realmente estava apaixonada por Rafael. Dez anos, já se havia passado de quando o retrato de Gabriel, irmão de Rafael, apresentou leve mancha, quase imperceptível, no pescoço. Os três irmãos, nas montanhas alpina, propriedade do príncipe Ricardo III, de férias a caçar faisão. Enquanto carregava a arma, acidentalmente Miguel acertou um tiro no pescoço do irmão. O ferimento o levaria a morte.
Tagor Fashall sabia a origem daquele cão. De onde também outros oito vieram. Marcos acabaria conseguindo o livrinho. Sob a escuridão da noite, passou pelo bando de corsários, escravos dos alienígenas que dormiam. A caverna, o altar de pedra, e o livreto de capa vermelha agora era seu. Conseguira desvendar parte do mistério. O capítulo cinco era todo dedicado a invasão dos cães de Vanuatu a terra. Com a ajuda do mago Berlioz que habitava o sopé do vulcão Lopevi, conseguiu traduzir os escritos. Eles vieram do espaço, dum planeta distante chamado Vanhatu, pertencente a quinta irmã da Via Láctea. Se rebelaram contra os maus tratos dos aliens a que serviam. E por isso nove deles foram banidos.Vagaram no espaço até encontrarem a terra. Os sábios que testemunharam sua chegada deu-lhes nomes dos planetas do sistema solar. Três deles eram alados, grandes asas traziam no dorso. Outros três eram aquáticos, nadadeiras possuiam nas patas. E os três últimos terrestres, iguais aos cães tal qual os conhecemos. Só que todos eram descomunais no tamanho. Os alados, foram habitar os lugares mais altos da terra: Alpes suíços, Cordilheira dos Andes, e as montanhas do Tibet. Os três aquáticos foram: um pro mar da Austrália; Outro pro triângulo das Bermudas e um terceiro pro estreito de Magalhães. Dos que ficaram em terra firme somente o da Terra do Fogo fora descoberto até então.
Derick o gato de Marcos estava com muito frio. As montanhas geladas não era o melhor lugar pra quem é friorento, e ele era. Tem coisas que todo gato preguiçoso detesta. Ter que caçar sua própria comida. Caçar só era legal quando se fazia por diversão. Mas quando se está à três dias sem comer nada, caçar não tem a menor graça! As corças no meio da neve viravam alucinações, pernis suculentos lentamente levitando sobre a neve. Os peixes saltando sobre a correnteza a escaparem milagrosamente da implacável patada do urso polar. Comida voando, pra sua boca faminta. Pra piorar as coisas tinha que aparecer justo a sua frente, um, que todo gato simplesmente odeia, seu arquirrival. Um cão! E aquele era tamanho família. E aquela cara pouco familiar. Droga!
O homem olhava pro céu. Como se de lá, tivesse pra vir, resposta pra sua angústia. Era o que esperava. Não sabia do que sentia mais saudade, da ilha ou da taverna. Tudo, no entanto caminhara pra um irreversível estado de decadência. Só restando agora, sombra do que um dia fora. Taverna de homens sombras. Fantasmas de si mesmos. Esperavam pacientemente o que eles próprios duvidavam se chegaria um dia. Se distraiam jogando pôquer, fumando, bebendo uísque. No auge da corrida do ouro aquilo ali fervera mais que um festival de rock. Na época, Porto Vila virara a meca do narcótico, do álcool, da prostituição e da jogatina. As moças, apáticas, cansaram da própria beleza. Pra onde fora o entusiasmo dos tempos da corrida ao metal amarelo? A alegria de outrora do bordel não havia mais. Os rapazes, receio nenhum tinha, de gastar o dinheiro adquirido com tanto suor no garimpo. As áureas noites de festa se foram, era tudo passado agora. Sem ter o que fazer, o barman, encostando a calva ao balcão cochilava. Aquela cara amarrada, o bigode, o queixo duplo, a pele vermelha luzidia. Muito dele remetia ao Senhor Morion Lucindo, o velho ferreiro, contador de causos.
Lá estivera senhor Lucindo, aproveitaria a apatia reinante no saloon, e iniciaria mais uma de suas histórias. Falaria dos seus antepassados, que um dia vieram de Ushuaia, na Terra do Fogo. De lá, os seus, da parte de pai vieram. Contaria de seu avô, um dia lhe falara do desaparecimento dum bando inteiro de guerreiros da tribo dos Yaganos. Como num passe de mágica, sem deixar vestígios sumiram. Esse acontecimento ficaria conhecido como a noite da grande tribulação. Pra eles, teria sido uma terrível maldição duma noite de lua cheia, de agosto. Era madrugada de mudança de lua, a aldeia inteira despertaria aflita. Apavorados tiveram a aparição dum cão, de uns dois metros de altura. Surgido das montanhas, se posicionou junto a um rochedo que terminava na entrada da aldeia. O pelo amarronzado, viscoso, eriçado, volumoso, cobria-lhe todo o corpo. Molhado de neve, descomunalmente musculoso. Os olhos como brasas, a baba a desprender-se dos caninos, sibilava ao vento. O uivo horripilante de causar calafrios na alma, de qualquer vivente. Os nativos foram às armas. Arcos, flechas incendiárias, lanças, facões, tochas, e coragem. A própria vida dariam pra defender a aldeia, a prole, os víveres, os antepassados. Se não conseguissem matá-lo, tentariam ao menos enxotá-lo pra longe dali. Seiscentos homens partiu pro ataque. Assim que se aproximaram da fera sumiram. Como num passe de mágica os bravos guerreiros Yaganos. Como que tragados pela terra, perante as vistas de toda aldeia desapareceram. Enquanto isso, o feroz canídeo gigante, como se nada mais tivesse o que fazer ali, virou as costas e foi embora. Seguiu rumo a montanha. A façanha ficaria registrada para sempre nas mentes da tribo, o avô de Morion Lucindo era um deles. E num afresco que o rei Roy Matta mandou pintar na antessala da tenda real o embate nunca ocorrido. O sacerdote o resto da noite queimaria incenso, recitando trechos do Morashá, uma espécie de pergaminho contendo escritos sagrados.
Tagor Fashall passara os últimos dias na aldeia de Étole Chavalier. Pretendia com a maior brevidade casar-se com Joane Antonieta. Antes precisariam apresentar, um ao outro, aos familiares. Decidiram que ele conheceria primeiro a família dela. Depois de ter se tornado mulher, a filha de senhora Luiza Madalena, nunca mais vira sua mãe. Tinha saudade da vila pobre de sua infância, que ficava perto da igreja de Santo Eustáquio, num bairro afastado. Pai, não tinha mais. Buscaria a antiga morada da vila dos pinheirais. Ficou sabendo que sua mãe estaria muito doente, vivendo num asilos para idosos, na região montanhosa de São Martino. Tagor prometeu que visitariam a ela, e a seu pai. Mas o pai já não tinha morrido? Indagou-lhe. Ele apenas sorriu.
Émile Passion naquele momento dentro duma carruagem viajava pelas estradas que levavam a vila de Étole Chavalier. De volta de Paris, onde passara um mês na casa do primo. Enquanto avançavam os cavalos pelo bosque seu pensamento voava. Estaria apaixonada por Rafael Bertrand? Depois que o pai morrera e antes que revivera, fora a busca de seus tios, a parte nobre da família. Dom Ferdinando de Valverde comerciante de tecidos e também músico. Ensinava flauta doce aos missionários do mosteiro de São Bento. Boas lembranças guardaria dele, um bom homem. Envelhecera com sabedoria, cultivando o que de melhor a vida pudera, até então, lhe proporcionar. Maria Antônia de Cena a esposa, matrona zelosa nascera com dois dons, ser mãe e esposa. A mansão dos Valverdes a beira do lago do vale dos Cisnes. Construção medieval, rodeada de jardim suntuoso. Entre os Valverdes havia uma tradição de família, que todos os membros teriam seus retratos pintados em telas a óleo de corpo inteiro, sempre pelo mesmo pintor Luiz Cantagallo um italiano de Gênova. Émile talvez fosse a próxima a posar para o pintor. Uma particularidade tinha os quadros do genovês, se apresentasse qualquer mancha na gravura, não demoraria e morria. De modo que aonde surgisse a mancha, sairia a causa da morte. Émile realmente estava apaixonada por Rafael. Dez anos, já se havia passado de quando o retrato de Gabriel, irmão de Rafael, apresentou leve mancha, quase imperceptível, no pescoço. Os três irmãos, nas montanhas alpina, propriedade do príncipe Ricardo III, de férias a caçar faisão. Enquanto carregava a arma, acidentalmente Miguel acertou um tiro no pescoço do irmão. O ferimento o levaria a morte.
Tagor Fashall sabia a origem daquele cão. De onde também outros oito vieram. Marcos acabaria conseguindo o livrinho. Sob a escuridão da noite, passou pelo bando de corsários, escravos dos alienígenas que dormiam. A caverna, o altar de pedra, e o livreto de capa vermelha agora era seu. Conseguira desvendar parte do mistério. O capítulo cinco era todo dedicado a invasão dos cães de Vanuatu a terra. Com a ajuda do mago Berlioz que habitava o sopé do vulcão Lopevi, conseguiu traduzir os escritos. Eles vieram do espaço, dum planeta distante chamado Vanhatu, pertencente a quinta irmã da Via Láctea. Se rebelaram contra os maus tratos dos aliens a que serviam. E por isso nove deles foram banidos.Vagaram no espaço até encontrarem a terra. Os sábios que testemunharam sua chegada deu-lhes nomes dos planetas do sistema solar. Três deles eram alados, grandes asas traziam no dorso. Outros três eram aquáticos, nadadeiras possuiam nas patas. E os três últimos terrestres, iguais aos cães tal qual os conhecemos. Só que todos eram descomunais no tamanho. Os alados, foram habitar os lugares mais altos da terra: Alpes suíços, Cordilheira dos Andes, e as montanhas do Tibet. Os três aquáticos foram: um pro mar da Austrália; Outro pro triângulo das Bermudas e um terceiro pro estreito de Magalhães. Dos que ficaram em terra firme somente o da Terra do Fogo fora descoberto até então.
Derick o gato de Marcos estava com muito frio. As montanhas geladas não era o melhor lugar pra quem é friorento, e ele era. Tem coisas que todo gato preguiçoso detesta. Ter que caçar sua própria comida. Caçar só era legal quando se fazia por diversão. Mas quando se está à três dias sem comer nada, caçar não tem a menor graça! As corças no meio da neve viravam alucinações, pernis suculentos lentamente levitando sobre a neve. Os peixes saltando sobre a correnteza a escaparem milagrosamente da implacável patada do urso polar. Comida voando, pra sua boca faminta. Pra piorar as coisas tinha que aparecer justo a sua frente, um, que todo gato simplesmente odeia, seu arquirrival. Um cão! E aquele era tamanho família. E aquela cara pouco familiar. Droga!
Fabio Campos 31 de agosto de 2016.
*P.S. I: Parte do Desenho que ilustra este Conto, é de autoria de Aika, a terceira Neta do Autor do Blog. Data de 02/02/2016.
*P.S. II : Os Cinco Episódios anteriores da Saga "O Crime de Tagor Fashall" estão publicado neste Blog, entre os dias 26 de maio e 23 de junho de 2015.