A BRUXA Capítulo 2

                           

A BRUXA Capítulo 2 O SEGREDO DE KIRA KORUCHAUA 

Uma história sobre dona Morgana, a mãe de Kira. Uma senhora muito batalhadora. Tivera treze filhos. A maioria criou-os sozinha. Na época Kira só alguns meses tinha de vida. Na verdade sete. Foi num dia de feira livre no vilarejo. De repente uma mulher aturdida chegou a sua porta. Pedia que a ajudasse. Queria que a escondesse, os soldados vieram em seu encalço. Ficou sem saber o que fazer. Como esconder em sua casa alguém que não conhecia? Ainda mais sem saber o que teria feito. Do que fugia?  A mulher acabou invadindo a casa, e foi se abrigar no quarto onde Kira dormia num berço. Os guardas sem pedir permissão adentraram a casa. Iniciaram uma busca, dizendo que queriam prender uma ladra. Ainda a pouco, em plena via pública roubara do conde de Valverde um colar valioso chamado olho de Adonis, encravado de rubis. Relíquia de família. A identidade da nobre linhagem dos Valverdes nas mãos duma estranha. Precisavam prendê-la,  recuperar o colar.

A casa foi vasculhada sem que a mulher fosse encontrada. Soldados da guarda real chegaram para ajudar, sem sucesso na busca. Enfurecido o conde de Valverde deu ordem que ateassem fogo em tudo. A casa devia ser queimada, com tudo que houvesse dentro. Atordoada dona Morgana correu a salvar seu filho, do fogo que se alastrava rápido. Foi quando deu de cara com a mulher. Disse-lhe que só um jeito havia de escaparem do fogo, dona Morgana teria que dar o filho pra ser discípulo do Cavaleiro de Caravaglio. Disse que era feiticeira. Uma invocação seria feita e os três se tornariam invisíveis e intocáveis, para as coisas desse mundo. Só restou aceitar a condição proposta pela bruxa.

Eram seis os meninos na carroceria da caminhonete. Eram todos irmãos de Kira.  Avançavam pela estrada de barro vermelho, os cabelos lisos brincavam com o vento, com seus rostos, os seus sorrisos. Da mata fechada os tiros ecoavam no céu, os pássaros nas copas das árvores altas espantados partiam em revoada. Ao aproximar-se da choupana deu pra perceber que algo ruim acontecera ali. Uma ovelha morta no meio do terreiro. O aprisco aberto. A portinhola do chiqueiro quebrada. Os porcos, os que sobreviveram, estavam no pomar. As hortaliças destruídas. Algumas telhas caíram do alpendre, se partiram com a queda.  Um vendaval varrera a propriedade. Amava aquele lugar.

O homem no terreiro, assava carne numa churrasqueira. Gordo, vermelho, ventre avolumado, camisa de malha, outra por cima enxadrezada de algodão e botões. Chapelão de caubói. O lábio inferior proeminente como que não tivesse mais os incisivos superiores. Olhava estranhamente a chegada inesperada de Kira. Segurava um espeto com um pedaço de costela de porco assada. Cumprimentou-o. Sério, sem emoção. Não dava pra entender porque ficaram tão diferentes. Nem pareciam irmãos. John não era, mas aparentava ser mais velho, mais velho que Mark.  Desenvolvera uma calva que não era de família, a escondia em baixo do chapéu. Sem chapéu era outra pessoa. O corpo avantajado também o diferenciava dos demais. O pai tinha corpo atlético, cultivava barba e cabelos longos. Quem sabe se tivessem sido criados juntos, fossem mais amáveis uns com os outros. 

O gato Brown sabia de mais coisas porém, não estava disposto a contar. Não agora, esperaria momento mais oportuno. Foi engraçado e até certo ponto chocante descobrir que o gato falava. Não era fala com oralidade. Ele pensava, e Kira ouvia-o falando.  Foi nas férias escolares do verão do ano de eclipse solar, havia uma semana. Disse que seu pai fora embora e levou com ele quatro dos seus irmãos. Os que já tinham atingido idade de combate. Partiram pra uma missão complicada competir nos tradicionais jogos de inverno da Caledônia. Para tanto se preparam durante seis meses. Era treino pesado. Acordavam de madrugada, subiam a montanha. Cada um cortava um tronco com diâmetro igual a seu tórax e descia pela trilha dos ursos pardos. Tinham que torcer para não se deparar com uma ursa com filhotes. Isso poderia significar morte. A segunda parte do treinamento era descer as corredeiras do rio Aihowa em um caiaque. Enfrentar as águas alucinadas e tentar ficar vivo até o fim do percurso.


Fabio Campos, 23 de junho de 2019.




                   SERTANEJO

                        I
QUANDO NASCE UM SERTANEJO
O CARCARÁ CANTA ALTO
O POVO SE EXALTA
A FAZER ADMIRAÇÃO
É MAIS UM SERVO DO SENHOR
PRA TRABALHAR NO SERTÃO


                    II
O SERTANEJO QUE TRABALHA FIRME
NA SECA DA PLANTAÇÃO
É UM CAIPIRA QUE SOFRE
CHAMANDO PADIM CIÇO ROMÃO


                  III
O SERTANEJO QUE LUTA
COM GADO SELVAGEM
PRA MARCAÇÃO DESSES BICHOS
É PRECISO MUITA FORÇA
DEDICAÇÃO E CORAGEM


                 IV
O SERTANEJO QUE PENETRA
NAS CAATINGAS DO SERTÃO
NÃO TEM MEDO DOS ESPINHOS
DO MANDACARÚ SEM CORAÇÃO


                V
NÃO HÁ SOFRIMENTO MAIOR
DO QUE O DO SERTANEJO 
QUE LUTA NA TERRA ATÉ A MORTE
JÁ DIZIA EUCLIDES DA CUNHA:
"O SERTANEJO É ANTES QUE TUDO UM FORTE"


FABIO CAMPOS COMPOSIÇÃO DE 40 ANOS ATRÁS FEITA EM 01 DE MAIO DE 1978.

Nenhum comentário:

Postar um comentário