
Capítulo 4 Na Caverna do Diabo
Na caverna do diabo o caminhante
tinha que confiar no espírito vagante, o guardador da entrada. Ele conduzia o
passante. Totalmente no escuro, era confiar ou confiar. Se acaso caísse num abismo, era o que o destino o reservara. Jamais poria culpa na falta de fé. A jornada
toda perigo, iminente. Havia de passar pelo túnel das cobras. Em seguida pela
gruta dos esqueletos dos piratas. Se escapasse, enfrentaria a galera dos que morreram
enforcados.
Inveja, orgulho, soberba, ódio, luxúria, avareza, gula, os sete
pecados capitais seriam testados, provados a cada criatura que se inventasse naquela aventura. O mundo todo azul. As casas, as carroças, as pessoas. As
pedras do calçamento. Kira via tudo como se filtrado por um prima monocromático
que deixava tudo azul. Azul em vários tons. Como se usasse uns óculos especial que anulava as outras cores. Moradores de rua, cobertos em farrapos, se aqueciam
junto a uma fogueira bem no meio da praça. A exceção do azul, o fogo
dentro do tonel que ardia no centro da praça.
Vez ou outra alguém olhava pro céu, com se a qualquer momento de lá
fosse surgir algo tenebroso. Como se fosse obrigação de todos vigiar. Kira instintivamente olhou o céu. Talvez
quisesse apenas saber se era de lá que vinha aquele azul anormal, que a tudo
impregnava. Como uma fumaça blue. Aderia a pele, dos corpos, dos rostos. Talvez fosse sinal de alguma coisa. Quem sabe fossemos ter chuva de granizo, ou neve, quem sabe uma tempestade se avizinhava. De repente
ouviu-se o estrondo de um longo trovão, seguido de um raio que clareou o mundo com sua luz
amarelada cortando o azul como se corta um pedaço de carne crua, de dentro do raio um ser alado apareceu.
O que quase ninguém sabia era que
o pai de Kira se tornara um desertor. Durante um confronto no vilarejo de Pihon
abandonou a tropa. Partiu para uma montanha distante no condado de Sukar, bem
longe da guerra. Viveu um tempo com uma índia eremita, bem mais velha que ele.
Cultivavam milho, feijão, e um pomar onde havia várias hortaliças. Domava
cavalos bravios, adquiriu algumas cabeças de gado. Ensinamentos milenares,
passados de geração em geração que podia até salvar a vida de uma pessoa
aprendera com os ancestrais da tribo.
Da fenda aberta pelo raio, na
verdade dois seres surgiram. Um touro montava um Avatar. Era um guerreiro,
tinha cabeça de carneiro, com chifres de ouro que se enroscavam feito conchas
do mar. O corpo todo coberto de pelo. Vestia uma armadura de metal que cobria o
peito e uma espécie de sunga de material metálico embora flexível. O rosto
tinha focinho como de cavalo. O touro tinha asas que soltavam labaredas cor
violeta, os cascos de prata. E todo o corpo até a calda era coberto de escamas,
de variadas cores, como um dragão do mar. Veio vindo sobre as casas e desceu no
meio da praça, aquela altura totalmente deserta. Só um aldeão permaneceu em via
pública, Kira. O cara de cachorro. O Avatar disse que se chamava Centauro e que tinha vindo do
reino de Caravaglio. Tinha uma história para compartilhar. O rei Adonias pai do príncipe Adonis o
encarregara de procurá-lo. Pedia que o ouvisse, uma missão precisava ser
executada, que o sucesso da futura jornada dependia de sua participação.
O tempo podia passar, não
importava se um século, ou um milênio Kira jamais esqueceria de sua infância.
Ele e os irmãos brincando a caminho da casa do sítio dos avós. Era um tempo tão
bom, que até os cheiros junto com as lembranças davam pra trazer. Pensou se valia a pena adiar sua busca. Cheiro de milho
assado na fogueira. As lembranças se apossando dele. Sentia vir lá da cozinha o cheiro de canjica, de milho
cozido, de pamonha. As brincadeiras eram da época junina. A tarde caindo e de
cada terreiro, das casinhas de taipa que mais pareciam desenho rústico, rabiscos. Subia ao céu um rolo de fumo negro das fogueiras recém acendidas.
Bandeirolas coloridas penduradas enfeitavam o alpendre. Ao som dum fole velho os
casais dançavam quadrilha improvisada. As roupas coloridas enchiam o ar de
alegria. O cheiro forte de pólvora dos fogos de artifícios estourados. Tudo
aquilo jamais esqueceria. Coisas que se um dia no futuro seus netos, lhes perguntassem como era viver no terceiro mundo? Mundo inferior. Diria que por mais minuciosa fosse
a descrição, apenas com palavras não seria suficiente dizer. Somente quem
vivera, sabia o valor que tinha. Um dia ainda reviveria. Uma tecnologia que ainda estava pra surgir ia
possibilitar isso.
POESIA: PARA ONDE ESTAMOS INDO?
CORREM OS MILÊNIOS
CORREM OS SÉCULOS
CORREM AS DÉCADAS
CORREM OS ANOS
CORREM OS MESES
CORREM AS SEMANAS
CORREM OS DIAS
CORREM AS HORAS
CORREM OS MINUTOS
CORREM OS SEGUNDOS
NINGUÉM PARA PRA PENSAR
PARA ONDE ESTAMOS INDO?
SEI QUE ESTAMOS INDO!
NÃO SEI QUAL O DESTINO
CORREM OS SEGUNDOS
CORREM OS MINUTOS
CORREM AS HORAS
CORREM OS DIAS
CORREM AS SEMANAS
CORREM OS MESES
CORREM OS ANOS
CORREM AS DÉCADAS
CORREM OS SÉCULOS
CORREM OS MILÊNIOS
Composição de 13 de Junho de 1978. Há uma ilustração que envolve a poesia ela está dentro de uma vela acesa na parte de cima e do meio pra baixo é uma banana de dinamite com o chio aceso.
PENSAMENTOS PONTO DE VISTA
CONHECER ALGUÉM É VER A CAPA DE UM LIVRO;
DIALOGAR RECONHECER ERROS E EMOÇÕES DE ALGUÉM, É LER ESSE LIVRO ATÉ CERTO MEIO;
DIZER QUE CONHECE A PERSONALIDADE DE ALGUÉM, É LER TODO O LIVRO E ESQUECER ALGUMAS PARTES;
AMAR ALGUÉM É FOLHEAR AS PÁGINAS COM GRAVURAS;
DIZER QUE CONHECE ALGUÉM POR COMPLETO, É LER TODO O LIVRO E NÃO LEMBRAR DE ALGO DO INÍCIO OU ESQUECER DO FIM;
DIZER QUE CONHECE MAS NÃO GOSTA DE ALGUÉM, É LER E NÃO ENTENDER A HISTÓRIA
MORAL DA ESTÓRIA: NINGUÉM CONHECE NINGUÉM.
POESIA: HOMEM
HOMEM
HOMEM EXEMPLO
HOMEM ORGULHO
HOMEM PODER
Homem
homem..
homem pó
pó.
Composições feitas em 14 de Junho de 1978.
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