CAPÍTULO 5 REMINISCÊNCIAS Da Saga de Kira



No ano décimo, do reinado de Adonias, da dinastia dos Caravaglios, no vale de Ikawa, a sudeste da terra do fogo. Teve início um grande período de dificuldades. Os Avatares estavam padecendo de uma doença misteriosa. As mudanças eram visíveis na população. Ainda mais entre os aldeões. O corpo apresentava erupções, como se invadido por algo que o deformava. Em questão de minutos, algo percorria o corpo todo. Indo da cabeça aos pés. O suposto elemento invasor provocava erupções momentâneas. Causando um aumento do órgão por onde passava. Se estivesse na cabeça ou qualquer dos membros, aumentava-o de tamanho deformando-o. Males ocorriam também nas searas. As plantações, entraram num processo de autodestruição. Não tardaria e os suprimentos de alimentos começariam a escassear. A grande floresta acometida de males, a tornara sombria. Dava arrepios contemplá-la, quanto mais ter que entrar lá. Exóticas papoulas enrugadas, estupendas tulipas, enegrecidas e murchas. Os animais estavam desaparecendo. Os que sobreviviam apresentavam sintomas de doença estranha. Mesmo as espécies mais dóceis, do nada explodiam em ataques de fúria contra os demais do bando. Caiam ao chão espumando, e era o fim. O próspero reinado de Caravaglio do rei Adonias, e do príncipe Adonis, que até então gozara da mais completa paz e harmonia, viu a ruína e a destruição crescer feito erva daninha. O rei convocou a suprema corte confabularam. Consultaram o oráculo dos mil anos. E decidiram então enviar um grupo composto dos mais valentes guerreiros, em uma missão para descobrirem novas terras para a qual o reinado de Caravaglio pudesse se exilar por um período até passar o mal que se abatera. Kira pelo fato de pertencer ainda que distante a linhagem, era bisneto do terceiro rei da dinastia Caravaglio seria convidado a comandar a tropa de aventureiros, a tão importante missão. Não podia recusar. Teria que escolher um a um, os bravos guerreiros que faria parte da caravana.

Kira estava na caverna do diabo. O cão o negro o acompanhava, de longe. Eis que teve uma visão bem interessante. Viu a uma irmã, que jamais pensara que tivesse. Via-a como a um filme, estava abraçada com uma amiga de infância. Beijavam-se, na boca. Não sabia que tinha uma irmã, precisava encontrá-la.A vida inteira viveu essa busca pelo pai e os irmãos. Encontrá-los era meta primordial. A única que Kira sabia onde estava era a mãe. Precisava encontrar os demais. Conversar com cada um, sobre como teriam vivido estes anos todos. A irmã bastarda, fruto do relacionamento do seu pai com a índia eremita. Fora abandonada pela mãe pra morrer no meio da mata. Era rito da tribo, toda índia que tinha filha mulher rejeitava a cria. As mais fortes conseguiam sobreviver. Tinha algumas que as mães criavam escondidas. Como será que escapou? Como se chamava? Lembrou dos irmãos, e que a mãe poria nos seus irmãos os nomes tirados da gravura da santa ceia que tinha na cozinha de casa. Seriam esses os nomes dos irmãos: Mateus, Bartolomeu, Thomas, Felipe, Lucas, Natanael, João, Marcos, André, Tadeu e Simão Pedro. Somente ele Kira, não tivera o nome tirado da gravura. Talvez, porque sua mãe não quis colocar o nome de Judas Iscariotes em um filho. E a irmã? Descobriu que se chamava Polidarta-an. Fruto de relacionamento extra conjugal, entre o pai e uma índia Ikawa.  Era a primeira vez que via a irmã. Estava com uma amiga. De repente as duas se beijaram. Acariciavam-se e beijavam-se, na boca. Kira nada tinha contra. Mas sabia, quantas discriminações devia enfrentar, por ser assim. Iria a seu encontro. Precisavam conversar.

Aconteceu que o povo de Ikawa, em seu exílio, ao atravessarem um território desconhecido no vale tenebrosos de Luwana foram surpreendidos com um ataque de um povo de uma ilha além do estreito de Xan-thu-athan que quer dizer cabeça de fogo, na língua Ikawana. Os nativos eram de pele escura, pintavam o corpo com uma espécie de lama branca. E tinham no meio da cabeça uma fileira de cabelos cor de abóbora que descia como um rabo pelas costas. O ataque foi sangrento. Houvera mortes dos dois lados. Adonis o príncipe herdeiro do trono de Adonias estava presente e lutou bravamente. Acontece que acabou perdendo um olho. Um dos nativos, guerreiro da ilha do fogo atingiu-lhe o olho esquerdo com uma flecha. A seta do nativo atingiu o globo ocular, fazendo saltar da cavidade óptica, indo rolar por terra. O príncipe desnorteado empreendeu fuga. Tinha, porém, tinha a esperança de recuperar o olho perdido. Muitos anos se passaram. O príncipe teve que se  acostumar a ver o mundo pela metade. Passou a usar tapa-olho para cobrir a marcar da tragédia. E ultimamente ficara sabendo que seu olho arrancado, fora cair nas mãos de um alquimista, que o transformou em uma pedra preciosa. E que devido ser um olho de um descendente da nobreza dos Caravaglio atribui-lhe poderes mágicos. 

O olho feito pedra preciosa viajaria milhares de quilômetros pra longe de sua origem. Passaria pelas mãos de muitos feiticeiros, de magos que negociavam por consideráveis fortunas com monarcas dizendo que possuía poderes brilhantes. Feitos incríveis seriam atribuídos ao olho mágico do príncipe Adonis. A pedra preciosa na mão de pessoa má podia ocasionar poderes tais como, desaparecer debaixo das vistas de quem quisesse. Certa vez um mago ladrão mesmo, escapou de uma prisão real por estar de posse do olho. E o fez tão somente para prova ao rei de terminada província do poder que a pedra tinha. Era capaz também de provocar uma tempestade, uma inundação, um incêndio, um eclipse solar, um terremoto e outras catástrofes. Tudo podia, mediante a apresentação do olho de Adonis e a recitação de uns versos de um oráculo escrito na língua ikawana. O olho vagou pelo mundo, indo parar na mão de uma feiticeira que o roubou de um conde nas terras do terceiro mundo inferior. O rei queria saber se Kira estaria disposto a participar da busca ao olho perdido do seu filho Adonis. 

No vale tenebroso Kira iria passar pelo crivo do guerreiro do ódio. O primeiro pecado capital. O enfrentante tinha que se armar de uma qualidade, uma virtude que praticamente  inexistia nele, o perdão. Para cada pecado capital o andante precisava de um antídoto, para o ódio, o perdão. Se não  possuísse, em seu coração, era morte certa. Kira bem sabia, não estava limpo daquele mal. Sabia muito bem o risco que corria.

13 de julho de 2019.

POESIA:       CREPÚSCULO

SOB A TARDE CRIANÇAS BULIÇOSAS
EM ARENGA
CORREM, PULAM E SE PERDEM NO QUARTEIRÃO
VENDEDORES: 
OLHA A PIPOCA! OLHA O PÃO!
ESTUDANTES EM DISCUSSÃO,
DESFILAM SEM PREOCUPAÇÃO
 OUTRO A DIZER NÃO!
ALEGRE VOLTA DA ESCOLA
SOB OLHARES DO CLARÃO
SOL E SOMBRA
NO QUARTEIRÃO
SOMBRA E ESCURIDÃO
A TOMAR CONTA DO MUNDO
O VENDEDOR QUE SE VAI...
CONVERSA RAPAZ
UMA CRIANÇA QUE CAI...
LAMENTOS DE ANIMAIS
SUSSUROS DE APAIXONADOS
E ABRAÇOS...
SOMEM, E O MANTO NEGRO
O MUNDO VAI COBRINDO
HORA DE MEDITAÇÃO...
HORA DA AVE-MARIA
CORAÇÕES ABALADOS
CAIR DE PRANTOS, LAMENTAÇÕES
EU NA JANELA, CONTEMPLO
O TEMPO
SOB A LUZ DA VELA
TUDO ESCURO...ESQUISITO...
LÁ FORA É NOITE.

Composição de 14 de junho de 1978.
O desenho ilustrativo é arte de meu neto (9 anos) Thomas Kael. 





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