No ano décimo, do reinado de Adonias, da dinastia dos Caravaglios, no vale de Ikawa, a sudeste da terra do fogo. Teve início um grande período de dificuldades. Os Avatares estavam padecendo de uma doença misteriosa. As mudanças
eram visíveis na população. Ainda mais entre os aldeões. O corpo apresentava erupções, como se invadido por
algo que o deformava. Em questão de minutos, algo percorria o corpo todo. Indo da cabeça aos
pés. O suposto elemento invasor provocava erupções momentâneas. Causando um aumento do órgão por onde passava. Se
estivesse na cabeça ou qualquer dos membros, aumentava-o de tamanho deformando-o. Males ocorriam também nas searas. As plantações, entraram num processo de autodestruição. Não
tardaria e os suprimentos de alimentos começariam a escassear. A grande floresta
acometida de males, a tornara sombria. Dava arrepios contemplá-la, quanto mais ter que entrar lá. Exóticas
papoulas enrugadas, estupendas tulipas, enegrecidas e murchas. Os animais
estavam desaparecendo. Os que sobreviviam apresentavam sintomas de doença estranha. Mesmo as espécies mais dóceis, do nada explodiam em ataques de fúria contra os
demais do bando. Caiam ao chão espumando, e era o fim. O próspero
reinado de Caravaglio do rei Adonias, e do príncipe Adonis, que até então gozara da mais completa paz e
harmonia, viu a ruína e a destruição crescer feito erva daninha. O rei convocou
a suprema corte confabularam. Consultaram o oráculo dos mil anos. E decidiram então enviar um grupo composto dos mais valentes
guerreiros, em uma missão para descobrirem novas terras para a qual o reinado
de Caravaglio pudesse se exilar por um período até passar o mal que se abatera. Kira pelo fato de pertencer ainda que distante a linhagem, era bisneto do terceiro rei da dinastia Caravaglio seria convidado a comandar a
tropa de aventureiros, a tão importante missão. Não podia recusar. Teria que escolher um a um, os bravos guerreiros que faria parte da caravana.
Kira estava na caverna do diabo. O cão o negro o acompanhava, de longe. Eis que teve uma visão bem
interessante. Viu a uma irmã, que jamais pensara que tivesse. Via-a como a um
filme, estava abraçada com uma amiga de infância. Beijavam-se, na boca. Não sabia que tinha uma irmã, precisava encontrá-la.A vida inteira viveu essa busca pelo pai e os irmãos. Encontrá-los era meta primordial. A única que Kira sabia onde estava era a mãe. Precisava encontrar os demais. Conversar com cada um, sobre como teriam vivido estes anos todos. A irmã bastarda, fruto do relacionamento do seu pai com a índia eremita. Fora abandonada
pela mãe pra morrer no meio da mata. Era rito da tribo, toda índia que tinha filha mulher rejeitava a cria. As mais fortes conseguiam sobreviver. Tinha algumas que as mães criavam escondidas. Como será que escapou? Como se chamava? Lembrou dos irmãos, e que a
mãe poria nos seus irmãos os nomes tirados da gravura da santa ceia que tinha
na cozinha de casa. Seriam esses os nomes dos irmãos: Mateus, Bartolomeu,
Thomas, Felipe, Lucas, Natanael, João, Marcos, André, Tadeu e Simão Pedro. Somente ele Kira, não tivera o nome tirado da gravura. Talvez, porque sua mãe não quis colocar o nome de Judas Iscariotes em um filho. E a irmã? Descobriu que se chamava Polidarta-an. Fruto de relacionamento extra conjugal, entre o pai e uma índia
Ikawa. Era a primeira vez
que via a irmã. Estava com uma amiga. De repente as duas se beijaram. Acariciavam-se e beijavam-se, na boca. Kira nada tinha contra. Mas sabia, quantas discriminações devia enfrentar, por ser assim. Iria a seu encontro. Precisavam conversar.
Aconteceu que o povo de Ikawa, em seu exílio, ao atravessarem um
território desconhecido no vale tenebrosos de Luwana foram surpreendidos com um ataque de um povo de uma ilha
além do estreito de Xan-thu-athan que quer dizer cabeça de fogo, na língua
Ikawana. Os nativos eram de pele escura, pintavam o corpo com uma espécie de lama
branca. E tinham no meio da cabeça uma fileira de cabelos cor de abóbora que
descia como um rabo pelas costas. O ataque foi sangrento. Houvera mortes dos
dois lados. Adonis o príncipe herdeiro do trono de Adonias estava presente e
lutou bravamente. Acontece que acabou perdendo um olho. Um dos nativos,
guerreiro da ilha do fogo atingiu-lhe o olho esquerdo com uma flecha. A seta do nativo atingiu o globo ocular, fazendo saltar da cavidade óptica, indo rolar por terra. O príncipe desnorteado empreendeu fuga. Tinha, porém, tinha a esperança de recuperar o
olho perdido. Muitos anos se passaram. O príncipe teve que se acostumar a ver o mundo pela metade. Passou a usar tapa-olho para cobrir a marcar da tragédia. E ultimamente ficara sabendo que seu
olho arrancado, fora cair nas mãos de um alquimista, que o transformou em uma
pedra preciosa. E que devido ser um olho de um descendente da nobreza dos
Caravaglio atribui-lhe poderes mágicos.
O olho feito pedra preciosa viajaria
milhares de quilômetros pra longe de sua origem. Passaria pelas mãos de muitos feiticeiros,
de magos que negociavam por consideráveis fortunas com monarcas dizendo que
possuía poderes brilhantes. Feitos incríveis seriam atribuídos ao olho mágico
do príncipe Adonis. A pedra preciosa na mão de pessoa má podia ocasionar
poderes tais como, desaparecer debaixo das vistas de quem quisesse. Certa vez
um mago ladrão mesmo, escapou de uma prisão real por estar de posse do olho. E
o fez tão somente para prova ao rei de terminada província do poder que a pedra
tinha. Era capaz também de provocar uma tempestade, uma inundação, um incêndio,
um eclipse solar, um terremoto e outras catástrofes. Tudo podia, mediante a
apresentação do olho de Adonis e a recitação de uns versos de um oráculo escrito
na língua ikawana. O olho vagou pelo mundo, indo parar na mão de uma feiticeira
que o roubou de um conde nas terras do terceiro mundo inferior. O rei queria
saber se Kira estaria disposto a participar da busca ao olho perdido do seu
filho Adonis.
13 de julho de 2019.
POESIA: CREPÚSCULO
SOB A TARDE CRIANÇAS BULIÇOSAS
EM ARENGA
CORREM, PULAM E SE PERDEM NO QUARTEIRÃO
VENDEDORES:
OLHA A PIPOCA! OLHA O PÃO!
ESTUDANTES EM DISCUSSÃO,
DESFILAM SEM PREOCUPAÇÃO
OUTRO A DIZER NÃO!
ALEGRE VOLTA DA ESCOLA
SOB OLHARES DO CLARÃO
SOL E SOMBRA
NO QUARTEIRÃO
SOMBRA E ESCURIDÃO
A TOMAR CONTA DO MUNDO
O VENDEDOR QUE SE VAI...
CONVERSA RAPAZ
UMA CRIANÇA QUE CAI...
LAMENTOS DE ANIMAIS
SUSSUROS DE APAIXONADOS
E ABRAÇOS...
SOMEM, E O MANTO NEGRO
O MUNDO VAI COBRINDO
HORA DE MEDITAÇÃO...
HORA DA AVE-MARIA
CORAÇÕES ABALADOS
CAIR DE PRANTOS, LAMENTAÇÕES
EU NA JANELA, CONTEMPLO
O TEMPO
SOB A LUZ DA VELA
TUDO ESCURO...ESQUISITO...
LÁ FORA É NOITE.
Composição de 14 de junho de 1978.
O desenho ilustrativo é arte de meu neto (9 anos) Thomas Kael.
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