A Tempestade Cap. 11






Senhor Jeremias iniciou a contar sua versão. Disse assim: Logo cedo, como era dia de feira, fui a vila, comprar alguns mantimentos. Depois de tudo comprado, fui a taberna tomar umas cachaças! Todo dia de feira era assim. Ao cair da tarde, porém, o tempo mudou. Percebi que retornaria a casa, debaixo de uma tempestade! O mundo de repente escureceu. Debaixo de um forte temporal retornei! Chovia, como a muito não chovia nesta região. E eu estava muito bêbado! A carroça, no barranco do açude, quase virou. Pois era muita lama, a água abrira crateras na estrada. Por conta dos relâmpagos e trovões, a égua cheia de pavor, dava coices e empinadas bruscas. Apliquei-lhe muitas chicotadas. 

Ao chegar ao terreiro da choupana, desfiz a carga. Ajuntei os atavios no alpendre. Completamente molhado entrei em casa. Na cozinha encontrei Marta, esta mulher com quem convivi todos esses anos. Estava na companhia de sua irmã, Suzana. Se aqueciam entorno do fogão. As duas conversavam conversa baixa, de fuxico. E fecharam a cara, ao perceberem que eu estava completamente bêbado. As crianças, já estavam no quarto. Fui até a dispensa, abri um garrafão de aguardente, que tenho guardado, para certas ocasiões. A trovoada cantava sua música, e os acordes eram como reprimendas vindas dos céus. Furioso, os céus queriam repreender ou castigar, fosse lá quem fosse. 

Olhei pela janela e vi que o chiqueiro das aves estava aberto. Patos, marrecos, pintos e galinhas andavam debaixo da chuva. Com raiva, pois sabia, muitos pintinhos iriam morrer, dei tiros para que as galinhas procurassem abrigos. Acabei acertando um pato. Busquei a ave morta, no meio do terreiro. Falei pra Marta que cuidasse daquele pato. Eu queria comer pato frito, com cachaça. 

Na cozinha deu-se início uma contenda. Pois, a minha cunhada Suzana não aceitava que Marta, sua irmã àquela hora da noite tivesse que aprontar um pato pra mim comer. A discussão rapidamente se tornou uma briga. E este velho que vos fala, teve que fazer valer quem era que mandava ali! Eu disse a minha cunhada que desaparecesse da minha casa. Eu a expulsei da minha casa! E tinha mais, era pra ela deixar a casa naquele instante, em plena tempestade! Então Suzana, apelou, disse que se tivesse que sair dali expulsa daquele jeito, nunca mais voltaria lá. A briga estava feita. Acusei-a de invejosa. Ela revidou dizendo que eu não passava de um velho, bêbado! Daí eu parti pra dar-lhes uns bofetões. Marta entrou na briga. 

Apavoradas as crianças fugiram para o mato. Pois tinham medo de brigas. Pois temiam no que podia dar. Era provável que foram pedir abrigo a alguém da vizinhança. Só sei que sumiram. Toda vez era assim. Suzana com raiva, virou a panela com a carne de pato, ficou tudo derramado no meio da casa. Tomado de ódio não contei conversa. Dei-lhe um murro. Ela caiu, ao levantar-se se apossou da espingarda doze, que ficava pendurada na parede. E atirou contra mim. Saquei o revólver e atirei nela! Aconteceu que Marta se atravessou na frente, e foi atingida no pescoço, pelo tiro que eu dei. Marta morreu, nos braços da irmã. Um raio caiu num pé de cajueiro que ficava no oitão da choupana. O estrondo foi tão forte que encheu a todos de pavor. Por instante fiquei cego e os ouvidos doíam. 

Mesmo baleado, consegui sair de casa, e fui tentar a montaria pra tentar socorro. Ao atravessar o terreiro, indo em direção a cocheira pra pegar a égua, meu coração deu um baque, ao ver o que via, Pedro e Cecília, embaixo do pé de cajueiro, mortos. Os dois, haviam sido atingidos pelo raio. 

Coloquei os corpos das crianças bem aqui, debaixo dessa árvore. Eu tinha perdido muito sangue, acabei não resistindo. E dei meu último suspiro bem ali, naquele pedaço de raiz retorcida. Suzana, resolveu pendurar todos nós, nesta árvore. Sua intenção era me incriminar. Ela foi até a delegacia, e contou à polícia que eu, havia surtado, e matado a todos. E em seguida me enforcado, bem aqui. Era uma álibi perfeito, todos sabiam das brigas frequentes que ocorriam nesta casa, por causa das minhas bebedeiras. Suzana, acabaria ficando como única herdeira da propriedade da irmã. Era tudo o que mais queria. Maldita invejosa. Foi o que realmente ocorreu senhor Djalma.

01 de Agosto de 2020. A ilustração deste capítulo, é a capa do disco Long play "AMADEUS" de 1985.

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