Os dias frívolos tão próximos. O
ano amanhecera. As coisas estavam com novo gosto. Gosto de fruta fresca.
Jabuticaba tirada de manhãzinha. Orvalhada. A rua desenhada pra não ter muito o que fazer.
De ir ver se tinha água na torneira do jardim. Dia de tomar uma Ave Maria
olhando pro azul. E encher o peito de alegria, e firmeza.
Os patos brancos nadavam. Os
homens apostavam em animais, apostavam e suas sortes estavam lançadas. Cavalos
viviam vida de tropel. Carregavam seus donos para onde quisessem ir. Napoleões
e Lampiões. Mulheres sensuais vivam de sua beleza. Aquela mulher na praça.
Alucinação. Parada, e causou torpor. De arrancar alucinadamente a paz de um
homem. De vários homens.
As crianças brincavam. As
crianças sempre brincavam. Eternamente brincavam e com isso traziam a paz bem
pra dentro do que ainda não acontecera. Nada disso, era controlado por Deus. Tudo
isso vinha sob suas vistas. As nuvens, nunca foram feitas pra compor. A tarde.
Se os meninos soubessem o que viria não corriam tanto. E os pingos de uma não
chuva desafrontaram o crer. O inimaginável. O insondável. O inflável. Infalível.
Falível.
As meninas são muito mais
inteligentes que. Elas brincam fazendo de conta que são. E são de verdade. Se a
mãe deixasse, o mundo se encarregaria de crescer de tal maneira que já não
caberia dentro de casa.
As aranhas. Delas que são
venenosas. A aranha subindo a parede. A mãe na cozinha. A cozinha cozinhando. A
aranha caiu dentro da panela de feijão. A mãe levou a boca um pouco do caldo
fumegante, aroma suculento da leguminosa. O lábio inchou na hora. A febre, o
frio, a dor de cabeça. O calafrio. Alguém está aí? Não havia ninguém. Alguém
está aí? Sim. Estou aqui. Como assim estou aqui? Não estou lhe vendo. Por que
sou apenas sua alucinação. João?
O circo é carnaval. O carnaval é
um circo fora de época. A neta chegou, dos pés a cabeça coberta de massa de
maisena. O carnaval da escola? Não vô, estamos de férias. Foi um retiro de
carnaval. A Arlequina faltava um dente incisivo. Lembrou a capa do disco do
Pastoril do Faceta. Por trás de um rosto alegre tem sempre uma pessoa alegre. A
tarde fica frívola. O parque e os bambolês. As placas de folhas de zinco
coloridas. Tinha um que era a figura de um palhaço com uma bocarra sorridente
dizendo: hahahahahahaha!
Se os meninos quisessem viriam
sobre os fios da telefônica. Equilibrando seus monociclos e suas sombrinhas
coloridas giravam, alucinadamente rodopiavam. E se pudesse olhar nos seus
olhos. Não conseguiria. A dama do teatro foi teatrar no palco mais alto. As
pastorinhas. As roupas de mangas bufantes. As lantejoulas, camurças, a
purpurina.
Os blocos de carnaval desfilavam.
O sol quente não dava pra dizer se meio dia. O bloco do sujo vai batendo na
lata. O bobo estalando o relho. O apito gutural de amedrontar menino. De casa
em casa. Tempo de esconder os bibelôs, os bichinhos de estimação, os passarinhos.
O carnaval vira a casa de cabeça pra baixo. O piso ficava grudento de pó. O
cheiro forte de cerveja. Lança-perfume e urina. O banho de chuveiro com roupa e
tudo. A casa toda molhada. Frenesi. Priiiiiiiiiiiiiiii! Priiiiiiiiiiiiiii!
Era uma vez um filho. Um rapaz
apenas. Um bom moço, e tinha sonhos. E tinha uma concubina. Segunda-feira de
carnaval. Vestiu-se como quem ia pro frevo, pras maratonas. No rádio. A
marchinha de carnaval. “Sapato sem meia/ calça apertada/ cabelo de lado/esse
cara é transviado/ Diz que é do twist/ e que só dança o La Bamba/ Essa cara não
é de nada/ Nem dança nem samba...” Pam param param param Pam param param Varre!
Varre! Varre! Vassourinha...
Já ia tarde a noite. O frevo
invadia as ruas. O que se vivia, as ruas, o rádio reproduzia. Pra onde tu vai
menino? Pro frevo, mãe. Mentia. A Colombina na cabeça. A concubina. A
Arlequina. O bordel fervia. Um gigolô armado de faca. Um menino ia morrer. “Um
Pierrô apaixonado que via só cantando/ por causa de uma colombina acabou
chorando/ acabou chorando...”
O menino desistira de ir ao
cabaré. Atendendo o pedido da sua mãe. Foi deitar-se. Na cabeceira da cama, o
rádio ligado. “Sassassaricando/ o brotinho a viúva e a madame.” No outro dia. A
cidade. Ficou sabendo? no baixo meretrício um homem esfaqueou uma mulher.
Morreu a colombina. Era terça-feira de carnaval.
“Nasceu Maria quando a folia/
Perdia a noite ganhava o dia/ e foi de cinzas seu enxoval/ Viveu apenas um
Carnaval. (Roberto Carlos)”
Fabio Campos, 12 de janeiro de
2019.
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