Cap.
17 Da Saga de Kira
Kira
estava morrendo, tinha que aceitar isso. Tantas vezes na vida teria dito pra si
mesmo que aceitaria a morte naturalmente. A morte sempre a tivera como doce
amiga. Agora que essa possibilidade era algo muito concreto, via que não era
bem assim. Estava morrendo de que? O porquê, pouco importava. A causa da morte,
talvez. Não era exatamente por conta dos ferimentos. Estava tendo uma
broncopneumonia? Cadê o ar nos pulmões? Era um indício.
Não
havia nada no mundo que uma xícara de café quente, fumegante não resolvesse.
Cafeína injetada nas veias, era garantia de taxa extra de noradopamina, que ia voando pelas sinapses
neurais, provocando descarga elétrica de efeito desfibrilizanter, e que tanto
ajudava a relaxar. Tornando a vida um
espasmo de corpo como de um quase afogado.
Os mundos todos inclusive o dos humanos agonizava. A
devassidão grassava. Samuel, estava muito triste, foi falar com Deus. Não
entendia. Eles queriam um rei para adorar. Deus disse, dais a eles um deus para
adorar Samuel. Antes dizei ao povo, as atribuições de um rei. Tiranizar seus súditos,
castigá-los com pesados trabalhos, extorquir, confiscar bens, impor pesados
impostos. Mentir, fraudar, mentir, roubar, mentir, enganar, mentir. Mesmo assim queriam um rei para servir.
Aquela
fumaça azulada, ajudava a acelerar o processo. Uma coisa aprendera durante o tempo que pertencera ao mundo dos vivos: não era fácil viver. Não era fácil aceitar a realidade quando tratava-se de uma realidade diferente da planejada, ou mesmo esperada. Um filme de sua vida lentamente ia passando na sua memória. Em segundos. Mas que mais parecia uma eternidade. Revia momentos bons e ruins de sua vida, de humano. Se coisas boas surgiam o cenário
era de paz, as nuvens claras as envolvia. Momentos de família reunida, abraços,
as palavras com certa sinceridade. Mudava em vermelho sanguíneo o pano de fundo
se sobrevinham cenas de discórdias, desavenças, provocações. Tudo fora na vida provações.
O
sentir nunca jamais fora algo natural. A alma das coisas ficavam olhando o que
as pessoas planejavam fazer, mesmo que na mente nada estivesse sendo planejado, nada preparado para acontecer, para ser
feito dessa ou daquela forma. Os pelos de um cão são diferente dos pelos de um gato. Desde a
tonalidade ao cheiro, os óleos fluidos dos poros inexistentes, de glândulas inexistentes. Kira não tinha
planos para voltar. O que a vida quisesse fazer com ele seria muito bem vindo, muito bem aceito. Ainda que a morte fosse os planos que a vida reservava pra ele, naquele momento. Concluiu que chegara num estágio da vida que qualquer
acontecimento seria de bom grado aceito. Tudo dali por diante era lucro, com todos os
desdobramentos possíveis, e inimagináveis.
Kira
em estado de cão-filosófico, concluía que sua vida fora uma sucessão de
desencontros, brigas, guerras espirituais, batalhas materiais, alternadas por momentos de trégua, de paz. Concluía que
a maior briga que travava era contra ele mesmo. Kira estava cansado de saber, e mais ainda naquele instante se conscientizava que seu maior inimigo sempre fora, ele próprio.
Um
cão daquela raça vivia no máximo sete anos. Já estava na metade de sua existência como cão.
Ponderou: E se quando morresse voltasse pro corpo de humano? Então não seria o caso de dar um jeito de apressar a morte? Era possibilidade plausível.
Resolveu que, dali por diante viveria perigosamente. Assim o fez. Como diz o ditado: "Quem procura, acha."
Foi
se encontrar num vagão velho de um trem abandonado. De companhia um mendigo,
que dormia sob o efeito do álcool. Não demoraria e adormeceu também. Acordou
cedo, antes do homem solitário. Se preparava pra ir embora quando alguém o chamou. Pra
seu espanto era chamado pelo nome. Mas como? Aquele pobre homem sabia dele, enquanto cão? Talvez se tratasse de um feliz coincidência? O homem repetiu: -Olá
Kira? Como tem passado? Incrível aquele homem começou a contar sua própria
história para o cão. Falava como quem conversava com outra pessoa. Disse que um dia fora um cidadão respeitado, dono de muitos bens. E que perdera
tudo com mulheres, aventuras, bebidas e jogos de azar. Possuíra um cachorro que se chamava Kira. E como achou-o muito parecido com o cão, assim o chamou. Kira não conseguia ver nenhuma semelhança entre aquele mendigo e
Seu Carriglio dono da “Chácara Nova Esperança”. De certeza aquilo não tratava-se apenas de coincidência.
O
vale das ninfas era uma planície quase deserta. Havia algumas poucas
edificações muito antigas. Um anfiteatro, muitas galerias subterrâneas, onde os
povos sobrevivam. Lembrava em muito o cenário do filme “Jesus Cristo Super
Star”. Uma personagem do filme estava lá, um homem negro trajando roupas da
década de sessenta, calça boca de sino, sapato cavalo de aço, cabelo black
power. Apenas surgiu e evocou as músicas dos “Jackson’s Five”. Trazia um controle
remoto na mão, a um toque mudou a cor do céu de azul pra vermelho. Mais um toque
digital, e a escassez do sertão mudou em gelo siberiano. A possibilidade de poder mudar a cor do mundo daquela forma, muito entristecia Kira.
P.S. A GRAVURA QUE ILUSTRA ESTE EPISÓDIO, CAPÍTULO 17 DA SAGA DE KIRA, É "Esquirtle" desenhado por meu neto Thomas Kael. Ele utilizou papel Sulfite, lápis de cor e grafite. Este e outros desenhos que publicaremos aqui, foram usados para decorar a mesa com o bolo, ontem no seu aniversário de 10 anos de idade.
VERDADE
NUA E CRUA É A VERDADE. SE NÓS A VESTIMOS OU A COZEMOS É PROBLEMA NOSSO. POIS A VERDADE HABITA ETERNAMENTE NOSSAS CONSCIÊNCIAS. SE POR ACASO, ALGUÉM ME DIZ QUE SOU MAU, PARA ÀQUELA, OU DEMAIS PESSOAS, SEREI SEMPRE MAU. ATÉ QUE SE POSSA PROVAR O CONTRÁRIO. E UMA NOVA REALIDADE POSSA ENTÃO ME LIBERTAR.
A VERDADE, É A MAIS FORTE DAS ARMAS PARA UMA PLENA E TOTAL LIBERDADE ESPIRITUAL.
QUANDO USAMOS DA VERDADE, LIBERTAMOS E SOMOS LIBERTADOS.
NÃO SE DEVE (OU A PRINCÍPIO NÃO SE DEVERIA!) EXIGIR DE ALGUÉM A VERDADE. POIS SE ASSIM O FIZERMOS, ESTAREMOS PERDENDO A CONFIANÇA EM NÓS MESMOS (E POR EXTENSÃO NO PRÓXIMO). A VERDADE DEVE EXISTIR NORMALMENTE NOS (CORAÇÕES DOS) HOMENS.
P.S. Texto concebido em: 11 de Setembro de 1978. A mais de 40 anos, pelo autor do Blog Fabio Campos. *Observação: O Autor, no momento de digitar em 15 de novembro de 2019, se achou no direito de acrescentar algumas palavras, e são estas que estão dentro de parênteses.
PENSAMENTOS
CEGO NÃO É QUEM NÃO VÊ; E SIM QUEM NÃO LÊ.
O MUNDO É UM BARCO NO MAR UNIVERSAL, NUMA VIAGEM CONTÍNUA, ONDE SOMOS TODOS PASSAGEIROS E TRIPULANTES.
ENVELHECER VAMOS TODOS, MAS MAIS RÁPIDO AINDA OS QUE NÃO SE ATUALIZAM.
CURRICULUM VITAE É UMA FORMA DE ESCRAVIDÃO. EM QUE OS HOMENS OPTAM VIVER.
A AMBIÇÃO É UMA FORMA DE ORGULHO.
O ORGULHO E A HUMILDADE SÃO COISAS TÁO PRÓXIMAS, ASSIM COMO O BEM E O MAL.
Concebi estes pensamentos no dia 20 de outubro de 1978.
VOA, POMBA BRANCA
I
CÁ ESTOU
NESSA GRAVURA
DE UM BELO EXUBERANTE
MÃE NATUREZA
CONVIDA-NOS
A ADMIRÁ-LA
II
TÃO BELO,
MAIOR NÃO HÁ
NEM ONTEM, NEM AMANHÃ
NÃO HÁ
VERDE RASGADO
NEM BALBÚRDIA
III
TODOS ESTÃO
ALÉM...
ONDE HÁ: FRIEDEN! LIPAVN!
F'FT! PAIX! PEACE!
PAZ...
IV
CRIANDO ASSIM
UM "QUANTUM" DE PAIXÃO.
FRÁGIL É A BRISA!
V
ASSIM COMO DE OUTROS...
DESSE SONHO, TAMBÉM
NÃO QUERO ACORDAR.
POESIA, CONCEBIDA EM 19 de OUTUBRO DE 1978. DIGITADA NA ÍNTEGRA NO DIA 15 DE NOVEMBRO DE 2019.
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