DEBAIXO DA CRAIBEIRA Capítulo 3 IN[Z]NANO[S]
A centenária craibeira da encosta do rio testemunha muda de tantos acontecimentos vis, torpe, insanos. Infância, juventude, idade adulta e velhice o vegetal secular vivera ali. A tudo assistira. Dali mesmo, testemunhou eclipses lunares e solares, guerras entre povos e nações, explosões nucleares, terremotos, erupção vulcânicas, brigas ferozes de animais mitológicos: vampiros, fantasmas, gnomos, dinossauros, linces e serpentes gigantes. Presenciou aterramentos e assoreamento do rio, planeamento de vales e elevações de montanhas. Ao ponto de ser totalmente encoberta por terra numa era, e ser submersa por completo por água noutro período. Na noite em que Seu Antônio embriagado, foi repousar sobre seus galhos, de poucas folhas naquela época do ano. Era janeiro, mês em que se espera as trovoadas. Era o dia do aniversário de sua mãe. A vitrola tocava “Coração apaixonado”, de Julio Iglesias. Bastava a música acabar, e logo alguém ia lá, e colocava para tocá-la novamente. A bebida, fez a sala rodar e rodar, nesse rodopio feito dança, como em câmara lenta, foi ao chão, levando todos que se interpuseram ao caminho do embriagado carrossel. Houve revolta de alguns, reprovação de outros, dele mesmo, teve sentimento de culpa. Teve exílio noturno.
A rua deserta, calada, assistiu. As folhas negras, a noite negra, o pensamento aturdido, desbotado pelo álcool. O vento morno das noites quentes abraçou feito sentimento triste, que envolvia. Buscaria um lugar que o acolhesse. A encosta
do rio, era ideal. Caminhou um caminho torto, torpe. As pessoas que nunca vira,
jamais entenderia. Não viram o acontecera. Não o podiam julgar. O rio, o único amigo com quem poderia compartilhar aquela dor,
aquela agonia. Fez da ribanceira sua
cama. Ali se deitou, e dormiu, dormiu um sono adornado de choro, de lágrimas, e solidão. O
mundo não o entendia. Jamais o entenderia.
E sonhou, no sonho viu uma selva. Selva plástica,
artificial, com cheiro e sabor de algo feito por mãos humanas. Selva feita de
cartolina e papelão, um céu de papel machê, árvores de galhos de papel quarenta
e folhas de papel A4, pintadas com tinta guache. Onças-pintadas, pintadas à mão, tigres de cola,
zebras feitas de riscos e rabiscos de lápis de cera, macacos feitos de estopa, casca de coco,
vidro e rolos de arame. Somente o gato era de pelúcia, e o menino que era Seu Antônio era de vento, e diziam que jamais
merecera viver tão infame situação.
Para sobreviver, Derick teria que lutar. Uma luta contra
outro gato selvagem que tinha a capacidade de se transformar no elemento que
lhe desse vontade: água, ar, metal, pedra, fogo. Seria, no mínimo, um embate desigual,
De sobrenatural Derick possuía a capacidade de raciocínio. Sendo que, o que
pensasse, dependendo da força positiva, podia concretizar-se no mesmo instante.
Podia também contar com a sorte.
A luta teve começo, a um movimento de uma pata e o gato
selvagem fez com que os planetas todos se alinhassem e viessem turbinados, na
velocidade da luz para cima de Derick. Com a força do pensamento, o gato abriu
uma cratera no vale que engoliu todos os planetas, feitos projéteis, que se
precipitaram no abismo sem fim.
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