Dentro do Branco Capítulo 12 da Saga de Kira
































Ser cachorro é como ser gente. Tem vantagens, assim como tem desvantagens. Ouvidos sensíveis para as explosões, de pólvoras, estampidos de tiros e qualquer estouro mais forte, certamente é uma tremenda desvantagem. A vidraça da taberna, foi a primeira a ser destruída. O conde de Valverde e Dom Pero começaram o embate, dentro do estabelecimento. Havia uma legião de guerreiros, surgidos de um mundo subterrâneo. O subsolo de Ashikawa tinha se transformado numa cidade subterrânea, habitada pelos alienígenas. Dom Pero e seus asseclas, eram aliens dentro de corpos de pessoas da chácara, e de personagens conhecidos da vila. O jardineiro, o catador de frutas do pomar, o tratador dos cavalos. Também o barman, o garçon, todas as bailarinas, alienígenas revestidos com os corpos de pessoas, que provavelmente teriam matado. 

Muitos deles achavam melhor lutar sem o incômodo revestimento humano. E por isso se desvencilhavam dos corpos que caiam ao chão. Suas cabeças assemelhavam crânios, a diferença era o aspecto metálico de capacete, os olhos dois pontos de luz. Onde devia ter a boca, uma sequência de pequenas janelinhas que deixavam com aparência esquelética, de um riso maléfico, donde saíam, ora feixes de luzes mortíferas, ora projéteis infinitamente minúsculos programados para atingir o alvo. O conde de Valverde não ficava muito atrás com sua tropa. Cavalos voadores revestidos de carapaças de metal, onde apenas os olhos e as ventas ficavam descobertas. Olhos que também emitam luzes, e as ventas soltavam gases venenosos. Centenas deles, montados por guerreiros que se pareciam com dragões, búfalos, serpentes e demônios, que vomitavam fogo de várias cores, com poder de destruição fantástico. Portavam armas potentíssimas que soltavam raios cortantes que desintegrava quase tudo que atingiam. 

A taberna virou uma sucursal do inferno. Dava pra se ouvir os urros, os relinchos e uivos dos cães, lobos cavalos mitológicos, e seres interplanetário se atracando. Os aliens quando mutilados soltavam um sangue verde luminescente. O machado que o conde portava, não apenas cortava. A lâmina afiada, no ataque ao tocar em um corpo, dependendo do material reagia de uma forma. O metal derretia, fios e circuitos explodiam ou entravam em combustão. O vidro derretia.  Se cortasse um andróide o corpo virava pó em segundos. O conde ainda segurava a cabeça de um ciborg quando foi atingido, e caiu do cavalo. O gato Brown e Kira até então apenas assistia, resolveram agir. Da sacada superior do saloon onde se encontravam começaram a acionar uma metralhadora automática, dessas que disparam mais de quinhentos tiros por minuto. As balas ricocheteavam ao bater nas carapaças dos guerreiros aliens. Os ciborgs estavam em desvantagem. Lutavam contra seres alados, o que é uma grande desvantagem. Alçar vôo quando se está lutando ajuda muito. Os feixes de luzes saídos dos olhos dos aliens, e dos seres mitológicos dava ao ambiente impressão de festa. Se alguém ligasse a vitrola  numa batida ritmada do funk, daria pra confundir o combate com uma balada. Não deixava de ser um dantesco baile. Baile macabro.

A menina, se encontrava no nada. Como podia alguém estar no nada? A menina estava. Era um sonho, de Morgana. De repente acordou, dentro de seu próprio sonho. Onde nada existia, apenas ela mesma. Andou, andou pelo nada. Era como estar numa folha de papel branco. Andou até se cansar, e resolveu parar. Sentou-se, e deitou-se. Kira apareceu lá longe. Veio vindo, veio vindo até ficar a alguns focinhos de distância dela. Começaram a conversar. Kira entendia o que a menina dizia mesmo sem nada dizer. Também a menina entendia o que Kira dizia. Ambos sequer abriam a boca. Falavam por pensamento. Morgana olhou pro cachorro, e dentro dos seus olhos via seu irmão. Eram os olhos dele. E falou da saudade que sentia. Dos longos dias de tristeza. De ter que ir morar com a segunda mãe. Amava tanto a primeira. Foi duro, como é toda separação.

Vieram lembranças. Era um apartamento de paredes feias, sujas. Um forro velho encardido. Tinha um quarto, com uma cama, uma lâmpada que vivia permanentemente acesa. Dia e noite acesa. Roupas, calçados e lençóis desarrumados. Bolsas, canetas, livros e moedas, no chão, misturavam-se com brinquedos. Havia uma sala ampla que dava numa cozinha, e num canto ficava o banheiro cuja porta ficava sempre aberta, e a lâmpada o tempo inteiro acesa, pois a menina tinha medo de portas fechadas, e de banheiro, se a luz estivesse apagada. Queria quadros bonitos, mas as paredes só tinham manchas de bolores, infiltrações de chuva. Então com um lápis grafite começou a desenhar nas paredes, ninfas duendes, castelos, rainhas e fadas que um dia viria salvá-la. Quem sabe um dia.

31 de agosto, de 2019.   




POESIA: CHUVARADA

Numa manhã ameaçadora de chuvas, o céu foi se formando, e... 

NUVEM, NUVENZINHA, NUVAÇO, NUVARADA

Tudo ficou nublado, frio, ventania. Daí as nuvens cederam e...

CHUVA, CHUVINHA, CHUVAÇO, CHUVARADA

Lá fora, tudo ficou molhado. Parado e triste, a chuva caía, corria e...

ÁGUA, AGUINHA, AGUAÇO, AGUARADA

Nos esgotos, nas bicas e valetas se iam as águas e...

CÔRREGO, CORREGUINHO, CORREGAÇO, CORREGADA

Enquanto isso, eu em casa, contemplava o aguaceiro, lá fora. De repente, uma fresta na telha deixava cair na bacia a maçante tarefa de uma goteira e...

PINGO, PINGUINHO, PINGAÇO, PINGARADA

Choveu...

Composição feita em 30 de junho de 1978.



 EU VOS DIGO! [ACRÓSTICO]

Faça a paz reinar onde chegares
Ajude sempre os necessitados
Boas ações é que lhe salvará
Igualdade para todos queira sempre
Obrigue-se a perdoar

Saiba ser mandado para poder mandar
Ore qualquer hora
Ame a Deus sobre todas as coisas
Respeite para também ser respeitado
Esperança nunca morrerá
Seja leal e honesto com todos e consigo mesmo

Cultive o bem e o bem colherá
Armas de um homem é moral e caráter
Morrer simplesmente já é um meio de salvação
Procure, e encontrará momentos felizes
Olhe alguém que sofre e estará olhando a Deus
Sua liberdade limita-se quando começa a do outro

Acróstico feito a 40 anos atrás. Exatamente em 29 de junho de 1978. Interessante que ao digitá-lo, consegui ver e sentir, que continuo concordando, e principalmente vivenciando este tipo de filosofia na minha vida. Santana do Ipanema, 31 de Agosto de 2019.

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