A CAATINGA E A SOGRA POESIA







A CAATINGA E A SOGRA     POESIA

A caatinga é um selva

A sogra um animalzinho

Uma tem vários animais

A outra um animal sozinho

A caatinga é bruta e seca

A sogra segue neste sentido

Na caatinga falta água

Na sogra falta marido

No sertão a seca é braba

A sogra é braba também

Genro e nora só faz raiva

Para ela nada convém

 A caatinga tem espinho e cobra

Tem facheiro e mandacaru

E o genro apelida a sogra

De carniça e urubu

São duas coisa distintas

Mas são parecidos na bruteza

Enquanto uma fede a morte

A outra é de rara beleza!

A caatinga e a sogra

Numa coisa são iguais

Uma ama os seus filhos

A outra os animais!

 Fabio Campos, 28 de Abril de 2021.

 

COMO EM GUERNICA Conto da Série PAND-PASC-2021.

Da janela, o horizonte, uma estrada de barro, uma encruzilhada, dava pra ver. Estava tendo mais uma de suas conversas com Deus. Mesmo sem nada dizer, dizia o quanto admirava as suas obras. Se envergonharia, de não ser agradecido, o quanto devia, pela vida que tinha. Uma música, de um desenho animado, desde que acordara, nos ouvidos. Não tinha certeza se fizera parte de um sonho, que não lembrava mais. Sempre era assim, coisas que jamais pensara que impactaram, ficavam, por muito tempo, lembrando, relembrando, meio que inconsciente. Repisando. Enquanto que outras, mais corriqueiras, e mesmo, bem mais prazerosas, e que tanto gostaria de lembrar, nunca vinham, nunca estavam lá. Caídas lá no fundo. No profundo poço do esquecimento.

Relembrava de coisas do passado. Queria, muitas vezes, pensar em coisas que não tivessem lhe causado nenhum tipo de trauma. Algo que nem tivesse influído negativamente, ou que jamais tivesse aflorado emoções fortes. De estar sentado, na praça, ao lado de um amigo, sem nada conversarem. Apenas admirando um céu, azul, cheio de nuvens branquinhas. Como nunca mais teriam visto outro igual. A moça só tinha corpo, na verdade não passava de uma menina. Sem noção, sem medo do perigo que rondava-lhe. Jamais devia conversar com estranhos. Os pais negligenciaram este cuidado, ou era falta de noção, dela mesmo. Nunca devia olhar nos olhos, de quem não conhecia. Quanto mais dirigir a palavra, fosse para quem fosse. Informações se busca em lugar seguro. De um guarda, de um sorveteiro, do rapaz da lanchonete. Nunca de um homem, sentado num banco da praça. O sentido de posse, o sentimento de domínio. Maldita pandemia.

Pensava pessoas como personagens de filmes, que um dia assistira. A moça ingênua sem noção.  A mulher negra, gorda de vestido estampado, lenço na cabeça, olhos grandes, lábios grossos. Viera tão primeiro, que a mucama de “E o Vento Levou...” Como se já estivesse em algum lugar, e tomasse forma, plasmasse, vindo a ser assim na vida. E ser de um coração grande, de um preocupar-se com os outros. Como se a vida precisasse disso. E vivê-la com pura subserviência, pura doação. Onde os próprios sentimentos, não tivessem o menor valor, o mínimo de interesse. Servir, apenas, era o que importava, era suficiente. Não precisava entender nada. Estar no mundo implicava em ser do jeito que era.

Se um pintor fosse, se tivesse que pintar a cena, que se descortinava a sua frente, precisaria de uma paleta bem simples: branco, preto, talvez um pingo de verde. O céu acinzentado, conseguiria misturando um pouco de preto com bastante branco. E ia dosando até conseguir aquele céu plúmbeo, que se fazia. Um céu assim, Djavan, num dia frio. Quase cubista. As chuvas vinham de um lado, que se não fechasse a vidraça molharia o rosto, pingos translúcidos, gelados, de umas quase lágrimas. Um quadro de Picasso.

Enquanto isso, ia a menina, solta na vida Sem sequer saber que era observada, se ia. Sem saber que um par de olhos a seguia. Talvez aquele tipo, fosse um psicopata, a estudar seus passos. Talvez aguardasse uma oportunidade para atacá-la. Seria questão de dias, de horas, de chance para que isso acontecesse. Quem sabe, nunca tivesse coragem para tanto. Sob efeito de drogas, as chances aumentavam bastante. As unhas que jamais seriam cuidadas, ruía, de nervoso, ruía. O cheiro de maça, e de uva. Aquele cheiro de chiclete, tão antigo, aroma trazido da infância. A menina, com certeza gostaria daquele cheiro. Dar-lhe-ia a cheirar. Algo na mão fechada, sujas de pigmento verde, escuro, granuloso, e limpava na roupa.

Pensava no cárcere. De quando fosse preso. E quantas bolas de futebol, o tempo que passaria na cadeia, daria pra fazer. Os pedaços de sola de couro, no formato quase de um solado de pé, costuradas a mão, uma a uma. Desde criança soubera que eram os presidiários que faziam as bolas de futebol, usadas nos campeonatos. Os bonés bufantes dos torcedores, a camisa de meia listrada, do árbitro, as chuteiras cheias de cravos. Os enormes calções pretos com detalhes em branco. Os jogadores, as torcidas dos dois times, ninguém se lembraria deles, condenados, presos. Pagando pelos seus crimes premeditados, duplamente hediondo, estuprou, e matou a vítima. Pobre menina.

Toda vez que passava na encruzilhada muitas coisas, o assolavam. Primeiro os despachos de macumba, tantas vezes encontrados ali. Trabalhos feitos, planejado por alguém que acreditava canalizar algum tipo de energia negativa, sobre a vida de uma outra pessoa. Feitiçaria, bruxaria, mandinga. E sempre havia quem, em nada daquilo acreditava. E pegava as cédulas de dinheiro, o litro de cachaça, o prato de tira-gosto. Não muito longe dali, ia dar-se ao prazer de degustar, despreocupado de qualquer tipo de vaticínio. E boêmio, sublinharia com a frase: “Só pega em quem acredita!”.

A poucos metros, outro cruzamento. Repleto de episódios, destinos cruzando-se a todo instante. O tempo todo, todo tempo, infinitamente. Anjos e demônios, seguindo, perseguindo, defendendo, seus afetos, desafetos, protegidos. As coisas ruins aparentemente sobrepujando as boas. A cravejarem as margens dos quatro braços de estradas, de cruzes, de nomes, fatídicos e silêncio. Um quadro, uma pintura que fala sem nada dizer. Como se as vidas ceifadas ali, permanecessem lá. Feito filme pausado por um controle remoto, aguardando um play, que lhes tirasse daquela infinita pausa. Paralisadas vidas, Congeladas, petrificadas, como no quadro de Pablo Picasso. Aguardavam uma continuidade que sabia-se lá, talvez jamais aconteceria.

Lembrava, e outra vez, lamentava, as perdas. Uma burra, morrera eletrocutada. Um fio de alta tensão caíra numa poça d’água. O carroceiro nada sofreu. Já o tempo, desdobrado em anos decorridos. A lembrança porém vinha toda vez que passava ali. A burra mordia o ar, os corpos mutilados pelos acidentes. Em preto e branco, suspenso no ar. Uma cruz preta, encimada de uma coroa de flores, gastas. O nome era do barbeiro, morador da última casa da ruela, da vila. A tesoura e o pente, pintados de branco na cruz negra. Os instrumentos de trabalho acompanhou-o na morte. Morte por atropelamento, naquele mesmo local. Teve quem dissesse, o motorista causador do sinistro, um desafeto do pobre fígaro. Parecia ser um homem pacato. A pele curtida, dava-lhe aparência de agricultor, de pescador. Ao cair de tarde, a ceifa, a pesca, única conseguida, a morte.

Fabio Campos, 23 de Abril de 2021.

 

LIBERTAS QUAE SERA TAMEN POESIA




NO SILÊNCIO DO CÁRCERE
ONDE ACABAM AS ESPERANÇAS
ONDE NÃO HÁ MAIS LUZ
NEM VIDA





Foto da poesia original, copiada no caderno, no dia que foi concebida: 18 de Novembro de 1978.



ONDE SÓ HÁ
O QUE NÃO HÁ MAIS


UMA ESTRELA NO CÉU
MUITAS ESTRELAS NO CÉU
TODAS ESTRELAS NO CÉU
ZOMBAM




ZOMBAM DE QUEM?



ZOMBAM DE QUEM?






DE QUEM UM DIA SONHOU
COM A LIBERDADE
NÃO SEI
NÃO SEI?





TANTOS POR QUE
SEM PORQUÊ
LIBERTAS QUE TAMBÉM
SERÁS LIBERTADO




SEMPRE QUE CHEGA ABRIL
SUBO O PATÍBULO
AS ESPERANÇAS VOLTADAS
PARA O FUTURO


FABIO CAMPOS, 18 DE NOVEMBRO DE 1978.






MAKING OFF






Na década de oitenta, descobri que os dizeres na bandeira da Inconfidência Mineira, que se tornaria até os dias de hoje a bandeira do estado de Minas Gerais, está escrito em Latim: LIBERDADE AINDA QUE TARDIA" 

 

 

ILUSÃO DE PEDRA CONTO da Série PAN-PÁSC -2021


 

Outra vez, o barulho da máquina retroescavadeira o acordou. Potência de motor, sinal de alerta na marcha ré. Trovão das pedras caindo da pá enchedeira. De fato, o céu acusava que a noite passada fora de tempestade. Os muros amanheceram molhados. A goiabeira, a mangueira, o pé de crote, todos sorriam, eram todos sorriso de orvalho. As pedras feitos mulheres nuas, com seus sexos expostos, a apreciação pública. Pudor, de mãos que não tinham, para cobrir suas vergonhas. Fissura no granito, imensa genitália, molhada. Imensos glúteos. Talvez, o desejo sexual, reprimido pela doença, fizesse ver coisas onde não existiam. As casas entumecidas, em rosáceos de flores desabrochantes. Se doando, em lânguidos beijos.

Aproveitou a noite fria, pra ir até a casa do amigo, o mesmo que reencontrara na rua. E que a tanto tempo não via. Cumpria a promessa. Viera se abrigar justo na rua, que tem umas casas altas, do lado que o sol bate nas fachadas, quando está perto de se por. Aquela escadaria, tão familiar, lembrava de um tempo morara naquela mesma rua. Também ocupara uma daquelas casas alta. A luz tênue. Um velho sofá, de braços flácidos e gordos, de morno e terno abraço. O telhado de pé direito alto, de duas águas. E lá estavam, um de frente para o outro. Por instantes apenas se olharam. O anfitrião quebrou o silêncio. Disse que, se o amigo não o tivesse reconhecido, jamais ele o reconheceria.

Lembranças, que sequer compartilhara com o amigo, vieram na volta pra casa. De um tempo, na juventude, que namorou uma menina que morava naquela vizinhança. De como ficavam os dois numa sala de varanda, conversavam até de madrugada. O pai da garota, um beberrão, enchia o saco dos dois, com suas conversas, nada a ver. Sobre futebol, de como fora seu dia, nada interessante, de motorista no departamento de obras. Mas, não demorava, e o bêbado, se recolhia. Então dava pra admirar o céu negro, ou a noite de estrelas, conversar conversa boba, de dois namorados, de flertes cheios de malícias. Nada que desse pra se preocupar, o futuro, pouco interessava. Não passavam de dois jovens, que só pensavam em curtir, um ao outro. Ela, até que era bonita, porém ordinária. Só pensavam, um ao outro, em satisfação pessoal.

Não saberia dizer para onde estava indo. Precisava despistar o homem que achava estar seguindo-o. Andaria, pelas ruas a esmo. Até que desistisse, até que se cansasse. Entrou no mercado de cereais. Saiu por uma porta lateral, furtivamente, pensando o tempo todo em despistar um suposto perseguidor. Alguém que talvez só ele via, só ele pressentia. Alguém que talvez só existisse em sua mente, esquizofrênica, e a mania de perseguição. Entrou numa igreja, que ficava no final da rua. Era uma capela feia, pintura gasta, desbotada, de reboco estragado, de portas velhas, tijolo simples, de algumas poucas bancadas. No altar um santo magro, com cara de cansado, cara de sofredor, cara de choro, de angustiado. Como se nada tivesse a oferecer, a alguém que precisasse dele. Numa sala contígua ex-votos.  

A pele alva, o cabelo preto, o corpo magro, o moço a admirava. Desejava-a. Embora tivesse vontade de tocá-la não podia, não devia. Nutria um ódio, um ciúme, uma raiva pelo pouco caso que fazia dele. Infundados sentimentos, mas senti-os com toda força. Entendia que era descartado, desprezado. Não fazia questão de sua presença. O pior sentimento, aquele que fere a alma, o desprezo. Prometeu vingar-se. Meteu a mão no bolso, sacou um maço de cédulas, tantas que quase deixou cair. Abaixou-se, pôs-se a contar de cócoras, sem tanto interesse pelo quantia que tinha ali. Apenas desejo de posse, e de poder, prevalecia. Trocou de bolso, o dinheiro. Isso talvez desse-lhe um pouco mais de segurança. Temia ser observado, tinha a impressão de estar sendo observado. Talvez fosse só impressão, talvez fosse a mania de perseguição que tinha. Toda vez que estava com dinheiro ficava assim, obsessivo. Todos pareciam conspirar, todos queriam o que ele tinha. Uma mania de perseguição. Resquício da esquizofrenia.

Àquele homem da esquina, vestido no sobretudo negro, de chapéu, olhava-o com desconfiança, podia ser um inimigo disfarçado. A qualquer momento poderia atacá-lo. Melhor sair dali, o mais rápido possível. A cabeça doía. Os olhos doíam, o abdômen doía. Mandaria o fazedor de ex-votos fazer um par de olhos de madeira, já que padecia de doença nos olhos. Mandaria fazer um coração de pau, pois padecia de um mal naquele órgão também. Sorriu por dentro, ao pensar num ex-votos do próprio pênis. Precisava pra ficar bom, de infecção crônica no canal uretral. Quem sabe um boneco de madeira de corpo inteiro, e a promessa faria curar todas as mazelas.

Era um rapaz, de família. Era do bem, acabou virando um ladrão. Começou praticando pequenos furtos pela vizinhança. A mãe, ficou sabendo, dava conselhos, não adiantava. De repente, não queria mais estudar, só jogar bola no campinho. Dormir até tarde. Acordava e ia pro aparelho de telefonia móvel. As amizades, eram de dar arrepios. Os moleques que sacavam de drogas. Ilusão de pedra, e pó branco, um pouco de fumo, ilícito. Repassavam, curtiam, revendiam. Os dias, passavam no bar da sinuca, nos quintais de rinha de galo, cuidavam de cavalos de amigos, em troca de um passeio, só pra se mostrar pras meninas, na porta da barbearia, nos vídeos games, lan houses.

Até que teve aquele dia. Ele pulou o muro da vizinha, encontrou-a lavando roupas no tanque, apontou-lhe um revólver. Obrigou-a a tirar a roupa, fez sexo com ela, ali mesmo em cima da lavanderia, a calça abaixada, o revólver encostado no pescoço. A mulher, uma senhora, mãe de família, que humilhação. Jamais contaria aquilo pro marido, morreria com tal segredo. Ninguém podia saber. O rapaz pulou outro muro, outro, e mais outro. A polícia, acionada foi em seu encalço. Conseguiu alcançá-lo. Em plena rua. Deu-lhe voz de prisão. Reagiu, atirando. A polícia revidou. O rapaz caiu, no meio da rua. O policial apontava-lhe a arma ainda. Curiosos, em frente a porta de casa. O policial aproximou-se, o rapaz caído, uma criança a porta de casa, imensos olhos, olhando. O policial de pé, os óculos rayban refletiram o corpo caído, guardou sua arma, girou nos calcanhares, se foi. O sangue vermelho, o granito da rua. 

Fabio Campos, 17 de Abril de 2021.


AMOR PARA MAMÃE POESIA, MARTELO AGALOPADO ETC...










UM ÍDOLO           Poesia

NA LEITURA ELE É O TÍTULO

QUAL? “O” OU “UM”?

NA ESCOLA DO AMOR

NÃO É O SABER

ONDE ESTIVER, É O SER

O QUERER, O PODER

O PASSADO SEM PASSADO

O PRESENTE SEM FUTURO

PASSA SOBRE AS CABEÇAS

E NÃO SE ACHA, NEM CABE

NÃO, ELE É O ÍDOLO

QUE PASSA

O HEROÍNA

DO MAL OU DO BEM?

AMADO PELAS MULHERES

TEMIDO POR ELE MESMO

ODIADO PELOS INCAPAZES

ODIADO POR ELE MESMO

AMADO PELO ÍDOLO.

FABIO CAMPOS, 11 de Dezembro de 1978.










AMOR PARA MAMÃE   POESIA

MAMÃE

NÃO DEIXE QUE EU CHORE

AGORA QUE JÁ ESTOU CRESCIDO

MAS SE EU CHORAR...

UMA ROSA, UM ABRAÇO

FALARÃO POR MIM

O QUE EU NUNCA

IRIA CONSEGUIR

DIZER APENAS COM PALAVRAS.

FABIO CAMPOS, 23 de Novembro de 1978.




FOTO DA MINHA MÃE, PROVAVELMENTE ENTRE 2017 E 2018.







FLAGRANTE DA IMGEM DE NOSSA SENHORA DE GUADALUPE EM PEREGRINAÇÃO PELAS CASA, VISITOU MINHA HUMILDE MORADA. 13 DE 04 DE 2021.




 


A VACINA DE SÃO SEVERINO

TÁ TODO MUNDO QUERENDO A VACINA
TODO MUNDO QUERENDO SÊ CURADO
TODO MUNDO QUÉ FICÁ IMUNIZADO
PRÁ VOLTÁ A SUA VIDA ANTIGA
DE CACHAÇA AMOR E RAPARIGA
DE PUDÊ IR PRÁ RINHA E FUTEBÓ
DE CAIR NA GANDAIA E NO FORRÓ
DE PUDÊ VAQUEJÁ E JOGATINA
DE QUENGÁ, TOMÁ CANA CAS MININAS
NO CABARÉ ARENGÁ FAZ^BODÓ
TIRÁ TRÊTA BRINCÁ COM OS MATUTOS
SE ARRRETÁ SE FAZÊ DE BICHO BRUTO
RISCÁ FACA NA RUA DA MUNDIÇA
SEM CIRIMÔNIA NEM MEDO DA PULIÇA
E NA HORA QUE A COISA APERTÁ
DÁ UM TIRO DE CARREIRA SE LARGÁ
E PARÁ LÁ NA BEIRA DO RIACHO
POIS O CABRA PRA SÊ UM BICHO MACHO
ELE ENFRENTA SORDADO E VAGABUNDO
O BURACO NÃO É RASO ELE É PROFUNDO
TEM TRÊS COISAS QUE FAZ PARTE DA SINA
A DOENÇA A CURA E A VACINA
ME ATREPEI NO MARTELO AGALOPADO
BÊBO CANA A DINHEIRO E NÃO FIADO
AGORA MESMO VOU TÊ QUE ENCERRÁ
VOU DIZENDO VÁ VOCÊ SE VACINÁ
PRO CORONA NUM DEIXÁ-LO INTUBADO
ISSO AQUI É MARTELO AGALOPADO
ISSO AQUI É QUE É MORÃO VOLTADO
ISSO AQUI TAMBÉM É VORTÁ MORÃO!






QUINTETO VIOLADO [LP1982 "O PRESTÍGIO DE..."]
"MARTELO AGALOPADO" 
7ª FAIXA LADO 2 AUTORIA: OTACÍLIO BATISTA E DINIZ VITORINO [1979]




Debaixo do Pé de Azeite Conto da Série Pandemia-Páscoa



Não era um hospital, mas um pequeno posto de saúde. Pouco importava, a realidade era a mesma. Pessoas feito robôs, nas aparências, nas atitudes. Teto branco, piso branco, paredes, e vestes brancas. Cartazes, orientações, cuidados, nem sempre seguidos. O material analisado, o humano, por outros não menos humanos. Transformado todos, em coisas, objetos, vivos, manuseados, sob procedimento padrão. Distanciamento, não apenas físico, também de sentimentos, frieza de espírito. Perguntas frias, exigindo respostas precisas, de preferência destituídas de emoções. Folhas de papel, anotações, carimbos e rabiscos. Tudo pensado para transformar humanos em números. Papéis valendo mais que gente. Os sentimentos, relegados a nenhum plano, por assim dizer.  

O homem o reconheceu. Tinha certeza, conhecia àquele, que vinha caminhando na calçada, antiga. Naquela calçada onde eles mesmos, ainda crianças, tantas vezes, passaram. O reconheceria, em qualquer lugar do mundo. Mesmo depois de tanto tempo. Claro, que era ele! Não tinha a menor dúvida, era ele. Pronunciou seu nome com ênfase. Sempre fazia assim, quando encontrava alguém, que achava que era conhecido. Pensava: se for, institivamente olhará em direção àquele que o chama. Os olhares, dos dois se encontraram. Não reconheceu, de imediato aquele que o chamava. O que chamara porém, continuava tendo certeza que aquele, era ele.

O casal, estava em lua de mel. Cedo do dia, de mala e cuia chegaram a casa dos compadres. Abusados, por assim dizer, dos ares do sítio, correram pra cidade. Péssima ideia, em tempos de pandemia. Tão belo, o amor manifestado entre duas pessoas. Em quase toda sua essência, cego para os individualismos, surdo para os egoísmos. O amor entre dois que, miseravelmente se amavam. Amor quase despojado de cobranças um do outro. Amor novinho, quase cristalino! Recém babados de amor! Olhares de cumplicidade, prova cabal do quanto era chato ser feliz, a dois. O propósito parecia estar funcionando, demonstrar para os outros. E quem visse, que morressem de inveja de tanta felicidade. A vontade de fumar, desencadeando a vontade no outro. O único palito aceso compartilhado, cheio de romantismo besta, no reles ato. Debaixo do pé de goiabeira, as goiabas velhas corroídas pelos passarinhos, caídas ao chão, olhava-os, com seus olhares, apodrecidos de tanto amor. Palavras doces de fel, enfadonhas. Vieram mesmo foi tentar descobrir, onde o casal da casa, escondia o segredo para se suportarem, por tantos longos anos de convívio. Onde será que escondiam o álibi perfeito, para o crime de assassinato do amor? E de como conseguiam enganar tão bem os invejosos, roubavam a paz dos gananciosos, dos odiosos que não suportavam mais ver tanta felicidade! Daí, só uma coisa restava: os expulsar do paraíso. Vão pra casa de vocês! Pelo amor de Deus! E se foram.

O teste para o covid, da filha, deu positivo, mas já não estaria mais transmitindo o vírus, adquirira imunidade e não transmitia mais, que beleza. Pior era saber, que isso não significava que podia ir buscar os pequeninos de volta pra casa. Permaneceria em quarentena. Passaria o próprio aniversário se recuperando da doença. O filho que estava com a irmã, e o que estava na casa dos pais do companheiro iriam continuariam lá. Como se não já não bastasse de complicação, outras pessoas, muito próxima da família estavam morrendo. Parentes muito próximo estavam adoecendo, cada vez mais se fechava o cerco. Não entendia, nem queria entender, porque, alguns diagnosticado davam entrada no hospital, e de lá só saiam mortos. E porque só alguns conseguiam sair com vida. Um ritual de comemoração pela vida tornara-se praxe, nas portas dos hospitais. O paciente vindo, pelos corredores, debilitado ainda, conduzido numa cadeira de rodas, uma fileira de profissionais da saúde, como num “corredor polonês”, pela vida! Palmas, cartazes nas mãos avisavam: “Venci o Covid!” música, louvores, sirenes, balões, confetes, serpentinas. Tudo para comemorar a vitória da vida sobre a morte. Páscoa.

O velho amigo, tinha um caso para lhes contar, estava tomando conta de um chácara, a pelo menos dez anos atrás. Era uma manhã como outra qualquer, logo cedo, foi consertar uma cerca de cinco fios de arame farpado. Precisava pregar umas estacas. De repente, a vista escureceu. Apagou. Calculou, mais ou menos uma hora desacordado. Ao acordar, percebeu que estava caído sobre a cerca, embolado nos fios de arame. Não conseguia mover-se, depois de muitos gritos de pedido de socorro, a mulher apareceu. Tentou movê-lo, sem sucesso, a mulher também doente, magra, sem força, portadora de deficiência física, sequelas da diabetes. Tentou, tentou, tirá-lo de lá, sem sucesso. Chamou um vizinho de sítio, conseguiram levar pro terreiro de casa. Ali, debaixo de um frondoso pé de azeite, totalmente inerte, apenas consciente, conversou com Deus. Sabia, acabara de sofrer um acidente vascular cerebral. Sabia, não era hora pra questionamento, porém tinha uma pergunta: “E agora Senhor?” “O que faço?” Naquela mesma manhã, deu entrada no hospital, conduzido em uma cadeira de rodas, os procedimentos iniciais ainda na recepção. Aferição da pressão arterial, que deixou o médico atônito, disse-lhe: “Com essa pressão, era pra você ter morrido lá mesmo, enrolado na cerca!” Mas estava lá, vivinho da silva. Causando incômodo a medicina que não tinha explicação. Ora, seu doutor estava dizendo que ele era um milagre de Deus. Sim! Era isso que estava tentando dizer? Só conseguia mover um braço, só movia uma das pernas, a boca um pouco torta. E ficou largado ali, no corredor, numa cadeira de rodas, sob observação. De ninguém.

Duas longas horas, se passaram no silêncio, do corredor do hospital. A mulher esperando, que a equipe médica resolvesse alguma coisa. Silêncio noturno, corredores de hospital. Deserto. De repente, lá vinha alguém, andando. Era ele! Incrível! A Mulher cochilava num dos bancos da sala de espera. Cutucou-a: Mulher! vamos embora. E saíram os dois, andando, pela porta da frente do hospital.

Fabio Campos, 10 de Abril de 2021.

 


PLACA...CASTELO DE SONHOS, MENSAGEM POESIAS, PENSAMENTOS ETC ETC


REDEFININDO PLACAS: CRIADOURO DE GIRINOS DE SETAS. 


PENSAMENTOS

ENCONTRAR UM AMIGO DE INFÂNCIA, QUANDO A GENTE JÁ ESTÁ, DESCENDO A LADEIRA DOS ANOS. POXA! É TÃO GRATIFICANTE! 
PARA MIM, É COMO SE, APÓS UM FURACÃO, VOCÊ ENCONTRASSE, ALGO POR ONDE PUDESSE RECOMEÇAR.

UM RELÓGIO QUE COMEÇA A ATRASAR, DANDO SINAIS DE AVARIA. PODE DAR-NOS UMA LIÇÃO DE VIDA.  ÀQUELA MÁQUINA ACEITAREMOS TRANQUILAMENTE QUE PODEMOS  DESCARTAR. QUANTO A NÓS...

A PANDEMIA, TEM VÁRIAS FACES: A PANDEMIA DO VÍRUS, QUE CAUSA MORTES; A PANDEMIA DO FAKE QUE MATA DO MESMO JEITO; A PANDEMIA DA POLITICAGEM, QUE MATA TIPO: "SERIAL KILLER," ANOTANDO [E DIVULGANDO] O NÚMERO DE VÍTIMAS QUE FAZ. 


CASTELO DE SONHOS

CASTELO DE ARGILA
CASTELO DE AREIA
CASTELO DE MIM
CASTELO THE CASTLE
CASTELO DO GRÃO VIZIR
GRÃOS, DE PEDRAS
 CASTELO, CASTELO
 QUE UM DIA, EU SONHEI
PRA MIM.

FABIO CAMPOS, 05 DE MARÇO DE 2021.




MENSAGEM                       POESIA

NÃO É NADA

DO QUE ESTOU PENSANDO

NÃO É MENSAGEM

É A FORÇA QUE NOS LEVA

E DEIXA UMA VIAGEM

NUMA MENSAGEM

DE AMOR

BASTA FECHAR OS OLHOS

PRA VER

ESTAR PRESENTE

AO NASCIMENTO

DO DEUS-MENINO

TOCAM OS SINOS PEQUENINOS

SINOS DE BELÉM

VEM E ME ACORDA

DA VIAGEM

DA MENSAGEM.

FABIO CAMPOS, 13 de Dezembro de 1978.





NEGRO BORBOLETA




ÁRVORE DA VIDA

ÁRVORES DA ESCOLA
ÁRVORE DO SABER
ÁRVORE DO CONHECIMENTO
ÁRVORE DA CIÊNCIAS
ÁRVORE DA FAMÍLIA
ÁRVORE DA SABEDORIA
ÁRVORE DO BEM
ÁRVORE 
SIMPLESMENTE ÁRVORE,
QUE DÃO BONS FRUTOS.








ÁRVORES DA MINHA ESCOLA,O5 de ABRIL de 2021


MINHA CASA É TÃO BONITA/
QUE DÁ GOSTO A GENTE VER/   
TEM VARANDA, TEM JARDIM/  
AINDA AGORA ESTOU ESPERANDO, UMA REDE PARA MIM... 
AGNALDO TIMÓTEO [ODEON, 1969]





BORBOLETA NEGRA   POESIA

Borboleta Negra
Negra borboleta
um dia fostes casulo
hoje é 
Borboleta!
Negra Borboleta
Vai! Voa!
Sobre este imenso
Azul, Negro
Negro azul!
Negro Borboleta
Negra!

Fabio Campos, 06 de Abril de 2021.


Making off...  
POESIA de improviso na Escola


 

SOMBRAS REFLETIDAS Conto da Série PAND-QUAR [Fechando Mês das Mulheres]


Estava muito mal. O dia todo, parecia um bêbado, dentro de casa. Sonolência, pelo dia, e com o avançar da noite, insônia. Um zumbido nos ouvidos.  Ansiedade, alucinações, medo, só não sabia do que. Não podia continuar daquele jeito. Não conseguia almoçar.   Da tela da tevê, terra de cemitério, caía em cima da mesa sujando a travessa de macarrão, a salada, o bife. Velórios, um atrás do outro. O homem de paletó, na tevê, nenhuma palavra de ânimo. Nem uma luz, só desgraça. Talvez, quisesse incutir nos telespectadores que vivia-se o apocalipse. Falava do número de suicídios. Dizia, eram mais de trinta por dia, o número dos que tiravam a própria vida, no país. Os dentes de vampiro, saltavam-lhes sujos de sangue. Jurava que estaria vendo aquilo, em algum lugar. Sim, claro, nele mesmo. O copo de vidro, contendo suco de acerola, acabara de morder. Mastigava os cacos, um fio de sangue desceu pelo canto da boca. A pandemia, o isolamento, Os psicotrópicos, severamente, dando-lhes nos nervos.

A menina disse que não mais iria consumir nada, que fosse de origem animal. Não apenas pararia de ingerir. Passaria também, a não usar cinto, sapatos, ou bolsa de couro, não queria mais. E ovo de páscoa, podia? Podia! Ovo vegano, feito de cacau, açúcar, margarina, totalmente de origem vegetal. Vô, quando for responder as atividades, pode me ajudar, nas questões de matemática? Ok. Mas, e o limite pra o uso do aparelho de telefonia? Pra cada hora de uso, duas horas sem. Ordem da mãe. Tentava chantagear, pedia, um desconto. Pediu-lhe que fosse no quarto, pegar o cabo carregador da bateria do aparelho. Não queria. Por quê? Medo. Medo de que? De ir no quarto sozinha. Mas, à luz do dia! A mãe a obrigava a ir. Desatava num choro, incontido. Comovia-se o vô. De que tinha medo? Do escuro do quarto. Então, lhes aparece alguma coisa lá? Sim, mas não quero falar sobre isso. Agora?... Não, nunca. Mas precisamos.  

De repente, os sintomas, dor de cabeça, dor atrás dos olhos, dor nas articulações, febre. Indícios fortes de ter contraído Covid. A diretora disse a professora, vá pra casa! Minha filha! Vá fazer o teste, e aguarde. Fique isolada! Mantenha-nos informada. Não se preocupe, arranjaremos alguém pra lhe substituir, por esses dias. Até depois da semana santa. Ligou orientando o filho de ir pra casa da vó. Pegue seus pertences. O filho mais novo, foi pra casa dos pais do companheiro. Não aguentavam mais o isolamento social, mesmo antes, sem ter contraído o vírus. Imagine agora que adoecera. Recostou a cabeça nas respaldo da poltrona da frente, da Van. Estava de volta pra casa. Máscara no rosto, de olhos fechados. Viu-se menina, correndo na praia. Devia ter uns seis ou oito anos. O pai, a mãe, todos em trajes de banho, era um cair de tarde de domingo. Estava de maiô, o mesmo com o qual aparecia nas fotos, do velho álbum de família. O cabelo voando ao vento. Outras vezes lembrara daquela cena. Não entendia o porquê. Ali, grudado na mente, como vídeo repetido de redes sociais. Talvez, viesse sempre que passava por emoções fortes.  Ao seu lado, vestida na farda, os cabelos presos a uma fita rosa, no alto da cabeça, de franja. Uma menina. Olhava através da janela do automóvel. Divertia-se com a sombra do carro refletida, avançando sobre as pedras, as árvores do acostamento. Olhar sereno. Teria a mesma idade dela, na cena que acabara de rever, na recordação recorrente.

A pedra rolou, quebrou o cano da água. Pandemia, isolamento social, comércio fechado, e o cano achou de quebrar. Havia uma pedra, no meio do jardim. Lembrou de Drummond, e sua pedra implicante, em versos. Mas, a pedra rolou sozinha?  Claro que não, não rolara sozinha. A vó a empurrou, enquanto varria. O problema era que a água estava jorrando, seguindo seu curso, sarjeta a fora. Deixando de servir. Deixando de aguar as plantas, sedentas. Que pena, a água era só desperdício! A manhã inteira. O homem, foi lá tentar dar um jeito. Não se deu ao trabalho de trocar a roupa. Molhou-se todo. E o jeito que deu, não foi dos melhores. Conseguiu interromper o fornecimento de água pra casa. Pelo menos evitou o gasto desnecessário. Mais um isolamento, dentro do outro isolamento.

A vacina era coisa remota. Não tinha ideia quando chegaria sua vez. Mas, era grupo de risco. A viatura da polícia passou bem devagar. O policial, com cara de poucos amigos. Parou bem na porta. Cumpria sua missão de empurrar as pessoas pra dentro de suas casas. Lembrou daquele dia do sarau, aniversário de dezoito anos da irmã. Os polícias não gostavam da gente. Achava a galera barra pesada. Entraram na garagem, reviraram tudo, procuravam drogas. Ninguém tinha nenhum bagulho. Só havia bebidas alcoólicas ali. Estavam todos limpos. Então, foi só a polícia sair, um carinha, que até penetra era, começou uma discussão com a aniversariante. Tinha uma bronca com ela, uma questão de rejeição. Gente, que não sabia aceitar um não. Uma briga, era algo inevitável. O resultado foi um quebra-quebra, em pleno meio da rua, que acabaria com a morte de um violão, escoriações num contra-baixo, hematomas na bateria. Um amigo da irmã, caiu de mau jeito por cima do braço, quebrou o punho, um outro ganhou um corte profundo na cabeça.   

Estava chocada, com os nomes, que chegavam pelas redes sociais, dizendo que morrera. Custava acreditar. Ainda mais que não podia, ir velar os retos mortais. Tem gente que só acredita que alguém morreu se for ao velório, se ver o defunto dentro do caixão. Nem queria pensar, em algumas pessoas queridas, que perdera. Se pudesse ver o futuro. As pessoas novamente sorrindo, se confraternizando. Onde a pandemia fosse algo de um passado, tão triste, que ninguém mais queria lembrar. Um tempo, em que a menina, ao seu lado no banco da Van, fosse agora uma moça. Curtindo o seu belo emprego de modelo, tinha seu carro, e morava sozinha num apartamento, igual a tia. Talvez, no mínimo, fosse feliz, como revendedora de cosméticos e lingerie, porta a porta. Sonhando em juntar uma grana para ir pra Salvador, ou Olinda, no próximo carnaval. Quem sabe, a menina refletida no vidro da janela da van. Talvez, ela acreditasse, em dias melhores.

Fabio Campos, 02 de Abril de 2021.